CAPÍTULO ONZE

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ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrela quando chegar ao fim, por favor.
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Terça feira | 31 de Maio

Uma lástima, um absurdo, terrível, grotesco, ilógico o receio que sinto toda vez que ouço eles falarem dela, é vergonhoso, irracional.

Faz uma semana e sete dias que os Owes estão em minha casa e eu ainda tenho a sensação de que a qualquer momento Sophia vai irromper pelas portas principais e me oferecer seu lindo sorriso e me olhar com os olhos castanhos que roubam meu ar.

É engraçado como ela consegue me deixar nervoso mesmo habitando somente meus pensamentos mais secretos, é incrível como ela pode ser um sonho e ao mesmo tempo um pesadelo.

A imagem de seu rosto assombra meu coração e me descontrola por inteiro, eu seria desfeito em mil só com seu olhar, Sophia costume ser expert em aparecer nos meus sonhos e então desaparecer sem me dar tempo de fazer alguma coisa para que ela fique. Pensar nisso me causa um frio na barriga, acelera as batidas do meu coração e espalha um amargor horroroso pela minha boca.

- Adam? - ouço me chamarem e olho pro meu pai a minha frente. - Ouviu alguma coisa do que eu disse? - pergunta me analisando com cuidado, mas ainda sem o responder olho ao redor.

Estávamos todos na sala, mamãe havia insistido pra que nos juntássemos à elas para um chá, mas aparentemente eu estava longe demais para perceber que ela, Madeline e Mary não estão mais em nosso meio.

- Aonde estão elas? - pergunto confuso, olho de Ethan, que exibe um sorriso calmo no rosto, para meu pai que não esconde a confusão nos olhos tão verdes quanto o meu.

- Decidiram dar uma volta pelo jardim. - responde ele e eu assinto afetado pelos pensamentos anteriores, sinto quando uma batida do meu coração se descontrola e eu deixo meus olhos caírem para a xícara ainda cheia de chá em cima da mesa de ferro dourado.

Nesses últimos dias, desde que o e-mail chegou na verdade, eu não tenho lidado bem com nada, afundei minha cara no trabalho pra ver se aliviaria e me distrairia, mas, pelo que percebi, só piora.

A cada dia, a cada hora, a cada minuto, a cada segundo e eu não sei o que fazer. Madeline está preocupada que eu esteja desenvolvendo as crises de ansiedade e pânico novamente, as constantes palpitações e os tremores confirmam isso, por esse mesmo motivo contatei meu psicólogo e recomeçamos as terapias.

Maldito o dia em que eu achei estar bem para caminhar sozinho novamente.

- Adam? - chama meu pai de novo e ergo meus olhos para seu rosto angular, bochechas rosadas, juba de fogo e barba que ele deixara crescer nos ultimos meses, ela me lembra muito a do Jarl Borg* por causa das tranças, apesar de meu pai preferir dividir a barba ao meio e deixar que suas tranças desçam livremente sem nenhum adorno, além de ser muito maiores do que a do líder do seriado. - O que está havendo, filho? - franze as grossas sobrancelhas ruivas.

Meus olhos correm pra Ethan e engulo em seco, seus cabelos me lembram os de Sophia assim como seus olhos e como em um pesadelo o rosto dela aparece bem diante dos meus olhos, miragens, agora eu estou tendo miragens.

Me remexo incomodado sentindo meu coração se descompassar totalmente, ah não...

Recosto meu corpo na poltrona sentindo o peito doer, a falta de ar rouba minha calma e meu coração parece bater acima do limite que eu aguento, abro a boca para responder meu pai, mas antes disso para respirar.

Sim, agora eu tenho certeza, ela voltou.

- De-desculpe. - finalmente respondo em um sussurro e sinto as lágrimas se acumularem nos cantos dos meus olhos enquanto olho pro teto aonde anjos se movem. - E-eu não me sinto bem. - justifico enquanto minhas mãos tremulas sobem até meu tórax e com os dedos frios desabotoo os primeiros botões da camisa que agora parece apertada demais e me sufoca, sinto gotinhas de suor se formar em minha testa e a bile subir a boca do estômago enquanto os anjos parecem voar em direção à mim, descendo devagarinho, talvez irão levar a minha alma.

Que seja pro céu.

- O que sente? - pergunta Ethan preocupado, mas eu não respondo sua pergunta, não consigo formular uma resposta coerente, as palavras sumiram da minha boca, da minha mente. - Adam, o que sente? - o ouço novamente e eu fecho meus olhos os apertando em seguida, as lágrimas escorrem pelas laterais do rosto, descem pelo meu pescoço e molham minha camisa social preta.

- E-eu... - gaguejo decidindo se falo ou se respiro.

É isso, eu estou regredindo.

- Filho... - sinto meu pai próximo, sinto seu cheiro, o hálito quente bater contra minha bochecha, uma mão em minha testa e a outra no meu ombro. - Filho, olhe pra mim. - pede e giro meu rosto buscando pelos seus olhos, a garganta se fechando aos poucos.

Tudo gira e isso me enjoa, mas me esforço para não fechar meus olhos de novo, para manter a respiração, a morte nunca foi tão certa.

Você não está morrendo, Adam.
Não seja patético.

- Filho, presta atenção, isso vai passar. - garante ele, mas não consigo focar seu rosto - Respire devagar. - eu estou respirando? Ah, hiperventilação. - Comigo, filho. - pede e então o ouço inspirar.

Eu não costumo demonstrar fortes emoções, isso me mantém seguro, mas em uma situação assim meu orgulho fica em segundo plano, oh sim. Forço meus pulmões pra que obedeçam o meu comando e sinto quando o ar os inflam e ao mesmo tempo os queimam, permaneço com o ar dentro de mim por segundos e então o solto junto com meu pai.

- Isso, mais uma vez. - instrui ainda segurando meu ombro.

E de repente eu estou grato por não estar sozinho, talvez não soubesse como lidar, sabe-se lá o que poderia acontecer, mas eu não estou sozinho, não estou.

- Vai ficar tudo bem, filhão, de novo. - ouço sua voz, mas fecho meus olhos respirando devagar.

Hiperventilação é uma merda, ataque de pânico é uma merda, viver com traumas é uma merda.

- Isso meu garoto, tudo bem, tudo bem. - sua mão aperta a minha e sinto o aperto na garganta afrouxar.

Eu suo como um atleta em sua quarta volta de cem metros, abro meus olhos e fito os olhos preocupados do meu pai que ainda está desfocado.

- Tudo vai ficar bem, isso vai passar. - continua dizendo enquanto eu continuo a respirar devagar.

Ao longe ouço as portas se abrirem em um solavanco e passos apressados vem na minha direção.

- Meu filho... - ouço mamãe desabar ao meu lado e sinto seu cheiro invadir meus sentidos me dando conforto - Estamos aqui, vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem, meu amor. - sinto seus lábios depositar um beijo terno na minha cabeça.

A muito tempo não era tratado assim e parte da culpa eu sei que é minha, eu os afastei, eu me fechei eu me tornei tão amargo quanto um Cabernet Sauvignon*, ela segura minha outra mão e eu me sinto mais tranquilo, eles estão aqui comigo, como sempre estiveram quando eu precisei.

- Filho, olha pra mamãe. - meu pescoço gira qminha cabeça na direção de sua voz, olhos azuis cristalinos me fitam preocupados, mas ao mesmo tempo reconfortantes. - Presta atenção na minha voz, não Adam, abra os olhos. - pede quando eu pisco lentamente ainda sentindo meu mundo girar e a ouço cantar.

Ainda praticando a respiração presto atenção na canção que detestei desde a primeira vez que ouvi, eu tinha quinze anos quando a mamãe a cantou pela primeira vez, doutor George disse a ela que poderia me ajudar a desfocar do que causava a crise se prestasse atenção em alguma outra coisa, a mamãe escolheu a canção.

- ...mas só três patinhos voltaram de lá. - finalizou a estrofe com papai cantando juntos agora e começaram a outra.

Foquei no som da voz deles e na imagem dos patinhos, amarelos, pequeninos, com pelugem fofa, barulhentos e cagões.

Tá bem, tudo está bem.

- ...um patinho foi passear, além das montanhas para nadar. - cantavam baixinho e com os olhos abertos encaro o teto onde os anjos não se movimentam mais. - ...a mamãe chamou, quá, quá, quá, mas nenhum patinho voltou de lá. - cantam e eu, que já consigo respirar normalmente, sinto o enjoo amenizar. - ...a mamãe pata foi passear, além das montanhas para procurar, seus bebês patinhos que foram pra lá e os encontraram a brincar... - finalizam e aperto as mãos deles mais calmo.

Sem dúvidas eu não deveria ter abandonado a terapia.

Com um longo suspiro me ajeito na poltrona, solto as mãos deles para esfregar as minhas pelo meu rosto e limpar as lágrimas, estranhamente não me sinto envergonhado, mesmo com Mary e Ethan me olhando claramente assustados e preocupados, Madeline também parece em surpresa, mas ela já me viu assim muitas vezes.

A questão é que fazia tempo desde a última vez.

- Como se sente, filho? - é meu pai quem pergunta, ainda calmo e agora aliviado.

- Melhor. - me ajeito no sofá - Obrigado, pai. - agradeço e ele bagunça meu cabeço com um sorriso contido. - Obrigada, mãe. - viro meu rosto na direção do dela que sorri beijando minha bochecha.

- Tudo por você, meu amor. - acaricia meu rosto.

Quarta - feira | 01 Junho

A sensação que eu vou colocar pra fora o que comi no café está me irritando profundamente, mas tento não pensar nela enquanto mordo minha unha do dedão, com os cotovelos sobre a mesa e encaro o psicólogo.

- Estar curado não significa que nunca mais voltará a ser acometido da doença. - continua seu discurso que já dura quase duas horas.

O diagnóstico confirmou o que já sabíamos, crise de ansiedade e ataque de pânico, as sessões serão duas vezes por semana e por hora vou seguir um tratamento simples sendo medicado apenas para dormir, já que venho tendo insônia há algumas noites.

Ele explicou que devido o grande índice de trabalho e com a volta súbita e implícita de Sophia na minha vida ela, a doença, havia retornado.

O retorno de Sophia realmente tirou minha sanidade, que já é pouca, dos trilhos.

Afasto minha mão dos lábios, as espalmo na mesa de madeira e me empurro para trás descansando minhas costas na poltrona de estofado macio.

- Será apropriado se vossa alteza passar menos tempo trancafiado aqui. - diz e franzo o cenho. - Pratique algum hobby, cavalgue, eu sei que vossa alteza é um bom pintor. - sugere e eu nego, pintar é uma chave para o baú de memórias dela.

- Não consigo, e-ela... - me calo indignado comigo mesmo, deixo meus olhos caírem nas mãos que eu aperto nervoso só de pensar nela. - Não posso. - murmuro de novo.

- Certo, eu entendo. - assente calmo - Busque por algo que te leve para longe das memórias, passeie com a princesa pela cidade, passe mais tempo com sua família, brinque com seus irmãos, dedique mais tempo as crianças do orfanato. - sugere e o olho, é uma ótima ideia. - Quanto mais sua mente estiver movimentada, mais fácil conseguirá fugir dos seus fantasmas. - instrui e eu assinto.

- Doutor, eu... - franzo o cenho e meus olhos correm para as portas que foram abertas com violência e me interrompem.

Tanto eu quanto doutor George nos colocamos em pé enquanto meu semblante se torce em confusão e depois preocupação.

- O que houve? - me desvencilho da poltrona e contorno a mesa para encontrar Madeline no meio do caminho.

Seu semblante está assustado, os olhos arregalados e cheios de lágrimas, a boca aberta em um semicírculo demonstra choque.

- O que houve? - repito a pergunta segurando suas mãos. - Estão geladas. - observo olhando para as mãos com unhas bem esmaltadas da garota a minha frente. - O que aconteceu Madeline? fale, por favor. - a angústia inunda meu coração, meu cenho se franze enquanto meu corpo é envolvido por um arrepio perturbador.

Luto para não pensar o pior, mas minha mente insiste em afirmar que a vida é uma merda.

- Algo terrível. - balbucea - Os Owes... - sussurra e os olhos caem para o meu peito. - Você precisa avisar Sophia... - diz rápido, mas eu nada entendo.

- Madeline, eu não entendo... - fito-lhe o rosto, mas olho para o psicólogo que abraça meu ombro com sua mão rechonchuda.

- Por favor, vossa alteza. - ele a chama. - Respire. - pede e ela o faz - Isso. - assente enquanto ela sobe seus olhos aos meus. - Respire. - guia calmo. - Muito bem, diga-nos agora, o que aconteceu? - instrui recolhendo sua mão e vi o lábio inferior da moça tremer e uma lágrima escorrer do olho direito, segundos depois a do esquerdo.

- Mary e Ethan sofreram um acidente. - é no instante seguinte o chão parecia instável demais, meu corpo todo tremer, uma onde de calafrio percorre minha espinha e eu arfo desacreditado.

- Como assim sofreram um acidente? - murmuro estarrecido, solto suas mãos que caem ao lado de seu corpo e me afasto um, dois, três passos. - Como assim um acidente? - repito em um sussurro enquanto fito o chão.

Eu os vi no café da manhã, estavam sorrindo, fazendo os meus pais rirem, estavam bem, como pode? como pode terem se acidentado?

Arregalo meus olhos quando um pensamento nada nobre sobrevém sobre minha mente e tenho medo de perguntar. Como um relâmpago minha mente se dirige a Sophia e no mesmo instante o ar foge dos meus pulmões.

Conseguia sentir meu peito subir e descer cada vez mais rápido, mas eu não posso deixar que a crise fale mais alto que minha obrigação de avisá-la, não agora, são seus pais.

- Eles...? - início a pergunta sem sucesso já que minha voz morre antes mesmo de finalizá-la.

- Não sabemos. - responde Madeline compreendendo e eu olho pro psicólogo que me fita com o semblante neutro, mas seus olhos afiados parecem notar meu estado a beira do penhasco.

- Preciso avisá-la. - sibilo decidido, dou as costas para os dois e vou em direção a minha mesa. - Preciso... - repito a palavra que minha mente grita em compulsão.

Fugi da hipótese de ouvi-la ou vê-la por anos e agora nada parece mais necessário.

- Adam, Adam... - ouço a voz de George e ele me alcança no minuto seguinte, segura minha mão na base do telefone sem fio me impedindo de erguê-lo. - Não se precipite. - pede e franzo o cenho - Espere até que se acalme, a beira da crise o que acha que irá transmitir para ela? - pergunta com os olhos fixos nos meus.

Recolho minha mão digerindo seu conselho e então assinto, ele está certo, ouvi-la me afetaria ainda mais também, e no segundo seguinte meu corpo despenca sobre a caderia e eu junto minhas mãos entrelaçando meus dedos.

- Madeline, por favor. - chamo a atenção da mulher que havia se afastado um pouco e, perdida em seus próprios pensamentos, encara o dia pela janela. - Ligue para Roger, peça a ele que suspenda meus compromissos para hoje e que entre em contato com Sophia quando tiver mais informações sobre os Owes. - instruo e ela concorda. - Diga a ele para reservar o primeiro voo e envie meu jato para Paris, por favor. - peço a ela que não espera muito para agarrar o telefone e discar um dos meus números de emergência.

- Alteza, você precisa respirar devagar. - adverte o psicólogo e assinto depressa.

A tarde preguiçosamente se transforma em noite com o pôr do sol, espero impaciente pelo retorno dos meus pais desde a manhã, permaneci no palácio tentando acalmar os meus ânimos enquanto a mídia fervilhava com a notícia.

AO VIVO: Casal de missionários, vítimas de um acidente ocorrido na Rte des Rouges Eaux, é levado para o hospital geral de Saint Louis.

Várias dessas manchetes estamparam os jornais online e as reportagens durante todo o dia.

- Como eles estão? - pergunto avançando sobre as escadas alcançando meus pais assim que saem do carro.

Os olhos da minha mãe estão miúdos e seu nariz vermelho, Charlotte no colo de Pop dorme e ela me cumprimenta com uma reverência e segue para dentro de casa enquanto meu pai abraça meu ombro com sua mão e seus olhos me transmitem esperança.

- Eles ficarão bem. - afirma, mas mesmo assim sinto o nó se formar na garganta.

- Pai...? - chamo e minha voz treme, é claro que eu estou com medo.

Mary e Ethan significam muito pra mim, foi eles que Deus usou para curar meu irmão ainda na barriga da minha mãe, foi eles que Deus usou para unir minha família de verdade, eles são importantes para nós, importantes para mim.

- Adam, meu filho, eles ficarão bem. - reafirma mamãe e eu a encaro, engulo em seco e finalmente aceno com a cabeça em concordância.

Ela me abraça e consigo sentir a sua própria tristeza.

- Vai dar tudo certo. - papai me dá leves batidinhas no ombro e eu me afasto assentindo. - Sophia chegará em algumas horas, precisamos ser forte pra ajudá-la. - afirma e sinto meu corpo tremer.

Venho pensando nisso o dia todo, e tentando bolar mil e um planos pra manter meu racional a frente do emocional, mas só em pensar nela eu sinto meu corpo todo recuar.

Entramos em casa e papai foi direto para seu escritório, eles passaram a tarde inteira no hospital enquanto a mídia alvoroçava a população Lorence, ele disse que iria escrever seu pronunciamento. Já mamãe foi para seu quarto para se banhar e descansar antes da chegada da americana, já os funcionários parecem abatidos e ao mesmo tempo ansiosos pela vinda de Sophia, é louco como todos parecem ansiosos em vê-la.

Sento-me em um dos bancos de concreto no jardim lateral e observo a noite cair gradativamente, a vida caminha para tornar real meus pesadelos.

- Posso me sentar, alteza? - ouço a suave voz de Madeline e olho pra seu rosto fino e bochechas rosadas.

- Não precisa me chamar assim, você sabe. - murmuro voltando meus olhos pro céu. - Fique à vontade. - sorrio passivo e ela se senta sob seu vestido de linho e com botões na frente.

- Como está se sentindo? - pergunta calma deitando sua cabeça no meu ombro.

Respiro fundo inspirando o cheiro do seu perfume forte, marcante.

- Apavorado. - confesso com um riso - Estive pensando qual será minha reação, mas eu não tenho nem ideia de como irei reagir. - digo e ela assente.

- É compreensível. - afirma e eu fecho meus olhos sentindo o vento fresco bater contra nós, balançar meus cabelos, os de Line e as folhas das árvores.

O silêncio predomina enquanto o peso de sua cabeça permanece sobre meu ombro, seu cabelo tinha o mesmo cheiro de sua pele, ela e sua mania de borrifar perfume no cabelo.

- Ruivo, já pensou na possibilidade disso ser uma segunda chance? - pergunta de repente e eu me afasto devagar para fitar seu rosto.

Madeline ficara calada a tarde toda, estranhei sua quietude, então aqui está o motivo.

- A vida não dá segunda chances. - murmuro direto, ela não precisa se preocupar com isso.

- A vida talvez não, mas e Deus? ele deu pra Phillip. - olha pro meu rosto e retorço minha face em uma careta.

- Do que você está falando? o doido sou eu e você que fala besteiras? - brinco tentando manter meu humor leve, falar disso é como me condenar a tortura. - Não precisa se preocupar com isso, Sophia não será uma barreira entre nós. - abraço seus ombros, mas Madeline se esquiva com um sorriso gentil no rosto e segura minha mão.

- Adam, eu não estou preocupada com isso, não é sobre nós. - seus olhos brilham como seu sorriso e eu continuo com o cenho franzido, confuso, aonde ela quer chegar? o que quer dizer? - É sobre vocês. - eu me afasto de novo, tá, esse papo de novo não. - Eu acho que... - se cala e franze os lábios. - Eu realmente acho que é uma segunda chance pra vocês.

Recolho minha mão da sua nada surpreso, essa conversa de novo?

- O que você bebeu? - pergunto olhando pras flores plantadas próxima a nós.

- Nada. - dá de ombros. - Mas eu pensei nisso durante toda a tarde e... - eu nego fracamente com os lábios em uma linha reta.

Já conversamos sobre isso, achei que tínhamos chegado em um concenso.

- Pare! - a interrompo. - Não quero acreditar nisso. - murmuro incrédulo.

- Adam, você a ama. - observa - E em apenas algumas horas ela estará debaixo do seu teto, me diga se isso não é... - eu a interrompo novamente com um gosto amargo se espalhando pela boca.

- Madeline, pare! - ordeno - Está maluca? já falamos sobre isso, não ache que só porquê ela estará aqui tudo voltará a ser como foi um dia. - digo indignado. - Ela é o fantasma do meu passado que me persegue e isso não é amor. - afirmo com os olhos dela em mim.

- Não minta pra si mesmo. - pede tocando meu rosto.

- Vamos nos casar se lembra? assinamos aquele papel. - pergunto entredentes, ela está louca ou o quê? - A data do nosso noivado está marcada, não me venha com essas loucuras. - peço e ela se levanta.

- Vocês são como o sol e o dia, a noite e a lua. - seus olhos não perdem o brilho anterior, na verdade agora reflete as estrelas que piscarão sobre nossas cabeças em alguns minutos. - Quatro coisas que não ficam escondidas por muito tempo. - murmura e sorri - O sol, a lua, a verdade e seu amor por ela.* - completa e eu franzo o cenho. - Sabe como o nós... - aponta para mim e depois para si - começou. - sorri - E eu acho que sei como vai acabar e além do mais eu posso me virar sozinha agora. - olha por cima da minha cabeça e sorri.

Sigo seu olhar e vejo Charlie vestida em um vestido bege com bordados de flores vinho e sandálias da mesma cor nos pés.

- Eu tenho que ir. -  seu rosto se volta para mim, Madeline se põe em pé. - Mas pense no que eu te disse, sim? - ela sorri, me dá as costas e se afasta.

Cinco segundos se passam e eu suspiro, olho por cima do ombros e vejo as costas de Madeline, ela se afasta rapidamente indo em direção a sua dama de companhia e melhor amiga.

- "Segundas chances..." - murmuro internamente soltando um sorriso sarcástico e volto a olhar pra frente, fito o céu ajustando a posição das costas.

- Era só o que me faltava. - digo pro céu, pras folhas, pra mim mesmo. desacreditado e solto um longo suspiro.

Estou naquela hora que não é dia nem noite, pois ambos dividem o céu, cada um em sua extremidade.

Com um outro suspiro pesado fecho os olhos, eu não quero pensar nisso, não quero imaginar o que Madeline disse, eu não quero fantasiar, não quero me iludir, não.

Talvez, o pior erro da humanidade seja insistir em algo que deu errado uma vez. Tudo bem, ninguém garante que não dará certo na segunda vez, mas é muito melhor viver com a decepção do que sobreviver com o coração quebrado, existem vários amores impossíveis, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Dom Quixote e Dulcinéia, a prova de que a insistência em algo improvável não acaba bem, pra nenhuma das partes.

Eu não estou disposto a me quebrar mais e arriscar um relacionamento sólido por um amor do passado, eu e Madeline não somos um casal comum, mas somos companheiros, nos ajudamos e assim vai continuar sendo.

Tiro do bolso da calça marrom o celular com a maçã, desbloqueio com minha digital e movo meu dedo preguiçosamente até encontrar a galeria, foram minutos rodando as páginas dos aplicativos, os pensamentos voando alto não me permitiram focar.

Deslizo os dedos pelas pastas e clico na dela, abro o arquivo e uma série de cinco fotos saltam aos meus olhos.

Sophia cresceu, mas ainda tem o mesmo sorriso inocente e doce de doze anos atrás, os olhos transbordam alegria, a alegria que não tem nos meus.

Ela prometeu, e quebrou a promessa assim como meu coração.

Como alguém com a face tão doce pode me fazer tão mal? e como eu posso ser tão idiota?

Bloqueio o celular segurando o impulso de jogá-lo no chão e então volto a encarar o céu, pássaros cortam o ar, uns sozinhos outros em banco grasnando em busca de um abrigo para passar a noite, ela por sua vez começa a dominar o céu com calma, escondendo as cores que o sol ainda produz com seu brilho escasso.

Com um suspiro eu me levanto,  o vento fraco bate contra meu corpo e eu caminho pelo jardim com as mãos no bolso. Um passo de cada vez, poderia me considerar uma tartaruga, talvez lesma, mas isso não importa, eu preciso superar e salvar meu relacionamento.

Muito provavelmente Sophia deve estar chegando em Lorena, no meu jato, imagino seu cheiro se espalhando pelas poltronas, pelas paredes...

Continuo a caminhar com os olhos no chão e chuto uma pedrinha branca que surge no caminho, queria me sentir satisfeito com tudo isso, mas tudo que eu sinto é a sensação de que isso um dia iria acontecer, não o acidente, o reencontro e eu vejo que deveria ter me preparado para isso.

Paro em frente a uma parede, atrás das trepadeiras consigo ver a fechadura oval com um circulo de ferro, a árvore dentro do esconderijo esparrama suas folhas por cima do muro o escondendo, o protegendo.

Talvez eu deva me afastar, ir passar um tempo na cabana, faz meses que não vou lá, as comidas devem estar vencidas e com certeza ela precisa de alguns reparos, mas ir lá é a mesma coisa que mergulhar em um aquário, não, melhor dizendo, em um oceano de lembranças.

Meu celular vibra no bolso e o tiro para ler a mensagem de Roger.

Roger | 18:37

*Alteza, chegamos à Lorena, mas Sophia pediu para ir direto para o hospital.

O ar sai dos meus pulmões com uma lufada, certo, eu não estou nem um pouco preparado.

*Tudo bem, avisarei meus pais, obrigado meu amigo.

Encaminho a mensagem e giro sob meus calcanhares deixando a moradia secreta para trás e seguindo para dentro de casa. Encontro Jasmin no caminho e peço pra que ela avise a minha mãe sobre a mensagem, com certeza ela se encarregará de passar a informação para meu pai.

Deixo ela para trás e rumo as escadas principais encontrando Miranda no caminho com um grande sorriso no rosto.

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ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrela quando chegar ao fim, por favor.
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- Alteza. - ela se curva minimamente e eu cumprimento com um aceno.

Continuo meu caminho, mas franzo o cenho me lembrando de algo importante.

- Miranda? - chamo voltando dois passos e me virando para ela.

- Sim, vossa alteza. - se afasta da porta de um dos quartos de hóspedes e encara meu rosto.

- Você não vai a faculdade hoje? - pergunto curioso e ela sorri simples.

- Não senhor, ficarei para receber Sophia. - responde, mas então seu sorriso morre. - Algum problema, senhor? - pergunta e eu solto um riso fraco.

- Não. - sim! por que todos parecem tão animados em tê-la entre nós? - Não se preocupe. - mantenho meu rosto esticado em um sorriso forçado que some instantaneamente quando lhe dou as costas. 

Com um suspiro cansado dou o primeiro passo, depois mais outro, e outro e outro. 

"- Você acredita em segundas chances?" - a pergunta dela ressoa em minha mente me irritando profundamente, ela tem esse poder de entrar na mente das pessoas com suas palavras quando quer.

Mas eu simplesmente acho que Deus não tenha alguma coisa a ver com isso.

"- Eu realmente acho que é uma segunda chance pra vocês" - gostaria de tapar as vozes da minha cabeça que repete as palavras dela, toco o pilar de pedra enquanto curvo o patamar da escadaria dando início ao segundo lance de escadas.

- Deus, por que o senhor teria parte na minha dor? - tudo bem que eu não ando sendo um exemplo de cristão, mas se Ele me ama por que me deixaria sofrer?

Enfio minhas mãos nos bolsos enquanto ainda caminho em direção ao meu quarto, os olhos no chão

- "Ele não deveria me querer bem?" - me questiono sentindo meu peito se afundar lentamente.

Sophia, ao contrário de mim, não parece sofrer, talvez ela nem se importe o suficiente pra se lembrar e por que eu tenho que chorar?

Caminho sem me sentir mudar os passos, seria muito mais fácil se tudo isso fosse parte do enredo de um livro de Nicholas Sparks ou uma peça teatral de Shakes, eu sairia tocado da plateia, mas voltaria a sorrir minutos depois, mas desde que ela partiu os momentos realmente felizes se reduziram a quase nenhum.

É injusto.

Com esse pensamento empurro a porta do quarto e entro a fechando bem atrás de mim.

Talvez um dia eu seja finalmente feliz, talvez quando tiver filhos.

"- Não minta para si mesmo" - a voz dela soa novamente e eu prendo a respiração fechando os olhos em seguida.

Sinto a vontade de chorar bem próxima, e sei que eu posso perder o controle se continuar permitindo que esses pensamentos inundem a minha mente.

Solto o ar dos pulmões gradativamente e abro meus olhos, cruzo o quarto e me jogo na cama do quarto escuro e sinto o peso dos meus pensamentos me sufocarem, eu odeio isso, odeio me sentir o garoto abandonado por sua paixão adolescente de anos atrás.

As pessoas costumam superar amores, não é? todos nós já tivemos o coração partido um dia, e por que a fita não parece rodar pra mim?

Engulo em seco fechando meus olhos novamente, um grande erro, pois nesse instante Sophia saltou por meus olhos fechados com seu sorriso gigantesco, olhos brilhantes e seu jeito delicado.

Sua fisionomia adulta em nada muda a graciosidade de seus traços, ela estava em um campo, no gramado uma toalha vermelha quadriculada sustentava várias comidas e ela girava debaixo da luz do sol que refletia no seu cabelo e o fazia brilhar.

Seu vestido de babado parecia um balão em volta das suas pernas e ela riu quando sentiu o vento contra seu corpo desmanchar o volume da roupa e jogar seus cabelos para trás.

Ela para de girar, mas permanece com os braços abertos, parecia o Cristo Redentor, ou a Rose sem o Jack naquela famosa cena do Titanic, mas muito mais gracioso, seus olhos castanhos como chocolate ao leite brilha quando ela olha para a câmera.

"- Você está filmando?" - perguntou no vídeo que postara em seu Instagram há alguns meses. "- Olá" - disse com a voz doce.

O pensamento focaliza em seu rosto e eu sinto, sinto o coração bater rápido dentro do peito, Line está certa, eu a amo, a amo demais...

Levanto num pulo raivoso.

- Droga! - grito alto frustrado e enraivecido.

Novamente minha vida está virando de ponta cabeça e mais uma vez eu sou fraco o suficiente pra deixar que aconteça bem diante do meu nariz. Levo meus braços a cabeça e a abraço, caminhando de um lado pro outro no quarto, sinto a temperatura aumentar, eu vivo dentro do meu próprio inferno.

Caminho para o banheiro sentindo lágrimas ferventes borbulharem para fora dos olhos. Fecho a porta e me encosto nela, olho fixamente para frente para o meu próprio reflexo, para mim, mas o que eu enxergo é um covarde, medroso e doente ser humano.

Como eu conduzirei um reino se nem a mim mesmo eu consigo guiar?

- AAH! - grito avançando sobre minha imagem no espelho a partindo em milhares, os cacos espirram sobre mim, sobre a pia, sobre o chão.

Agarro a bordas da pia sentindo o sangue correr rápido pelas veias, curvo minhas costas e respiro devagar para conter a crise que ameaça me dominar.

As lágrimas silenciosas dão lugar a um choro ruidoso, desesperado, quebrado.

O sangue escorre dos meus dedos pela pia branca maculando o mármore, solto-me dela e me afasto para encostar as costas na parede de azulejo.

Eu me sinto cansado, fadigado, quando isso vai passar? será que um dia vai passar?

Escorrego me sentando no chão repleto de cacos e cubro meus olhos com as mãos, a ardência que os machucados causam não são nada comparados a dor da minha alma. 

Bom, tudo parece uma maldita bola de neve, o e-mail, a chegada dos Owes, a volta da ansiedade, o acidente de Mary e Ethan e agora a vinda de Sophia.

- Meu Deus, me ajude, por favor. - choro com a cabeça entre os joelhos. - Talvez eu não seja, e provavelmente não sou, seu melhor filho, mas eu preciso de ajuda... - me calo quando um soluço irrompe pela minha garganta enquanto as lágrimas grossas continuam a descer por meu rosto.

Eu quero paz, eu preciso de paz.

- Adam? - ouço batidas na porta do quarto e a voz baixa pela distância entra em meus ouvidos.

Minha mãe.

Me levanto quase que imediatamente e vou até o chuveiro o ligando, Seco meus olhos e meu nariz com a mão boa. Limpo a garganta enquanto eu a ouço abrir a porta do quarto, as lágrimas ainda caem, mas não pretendo deixar ela saber que choro.

- Adam? - chama de novo e pigarreio mais uma vez varrendo o chão do benheiro com os olhos.

Sei que ela não vai entrar, não aqui, mas mesmo assim sinto que ela pode descobrir que eu fiz de novo.

- Oi, mãe. - digo alto pra que ela ouça. - Vou tomar banho. - aviso tentando esconder minha voz rouca pelo choro dolorido, mas eu sei que ela já desconfia.

Pietra me conhece, e muito bem.

- Eu vim ver se estava bem. - sua voz clara denuncia sua proximidade da porta. - O que houve? - encontro preocupação em seu tom e eu me aproximo da pia com uma careta.

Tiro com cuidado os cacos que se prenderam a minha carne com baixos resmungos.

- Está tudo bem mãe. - minto sentindo vontade de me socar por isso, mas não tenho coragem de lhe conter que eu estourei mais um espelho. - xxx... - solto um gemido baixo e faço mais uma careta de dor. - A Jasmin entregou meu recado? - pergunto com outra careta e balançando a mão no ar, como arde.

- Sim. - sei que ela tenta identificar algo por trás da minha voz e eu torço pra que isso não aconteça, ela já tem coisa demais pra se preocupar.

Suspiro e baixo minhas mãos para a barra da camisa que puxo pra cima em seguida, sei que ela ainda está aqui.

- Jantará conosco? - sua voz soa mais uma vez e eu sorrio tristemente e ao mesmo tempo desabotoo a calça enquanto tiro os sapatos pisando sob o calcanhar.

- Não estou com fome, me sinto um pouco enjoado, vou deitar depois do banho. - digo olhando para baixo enquanto ainda me dispo e recebo seu silêncio como uma resposta.

Caminho até perto da porta e me encosto na parede, as vezes adoro o fato da mamãe me tratar como uma criança ainda, apesar de afastá-la sempre, eu a amo tanto.

- Tudo bem, pedirei para Clara fazer uma sopa e Lis te trará mais tarde. - sua voz soa sutil, mas ainda preocupada e meus lábios se esticam em um sorriso genuíno.

Olho pro teto e então suspiro, seu amor é acalento.

- Obrigado, mãe. - agradeço verdadeiro e sei que ela sorri.

- De nada meu príncipe, bem, eu vou indo. - avisa devagar, sei que ela espere que eu peça pra ela ficar, talvez para conversar, mas eu não farei isso. - Se precisar tem um guarda a sua porta. - se dá por vencida e eu balango minha cabeça em concordância mesmo sabendo que ela não pode ver.

- Tudo bem, mãe. Obrigado. - eu ouço seu "tá" baixinho e então seus passos quase silenciosos até a porta que é fechada em seguida. 

Ela se foi. 

Permaneço ali por alguns minutos antes de girar sob meus calcanhares e ir para o box, depois de entrar permaneço imóvel com a cabeça debaixo da água apenas sentindo ela me molhar, ela poderia lavar minhas dores, né?

- xxx... - abro os olhos rápido e resmungo afastando minha mão da água quando a sinto arder. - Que droga! - reclamo afastando meu corpo inteiro do chuveiro.

Eu prometi a mamãe que não faria mais, da última vez que isso aconteceu rompi um tendão e quase perdi o movimento da mão.

O sangue volta a escorrer por eu ter feito um movimento abrupto com a mão, despejo um pouco do sabão líquido na boa e esfrego levemente as feridas e pelo sangue seco, arde, mas eu não ligo.

Os ferimentos não foram nem de longe graves como da última vez, graças a Deus, mas eu me sinto péssimo, quebrei a promessa que havia feito a mamãe. Agora, sem sangue nas mãos volto a me posicionar em baixo do chuveiro, tenho que dar um jeito na camisa que com certeza sujou e nos cacos do chão.

Me esquivar do jantar pode me livrar de ver ela, provavelmente Roger me mandará uma mensagem avisando quando chegarão e com certeza eu não a receberei, pelo meu próprio bem. Não sei bem como lidarei com o amanhã, minha mãe vive dizendo que temos que viver um dia de cada vez, mas é quase impossível não pensar no amanhã com ela aqui. 

Fala sério, como cheguei nessa situação?

Ando pensando tanto em Sophia que me esqueço constantemente das minhas obrigações com o reino e isso é ruim, muito ruim. 

Amanhã eu tenho uma conferência com o secretário real do príncipe Malcolm,  ele, o pai e o irmão virão a Lorena, Bohler será coroado rei, logo nossa presença será requisitada por termos uma aliança. Somos um dos primeiros reinos que eles buscaram para requisitar a presença no dia da coroação, a recepção e a entrega do convite será uma oficialização.

Isso sem contar nas cartas que eu ainda tenho que terminar de ler e responder. Emma é minha outra secretária e cuida de tudo que envolve minha aparição e imagem nas mídias, enquanto Roger me auxilia na parte política. 

Hoje eu deveria ter feito uma visita em dois orfanatos para o reabastecimento da dispensa e entrega de roupas, porém com o acidente e minha situação de abalo mental Emma quem me representou.

Pra amanhã a agenda promete ser bastante movimentada e sinceramente eu estou contando com isso, com a mente pensante uso as mãos para lavar meu cabelo, sinto minha mão arder, mas não me importo tanto, o que está me incomodando é o sufoco que se espalha por mim enquanto o sabão do shampoo me impede de abrir os olhos me deixando na escuridão da minha mente, eu deveria ter ascendido a luz do banheiro. Enfio minha cabeça debaixo da água e e esfrego mais para enxaguar todo o sabão, logo depois desço minhas mãos para o rosto o lavando para finalmente poder abrir os olhos, passo pelos fios o condicionador e aproveito para ensaboar meu corpo, o esfrego com a bucha branca e enxaguo tudo junto, desde os fios ruivos até meus pés. 

Quando o banho se finda desligo o registro do chuveiro e abro o box para puxar a toalha de algodão, enrolo ela envolta da minha cintura e saio do box, caminho com cuidado pelo piso liso e pego a toalha de rosto para secar meu cabelo. Nas pontas dos pés caminho até a porta e irrompo o quarto vazio e escuro, vou direto para o closet chacoalhando a toalha contra o meu cabelo, penso em tanta coisa que nem sei mais o que penso. 

Escolho entre as roupas uma calça moletom e uma t-shirt, ambas pretas, não sei foi quem disse que as nossas roupas revelam nosso humor e sentimentos, mas na minha opinião essa pessoa nunca esteve tão certa. Visto a calça em dois tempos, deixo a camiseta de lado para ir até minha penteadeira, passo creme no cabelo e o penteio, passo desodorante e logo depois tiro da última gaveta uma maleta de primeiros socorros e a abro para pegar um band-aid. Não foram muitos cortes e nem foram profundos, por isso destaco e abro somente um o colocando sobre o maior dos cortes e nos outros passo neomicina.

- Inteligente. - resmungo irônico virando-me para o puff aonde repousa minha camisa.

Com o maior cuidado passo minha mão com pomada pelo buraco da camiseta. faço uma careta quando sinto ela esfregar em minha mão e logo depois enfio outro braço e enfim a cabeça, descendo com rapidez o tecido por meu corpo. Me certifico que ainda há pomada na mão e então pego as toalhas para estendê-las, quando eu era pequeno tive bastante problemas com a minha mãe por deixá-las em cima da cama, Lis nunca falava nada, mamãe fazia esse trabalho por ela. 

Com um sorriso sutil cortando minha face pela lembrança caminho para fora do closet em direção ao banheiro, mas o sorriso some assim que entro. 

- Aaah. - gemo em dor e raiva quando sinto um caco de vidro entrar na minha carne - Mas que... - me calo apertando os lábios um no outro e os olhos também. - que cocô! - praguejo por fim abrindo meus olhos, jogo as toalhas sobre a pia e, me escorando na parede, dobro a perna para que possa alcançar meu pé e tentar tirar o caco. - É brincadeira isso, só pode. - resmungo quando não tenho sucesso e manco de volta para o quarto. 

Me jogo na poltrona e cruzo a perna.

- Mas que droga. - resmungo de novo ao me dar conta de que ainda estou no escuro já que as luzes dos abajures não ajudam muito.

Me levanto a contragosto me xingando pelo esquecimento e descuido e vou até o interruptor, após aceder a luz do quarto volto para a poltrona, me sento novamente e ergo meu pé. Passo o dedo pela pele para localizar o caco pequeno, tento o tirar com a unha e, felizmente, consigo. 

- Você... - sussurro olhando para as pontas dos meus dedos com os olhos semicerrados. 

Abaixo minha mão depressa e olho pra porta quando ouço três batidas, me ajeito na poltrona e permito a entrada. 

- Alteza? - chama Lis antes de entrar. 

- Pode entrar, Lis. - digo me pondo em pé e piso levemente no chão só pra garantir que não doeria mais. 

- Eu trouxe seu jantar. - caminha com um sorriso e carrega uma bandeja grande pelo quarto.

- Oh claro, por favor, sirva na sacada, eu já volto. - com os olhos pequenos e os cabelos grisalhos que a deixa incrivelmente fofa, Lis concorda e segue para o deck, eu permaneço olhando pra mulher que foi minha babá um dia.  

Ela some pelas portas da varanda e vou em direção ao banheiro de novo, olho pro pequeno caco nos dedos e pro chão, pro caco de novo e sorrio, jogo no chão e dou as costas caminhando em silêncio para a sacada. 

- Lis, eu não quero abusar da sua bondade... - abordo a senhora que serve meu jantar sobre a mesa de centro. - Mas será que você poderia pedir pra Jean ou Nate vir limpar o banheiro, por favor? - me acomodo na poltrona e coloco o guardanapo branco sobre o colo.

Sem falar nada a mulher olha pro meu rosto, depois desce seu olhar para minha mão e então vejo ela segurar a respiração por alguns segundos. 

- O senhor...? - hesita enquanto arruma suas costas deixando o serviço de lado por alguns minutos e eu reviro os olhos.

- Não me chame assim. - resmungo e ela solta um riso apenas, a fazendo desfazer a tensão de seu rosto.

- Claro alteza, eu irei procurar por um deles. - ignora meu pedido e eu bufo.

Eu era artero quando era menino e isso não melhorou na adolescência, Lis costumava chamar minha atenção e me apelidou de "menino Adam", mas quando eu cresci seu tratamento mudou, mesmo sobre meus pedidos constantes ela insiste em me tratar apenas como "alteza" ou "senhor", um saco já que eu a vejo como minha segunda mãe e nutro por ela um enorme carinho.

- Posso pedir outro favor? - dou o meu melhor sorriso pedinte, normalmente quando faço isso meu rosto se contorce em uma careta engraçada, pois meus olhos ficam miúdos e o sorriso estranho. 

- Ocultar sua irresponsabilidade deveria cobrir toda a cota de favores. - fecho o semblante em outra careta enquanto reflito sobre sua resposta, ouvi seu tom de brincadeira, mas ela está certa, aceito a colher que estende para mim para o risoto e então lhe olho no rosto. - Não me olhe assim, sei o que aprontou lá dentro, mas pode dizer o que queria. - faz uma leve reverência enquanto esconde as mãos atrás do corpo e eu solto um suspiro.

- Aah. - franzo o cenho. - Deixa disso Lis, já lhe disse que não precisa de toda essa formalidade, pelo amor de Deus, eu te tenho como minha avó. - enfio uma colher de risoto na boca, mas a olho assim que a ouço arfar.

O que eu disse?

- Meu Senhor de santa misericórdia! - exclama sobressaltada, minha boca cheia para de mastigar e eu a olho alarmado sem entender o motivo da sua reação.

Provavelmente eu pareço um esquilo, Teodor.

- O que eu fiz? - engulo a comida, meus olhos estudando sua feição com cuidado.

- Eu acabei de completar 49 anos, alteza. - exclama com horror e eu franzo o cenho ainda sem entender. - O senhor acabou de me chamar de velha, e na cara dura. - arregalo os olhos entendendo tudo e aperto o cabo de prata da colher entre os dedos. 

Opa.

Deixo a colher e estendo minha mão para a mulher, faço tudo isso enquanto pigarreio, em seguida dou meu melhor sorriso e pisco várias vezes seguida, pego sua mão e lhe beijo.

- Desculpe, eu não tinha intenção de te... - me calo e franzo o cenho quando a vejo sorrir. - O que foi dessa vez?

Essas mulheres ainda me matarão!  

- Alteza, eu estou brincando. - semicerro meus olhos após ela soltar um riso fraco, mas relaxo os músculos do meu rosto ainda a olhando. - Eu tenho quase sessenta. - volto a segurar a colher e nego sorrindo.

- E eu achando que tinha te magoado. - murmuro levando uma colherada de risoto à boca e ela ri.

- O senhor seria incapaz disso. - afirma ajeitando a cúpula cloche de aço sobre a bandeja.

- Eu não tenho tanta certeza, eu não fui um bom menino durante todos esses anos. - dou de ombros sem olhá-la, porém sinto os olhos em mim.

Seu silêncio me incomoda um pouco, até porque ela está me encarando, mas finjo não ligar enchendo mais uma vez minha boca de cozido com peito de peru defumado e cenoura, eu amo cenoura. 

- Alteza, eu também te considero ao ponto de te ter como o neto que ainda não tenho. - meus olhos correm para seu rosto, Lis está séria e vejo sinceridade em seus olhos, paro de mastigar o que me deixa de novo com a sensação de parecer um Tâmia. - Não se preocupe com isso, não em relação a mim, vou estar sempre ao seu lado. - fala e eu sinto meu nariz arder, sua mão se ergue até meu ombro e ela o aperta levemente, me oferece um sorriso gentil e então eu sei que elas estão lá, as lágrimas. - Vou deixar que vossa alteza se alimente e vou atrás dos meninos. - avisa recuando enquanto meus olhos caem no prato de novo e eu volto a mastigar.

- Tudo bem. - assinto a olhando rapidamente. - Obrigado, Lis. 

Ela se retira calmamente, seus passos são leves e eu só sei que ela saiu do quarto quando ouço o click da porta. Levo mais uma colher de comida a boca e olho para a vista além da sacada, bem, pelo menos eu ainda sou amado, não? 

- Isso é importante. - murmuro sorrindo em seguida, nego com a cabeça desacreditado de mim mesmo, agora eu falo sozinho também.

Em menos de quinze minutos não existe mais vestígio de nada, nem das migalhas do pão, com a barriga cheia permaneço com meu corpo jogado na poltrona, encaro o céu em silêncio observando as muitas estrelas. 

Como será que é a sensação que um astronauta tem ao olhar a terra de lá de cima? quando eu era criança nunca quis ser um astronauta, mas agora essa seria uma ótima opção, não só pra fugir dos meus problemas sentimentais, mas porque eu realmente me interesso pela sensação de estar no espaço. 

- Deve ser... - me calo quando ouço o som do celular e ao mesmo tempo batidas na porta. - Cronometraram. - concluo me levantando. - Pode entrar. - permito já dentro do quarto, alcanço meu celular na cama e leio o nome de Roger na tela. 

*Roger, meu amigo, só um minuto. - peço e ouço concordar do outro lado da linha.

Abaixo a mão com o celular e a mulher me sorri.

- Alteza, viemos para limpar. - diz Nate e eu assinto após cumprimentá-la também. 

- Alteza. - Jean me cumprimenta com uma reverência ao entrar no quarto munido com objetos para a limpeza e logo segue a mulher.

*Pode falar. - dou as costas para a porta que fechei e volto para a sacada - Como estão as coisas por aí? - pergunto sentindo meu coração bater rápido no peito.

Vou até o guarda corpo da sacada e espalmo minha mão na pedra fria olhando para o céu escuro.

*Ruins. - afirma e eu prendo o ar, meu Deus! *Mary acabou de sair de uma cirurgia, pelo que tudo indica foi bem sucedida, mas o estado dela é ainda mais grave que o do Ethan. - conta, eu me afasto do parapeito e me sento no chão, deitando logo depois.

Com os olhos no céu tento não contar as muitas estrelas, Estevão, nosso saudoso mordomo, dizia que contar as estrelas pode dar verruga.

*Não me conte pela metade. - reclamo fechando os olhos e massageo meu cenho.

Sinto meu estômago doer por estar cheio e eu deitado, mas não me mexo.

*Duas costelas fraturadas, corte na cabeça, e a tíbia quebrada. - faço uma careta de dor, soltando um suspiro logo depois e escondo meus olhos com o ante braço.  *Ethan também sofreu uma fratura, mas eles conseguiram colocar o osso no lugar sem precisar de cirurgia. - diz e eu ouço com atenção *O médico disse que ele ficará em observação porque chegou delirando ao hospital, mas além disso ele está bem. - finaliza calmo, calmo até demais.

Essa é uma das boas qualidades dele, sua calmaria, quantas vezes Roger me ajudou nas crises, tantas que até perdi a conta.

*E como ela está? - pergunto depois de um suspiro vencido e hesitante.

Ouço o silêncio dele e então suspira também.

*Destruída. - responde e aperto os olhos os fechando. *Mas eu sinto que tem algo errado com ela. - diz e abro os olhos ao ouvir sua confissão.

*Como assim? - questiono intrigado, mas ele não responde.

As estrelas piscam no céu chamando minha atenção e quando dou por mim já as estou contando, merda!

*Só um momento, alteza. - pede e eu, praguejando pelos dois motivos, me sento cruzando minhas pernas como índio.

- Obrigada doutor, boa noite. - ouço ele se despedir do médico com a voz distante.

Com um impulso eu me levanto e caminho até a poltrona.

*Perdoe-me, alteza. - volta a linha e eu nego mesmo sabendo que ele não verá.

*Tudo bem, tudo bem, o que dizia? - me sento na poltrona e franzo o cenho, me afasto do encosto e arrumo a  almofada atrás das costas.

*Ah... - hesita *Não sei bem explicar, mas tem algo além da dor da notícia, algo como insegurança, talvez medo. - murmura e minha face se contorce em uma careta e da minha garganta sai um riso baixo e amargo que se espalha pela minha boca.

Gosto de ferro.

*Talvez seja medo de voltar ao passado sem máquina do tempo. - murmuro sarcástico e ouço seu silêncio, tenho quase certeza de que seu olhar é de reprovação.

*Eu espero que nenhum de vocês dois se machuquem. - ouço sua voz preocupada e fecho meu sorriso gradativamente.

Eu já estou quebrado.

*Obrigado pelas informações. - agradeço sem responder seu comentário que abalou minha cabeça.

*Em alguns minutos estaremos no palácio. - informa e engulo em seco.

*Então, até daqui a pouco. - corrijo sentindo o nervosismo tomar conta do meu corpo e sinto minhas palmas soarem.

Que beleza.

*Até, alteza. - se despede e eu desligo a chamada encarando a tela o iPhone por alguns instantes.

- Eu espero sair dessa vivo porque sã não estou nem antes de entrar. - resmungo deixando o aparelho descansar em meu colo e olho para o céu que se estende por todo o horizonte, a vista parece uma pintura de Van Gogh.

Se eu entendesse de astronomia, constelações e blá, blá, blá, poderia encontrar algumas.

Com as duas mãos na barriga fecho meus olhos deixando os muitos pensamentos fazerem festa na minha mente, merda, eu não tenho um minuto de paz.

"- ...você a ama." - a voz de Madeline sopra a frase em minha mente e eu sinto meu estômago embrulhar.

Eu desisti de negar esse fato a bastante tempo, mas mesmo assim ouvir isso ou pensar nisso me deixa fraco, eu me sinto vulnerável, ela é a minha fraqueza, meu ponto fraco.

Isso é ruim em muitos níveis diferentes.

Eu amo, amo como uma criança ama chocolate, como as árvores e as plantas amam a água, como a terra ama a gravidade.

Que idiotice, invés de'u tentar desviar meus pensamentos...

- Tá legal, não dá. - murmuro decidido.

Não farei sala pra garota, nem morto, talvez morto eu ficaria se fosse, não pretendo encará-la tão cedo.

Decidido me ponho de pé, caminho pelo quarto e calço meus chinelos, Nate e Jean ainda limpam o chão do banheiro, concentrados nem veem quando deixo o cômodo, sigo até a porta e avanço pelo corredor.

- Senhor? - ouço o guarda me chamar com clara preocupação na voz e então paro para olhá-lo.

- Tudo bem Ryan, eu estou bem. - afirmo e ele, mesmo hesitante, assente voltando a se posicionar ao lado da porta e eu a caminhar até as escadas.

Desço os degraus com rapidez, pretendo avisar meus pais e dar boa noite, não sairei mais do quarto por hoje.

Desço os dois lances de escadas despreocupado, mas um pouco aflito pensando que em alguns minutos todo o ar mudará, caminho pelo corredor do segundo piso, noto a porta do quarto que Sophia ficará aberta, provavelmente Miranda ainda está organizando...

Meu olhar escorrega da passagem de madeira quando me aproximo da escadaria principal com tapete azul, desço os dois primeiros degraus pensando que mamãe e papai já devem estar na sala de visitas e...

Arfo impactado.

Meus passos congelam, minhas mãos soam, os olhos se arregalam, um frio percorre minha espinha e se fixa no meu estômago e até meus pensamentos sufocantes se calam.

É ela.

Sinto quando meu coração começa a bater cada vez mais rápido. Observo Sophia em seu vestido palha, mostarda, talvez bege ou sei lá que cor é, ele cobre seu corpo até um pouco acima do joelho, mas pela posição que ela está, cobre até seu tornozelo.

Sophia está debruçada sobre a mesa de centro analisando um dos pequenos vasos com a pintura das mãos, ela endireita as costas com os olhos ainda no objeto.

Eu não consigo tirar meus olhos dela, os cabelos lisos e castanhos caem por seus ombros, livre. Ela mantém um sorriso sutil nos lábios e conversa com Roger animadamente.

Tá Adam, você já sabia que ela viria, não aja como um bobão.

"- Quer parar de surtar, seu bunda mole?" - ouço minha mente gritar para mim, mas sinto meu peito doer com as batidas rápidas do meu coração.

Mas será o impossível?

Engulo seco e sinto a garganta fechar, a respiração rápida, o desespero surge quando não consigo mudar o passo, por favor, por favor, aqui não...

Fecho meus olhos os apertando forte, tentando me controlar.

Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.

Vejo quando Roger olha na minha direção, ele franze o cenho e então olha pra Sophia, de repente seus olhos se arregalam e ele se põe de leve na frente dela.

- Ruivo, ah meu Cristo. -  Madeline pragueja caminhando rápido para me alcançar, ela pareceu brotar na minha frente, mas na verdade ela acabara de sair de seu quarto, deve ter me visto paralisado e hiperventilando como o belo idiota que eu sou. - Vamos. - chama prendendo sua mão na minha trêmula. - Adam, você está branco feito papel. - observa com a voz apavorada olhando pra careta que tenho no rosto, a boca levemente aberta e os olhos arregalados. - E gelado como um defunto. - completa baixando seus olhos pra minha mão e então puxa meu corpo, mas permaneço olhando pra Sophia, que parece deslumbrada com o lugar, como uma árvore enraizada. - Ei, Adam! Vamos. - puxa forte minha mão e com um solavanco me deixo ser puxado.

Olhando por cima do ombro vejo quando Roger olha para mim, mas no minuto seguinte estamos fora do alcance da vista deles e eles da minha.

- Eu preciso que você respire ruivo, respire. - pede, mas não consigo focar em seus olhos, na minha mente a visão de Sophia em carne e osso permanece.

Foi demais, demais.

- Tá legal. - segurou meu rosto - Está tudo bem, tudo bem. - repete olhando em meus olhos, mas não é o suficiente, não depois de ver ela. - Vamos, você vai ficar bem. - passa seus finos braços por mim e me conduz em direção as escadas.

A visão da pequena garota agita minha mente, agita meus sentimentos, eu quis sair correndo pra abraçá-la ao mesmo tempo que quis que ela desaparecesse, evaporasse.

A minha garota, finalmente está em casa de novo.

Naquele mesmo segundo eu percebo, talvez eu não conseguirei, ela nunca foi minha e nunca será, os retalhos do meu coração parecem se rasgar e minha visão se embaça por causa das lágrimas e por causa da crise.

Em decorrência disso eu tropico em um dos degraus, perco o equilíbrio do corpo e vou de encontro ao piso frio levando Madeline comigo.

- Aaah. - arfo batendo a lateral do corpo e estremeço ao sentir minha costela doer, a dor se espalha pelo meu corpo como pequenas fagulhas quentes.

- Meu Deus... - ela murmura se levantando enquanto me mexo sem força tentando me sentar, com uma das mãos aperto o lugar que lateja.

Que merda, com a sensação de morte eminente, com a respiração acelerada que não é o suficiente para levar oxigênio por meu corpo todo, com a mente completamente ferrada por ela, caído no meio das escadas e agora com uma costela quebrada, que fim de dia perfeito.

- Sente-se, assim, isso... - me ajuda e eu arfo sentindo meu mundo girar. - Eu vou chamar Ryan. - avisa e eu fecho os olhos pra não ver como tudo roda, me enjoa a sensação de estar girando.

Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.

Não sei quantos minutos passam, ao mesmo tempo que parece uma eternidade, parece rápido demais, logo sinto mãos nos meus ombros.

- Vou levá-lo até seu quarto, alteza. - mesmo perto tenho a sensação de estar distante dele, e apesar de parecer estar desfalecendo sinto ele me erguer.

- Aaah... - gemo quando minha costela esquerda doí, mas enrosco meus dedos em seu terno e subo com a ajuda dele escada acima.

Ouço quando a porta do meu quarto é aberta e então sou guiado pra dentro dele que é iluminado pela luz acesa por Madeline.

- Alteza, por favor, abra as cortinas. - instrui Line enquanto me guia não sei pra onde, nesse momento não tenho noção de mais nada. - Quanto mais ar circulando, melhor. - explica me orientando a sentar na poltrona. - Alteza, continue respirando assim. - se abaixa a minha frente. - Tudo vai ficar bem. - garante e eu quero, quero mesmo acreditar em suas palavras, mas ela está aqui.

Ela está aqui.

Cansado e sentindo a inconsciência despontar me lembro da mamãe cantando a canção dos patinhos.

Ela cria galinhas, papai quis morrer quando ela chamou o carpinteiro para construir, mas cedeu logo depois quando a viu sorrir para o projeto que o arquiteto apresentou.

Comemos ovos que a Filisbina, Jucelina, Celina, Alina e Belina botam e claro, Donizete, o galo, monta a segurança.

Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.

- Adam? - ouço a voz de Roger romper ao longe. - Faz quantos minutos? - pergunta se aproximando, ainda não enxergo nada com precisão e ainda me sinto fadigado, sufocado pela sensação de que vou morrer.

Não presto atenção na resposta de Madeline porque sinto como se estivesse dentro de um barco que naufraga, a bolha de ar é preenchida lentamente por água e eu me vejo afogar.

- Ei, ei... - bate na minha mão de leve, ele parece quente enquanto eu frio demais. - Adam, não fecha os olhos. - pede próximo. - Inspira, um, dois, expira. - instrui como a alguns anos atrás.

Eu o faço, mas por mais  que eu tente não consigo pensar em outra coisa.

- E-la, ela me viu? - tento encontrar seu rosto, mas não acho.

- Não, alteza. - afirma e eu tento assentir. - Respire devagar. - instrui calmo.

Calma, sim.

Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.
Inspira, um, dois, expira.

- Precisamos de um copo de água, talvez... - ouço Roger calar Madeline.

"- Você a ama" - minha mente acusa ao som da voz de Madeline e olho pro teto.

- Não acho que irá ajudar, ele precisa mudar o foco dos pensamentos. - sua voz sai pensativa. - Talvez se você cantar pra ele, alteza. - sugere pra minha namorada, mas ouço ela rir nervosamente.

A respiração volta a desandar quando vejo Sophia diante dos meus olhos, sorrindo para mim, chamando meu nome...

- Só vai adiantar a morte dele. - Line garante nervosa, eu quero gritar que estou morrendo enquanto eles discutem amenidades, mas não consigo falar, minha garganta está fechada, travada.

- Tudo bem, então... - ele respira fundo - Eu não acredito que eu vou fazer isso, mas... - se cala rapidamente e então começa a cantar a música que reverbera pelos meus ouvidos e me faz querer rir.

- Só pode ser brincadeira. - Madeline sussurra rindo baixo.

- ...cabe aqui na minha mão, na minha mão. - canta e eu fecho os olhos desejando ter morrido. - Quando quer comer bichinhos com seus pézinhos ele cisca o chão.

Eu não sei se choro ou se rio, mas eu sei que meus ouvidos sangram. Queria muito ser capaz de focar seu rosto pra poder gravar essa cena pra sempre.

- ...ele faz piu-piu, mas tem muito medo é do gavião. - termina e Madeline ri alto. - Acho que ele tá melhor, não acha? - pergunta e seu rosto se aproxima do meu, daria um peteleco nele se conseguisse me mexer. - Vou cantar de novo.

- Cristo, rei. - o sussurro de Line me faz rir por dentro.

Enquanto Roger canta pra mim mais uma vez, Natalie e Jean deixam o quarto quando terminam a limpeza, ouço quando Madeline pede para Lis subir com um chá.

A voz insuportavelmente desafinada de Roger continua a ferrar meus tímpanos, fala sério eu quero socá-lo, até a idiota da crise não resistiu ao seu canto pavoroso e aos poucos deixa meu corpo.

- Ca-cala essa maldita boca, merda. - digo sentindo o nó na garganta menos apertado.

A gargalhada alta de Roger reverbera por todo o quarto, se eu não o conhecesse diria que ele é um psicopata com essa risada monstruosa.

Pisco seguidas vezes ainda praticando o exercício de respiração.

- Tem certeza que não quer ouvir mais uma vez? - provoca e dessa vez eu inspiro e conto até dez, mas em seguida lhe dou um peteleco. - Ei. - resmunga enquanto sorrio.

- Não. - solto o ar em uma lufada longa, fecho os olhos e as mãos nos braços do sofá. - Eu quero chorar com sua voz de cigarra. - murmuro focando nas batidas do meu coração enquanto ele ri fracamente.

- Como se sente, Adam? - sei que é Madeline que pergunta, sua voz soa preocupada e gentil.

- Sinceramente? - pergunto e ela diz sim. - Um idiota. - confesso abrindo os olhos e enxergando os dois menos borrados. - Fala sério, eu sou patético.

- Não vamos falar disso, não estou a fim de te ver hiperventilar de novo. - ela resmunga e eu concordo.

Olho pra Roger que me encara com um semblante sutil, porém aliviado.

- E você, nunca mais cante. - peço - Sua voz provocaria facilmente a morte da humanidade. - digo e ele ri.

- Nesse caso, é bom ver que não morreu, alteza. - se levanta e sorrio suavemente, deixando com que meus olhos se fechem e volto a respirar devagar.

É mesmo bom que eu não morri, mas isso não quer dizer que sobreviverei os dias seguintes, me ajeito na poltrona vendo Madeline com preocupação estampada no rosto, mas seus olhos denunciam sua braveza. 

- Chupou limão? - pergunto sabendo o motivo da sua braveza e ela faz uma careta, caminha até mim decidida e toma minha mão na sua. 

- De novo, Louford? - questiona e eu puxo minha mão sutilmente da dela. 

Não falo nada, não tem muito o que dizer, os seus olhos me incriminam e o mesmo silêncio que me cala está sobre Roger também, que agora está sério e me encara pensativo. 

- A rainha não gostará de saber disso. - eu reviro meus olhos, é uma ação automática, mas que sei que a irrita mais.

- Deixa que com a minha mãe eu me resolvo. - suspiro incomodado com o sentimento de culpa que queima meu peito e com seu olhar que detém uma  ameaça implícita.

- Você prometeu à ela. - ela relembra só me fazendo me sentir ainda mais culpado. 

- Alteza, acredito que essa é uma má hora pra discutir sobre isso. - intervém Roger e eu o agradeço mentalmente. 

Madeline olha pra ele, aperta os lábios em uma linha reta e depois de alguns segundos assente.

- Você tem razão. - olha rapidamente para mim. - Eu vou me retirar porque sinto vontade de lhe socar, mas amanhã teremos essa conversa. - avisa e eu suspiro ouvindo seus passos pesados pelo quarto, ela nem ao menos esperou que eu processasse suas palavras, talvez tenha feito certo. 

Roger a segue com o olhar e somente quando a porta se fecha atrás de Madeline ele sorri. 

- Vocês dois parecem mais irmãos do que namorados. - resmunga em tom brincalhão e eu sorrio negando uma, duas vezes com a cabeça, meus cachos batendo contra meu rosto suavemente, me ajeito na poltrona sabendo que a muito tempo ele vem dizendo isso. 

- E eu vou fingir que você não nutre uma paixão secreta por ela. - brinco e ele arregala os olhos. 

- Adam, eu já lhe pedi pra parar de brincar com isso. - torna-se inquieto me levando a soltar uma gargalhada alta. 

- Fala sério, você é muito bom, queria guardar meus sentimentos igual você. - aponto e ele cruza os braços contrariado. 

- Tá legal, já deu, eu acho que já vou também. - eu rio, mas ele permanece sério. 

- Você sabe que eu estou brincando, não é? - pergunto me levantando e seguro em seu ombro. 

- Eu sei, Adam, mas mesmo assim sinto vontade socar sua cara. - confessa me levando a rir de novo. 

- Parece que todo mundo quer socar minha cara hoje. - comento com um riso nos lábios. - Arg... - levo a mão a cabeça sentindo ela doer de repente e uma sensação ruim passar pelo meu corpo, caio sentado na poltrona e Roger se aproxima rápido.

- Ei, o que houve? - pergunta claramente preocupado. - Adam? - chama no mesmo instante que a porta se abre, Roger ergue seus olhos em direção a quem entrou e pela voz logo descubro de quem se trata.

- O que houve? - pergunta Lis caminhando até nós com uma pequena bandeja na mão.

- Ada... - a voz de meu amigo é interrompida antes mesmo que pudesse começar.

- Nada de diferente, foi só mais um crise. - mantenho no rosto uma feição calma apesar de todo o ocorrida, Lis, então, após olhar de mim para Roger desconfiada como se eu estivesse mentindo, assente. 

Do jeito que Lis é se Roger dissesse que ainda estou mal ela provavelmente chamaria minha mãe e o doutro Paul e sinceramente, não quero muita gente em cima de mim nesse momento, eu sei que isso poderia chamar a atenção de Sophia e por Deus, isso é tudo o que eu não desejo. 

- Bem, já que você está em boas mãos eu vou embora. - meus olhos voam para o jovem moreno. - Ainda tenho uma longa estrada até em casa. - murmura e eu me levanto enquanto Lis agita o chá com uma colher prateada dentro da xícara. - Até amanhã, alteza. - se despede com um abraço.

Eu o vejo se afastar, seu terno azul está completamente amaçado e seus ombros tensos declaram seu cansaço. 

- Roger. - o chamo antes que abrisse a porta do meu quarto fazendo-o me olhar. - Eu apoiaria, se não fossemos ligados por uma diplomacia. - como se tivesse dito a coisa mais ridícula ele revira os olhos e em seguida me mostra o dedo do meio, mas que ousadia, eu gargalho alto, mas logo paro quando meus ouvidos zunem.

Quando eu mostrei o dedo do meio pela primeira vez foi pra um duque que se achava o maioral na escola, ele me esnobava por ter quase tudo o que eu não tinha, mas quando mamãe e meu pai foram chamados na escola eu me arrependi amargamente, fiquei as férias inteiras sem jogar vídeo game e nem pude sair pra brincar com Steve, muito pelo contrário eu estudei as férias inteiras, foi terrível. 

Roger foi embora sem dizer nada e eu voltei a desmoronar na cadeira.

- O que te atormenta, filho? - Lis me serve e eu suspiro. 

Eu tenho certeza que ela é a mulher perfeita, depois da minha mãe, para desabafar, tanto pela carga de experiencia que carrega, quanto por me conhecer desde que eu era um menino. 

- Ela chegou e eu dei de cara com ela, Lis. - minha voz soa baixa, eu seguro a xícara com o chá quente dentro. - Aii... murmuro passando a segurar somente a asa da xícara de porcelana dourada após minha pele ser queimada.

- Eu fiquei sabendo. - assente pegando o guardanapo e me entrega. - Não pude vê-la ainda, mas a garota já é o assunto mais falado entre os funcionários. - comenta enquanto eu esfrego o pano na calça que molhou com o líquido.

- Eu entendo bem, também estaria fofocando se fosse outra pessoa no lugar dela. - meus olhos ainda estão sobre minha calça e eu ouço Lis ri.

- Maria Fifi como seu pai. - resmunga se afastando um pouco. 

- O que de mais divertido tem nesse castelo do que fofocar com os funcionários? - questiono bebendo mais um gole e Lis ri. 

Quando pequeno eu vivia espalhando e ouvindo fofocas, eu sabia que era errado, mas adorava ver o circo pegar fogo, só depois que fiquei sem celular por vários vezes e por longos períodos eu aprendi a só ouvir as fofocas e manter o bico calado. 

- Então é você é que está ensinando isso pra Lia? - pergunta fingindo indignação. 

- Mas é claro que não. - afirmo o mais convincente que consigo. - A gente só fofoca vez ou outra, a última vez, bem... - tento me lembrar. - No baile passado quando Dolly fez aquele barraco todo dizendo que Phillip havia derramado vinho em seu vestido caríssimo. - rio me lembrando da pequena criança sentada ao meu lado na mesa com uma careta engraçada no rosto e depois inclinando-se pra dizer: "alguém avisa ela que nem princesa ela é pra estar dando esse bafão todo.", claro que eu tive que rir e óbvio que não seria baixo, o baile ficou melhor com ela.

- Estou vendo que foi mesmo uma boa ideia mandá-la para Metz. - murmura e eu rio, mas nego.

- Não, não foi. - retruco me virando para ela que dobra algumas das roupas que deixei jogadas em cima da cama, roupas que eu vesti e desveti mais cedo. - Eu fiquei sem minha companhia formidável nos bailes, Lia é genial. - descanso minha cabeça na poltrona me lembrando da menina sapeca que ama dar pitaco na vida dos outros, e eu amo ouvi-la. - Será que quando ela voltar vai estar muito crescida? - pergunto sentindo genuína saudade do furacão dois, porque o primeiro é meu irmão.

- Você está falando como se não a visse a anos, alteza. - Lis murmura risonha e eu a olho.

- E faz quanto tempo que Lia está presa naquele conservatório de loucos? - pergunto virando-me para ela e Lis me oferece uma carranca feia. 

- Não fale assim, é um internato cristão, alteza. - me repreende e eu imito sua voz somente para provocá-la e ela bufa irritada me levando ao riso. - E faz apenas seis meses que as aulas voltaram. - murmura e eu pondero.

Sim, faz bastante tempo

- Lia disse que é um conservatório de loucos e eu acredito nela. - rebato e dou de ombros desviando os meus olhos dos seus com um simples sorriso escondido pela borda da xícara.

- Oh meu Deus, eu sinceramente não sei mais o que faço com vocês dois, francamente, achei que ela com Phillip me daria esse trabalho, mas ao invés disso um rapaz de vinte e quatro...

- Aaah. - quase grito a calando rapidamente. - Vinte e três. - corrijo e Lis revira os olhos, isso mesmo, revira os olhos.

- Grande diferença, eu sinceramente esperava mais maturidade da sua parte, alteza. - desabafa e eu sorrio. 

- Eu sou maduro. - alego, mas ela ergue as sobrancelhas na minha direção em plena discordância. - Ora, claro que sou, mas é que existem as exceções e essas são quando eu estou com meus irmãos, com Lia ou quando quero irritar você, e eu sempre consigo. - pisco um olho para ela que suspira resignada.

- Já terminou o chá, alteza? - muda de assunto e eu rio baixo vitorioso. 

Tirar Lis do serio é meu hobby preferido, com certeza.

- Ainda não. - nego olhando para a pequena quantidade no fundo da caneca, está fraco e sem açúcar, como eu amo. - Esse é diferente, do que que é? - questiono curioso e ela me sorri.

 - Valeriana. - responde antes de sumir dentro do closet, viro a xícara de chá na boca arrematando o resto. - É uma das flores que a rainha cultiva na ala medicinal de sua estufa. - explica se aproximando e quando constata que eu acabei caminha até mim tomando a xícara com cuidado - Ela ajuda na qualidade do sono e na diminuição do estresse. - diz descansando a porcelana na bandeja e a levanta calmamente.

- Que perfeito, quer dizer que vou dormir mais de cinco horas essa noite? - questiono e ela me sorri. 

- É o esperado, alteza. - assente e eu suspiro, agora é minha vez de revirar os olhos.

- Me chame de Adam, não sei quantas vezes já me chamou de alteza só nos dez minutos que está aqui. - levanto meus olhos para ela que deita a cabeça no ar. 

- Sabe que eu não... - eu a interrompo com um sorriso bagunceiro.

- Então vou levar a Lia pra Bélgica comigo nesse verão. - ameaço e a vejo empalidecer, eu já fiz isso uma vez e ela quase surtou, na verdade ela surtou. 

Eu tinha dezesseis anos, Lia e eu sempre fomos muito grudados, na época a garota tinha quatro anos, eu gosto das lembranças desse dia, apesar de que fiquei de castigo pelo resto das férias sem poder sair da casa do campo, um mês inteiro dentro daquela maldita casa luminosa.

Caio na gargalhada e Lis leva a mão ao peito, sei que não devia brincar com ela dessa maneira, mas é quase impossível, sempre impliquei com ela, mas depois de Sophia eu me tornei a minha pior versão, somente alguns anos depois eu voltei a me abrir para resgatar algumas características do velho e bom Adam.  

- Não ouse brincar com isso. - ordena com o dedo apontado pra mim e eu levanto minhas mãos para o alto. 

- Desculpa, Lis. - murmuro me levantando para abraçá-la. - Você sabe que eu amo você. - afirmo e ela sorri levando a mão ao meu coração. 

- Ah, querido. - chama docemente e eu sorrio satisfeito pela demonstração de carinho super informal, sei que ela ao menos percebeu. - Sabe que eu também te amo. - afirma ainda com a mão no meu peito, eu não achei estranho, é um gesto de carinho dela, Lis o faz desde que era criança. - Não se preocupe com a garota, vocês vão se acertar. - sua fala repentina faz meu sangue congelar nas veias e o sorriso fechar lentamente. - Só seja paciente e não a trate mal. - solto um suspiro resignado e me afasto um passo.

- Eu não pretendo tratá-la mal, mas também não pretendo me aproximar. - afirmo pensativo, a ansiedade batendo a porta de novo. 

Lis assente e volta a se aproximar, toca meu cacho ao lado da minha testa e então desce sua mão macia por meu rosto com carinho. Seus olhos fitam o meu e eu enxergo o carinho e a fé ali estampados. 

- Chegará o dia que as suas cicatrizes não serão capazes de esconder sua felicidade, alteza. - seu timbre é tão calmo que meu coração também se acalenta e eu me vejo preso em seus olhos claros.

Assinto minutos depois com meu coração batendo rapidinho e ela sorri mais uma vez para mim, por mais que eu ame e confie em Lis tenho que ter cuidado com o que conto pra ela, porque ela é igual minha mãe, tudo o que fala acontece.

- Peço sua licença, alteza. - se curva minimamente e eu assinto ainda absorto por suas palavras, eu nem sei em qual pensar primeiro, sinceramente, não quero nem pensar.

É incrível como o clima pode mudar de tenso para relaxante e depois para tenso de novo, tão bipolar como eu, credo.

- É Adam... - consigo dizer antes da porta se fechar com um clique mudo atrás da senhora que soltou um riso baixo ao me ouvir.

Quando estou só solto todo o ar que só agora percebi que segurava, caminho até minha cama puxando a camiseta lisa pelos braços e pescoço, eu a jogo nos pés da cama e me deito em seguida.

De barriga pra cima eu fito o teto, sem dificuldade nenhuma Sophia aparece diante dos meus olhos e eu não luto pra que minhas memórias não me abracem, ao contrário disso viro-me de lado na cama de casal e fecho os olhos me lembrando da época que tudo era descomplicado e bom demais.

"- Chegará o dia que as suas cicatrizes não serão capazes de esconder sua felicidade, alteza."

Caio na inconsciência com a voz suave de Lis na mente. 

____________________________

INFO:

ATENÇÃO: Seu voto é importante, então deixe sua estrelinha aqui em baixo, por favor.

Jarl Borg - Personagem da série Vikings, governante da região de Gotäland.

Cabernet Sauvignon - um dos vinhos mais secos. (mais alcoólico, no caso, amargo)

Quatro coisas que não ficam escondidas por muito tempo: o sol, a lua, a verdade e o seu amor por ela. - adaptação da frase da série Teen Wolf

Tâmia - o esquilo famoso por encher a boca de nozes.

N/A - NOTA DA AUTORA 

Oi genteeee, boa tardeeee. Voltiii e com um caps todinho dele, do nosso princeso que divide nossos sentimentos. 

Tem várias coisas que estão sendo mudadas, ainda estou me decidindo se algumas cenas ficam ou não, quero também fazer com que a rainha tenha mais participação, vou desenvolver isso nos próximos capítulos e espero que vocês gostem. 

Inclusive, digam-me se estão gostando do que já leram. É importante para mim o feedback de vocês, então, pleaseeee, votem e comentem, certo?

Obrigadinha.

Em relação aos dias de postagens, eu ainda não tenho um dia fixo pra dizer pra vocês, estive pensando sobre isso, mas eu durmo e amanheço na facul então tá compricado... Mas como eu disse pra vocês no outro aviso, tenho alguns caps já escritos só pra corrigir e publicar, tá? 

É isso pessoal, espero que vocês estejam bem e desejo um ótimo fim de semana pra vocês. 

Bjinhos.

A.I.M

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