CAPÍTULO DOIS
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ATENÇÃO: o seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.
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"Cubro minhas pernas com o edredom azul claro e estico meu braço pra ligar meu celular, ativo o despertador pras sete da manhã e então apago os abajures."
Sábado | 22 de Maio
Era meio dia quando eu cheguei em casa, me sinto triturada por um elefante, hoje o dia havia começado cedo por causa da feira em Portobello, estava nublado de manhã, mas não caiu nem uma gota de água do céu.
Da hora que cheguei até a alguns minutos estava fincada nos estudos e agora não quero ler mais nenhum livro de direito, nem ouvir falar desse nome, claro que amo meu curso e amo minha futura profissão, mas por hoje eu estou farta, porém isso não significa que terei descanso.
Ainda hoje tenho que ir até a biblioteca para pegar um livro, sorte minha que tem uma próxima a minha casa, duzentos e cinquenta pés, eu só tenho que torcer para que tenha o que eu preciso pro trabalho lá.
*Alô. - atendo a chamada de Isla enquanto saio de casa.
*Oi Soph, desculpa se estiver atrapalhando. - eu tranco a porta.
*Tudo bem, estou tranquila, pode falar. - olho pra cima com o cenho franzido.
O sol resolveu nos dar a honra da sua presença em pelo menos um dia dessa primavera, mas tenho certeza que não demorarei a sentir calor dentro desse macacão jardineira já que pensei estar fresco como de manhã.
*Hoje à noite eu e a galera vamos jantar no Chimichurris, você vem com a gente? - convida e eu cumprimento com um sorriso uma das minhas vizinhas que parece voltar do mercado, é costume meu mesmo que quase sempre fique no vácuo.
Na verdade, isso costumava funcionar no Brasil, aliás, foi lá que que eu aprendi.
Caminho até o final da rua St Marks Pl, ou Saint Marks Place, a rua onde moro e viro a esquerda na Cornwall Cres, amo admirar a beleza das árvores floridamente coloridas por causa da estação, enchem as ruas de alegria e beleza e o ar está sempre perfumado.
*Vou ver se não tenho nenhum outro compromisso, mando uma mensagem pra confirmar? - pergunto já fazendo um checklist das coisas que já havia feito e das que ainda tenho pra fazer.
*Claro, eu espero. - eu sorrio mesmo sabendo que ela não verá. *Então, até mais tarde, Soph. - se despede.
*Até Isla, obrigada pelo convite. - desvio de duas pessoas e as vejo ir até o bicicletário que há no fim da rua.
Podemos encontrá-los por toda Londres, é a forma mais ecológica de locomoção, eu aprovo e muitas vezes uso, mas como a biblioteca é perto prefiro reservar meu dinheiro.
Atravesso a rua na faixa de pedestre e viro a esquerda de novo na Ladbroke Grove a rua principal onde fica a North Kensington Library, para mim, ela é uma das mais lindas bibliotecas de Londres e olha que aqui tem bastante.
Caminho pela rua cheia de pessoas, umas iam outras vinham, os carros passavam sem dar trégua e enquanto eu não tinha necessidade de atravessar observava a paisagem que me remete aos filmes que assisto, viver em Londres é como estar em um filme de romance, só que um pouquinho mais realista.
Pra todos os cantos que se olha há conjuntos de casas coloridas, um dos que eu mais amo é o degrade que fica aqui mesmo, na Ladbroke Grove, um pouco mais à frente de onde estou agora, se não me engano no próximo quarteirão; A primeira casa é verde pastel, depois vem a cinza bem clarinha, então um azul também pastel e então a beje, não sei dizer o quanto eu gosto, mas tenho vontade de guardá-las em um potinho e colocá-las como enfeite na minha estante de livros.
Do outro lado da rua há uma cabine telefônica, não é toda vermelha como as dos filmes, e sim de vidro transparente, não que as vermelhas não existam, mas é mais comum as de vidro normal.
Continuo caminhando e quando chego ao fim espero o sinal fechar aproveitando pra observar as minhas casa preferidas de toda a rua, quando o sinaleiro de pedestre fica verde eu atravesso em direção ao lado esquerdo, passo pelo The Elgin pub e sigo reto passando por altos estabelecimentos e por um restaurante turco, o cheiro que vem de lá de dentro fez meu estômago se revirar dentro de mim, por causa da correria tudo que eu comi hoje foi uma fatia do bolo de ontem as sete da manhã e nada mais.
Apresso meu passo para diminuir a tortura e com mais minutos chego a entrada da biblioteca, mais a frente, na lateral, é possível ver as borboletas pintadas de verde nos muros de tijolos laranjas baixos, elas já estão gastas pelo tempo, clima e chuva, mas nem por isso perderam o charme; na outra esquina fica uma floricultura que dá início a uma rua inteira só de lojas.
Passo pelo portão de ferro e subo os poucos degraus, empurro em seguida a porta de vidro ouvindo o sino badalar anunciando minha chegada, sorrio pra moça que ia saindo e dou passagem pra ela passar primeiro, assim que entro deixo que a porta se feche fazendo o sino soar novamente; vejo então os olhos levemente desesperados da bibliotecária, relativamente jovem, recaírem sobre mim, uma pequena fila se forma diante do seu balcão e essa mini lotação parece assustá-la, com certeza é nova por aqui.
Olho rapidamente ao redor fazendo um reconhecimento da área quebrando o contato visual com o da moça que volta a fitar o código do livro que segura. Caminho por entre as mesas redondas e cadeiras de madeira quase vazias e deposito minha mochila na mais afastada que tem, após isso sigo por entre as prateleiras a fim de encontrar o livro de direito penal que tanto precisava.
Eu já havia feito as atividades de direito civil, respondido um formulário de proficiência em direito que a professora havia pedido, o trabalho de direito tributário e só faltava o de direito penal.
Caminho pelo corredor de livros didáticos e antes mesmo de encontrar o que eu procuro encontro um de ética do profissional jurídico, apesar de já termos abordado esse tema em sala de aula eu gostaria de retomá-lo, por isso sorrio para o livro e o foleio.
- Faz direito em qual universidade? - pergunta alguém me fazendo olhá-lo rapidamente pega pela surpresa.
Era um rapaz alto, pele branca tipo a do Edward de Crepúsculo, olhos azuis e cabelo loiro, certeza que é alemão.
- King's College . - respondo com um sorriso simples e olho ao redor.
Ele surgiu de onde?
- Ah, uau. - faz uma careta engraçada. - Fiquei sabendo que é difícil conseguir uma vaga lá. - coloca o livro que segurava no vão vago.
- Um pouco, sim. - dou de ombros - Mas não impossível. - franzo o cenho. - Como soube que eu faço direito? - rodo meu dedo em um círculo. - Apesar de estar aqui. - ele acompanha meu olhar e sorri ao mesmo tempo.
- Consigo identificar o desespero nos olhos dos meus companheiros de curso e de futura profissão. - explica me fazendo rir baixo e ele sorri em seguida.
- Claro. - concordo levemente desconfiada, mas não quero ser antipática - Faz direito aonde?
- Em Oxford - conta eu ergo as sobrancelhas. - Desculpe, não me ache metido, juro que não sou assim. - avisa rápido e eu sorrio. - Valentin. - diz seu nome estendendo a mão pra mim.
- Sophia, mas pode me chamar de Soph, muito prazer. - aperto a mão dele - E olha, tudo bem, eu não tinha pensado nisso, na verdade eu ia comentar o quanto isso é legal. - e é verdade mesmo. - O que faz aqui?
- Na verdade, eu sou...
- Alemão. - disparo e ele ri divertido estreitando as sobrancelhas.
- Sim, e eu vim pra Londres justamente pra estudar. - conta enquanto seus olhos me observam pegar o livro que ele havia posto na estante. - Daqui até lá não é tão longe de avião, mas o duro é o dinheiro pra ir várias vezes ao ano. - comenta e eu assinto concordando - Então eu só via meus pais no dia de ação de graças, que não é no mesmo dia que lá diga-se de passagem, no natal ou ano novo, eu tinha que escolher. - e ele fala demais pra um alemão.
Contudo, eu sorrio, pois, de certo modo, ele me lembrou os brasileiros, tão falantes e abertos que em menos de uma hora de conversa você conhece até a história de seu trisavó, mas isso é claro sem generalizar.
- E então meus pais vieram a turismo ano passado e visitaram a feira de Portobello, gostaram tanto que decidiram se mudar pra cá. - diz e eu sorrio.
- Que legal. - e eu sinto um enorme orgulho de participar da feira.
- Pois é, eu venho de quinze em quinze dias, inclusive eu te vi mais cedo na feira. - suspendo as sobrancelhas em pura surpresa.
- Oh. - afasto um pouco a cabeça buscando pelo rosto dele na memória. - Desculpe, são tantas pessoas que passam pelas barracas que e não consigo gravar rostos. - explico e me justifico.
- Não se preocupe com isso, te vi de longe, não cheguei a ir até lá estava acompanhando minha mãe e enquanto ela estava na sua barraca eu estava vendo uns discos de vinil. - enquanto ele fala eu busco pelo rosto das pessoas que atendi hoje mais cedo e me recordo de uma mulher que Amélia atendia enquanto eu embalava um conjunto de xícaras de porcelana para outro cliente, ele parece muito com ela.
- Uma mulher de altura média? - seus olhos brilham e ele sorri enquanto concorda - Cabelos loiros na altura das orelhas? - ele concorda de novo. - Usava óculos de sol e vestido florido.
- Essa sim, minha mãe.
- Ela disse ser brasileira. - abraço os livros no peito e ele concorda.
- Ela é, conheceu meu pai quando ele foi ao Brasil a turismo. - me olha com atenção. - Eu nasci no Brasil, mas fui pra Alemanha ainda pequeno. - EU SABIA! - Você é brasileira?
- Não, não, mas morei lá por um bom período.
- É um lido país. - e antes que pudéssemos continuar somos interrompidos.
- Com licença, desculpe interrompê-los... - ouvimos uma voz baixa e hesitante e então olhamos pra menina do balcão.
Vejo ela piscar repetidas vezes parecendo constrangida com nossos olhares e então sorri amarelo, ela com certeza é uma funcionária nova e se parece tanto com alguma personagem tímida de um romance.
- Algumas pessoas estão reclamando da voz alta de vocês. - eu arregalo os olhos, até tinha me esquecido disso. - Por favor, se puderem falar um pouco mais baixo... - pede e eu sorrio.
- Claro. - assinto me sentindo constrangida - E perdoe-nos por isso. - ela sorri concordando e nos dando as costas em seguida, a passos rápidos caminha em direção ao fim do corredor.
- É, acho que deu ruim. - observa Valentin com um sorriso brincalhão.
- Eu vou passar ali no Fez Mangal. aponto com o polegar em direção ao restaurante turco - Que vir comigo? - chamo e ele sorri.
- Claro! - concorda e eu assinto. - Não almoçou ainda? - pergunta em tom baixo enquanto caminhamos em direção ao balcão agora vazio.
- Não deu tempo, na realidade eu nem percebi a hora passar. - digo e ele assente.
Alugo os livros e, junto de Valentin, sai da biblioteca com os dois na mochila, tenho um mês até a devolução obrigatória.
Fomos atendidos assim que entramos no restaurante e direcionados a uma mesa com vista pra rua, a conversa com Valentin é animada e divertida, ele tem um ótimo senso de humor e, também, o gene falante de um brasileiro, apesar das fortes características físicas de um alemão.
- Vamos lá, me responda, essa é bem fácil. - alego e ele franze o cenho.
- Sei não, você disse isso pras últimas duas e eu me sinto um ignorante. - murmura e eu sorrio.
- Não, tem que levar em consideração que você está no terceiro ano e eu no último. - argumento.
- Mas na minha grade eu tenho direito civil. - resmunga parecendo incomodado por errar.
- Mas não aborda os mesmos temas que a minha grade. - digo rápido - Vamos lá, essa eu tenho certeza que você vai acertar. - afirmo olhando para o papel impresso.
Eu pretendia fazer esses exercícios lá na biblioteca, mas juntei o útil ao agradável e agora estou fazendo com a ajuda de Valentin.
- Tudo bem, pode mandar. - cedi juntando as mãos em cima da mesa quadrada.
- Pronto? - pergunto e ele assente - Certo, lá vai, é válida a contratação de empréstimo consignado por analfabeto? - pergunto e ele sorri.
- Valeu, pelo menos uma eu sei responder. - sorri e eu rio baixo. - É válida com a assinatura a rogo na presença de duas testemunhas. - responde calmo e eu sorrio.
- Isso aí cara. - digo estendendo minha mão e batendo na dele em um hi-5.
Foi legal almoçar com ele, que na verdade só tomou uma latinha de coca cola, mas não nos demoramos mais que uma hora ali.
Ele precisava voltar pra casa e eu tinha muitas coisas pra fazer ainda.
- Tem certeza que não quer uma carona? - insiste mais uma vez e eu sorrio.
- Tenho sim, minha casa é aqui perto, mas obrigada por oferecer. - digo e ele assente.
- Não por isso. - abre a porta do motorista. - A gente se vê em breve! - diz e eu concordo.
- A gente se vê. - aceno e ele entra no carro verde escuro, puxado pro preto.
Caminho de volta pra casa com calma, mas penso nos exercícios que ainda restam e que me esperam quando eu chegar, quero mesmo ir no jantar hoje com a galera, mas antes preciso terminar o trabalho e colocar minhas roupas na máquina.
Sei que agora são quase cinco horas, se eu correr dá tempo, termino de chegar em casa com a testa soada, está mesmo quente hoje.
Assim que entro tiro meu tênis e os coloco no canto da entrada, coloco em cima do aparador a chave que ao se remexer faz um barulho gostoso de ouvir e então subo pro meu quarto.
Tiro a mochila das costas e a coloco no chão apoiada na cama na da mesa de cabeceira, caminho até a janela e a abro sentindo um vento morno bater em meu rosto.
Aah, a primavera.
Volto para a escrivaninha e me sento pegando o livro que aluguei mais cedo e começo a missão, eu realmente não percebo a hora passar entre uma questão respondida e outra, mas meu foco vai com Deus quando meu celular vibra me lembrando que:
- Esqueci da mensagem!!! - murmuro pegando o aparelho e o desbloqueando.
A mensagem que havia chego não era de Isla, mas aproveito para confirmar minha ida ao jantar.
"Oi Isla, eu vou com vocês hoje a noite, só me diga o horário, sim? obrigada!" - mando áudio.
Respondo também a mensagem que havia chego do grupo do trabalho, Enzo avisara que também já tinha respondido o teste de proficiência e que está com todos os exercícios finalizados, ofereceu até cola.
Com um sorriso volto minha atenção ao caderno, eu até fico tentada a pedir as respostas que faltam, mas em nada isso vai me ajudar no futuro, então termino o questionário por mim mesma, com um suspiro cansado espreguiço minhas costas e então me levanto.
- Pôr as roupas pra lavar e depois tomar banho. - listo a mim mesma, já me encaminhando para cama aonde tem aos seus pés duas peças usadas.
A parte ruim de ficar em casa sozinha é que não tem ninguém pra conversar, então as vezes eu me pego falando comigo mesma.
Um dia assisti o filme de um cara que fez olhos numa bola de basquete pra se sentir menos sozinho, não lembro do filme direito, nem do seu nome, mas essa parte ficou gravada na minha memória e faz muito sentido pra mim nesse momento.
Vou até o banheiro também e pego o cesto de roupa suja, verifico a suíte dos meus pais também e depois desço pra área de serviço pra colocá-las na máquina.
- Rururu, rururu, rurururururururu, rururu, rururu, rurururururu... - canto a música de ninar de boca fechada, mais aleatória que isso impossível.
Coloco dentro da máquina o sabão líquido, e o amaciante e então fecho a porta circular.
Apago a luz e penso como seria interessante se eu tivesse ter um animal de estimação, eu me sentiria menos sozinha nessa casa grande, solto meu cabelo voltando pro andar de cima.
Graças à Deus que eu tenho o Espírito Santo a todo momento, acredite em mim, podemos sentir a presença dele e pode parecer louco mais ele preenche o ambiente.
Por algum motivo eu me sinto ansiosa, olho mais uma vez pro meu reflexo no espelho, o vestido verde musgo de manga mediana e gola fechada combinava com meu tom de pele, as mexas da frente do cabelo eu prendi pra trás deixando com um pequeno topete e nas pontas fiz pequenas ondinhas com o babyliss.
Não faço uma maquiagem forte, o mesmo tom rosinha das bochechas aplico nos olhos como sombra, passo máscara de cílios e um gloss nos lábios, nos pés eu calço uma sandália de salto fino médio aberta nos dedos, talvez seja esse o motivo da minha insegurança.
Com um suspiro convicto dou as costas para o espelho e pego minha bolsa em cima da cama, saio do quarto caminhando com cuidado e descendo as escadas de casa com mais cuidado que o normal, com certeza é mil vezes mais fácil andar de tênis, porém eu quero variar um pouco.
Pego a chave do carro no chaveiro e a de casa no aparador.
- Boa noite, menina Soph. - ouço a senhora que recebe a comida que o motoboy entrega a ela. - Está muito bonita. - elogia e o moço me olha.
- Muito obrigada sra. Pereira. - agradeço constrangida - Boa noite pra senhora também. - vejo ela assentir e então caminho para meu carro estacionado em frente de casa.
As casas de Londres não costumam ter garagens como nas Américas, os carros ficam estacionados nas vagas em frente das casas, para nós, estacionamentos a céu aberto.
Coloco a bolsa no banco do passageiro, apesar de já ter ido ao Chimichurris com meus pais eu não me lembro o caminho, por isso configuro meu GPS e dou partida no carro.
- Siga na direção sudeste na St. Marks Pl em direção à Cornwall Cres. - fala a moça do GPS e eu sigo reto na minha rua, assim que eu me aproximo do fim a voz dela surge de novo. - Vire à esquerda na Cornwall Cres. - fala enquanto eu batuco meu dedos no volante esperando a BMW que passa me dar espeço e então, após dar seta, eu viro.
Ao fundo toca Andrea Bocelli cantando Con te partirò, eu até me arrisco a acompanha-lo, mas sei o quanto meu italiano é péssimo, ao chegar, mais uma vez, vejo dois jovens alugarem bicicletas e me lembro dos passeios que sempre faço com meus pais ou com meus amigos.
- Vire à direita na 1ª rua transversal para Ladbroke Grove. - diz e eu bocejo dando seta, ainda hoje vou ligar para eles, nos falamos hoje de manhã, mas a distância faz aumentar a saudade rapidamente. - Siga reto na B450 até a Ladbroke Square. - instrui a moça e eu continuo cantarolando a música de forma errada, ou melhor, a minha forma.
Sorrio quando um ônibus vermelho e cheio de turista passa por mim, com certeza voltam para o hotel, é legal ver a animação nos olhos das pessoas, isso quebra a monotonia que, as vezes, impregna em nós. Continuo seguindo reto na rua não muito movimentada, mas cheia de vida pelas casas coloridas, pelas árvores floridas e pelas pessoas que caminham, passeiam com seus filhos, parceiros, cães ou então pedalam.
Troco a marcha quando a rua se torna uma subida e continuo reto, passo por grandes casarões, pequenas casas, com escadas e sem escadas, juntinhas ou separadas, mas o que todas elas tem em comum é o design que é a marca forte dos ingleses, o tradicionalismo.
A subida permanece até chegar ao Ladbroke Square Garden, então a voz da moça volta a soar.
- Em cem metros vire à esquerda na Ladbroke Square. - diz e então dou seta esperando que os carros passem antes d'eu avançar.
- Vamos meus queridos, eu já estou atrasada. - murmuro para os carros que não pareciam acabar e suspiro ansiosa.
Sigo pelo imenso quarteirão com o parque de um lado e casas do outro, uma delas está em reforma, há um enorme andaime lá em frente, continuo reto mesmo quando o quarteirão se finda e outro começa, mais a frente a rua morre e sabendo disso a moça do GPS volta a falar.
- Em cento e cinquenta metros vire à direita na Kensington Park Road.
Suspiro quando vejo três carros parados a minha frente esperando o movimento paralelo acabar para, só então, avançarem.
- Vamos povo, ou eu vou chegar só pra sobremesa. - murmuro já ficando angustiada.
Quando enfim volto a movimentar passo em frente o Kensington Temple, uma enorme igreja com a arquitetura incrivelmente linda, monárquica, essas construções me fazem constantemente lembrar que vivo em um país governado por reis, ou melhor, por uma rainha.
Sorrio com esse pensamento e saio em uma rotatória que junta as ruas e que em um dos lados abriga uma sequencia de casas coloridas, não dá pra esconder o quanto eu sou apaixonada por elas.
- Na rotatória, continue em frente na Pembridge Road. - diz e eu sigo cantarolando a melodia suave de Nocturne in E Flat Major, eu nunca sei se isso é o nome da música, de quem compôs, ou se é do maestro.
Passo pelo enorme edifício United House e pelo ponto de ônibus que fica do outro lado da rua em frente de uma das milhares de lojinhas da rua.
- Vire à esquerda na Notting Hill Gate. - avisa antes mesmo de chegar ao fim da rua.
- Virando. - murmuro girando o volante após dar seta e fazer uma leve curva na rua indicada. - Meu Deus, que demora. - murmuro quando paro por causa do trânsito que desde a Ladbroke Square ficara lento.
Continuo reto e a duzentos metros à frente entendo o motivo do congestionamento, a via está interditada.
- Eu queria ter a paz de espírito que meus pais tem com o trânsito caótico como esse. - murmuro desgostosa, se eu não estava atrasada agora estou.
Com um suspiro me estico até o porta luvas e agarro a bolsinha de pen-drives, eles até podem estar ultrapassados, mas me dou muito melhor com eles do que com a nova tecnologia, por enquanto. Escolho entre eles e então me assusto com a buzina do carro detrás.
- Sorry, sorry. - digo alto olhando pro retrovisor sabendo que ele não iria me ouvir. - Oh God! - rio do susto que tomei.
Com o estojo no colo sigo caminho, a moça do GPS não se pronuncia mais então eu deve seguir, não é? Bom, a seta do GPS me diz isso também, então...
Se eu me perder é culpa dela.
Quando paramos de novo, agora no sinal vermelho, troco os pen-drives e passo a cantarolar o worship que começara a tocar, vejo quando a rua estreita se tornando duas vias, uma de ida e outra de volta. Passo por mais um parque e por mais pontos de ônibus, ainda falta mais de vinte minutos para chegar, com certeza Isla já mandou mensagem.
O que não falta nas ruas de Londres é verde, pra todo lado que se olha vê-se árvores floridas ou sem flores, é lindo e deixa a cidade com um ar leve e puro o que acalma um pouco da minha ansiedade, normalmente o trajeto é bem menos demorado, porém hoje as ruas estão muito movimentadas, pro azar meu.
- Continue reto na Bayswater Rd em direção à Marble Arch. - diz quando me aproximo de uma bifurcação.
- Vamos lá. - batuco no volante buscando me acalmar, o trânsito hoje está mais lento que meu notebook antigo e com vírus.
- Vire à direita na Park Lane. - instrui quando chego ao fim da Marble Arch.
Toca no carro uma canção do Hillsong, e com congestionamento que eu enfrento minha atenção é tomada pela letra linda do louvor, eu sorrio pensando quão grande nosso Senhor é, Ele fez tudo, as estrelas, o sol, a terra e todos nós, não é possível vivermos sem notarmos a glória dEle.
As árvores, os animais silvestres, a beleza das nuvens no céu, das estrelas na noite, da lua, dos detalhes em nós, humanos, todas essas coisas revelam a grandeza do nosso Deus; não existe nada, por mais que tentem provar, não existe nada e ninguém que se compare à Ele, a sua glória, ao seu poder e ao seu amor por nós.
- Uhh. - digo alto dentro do carro sentindo meu coração queimar de gratidão e amor ao meu Deus. - And as You speak, a hundred billion creatures catch Your breath, evolving in pursuit of what You said... - canto junto com a loura enquanto continuo descendo a rua. - If it all reveals, your nature so will I, I can see Your heart in everything You say... - dou seta e mudo de faixa, o trânsito parecia finalmente se desenrolar. - Every painted sky, a canvas of Your grace, If creation still obeys You, so will I... - finalizo o refrão sentindo meu coração quentinho.
Faço uma curva suave ainda na Park Lane e logo ouço a robô dizer:
- A duzentos metros vire à esquerda na Piccadilly. - dou seta mais uma vez para trocar de faixa enquanto ainda canto. - Faça a curva à direita na Duke of Wellington Place.
- So will I. - finalizo junto com a cantora e sorrio olhando para o céu. - Eu te amo, Senhor! - afirmo sentindo Ele pertinho.
Faço mais uma curva suave sob o véu da noite estrelada enquanto se inicia uma nova canção, saio de frente a praça que abriga o arco de Wellington, mais uma das instalações turísticas de Londres, ele está lindo todo iluminado, porém, sem tempo para admirar como tantas vezes já fiz, continuo meu caminho.
- Vire à esquerda na Constitution Hill. - diz a moça e eu a obedeço.
Essa é uma das ruas famosas de Londres, pois ela conecta a extremidade oeste do The Mall, em frente ao Palácio de Buckingham, com o Hyde Park Corner e faz fronteira com os Jardins do Palácio de Buckingham e o Green Park, além dos quatro pilares existentes em sua extremidade, porém ela é fechada aos domingos e é necessário pagar pedágio para acessá-la por ser um ponto turístico.
Avanço na rua que, em um primeiro momento, só tem árvores de ambos os lados, mas então, mais à frente, ao lado esquerdo da pista surge o famoso Palácio de Buckingham, moradia da rainha Elizabeth, nos primeiro meses morando em Londres passar aqui era como se fosse a primeira vez toda vez, depois, com o tempo, foi perdendo a graça, mas não a beleza.
É uma construção deslumbrante.
- Continue em frente na Spur Road, e em quinze metros curve à esquerda para permanecer na Spur Road. - fala e assim faço guiando meu carro para fora da área de pedágio.
Passo pelo monumento em memorial a Victoria em homenagem a primeira rainha que morou oficialmente neste palácio, o topo da instalação é de ouro e do outro lado, os jardins do palácio que estão todos muito bem iluminados, Londres é realmente um lugar mágico de se visitar e viver.
- Em sessenta metros vire à esquerda na Birdcage Walk.
Passo em frente a mais um ponto turístico, o Sullivan's Plaque, de dia aqui encontramos muito mais turistas e guardas em cima de seus cavalos imponentes, conforme vou avançando na rua sem trânsito denso, vou me aproximando de mais uma área de pedágio o que simboliza mais um grande ponto turístico, ou melhor vários.
- Continue para Great George Street.- instrui e logo passo na rua que fica entre a Churchill War Rooms, sede secreta da Churchill durante a 2° Guerra e a Instituição dos engenheiros civis. - Curva suave à esquerda na Bridge Street. - fala e então vejo mais a frente o grande Big Ben, as famosas cabines de telefones vermelhas na calçada do grande prédio com perfeita arquitetura monárquica.
Sou incapaz de passar pela grande torre e não admirar sua beleza arquitetônica, já perdi as contas de quantas vezes vim visitar com meus pais e quantas fotos já tirei dele.
Deixo o grande relógio para trás e sigo em direção a ponte Westminster Bridge, que também é um ponto turístico, que me dará vista da London Eye, que mesmo a noite está toda linda, iluminada e, pelo que vejo, cheia de turistas.
Termino de atravessar a ponte concluindo que é pela densidade da movimentação que a velocidade do tráfego diminuirá, a pista se divide em duas e eu pego a da esquerda para seguir a orientação da robô.
- Vire à esquerda na Westminster Bridge Road.
Passo em frente a um dos hotéis mais lindos e modernos de Londres, ele é todo espelhado e com a diária mais cara que meu rim no mercado negro, misericórdia! E de frente para ele fica a faculdade DLD London, a Urbanest e o Build Studios, em um prédio tão alto quanto o hotel, mas não tão bonito quanto.
- Vire à direita na Westminster Bridge Road.
Passo entre os dois edifícios e me sinto uma anãzinha, se eu me sinto assim com dois prédios que consigo ver o fim, imagina com o Senhor Deus que não conseguimos ter nem dimensão, o home pega toda água do mar com a concha da mão, fala sério!
- Vire à esquerda na Addington Street e siga pela Westminster Bridge Road. - instrui e eu dou seta pra virar, espero alguns carros passarem e então arranco em direção ao túnel abaixo da estação.
Sigo reto com o trânsito mais fluído e com pedestres nas calçadas.
- Continue reto na Westminster Bridge Road.
Ninguém me avisou que dirigir de salto é tão difícil assim, tenho vontade de tacar minhas sandálias longe a cada vez que elas me atrapalham.
Sigo pela subida e a vejo bifurcar em duas mãos, uma de ida e a outra de vinda. Seguindo a instrução da robô continuo reto passando entre Kenington Road, que é mão somente de vinda e as mãos da Baylis Road.
Passo em frente a torre em memorial a Abraham Lincoln e da Proclamação da Emancipação, continuo meu caminho e sigo reto deixando pra trás mais uma bifurcação, já me sinto cansada de dirigir, isso porque são raras as vezes que eu ando de carro pela cidade, prefiro a maneira sustentável de locomoção.
Passo em frente a CAFOD, o prédio tem formato de triângulo, isso porque ele foi construído no início de uma esquina por isso a arquitetura diferente, o bico do edifício é todo de vidro, lindo como tudo em Londres.
Mais a frente passo por um bar vermelho ferrugem, Flowers of the Forest, o nome dá sentido às flores espalhadas pelo exterior, todo iluminado e com mesas estilo piquenique ele dá uma sensação de delicadeza ao local.
Eu me aproximo agora da coluna de St. George na rotatória que bifurca a Westminster com mais seis vias.
- Na rotatória, continue em frente na Borough Road.
Concluo o semicírculo da rotatória e pego a rua indicada passando debaixo várias árvores,que mesmo de noite, não deixa a rua escura pelos vários postes de luz disposto pelas calçadas.
Ao meu lado esquerdo há um prédio em construção em frente a um bicicletário, já passei por vários no caminho, e do outro lado prédios com baixas grades, com várias janelas e paredes de tijolos vermelhos ferrugem.
Continuo passando por mais prédios e casas residências, restaurantes e pelo London South Bank University, atravesso por debaixo de uma ponte verde em formato de semicírculo e pichada, sinto que nunca saberei como conseguiram pichá-la desse jeito, bem na beirada, usaram escada só pode..
- Vire à direita na Southwark Bridge Road.
Ela instrui e eu viro o volante do carro na direção indicada, estou finalmente chegando, subo a rua passando pelo Interact, o enorme edifício aonde fica o restaurante.
Viro na Collinson Road e estaciono o carro nas poucas vagas livres do espaço próprio para deixar os automóveis.
A entrada do local não é vistosa como a de uma boutique luxuosa de Londres, porém a comida é digna de uma e a vista de lá de dentro até que é legal. Pego minha bolsa e abro a porta do carro, saio dele com a mesma sensação de insegurança de antes, então fecho os olhos e respiro fundo.
- Você só vai se encontrar com seus amigos Sophia, controle essa sua ansiedade. - repreendo a mim mesma e volto a abrir meus olhos.
Fecho a porta com um leve empurrão e olho avaliativa para o vidro observando meu reflexo, está bom. A vidraça transparente me permite localizar meus amigos antes mesmo deles me verem, atravesso a rua quando ela está calma e quando me aproximo da porta Isla me vê.
Eles estão sentados em uma mesa próxima ao vidro.
- Soph!!! - Isla me cumprimenta assim que chego a mesa.
- Oi Isla. - dou um beijo na bochecha dela. - Oi pessoal. - cumprimento amigos com um abraço e beijos na bochecha. - Me desculpem o atraso o trânsito hoje está radical. - justifico me sentando.
- Não se preocupe com isso querida, eu e Willi chegamos a pouco também. - diz Amélia.
- E ainda falta a Betânia e o Dom. - Oliver diz e eu concordo.
- Você veio por onde? - pergunta o noivo de Ame.
- Pela Bayswater. - digo ele sorri. - Meu GPS disse que seria mais rápido. - justifico dando de ombro.
- Viemos por baixo, pela Knightsbridge, mas também estava bem movimentada. - fala ele.
- Os turistas estão com tudo. - murmura Oliver bebendo um gole da sua coca.
- Quando formos comer você já estará lotado. - Isla brinca e ele sorri.
- Eu tinha que arrumar um jeito de ocupar meu cérebro. - justifica - Perceba, eu estava aqui sozinho entre dois casais... - murmura e nós rimos. - Entenderam? - pergunta sorrindo com os cotovelos contra a mesa, os antebraços baixos e esticados e as mãos em formato de concha.
- Pois eu já me acostumei. - digo sorrindo. - Só dá eu e você de velas nos rolês. - estendo meu braço na direção dele, que está do outro lado da mesa, e batemos nossas mãos em um hi-5.
- Já eu, achava que a Soph não viria mais. - fala Henry.
- Oras, eu só sou difícil de sair não sou de dar bolo. - brinco e eles sorriem. - Vamos comemorar algo em específico? - pergunto e Isla sorri grande junto com Ame.
- Na verdade, duas. - Amélia levanta dois dedos.
- Ela não quis dizer o que é, mas nós. - aponta pra ela e o namorado - Vamos brindar ao novo emprego do Henry. - Isla diz sorridente enquanto o noivo beberica, com a face divertida, a taça de vinho.
- Não acredito, meus parabéns Henry. - celebro apertando a mão dele em cumprimento.
Me lembro das incansáveis vezes que ele mencionou a empresa e o cargo dos sonhos, engenheiro de software na melhor empresa de tecnologia de Londres, a Tec's Company.
- Obrigado gente. - agradece sorridente, conseguimos ver suas bochechas coradas, Henry é tímido
- Soph não foi mesmo? - a voz nos faz olhar em direção a moça morena que sorri e termina de se achegar a nós puxando Dominic pela mão. - Oi gente, desculpe o atraso... - nós a interrompemos.
- O trânsito estava caótico... - murmuramos e o moço atrás dela solta um riso curto e que nos leva a rir também.
- Nós sabemos. - afirma Willi.
Bet e Dominic se sentam e então ela suspira olhando na minha direção.
- Eu estou decepcionada com você Soph. - faz sua dramática cara de dor e eu sorrio.
- Eu suspeitava. - murmuro ela sorri grande me mandando um beijo em seguida.
- E então, Oliver arrumou uma garota? - pergunta Dominic e meu amigo faz careta pra ele.
- Não pega no meu ponto fraco não cara, pega não... - murmura e nós rimos.
- Na verdade, acho que eu e Oliver ficaremos para titios. - brinco.
- Não é uma má ideia, assim você poupa uma grana densa, só com os gastos da igreja pra cerimônia eu fiquei mais pobre do que já era. - brinca Willi e a galera ri.
- Meu Jesus amado, nem menciona isso. - murmura Amélia em concordancia. - É um dia de festa e cinco anos pagando.
- Acho que compensa assinar a papelada e viajar pelo mundo. - murmura Oliver e Dominic concorda.
- Mas oras, nem por cima do meu cadáver! - exclama Bet ao namorado.
- Vamos brindar a quem e ao quê? - pergunta Dominic.
- A minha entrada na Tec's Company. - conta Henry e o outro rapaz arregala os olhos.
- No way!- murmura sorrindo grande.
- Engenheiro aqui, contratado. - brinca ele e os dois, que estavam lado a lado, se cumprimentam com um aperto de mão estralado.
- Estou tão orgulhosa. - Isla diz ao namorado.
- Obrigado amor. - sorri e lhe beija a testa.
- Soph - Oliver chama. - Vamos arrumar outra mesa? - brinca e todos nós rimos.
Quando finalmente colocamos a atenção em fazer nossos pedidos me senti indecisa, mas com a ajuda crítica dos meus amigos, que me incentivaram a provar algo novo e não o que sempre como quando venho com meus pais, pedi de entrada escabeche de beringela e queijo de cabra com pães cortados ou então, como se trata de um restaurante argentino, escabeche de berenjena y queso de cabra con pedacitos de pan.
Para prato principal pedi Milanesa Napolitana con Guarnición, beef à milanesa, molho de tomate, presunto e queijo mussarela.
Pra mesa também veio tapas de patatas con mantequilla y orégano, ensalada de legucha y tomate, o mesmo que porção de batatas com mantega e orégano e salada de alface e tomate, provolone, veio também empanadas, bife de chorizo, que é um corte argentino muito famoso.
Para beber divido com Amélia, Willi e Oliver a garrafa de vinho tinto Barone Montalto sem álcool, tenho certeza que meu pai vai me esganar quando ver quanto eu vou gastar só essa noite.
- Estou pronto pra sobremesa. - diz Oliver acariciando a barriga estufada.
- Uuuh, eu também. - Bet sorri.
- Mas antes, eu vou ao banheiro. - diz Dominic levantando-se de repente da cadeira, parece meio zonzo já.
- Eu vou também! - diz Henry logo depois.
Franzo o cenho e Bet olha pra trás vendo os dois homens se afastar abraçados um no ombro do outro.
- Beberam demais. - murmura a garota voltando seu olhar ao prato.
- Parecem duas crianças. - digo ainda os observando. - Olha lá.- falo quando os dois invade a foto de uma família.
- Meu Deus. - Isla abaixa a cabeça com olhos fechados e mãos na testa. - Eu não os conheço. - murmura nos fazendo rir.
- Acho bom que sejam vocês a dirigir essa noite. - digo às meninas terminando de comer.
- Com certeza. - concorda Willi.
- E vocês, não vão dizer ao que vamos brindar? - pergunta Oliver colocando as mãos na cintura e olhando pro casal de noivos.
- Claro que sim, mas vamos esperar os meninos voltar. - diz Amélia e sorri grande.
- Xiiii... - murmura Bet jogando a mão em frente o rosto como se espantasse mosquito. - Nesse angu tem caroço.
- Relaxem gente, não é nada demais. - afirma Willi.
- Oh meu Deus!!! - exclama Isla de repente me fazendo olhá-la. - Eu vou ser titia! - exclama e eu rio.
Willi solta um riso um pouco desesperado me fazendo rir ainda mais.
- Não engasga, Soph. - pedi Oliver sorrindo.
- Não Isla, não estou grávida. - Ame nega com um semblante sério, mas logo sorriu.
- Nossa amiga agora é a versão 2.0 da virgem Maria. - zomba Bet.
- Não brinca com isso. - repreende Isla. - Se não vou ser tia, o que é?
Minha atenção é puxada pro garçom que caminha na nossa direção com dois pratos na mão.
- Ué, vocês pediram mais alguma coisa? - pergunto e Ame e Oliver olham pro garçom, enquanto o restante apenas negam.
Atrás dele vem os dois homens, cada um com um buquê de flores nas mãos, arregalo os olhos entendendo o que está pra acontecer ali.
Abaixo minha cabeça não querendo estragar a surpresa com a minha surpresa e bebo um gole do vinho, a mesma expressão também está no rosto de Oliver e vejo Ame cutucar Willi com um enorme sorriso, ele olha confuso pra cena que se forma e então levanta suas sobrancelhas e sorri ladino ao compreender.
- Com licença senhoritas. - serve as meninas com pratos sem comida, apenas com uma escrita de chocolate e alguns pedaços de morango.
Isla olhou pro prato e leu a frase enquanto Betânia olhou diretamente pro garçom.
- Desculpe senhor, mas...
- Oh meu Deus... - exclama Isla alto demais calando Bet e roubando a atenção da espanhola que olha pra amiga, pro prato dela e depois para o seu.
Eu rio divertida, mas ao mesmo tempo emocionada ao ver os olhos das duas se encherem de lágrimas.
- Marry me? - Betânia lê e em seguida tapa a boca com a mão em surpresa e emoção.
O garçom se retira e elas olham pra trás, Dominc e Henry estão de pé olhando pra cada uma com expectativa.
Bet é a primeira a se desvencilhar da cadeira enquanto Isla permanece encarando seu, até então, namorado com emoção nos olhos. Quando Isla também se levanta eles avançam e entregam a elas o buquê pra logo em seguida se ajoelharem na frente delas perante todo restaurante, até o churrasqueiro parou para assistir.
- Oh meu Cristo, é piada isso? eu não posso acreditar. - choraminga Oliver e Willi e eu rimos baixo.
- Betânia... - chama Dominic ao mesmo tempo que Henry chama sua namorada.
- Isla... - diz Henry ao mesmo tempo que Dominic chama sua namorada.
- Você aceita se casar comigo e me fazer o homem mais feliz do mundo? - perguntam os dois e Bet dá mini saltinhos, enquanto Isla abaixa a cabeça emocionada.
- É claro que sim! - responde Betânia com animação e Dom sorri escorregando pelo dedo dela a aliança de noivado, ele em seguida se coloca de pé e a beija.
- O que me diz, baby? - Henry pergunta a Isla que pede um minuto com o dedo.
Ela se vira pra nós, entrega as flores a Oliver que com a maior cara irônica e zombeteira agradece, ela então vai até sua bolsa e a abre tirando de lá uma caixinha de veludo preta.
- No way!!! - ouvimos alguém dizer enquanto muitos assobiam animados ao mesmo tempo que a moça se vira pro rapaz novamente.
O meu sorriso era gigantesco, Ame sorri fechado enquanto algumas lágrimas, que ela limpa rapidamente, escorrem de seus olhos e Bet, abraçada a Dominic, só falta arrumar um megafone e gritar nele.
- Eu aceito me casar com você, se você aceitar se casar comigo e me fazer a mulher mais feliz desse mundo. - diz ela após se ajoelhar na frente do rapaz.
Henry está emocionado, as lágrimas e o grande sorriso afirmam isso.
- Eu aceito! - diz ele e o silêncio reina no local, todos esperam pela resposta dela agora.
- Então... - tira a aliança dele de dentro da caixinha e sorri - Eu aceito também! - afirma e em seguida Henry coloca a aliança que comprou nela e ela a que comprou nele enquanto o local é repleto de som de palmas, assovios e gritos animados.
- Eu te amo! - os dois falam juntos após se levantarem e se abraçarem e então se beijam, enquanto ainda batemos palmas em comemoração.
Nós nos levantamos para cumprimentá-los e vejo Willi se afastar e sair de fininho do restaurante.
- Parabéns meninas. - digo quando as abraço ao mesmo tempo. - Felicidades a vocês quatro e que o Senhor Deus abençoe infinitamente. - desejo com meu coração quentinho.
Os casais também recebem cumprimentos e felicitações dos funcionários do restaurante e também dos clientes, inclusive o pai da família que os meninos invadiram a foto, pagou a cada casal uma champagne para comemorar.
Ouvimos o tilintar de uma taça e olhamos em direção a um homem que veste uma blusa social com as mangas erguidas até o cotovelo, por cima tem o avental do restaurante e ele olha pra todos com um grande sorriso.
- A atenção de todos, por favor. - pede - Desejo aos casais felicitações e para comemorarmos uma champagne pra cada mesa por conta da casa! - disse o gerente.
Ele caminha em nossa direção enquanto todos comemoram, a porta de vidro é aberta revelando a volta de Willi que, agora, tem sacolas na mão.
Já sentada assisto a contagem regressiva para a abertura das bebidas, o noivo de Ame corre para se sentar ao lado dela que sorri pra ele e lhe beija a bochecha antes de murmurar algo perto de seu ouvido que o faz sorrir e assentir, minha atenção se volta para os estouros das garrafas de vidro sendo abertas, Henry e Dominic nos servem e então todo nós, clientes e funcionários brindam aos recém noivos.
- Obrigado pessoal! - agradece Dom voltando para mesa.
- Eu estou noiva. - exclama Bet mostrando a aliança para nós.
- Estamos noivas! - diz Isla e ambas juntam as mãos com minis gritos e caretas.
- Vocês sabiam? - pergunto a Ame e Willi.
- Não. - negam juntos.
- E vocês, sabiam que a Isla ia me pedir em casamento? - pergunta Henry e nós negamos.
- Eu ia pedir lá na sua casa baby, mas você se adiantou e pediu aqui, então eu aproveitei o embalo. - explica e nós sorrimos.
- Temos presentes pra vocês. - diz Ame e nós a olhamos.
- Presente? - questiona Oliver.
- Mas nem é meu aniversário. - murmura Betânia com expectativa.
- Claro que não, mas aposto que irão gostar. - afirma ela e eu me vejo curiosa, afinal também não é meu aniversário.
Willi pega as sacolas de papel alvamente brancas que tem o fundo quadrado e sobe como triângulo, as alças têm um tom rosado perolado lindo e demarca a frente com duas letras .
- Esse é pra Bet e pro Dom. - fala Ame olhando, o que parece ser, uma etiqueta presa dentro da sacola. - Mas não abram ainda. - pede ao entregar- Essa é pra Isla e pro Henry e essa pra você e pro Oliver. - me entrega a sacola e garoto loiro se levanta dando a volta na mesa e ficando atrás de mim.
- Podem tirar da sacola. - permite Willi.
Tiro uma caixa quadrada de dentro da sacola que coloco de lado, ela é texturizada nas bordas, flores, Ame gosta de flores, tem também um laço fino e extremamente delicado na mesma cor das alças da sacola que prende a tampa da caixa nela.
- Podemos abrir? - pergunto e a primeira noiva do grupo permite que só desfaçamos os laços.
- Aí gente, vocês sabem que eu não lido bem com essas coisas. - murmura Bet e Isla ri.
- A paciência é uma virtude, mas nesse momento está me parecendo mais uma tortura. - concorda.
- Certo. - murmura Ame e olha pra Willi com um lindo sorriso, ele toma ar e e então diz:
- Um, dois, três e... - Willi faz mais suspense e Bet reclama de novo e ainda mais. - Podem abrir! - diz e tiro a tampa da caixa.
Em um primeiro momento eu não entendo do que se trata.
- O que é isso? - Oli pergunta e eu sorrio.
Pelo jeito ele também não entendeu.
- O nosso amor evoluiu pra uma nova fase e gostaríamos de comemorar juntamente com vocês o grande dia que se aproxima a cada dia. - Lê Betânia e eu viro a tampa da caixa para acompanhar.
- Vocês são partes importantes das nossas vidas, muitos momentos felizes estão cravados na memória com seus rostos, por isso não poderíamos dizer sim no altar sem vocês ao nosso lado... - lê Isla - Aceitam ser nossos padrinhos? - conclui e Bet abana o rosto emocionada de novo.
- Eu me sinto inchado. - murmura Oliver atrás de mim e nós rimos quando ele funga.
- Uau... - murmuro olhando pra caixa novamente, mas agora com novos olhos. - É claro que sim! - digo rápido. - Estou tão feliz... - murmuro abraçando de lado minha amiga irmã.
- E eu então? - Bet limpa as lágrimas e então afasta as mãos rápido com os olhos arregalados - Meu Deus, a maquiagem borrou? - pergunta preocupada ao, agora, noivo.
- Não amor, está tudo certo. - diz rápido voltando a conversar com Willi e Dominic.
Eu sorrio negando enquanto assisto Isla limpar o rosto da amiga.
- Eu ainda quero a sobremesa. - murmura Oliver voltando para sua cadeira.
Fecho a caixa só após admirar mais um pouco o que vem dentro.
A caixa é dividida em três repartições retangulares verticais e uma delas é dividida ao meio, no quadrado de cima do lado direito tem uma almofadinha da mesma cor do laço da caixa com um bracelete rosa gold com meu nome, no quadrado de baixo o manual dos padrinhos, a folha do pequeno caderninho é de papel vegetal e nele tem uma mensagem aos padrinhos, os tons de vestido pra madrinha, do terno e da camisa do padrinho e o save the date, 09 de outubro; No retângulo do meio uma pequena garrafa de vinho rosé sem álcool, até porque eles não bebem, e na última repartição tem uma gravata também rosa perolado para Oliver.
- Eu amei... - digo guardando a caixa de volta na sacola. - Eu estou imensamente feliz pelo convite. - digo e Ame sorri.
- Vocês estiveram o tempo todo comigo e depois conosco. - olha pra Willi - Não tivemos dúvidas ao escolhe-los. - sorri e Oliver oferece mais um brinde.
Essa noite termina conosco comendo a sobremesa, dividindo a conta e eu tendo a certeza que papai me matará quando souber.
Oliver fez questão que eu ficasse com a caixa, pediu até pra que guardasse sua gravata e eu aceitei de bom grado.
Agora são dez e quarenta e eu me despeço dos meus amigos, me sinto cansada, mas imensamente feliz, Isla e Bet noivas e eu madrinha de casamento, mal posso esperar pra contar pros meus pais.
Quarta - feira I 01 de Junho
O domingo passou voando, fui à igreja pela manhã e também à noite, a tarde dobrei e guardei as roupas que lavei no sábado e finalizei alguns trabalhos e comecei a leitura do livro de ética.
Naquela tarde liguei pros meus pais e contei as novidades, já que no sábado não consegui falar com eles, mamãe faltou pular de alegria enquanto meu pai alegou que eles eram jovens demais pra casarem, sabíamos que ele estava apenas enchendo o saco porque o próprio casou-se com dezenove anos e até hoje diz ser a melhor decisão que tomou na vida.
Com o passar dos dias minha melancolia foi passando conforme eu orava, estava certa de que Jesus me ajudaria e foi isso o que Ele fez.
Durante todos os dias da semana almocei com Ame, Bet e Oliver no nosso restaurante de costume. Não vi mais Valentin, mas me encontrei com a mãe dele na feira no sábado seguinte, sempre simpática como uma verdadeira brasileira, ela também me deu um papel que o filho pediu pra ela me entregasse.
Ame me cutucou pelo restante do sábado, no domingo e na segunda pra saber de quem era o número que estava no papel, ela me venceu pela canseira e contei sobre o rapaz que conheci na biblioteca, cortei logo pela raiz as brincadeiras que surgiram e por enquanto sigo como grande e intocada titia.
Já rompemos o mês e, contando com hoje, faz doze dias que meus pais estão em Lorena e eu estou morrendo de saudades apesar de todos os dias nos falarmos pelo Google Duo, pelo que eles me contam as coisas andam bem por lá.
A montagem do palco para o evento começou ontem, terça feira, e até dia quinze, que será o primeiro dia do evento, estará tudo pronto.
Mamãe me fez prometer que eu iria pra pelo menos um dia do evento.
"Pode ser um bate e volta" - disse ela.
Eu concordei, o último dia cairá em um fim de semana, assim dará pra eu ir no sábado de manhã e voltar no domingo à tarde, talvez, mas para isso eu terei que trabalhar meu psicológico pra um possível reencontro com Dan.
Ainda não me sinto pronta, porém parece ser inevitável.
- Com isso finalizo minha fala e relembro que na quinta-feira da próxima semana será o último prazo da entrega dos trabalhos. - fala o professor de direito penal enquanto os aulos ajuntam os materiais pra deixar a sala. - E na sexta a nossa avaliação, estudem porque nas férias eu quero descansar e não ficar olhando pra cara dos alunos do último ano que ficaram de recuperação! - diz alto e eu sorrio - Bom almoço à todos! - deseja por fim dando as costas pro auditório e juntando seus próprios materiais.
Levanto da cadeira e caminho até o final da fileira, subo as escadas em direção a saída enquanto pego, no bolso da mochila, meu celular que mantenho no silencioso.
Entro no aplicativo de mensagens e o primeiro chat que abro é o da minha mãe.
"Após o café da manhã vamos visitar a área de montagem do palco." - mandou seguido de um emoji sorridente.
"Estou tão animada por tudo estar dando certo filha, tudo graças ao nosso Deus."
Eu sorrio com as mensagens, estou alegre também, perdi a conta de quantas fotos ela me enviou e me envia todos os dias com as atualizações, eu amo acompanhar mesmo de longe.
Ao invés de mandar uma mensagem em resposta decido ligar, disco o número dela e espero enquanto chama, mas por três vezes a ligação cai na caixa postal.
Acho estranho eles não atenderem, mas sabendo que eles devem estar ocupados guardo meu celular e caminho em direção a entrada do prédio onde me encontro todos os dias com o pessoal para irmos juntos pro restaurante.
- Soph? - ouço e sinto Amélia segurar meu cotovelo me parando.
- Oi. - murmuro em cumprimento após olhá-la.
- Oi.- sorri - Tudo bem? - pergunta franzindo o cenho.
- Ah... - franzo o cenho - Está sim - sorrio simples.
Ela assente e sorri de novo.
- Vai almoçar com a gente? - pergunta e eu assinto afirmando- Eleonor torceu o pé, por isso pensamos em almoçar aqui hoje, tudo bem?
- Claro, mas e o Oli?
- Ele já está aqui. - diz e eu franzo o cenho, ninguém entra e ninguém sai sem passar o cartão. - Bet deu o jeito dela, você a conhece. - explica sem nem ao menos eu falar nada.
- Certo. - sorrio e ela assente.
Caminho ao seu lado até a área dos elevadores, quando entramos aperto o botão do terceiro andar onde ficam os restaurantes.
- No que você estava pensando? - pergunta ela.
- Un... - murmuro sorrindo franco. - Eu parecia pensar em algo? - questiono risonha, Ame me olha com uma careta e eu sorrio ainda mais. - Na verdade eu estava tentando falar com meus pais, mas eles devem estar em uma reunião ou algo assim. - dou de ombros e ela concorda.
- Sabe, faltam cento e quarenta dias pro meu casamento. - comenta animada e eu sorrio.
- Não vejo a hora da minha mãe voltar, vamos escolher meu vestido pra minha festa de formatura, daí já vamos ver alguma coisa pro seu casamento. - digo também animada. - Minha primeira vez como madrinha. - comento contente grudando meu braço direito no dela.
- Eu me sinto tão feliz. - murmura e gruda sua cabeça na minha, andamos unidas pelo corredor.
- E eu fico feliz por você estar feliz. - digo e ela suspira.
- Lembra quando você chegou aqui? - pergunta afastando seu rosto de mim para olhar-me nos olhos. - Erámos tão sonhadoras. - ela diz.
- E ainda somos. - afirmo e ela assente.
- Eu sonho com o dia que você encontrará seu amor dos contos de fadas, lembra o que você falava? - me olha rindo e eu sorrio.
- Eu dizia tanta coisa. - tento desconversar.
- "Eu quero ser pedida em casamento dentro de um coração enorme de marshmallows e depois comer todos eles assados em uma fogueira que eu e ele acenderemos." - imita minha voz e eu rio.
- Eu não falava assim. - retruco e ela assente.
- É verdade, era um pouquinho mais aguda. - provoca e eu nego rindo.
- Exagerada. - murmuro- E não fique falando disso é vergonhoso. - argumento e ela me faz cara feio.
- Lógico que não, é fofo, você escreveu no seu diário, não foi?. - pergunta e eu assinto.
- Talvez, seu futuro marido leia seu diário e realize seu pedido. - fala e eu nego rapidamente.
- Nem pensar Ame, diário é super intimo. - falo me separando dela para a ver sorrir - E nem você vai falar. - semicerro os olhos pra ela.
- Para de ser chata Sophia, seria tão romântico. - fala e eu nego de novo.
- Seria brega. - corrijo.
- Porque essas crianças tem que crescer? - nega também voltando a cruzar nossos braços.
- Graças à Deus que crescemos. - murmuro com um riso nervoso.
Não tenho vergonha de ter sido uma adolescente sonhadora, mas meus sonhos da adolescência não se encaixam mais a minha realidade, ou se encaixam?
- Como imagina seu pedido de casamento agora? - pergunta enquanto subimos escadas.
- Não sei, não parei pra pensar nisso depois que comecei a faculdade. - respondo e ela estala a língua.
- Eu não queria ser você. - ri e eu faço uma careta irônica.
- Ame, você faz física. - repreendo e ela ri - Pelo menos eu faço parte das humanidades. - retruco enquanto caminhamos pela área de alimentação.
- Você fala como se fosse um bicho de sete cabeças. - franze os lábios em uma linha reta e mantém as sobrancelhas erguidas, está engraçado seu semblante.
- Porque é! - afirmo e paramos pra procurar nossos amigos.
Bet dá com a mão e eu aceno de volta.
- Lógico que não, vocês é que são exagerados. - afirma vindo logo atrás de mim, mantemos nossas mãos juntas, por essa proximidade é que eu a chamo de irmã.
- O problema não somos nós e sim você. - retruco.
- É verdade! - concorda Oliver fazendo Ame rir.
- Do que vocês estão falando? - Kai, uma amiga de curso pergunta.
- Sobre nossos cursos. - falo me sentando.
- Sophia está descriminando minha física. - murmura Amélia se sentando ao meu lado.
- Ai, dou razão pra Soph, eu quase que não entro na King's por causa dessa matéria que o chifu soprou no ouvido de Newton. - fala Jasper nos fazendo rir.
- Ah gente, não falem assim. - pede Ame com uma carinha fofa e eu a abraço de lado.
- Estamos brincando, você sabe. - digo e ela assente.
- Tudo bem. - concorda. - Vocês já sabem que roupa vão usar no meu casamento? - pergunta mudando de assunto e as meninas da mesa se animam.
- Vou de amarelo, ressalta a beleza da minha cor. - responde Eleonor e eu sorrio.
- Já te vi de vestido amarelo, fica linda mesmo. - concorda Bet e Kai assente em concordância.
- Eu vou com roupa. - fala Jasper e todos o olhamos. - O que? - pergunta já rindo.
- Ei cara, esse tipo de piada sou eu que faço. - reclama Oliver.
- Desculpe. - o louro de cabelo arrepiado sorri, ele me lembra o Robert Pattinson.
- Eu vou pedir um sanduíche natural, alguém quer que eu pegue alguma coisa? - pergunto olhando pro pessoal.
- Quero um sanduíche natural também Soph. - pede Bet.
- Nós vamos pedir comida saudável. - murmura Jasper com uma careta provocadora.
- Larga de graça, ontem tava se empanturrando de pipoca com chocolate. - murmura Kai ao irmão gêmeo e eu rio.
- Trás uma coca pra mim, por favor? - pede Oli.
- Com o tanto de coca cola que você toma não tem medo de adoecer, não? - pergunta Eleonor ao moreno.
- Coca cola não trás doença não garota. - murmura com uma careta.
- Posso listar. - ela diz e respira fundo - Enfraquecimento nos ossos e dentes, pedras nos rins, aumento da pressão arterial, câncer no estômago, diabetes e... - erguia um dedo pra cada palavra.
- Tá bom, tá bom, eu já entendi. - diz à estudante de nutrição que o encara com uma careta irônica e ele me olha - Trás uma diet então Soph. - pede fazendo o pessoal rir e Él lhe dar um leve empurrão. - Eu quero é ser feliz, eu em... - murmura rindo também.
- Tudo bem. - assinto - Eu já volto. - digo e sigo até a lanchonete.
Peço a coca dois lanches frio e dois suco de morango, com tudo em uma bandeja eu volto pra mesa que só está ocupada por Oliver e Bet.
- Foram pedir "comida saudável". - fala Oliver fazendo aspas com as mãos.
- Aqui. - lhe entrego sua latinha me sentando com um sorriso no rosto. - Sinceramente, não parecemos adultos. - comento empurrando a bandeja para Betânia que pega seu lanche sorrindo.
- A bíblia diz para sermos como crianças. - Oliver argumenta com as mãos pra cima.
- Não, a bíblia diz pra termos o coração como o de uma criança. - Bet o corrige e vejo Oliver colocar no rosto uma expressão surpresa.
- Ela sabe. - murmura ele pra ela que revira os olhos.
- Qual é Oliver, eu não sou nenhuma leiga, tá? - murmura sorrindo.
Comemos em um ambiente gostoso de conversas e risos, minutos mais tarde Kai, Jasper, Eleonor e Ame se juntam a nós novamente.
- É isso o que vocês chama de saudável? - Oliver zomba.
- Diz o cara que almoça coca cola. - Él murmura.
- Aposto que um dia vocês casam. - fala Jasper de boca cheia e enquanto Eleonor faz cara feia pela frase, Bet faz careta por ele comer e falar ao mesmo tempo.
- Bora? - pergunta Oliver pra garota que franze ainda mais o cenho.
- Tá doido? - ela pergunta.
- Por você. - ele pisca e Eleonor revira os olhos enquanto a mesa irrompe em risos.
- Oliver, você é crente! - repreende Bet o fazendo ficar sério de repente.
- Sou cristão. - corrige - E eu só estou brincando gente, eu e Él somos apenas amigos. - ele fala e ela assente hesitante. - Eu em, algumas pessoas tem uma visão muito imprópria do ser cristão, não somos robôs gente. - murmura. - Sou cristão, mas faço piada e continuo sendo cristão.
- Retiro o que disse. - fala Bet lhe oferecendo um sorriso.
- Obrigado. - ele lhe sorri de volta.
- Como entrou dessa vez Oliver? - pergunta Jasper.
- Entrei aonde? - o garoto franze o cenho. - Ah! - suas sobrancelhas se erguem em compreensão. - Pela janela do laboratório de química. - fala e eu o olho surpresa.
- O laboratório de química fica no segundo andar. - murmuro e ele assente.
- Eu subi num dumpster que tem lá na lateral, depois fui pela beiradinha até o cano da calha e pisei nele pra ter impulso.
- Meu Deus, aquilo é frágil. - ri Kai.
- Nada, ele fica apoiado em uma beirinha de tijolo e cimento. - fala Bet e a olhamos desacreditados. - Não me olhem assim, ele tinha que entrar por algum lugar. - murmura e eu termino com meu suco.
- O que vocês vão fazer nas férias? - pergunta Eleonor.
- Vou viajar, visitar meus avós na Escócia. - fala Kai.
- Me leva? - pede a negra. - Quero dar um mergulho no lago Ness. - fala ela e Oliver ri.
- Claro, você fica com a passagem do ingrato do meu irmão. - murmura e eu sorrio, estava demorando pra eles começarem a se farpar.
- Nas férias eu vou dormir muito, pelo que meu tio me falou vai ser a última que eu vou tirar antes de virar escravo dele. - responde Oliver e nós sorrimos.
- Eu vou trabalhar em umas melodias. - diz Jasper.
- Dá pra você fazer isso na casa da vovó. - murmura Kai e ele revira os olhos. - Ela ficará triste em saber do seu pouco caso.
- É só você não falar pirralha. - resmunga e ela revira os olhos.
- Eu acho a Escócia tão romântica. - murmura Eleonor pra Bet, eu e Ame enquanto os irmãos ainda discutem e Oliver tenta acalmá-los com suas piadas.
- Já viu os castelos de lá? - pergunta Bet e sinto meu celular vibrar no bolso. - Tudo bem que ele é casado e eu noiva, mas o rei Aileen é muito bonito. - comenta e eu rio desligando a chamada de um número desconhecido e repouso o celular em cima da mesa.
- Ele é mesmo. - concorda Ame. - Mas vocês pararam pra prestar atenção na rainha Violet?
- Eu queria ter dez por cento da beleza dela. - comenta Bet e eu sorrio.
- Você já é linda Betânia. - elogio e ela sorri docemente para mim.
- Já assistiram Outlander? - pergunta Él.
- Aí, eu já. - responde Kai deixando o irmão falando sozinho. - Já assistiram? - refaz a pergunta com brilho nos olhos.
- Não estou tendo tempo nem pra respirar direito. - murmuro sorrindo.
- Não assistir Outlander é considerado crime, mas vindo de você é comum. - exclama Kai e eu a ofereço uma careta e lhe dou a língua, Kai repete os gestos e então rimos de nós mesmas junto com as outras meninas.
- Eu comecei a assistir com o William, mas não demos sequência, estamos muito corridos. - fala Amélia.
- Eu terminei a quarta temporada a alguns dias atrás. - fala Bet e Kai bate palmas animada. - Não fala nada. - pede Betânia rapidamente - Não quero spoilers. - alerta fazendo Kai fechar a boca e fechar a cara aborrecida.
Meu celular começa tocar novamente e eu olho para a tela pra conferir se não é meus pais, mas de novo o número é de um desconhecido.
- Quem é? - pergunta Ame baixo.
- Não sei. - digo
- Atende pra ver. - fala, mas eu nego.
- E o que você vai fazer nas férias, Soph? - pergunta Oli e eu suspiro.
- Sinceramente, eu estou tentando sobreviver a esse último semestre. - falo e eles riem.
- Nem dá pra acreditar que a nossa formatura já é no próximo mês. - murmura Eleonor.
- Aaah, eu acredito e acredito com força. - afirma Jasper fazendo a galera rir.
- E você Él?
- Vou visitar meu pai em Cabo Verde. - fala e eu arregalo os olhos.
- Eu quero. - digo e ela sorri. - Sempre quis conhecer a África, nunca fomos fazer missão lá, infelizmente. - digo voltando a recostar minhas costa no encosto da cadeira.
- E se um dia viajássemos todos juntos? - pergunta Oliver.
- Eu gosto. - afirma Kai.
- Temos data já? - pergunta James abrindo a agenda do iPhone e nós rimos.
- Você é meio bobo, mas tem uma ideias legais, né cara? - provoca Él e Oliver ri.
- É, as vezes os neurônios se alinham e funcionam direito. - brinca nos fazendo rir.
- Quem tá ligando? - minha atenção é puxada pra Betânia que aponta pro celular.
- Não sei, é um número desconhecido, não quero atender. - digo com a atenção do grupo agora todo em mim.
- Posso? - pergunta estendendo a mão para mim, dou de ombros e entrego o celular pra ela.
Bet se levanta e se afasta um pouco da muvuca que está o refeitório.
- Voltando pro assunto formatura, eu acho que a beca vai ser vermelha dessa vez. - diz Ame.
- Eu aposto no azul. - diz Eleonor.
- Eu sei de uma coisa... - fala Oliver com um dedo erguido.
- O quê? - Kai pergunta.
- Vai ser preta também. - responde e todos riem aos mesmo tempo que resmungam e vaiam pra ele que gargalha, Jasper o cumprimenta com um aperto de mão estalado.
- Soph... - ouço Bet me chamar e olho pra ela ainda sorrindo. - É pra você. - fala e eu franzo o cenho.
- Tudo bem. - me levanto indo até ela, mais uma vez a atenção está toda em nós. - Falou de onde é? - pergunto e ela assente.
- Lorena. - diz e eu franzo o cenho confusa, olho pro pessoal da mesa e coloco o celular no ouvido.
*Alô. - atendo ainda sem entender, dou alguns passos me afastando deles e Bet não me segue.
*- Boa tarde, Sophia? - chama com o inglês com um pouco de sotaque.
*- Sou eu, como posso ajudar? - pergunto começando a achar essa ligação estranha juntando com o fato dos meus pais não terem me retornado.
*- Sou Roger Halle, 1° secretário da sua Alteza Real, Príncipe Adam Louford. - se apresenta hesitante e fecho meus olhos sentido, de repente, o peso do medo.
*- Aconteceu alguma coisa com os meus pais? - questiono direta sentindo meu corpo tencionar.
Olho em direção e vejo todos me olhando.
*- Eu sinto muito senhorita Owes, - diz após um suspiro e eu sinto meus ombros caírem junto com meus olhos - Mas é com pesar que eu informo que seus pais sofreram um acidente e estão internados em um hospital local. - informa e eu perco o ar, nesse mesmo instante sinto Ame segurar meus ombros e logo depois erguer meus rosto na altura dos seus.
Eu tenho lágrimas nos olhos e por isso não consigo enxergar com exatidão sua expressão.
*Como isso aconteceu? - pergunto me afastando dela para dar alguns passos e depois voltar.
*Estavam voltando da vistoria do palco aonde serão, seriam... - corrige - As apresentações. - explica. - Não sabemos direito o que aconteceu ainda, mas toaremos as devidas providencias para abrir uma investigação. - diz e eu nego.
*Isso não é importante agora, como eles estão? - pergunto tremendo enquanto lágrimas banham meu rosto.
Vejo quando Ame pede pro pessoal permanecer lá e agradeço por isso, apenas por agora porque tudo que eu quero é que eles me abracem, somente.
* Grave senhorita. - informa e eu tapo meus olhos com a mão desocupada e sinto Ame me abraçar enquanto choro ruidosamente.
No momento, não existem pessoas, não existe faculdade, eu só quero meus pais.
- Não, meu Deus... - murmuro fungando ainda abraçado em Amélia.
*Tomamos a liberdade de reservar para a senhorita uma passagem no próximo voo que sairá de Londres às duas e meia da tarde. - informa e eu fungo.
- Meu Deus... - choro sem conseguir acreditar.
*Estamos todos orando e confiando que eles ficarão bem. - diz e eu assinto sentindo uma grande dor no meu peito.
Eu deveria ter desconfiado, eu deveria ter notado que algo estava errado, como pude não perceber?
*Sentimos muito que tenha que vir a Lorena por meio dessa situação. - afirma quando enquanto eu tentava formular algo para falar, mas nada parece fazer sentido em minha mente. - Enviarei a você por mensagem de texto o link para acessar as informações da sua reserva e o número do médico responsável pelo procedimento dos seus pais caso queira entrar em contato.
* Sim, sim. - murmuro em soluços, sinto minha pernas moles - Obrigada. - digo apertando os olhos com o dedão e o dedo indicador da mão esquerda.
*Sentimos muito, aguardarei sua chegada no aeroporto de Paris. - garante - Devo informá-la que assim que a senhorita chegar será direcionada a um jato particular.
*- Certo - murmuro sem conseguir assimilar direito tudo o que ele disse após dar a notícia e o que eu falo.
Tiro o celular da orelha sentindo tudo girar, eu pensei tudo na vida menos isso, não pode ser verdade, não pode.
- Eles sofreram um acidente Amélia. - conto chorando e Ame solta um suspiro angustiado. - Eles sofreram um acidente. - repito chorosa vendo meus amigos se aproximarem.
- Oh Soph... - Bet irrompe meu espaço em um abraço apertado.
- O que houve? - pergunta Kai e Eleonor se aproxima me abraçando também.
- Meus pais...- soluço. - Sofreram um acidente. - conto.
- Oh meu Deus... - Oliver arfa. - Oh meu Deus... - repete juntando as mãos e abaixando a cabeça.
- Oh, minha amiga. - Kai me aperta em seus braços finos - Eu sinto tanto. - diz e eu choro mais.
- O moço disse que reservaram uma poltrona pra mim no próximo voo. - conto - Eu não consigo acreditar... - soluço limpando as lágrimas, mas sem sucesso pois elas voltam a cair logo em seguida.
- Você precisa ir. - diz James e todos parecem concordar.
- Vamos juntos. - fala Él e eu nego.
- Vocês não podem. - digo - Ainda tem aulas. - digo. - Eu me viro bem.
- Infelizmente Soph. - Kai me abraça. - Eu sinto muito pelos seus pais e desejo que eles melhorem. - beija minha bochecha.
- Eu não sei nem o que falar. - diz James e abraçando forte.
- Não precisa dizer nada, o abraço de vocês já é suficiente. - afirmo.
- Te desejo forças Sô e aos seus pais melhoras. - diz olhando em meus olhos.
- Obrigada. - choro mais.
- Pode deixar que eu pago sua comida. - Eleonor me abraça - melhoras aos seus pais e forças pra você minha amiga, tenho certeza que eles vão se recuperar. - beija minha testa.
- Amém. - choro.
- Eu não vou ficar, fale o que quiser, e se não me der carona eu vou andando ou de Uber. - fala Bet de braços cruzados e olhos lotado de lágrimas.
- Eu dirijo. - fala Oliver e Ame cruza seu braço no meu, aceno pros meus amigos e passamos a caminhar.
Em uma última olhada pra trás vejo todos com feições preocupadas, Kai cruza os braços enquanto nos vê partir, Él esfrega o rosto com as duas mãos e James com as mãos na cintura caminha de um lado pro outro.
Volto minha atenção pro caminho que trilhamos a tempo de não pisar em falso no primeiro degrau de escada.
Eu me sinto fora de mim, como se estivesse dentro daquele tipo de pesadelo que parece real, sabe? Dói tanto, eu me sinto tão culpada, tão impotente.
Ninguém disse uma palavra se quer durante toda a caminhada, mas quando chegamos ao saguão principal Betânia parou.
- Precisamos avisar sua tutora - fala e eu não esboço reação.
- É mesmo. - murmura Amélia. - Vai indo na frente, te encontro daqui a pouco. - fala ela e a espanhola assente.
Ela vem até mim, beija minha face e diz que ficará tudo bem, retomamos a caminhada logo depois, caminhamos em direção totalmente opostas, atravessamos as portas de vidros que dão acesso as catracas e vejo Oliver pular uma delas sem se preocupar com o segurança, pra sorte dele o homem estava distraído.
Eu pego meu cartão no bolso e saio com Ame logo atrás, atraímos sim olhares por causa da minha atual situação, mas eu me sinto tão quebrada que não me importo com os olhares curiosos e até penosos que me lançam.
Dou a chave do meu carro à Oliver que o destranca e entra sem demora, abro a porta do passageiro e me sento no banco, Ame fecha a porta para mim e desço o vidro.
- Eu estarei logo atrás de vocês. - promete e eu assinto.
Ela passa sua cabeça pela janela e beija minha testa.
- Creia em Deus. - diz e eu franzo os lábios assentindo chorosa.
Eu a vejo se afastar e Oliver dá partida, seguimos em direção ao som das minhas lágrimas e orações silenciosas, o clima está denso, quase que palpável. Oliver, é sempre brincalhão, mantém agora no rosto um sério semblante, um vinco que divide sua testa e marca a confusão e a preocupação.
O caminho é feito em menos de vinte minutos, Oliver parece tão tocado como meus amigos próximo, ele é o primeiro a sair assim que estaciona enquanto eu parecia fazer tudo na camera lenta, pareço anestesiada, não sinto meu corpo, mas sinto dor e medo.
Ele me ajuda abrir minha casa e sinto uma nova enxurrada de lágrimas vir quando olho pro quadro da família na entrada.
" Eles não morreram, Sophia." tento dizer a mim mesma, mas não obtenho sucesso.
- Posso fazer um chá pra você?- pergunta e eu assinto sorrindo simples.
- Obrigada Oli. - digo enquanto subo as escadas da minha casa.
Entro pela porta aberta do meu quarto enquanto procuro angustiada a mensagem enviada por Roger, não demoro a encontrar, é o primeiro chat da lista.
Nela o homem explica que eu tenho que imprimir meu quartão de embarque para apresentar no aeroporto e o resto posso fazer online, sem dar muita importância pulo as informações sobre o voo e procuro com olhos rápidos números, quando encontro eu os copio e colo na discagem da chamada.
Aproximo-me da janela com um braço embaixo dos seios e o que eu segurava o aparelho no ouvido em cima.
Mordia o lábio nervosa enquanto ouvia a ligação chamar, apenas chamar.
*Docteur Armand parlant - ouço a voz masculina soar em um francês incrível enquanto sons de passos rápidos ultrapassam a áudio da chamada. (Trad: Doutor Armand falando.)
*Olá, bom dia. - saúdo em um inglês hesitante, coço a nuca e então suspiro olhando para o céu iluminado *Meu nome é Sophia Owes, ligo para ter notícias dos meus pais, Ethan e Mary Owes. - digo ouvindo do outro lado da ligação uma porta se fechar.
*Oh sim, é claro. - murmura, agora, também em inglês parecendo se sentar * É um prazer senhorita Owes, mesmo perante a situação. - fala eu assinto para ninguém*Não quero prolongar sua angustia, por isso vou direto ao ponto afirmando que o caso de seus pais é grave. - fala e eu abaixo meus olhos ao chão para logo depois fechá-los deixando as lágrimas virem.
* Oh não, meu Deus... - sussurro colocando a mão sobre a testa sentindo gotas quentes escorrer por meu rosto.
*Nós ainda estamos avaliando os casos, fazendo exames, raio-x, e o que eu posso afirmar por enquanto é que, infelizmente, eles precisarão de um longo acompanhamento. - diz e eu esfrego os dedos na testa.
*Tudo bem doutor, obrigada pela atenção. - digo me sentindo sem rumo, sem chão.
*Terei mais informações em breve, acredito que estará aqui para, pessoalmente, conversarmos. - diz e eu assinto para meu reflexo fraco na janela.
*Sim, irei vê-lo assim que chegar à Lorena. - afirmo.
*Estaremos a sua espera. - fala gentil.
*Obrigada, novamente doutor. - agradeço sincera
* É o meu trabalho, faça uma boa viagem, até mais. - murmura e então a linha é desligada.
*Agradeço, até. - desligo deixando o braço cair e fito as casa pela janela.
Eu não posso acreditar que isso está acontecendo, meu Santo Deus...
- Soph? - chama Oliver e viro-me em direção a porta aonde ele está parado. - Posso entrar? - pergunta e eu sorrio minimamente assentindo.
Caminho em direção à minha cama e me sento na beirada dela enquanto ele vem na minha direção.
- Aqui. - senta ao meu lado e me oferece a xícara com chá.
- Obrigada Oli. - tento sorrir, mas ao mesmo tempo lágrimas escapam de meus olhos e escorrem por meu rosto. - Eu falei com o médico, ele reafirmou que o caso deles é grave, o que eu vou fazer Oliver? o que eu vou fazer? - murmuro em prantos mirando meus olhos no chão.
- A única coisa que você pode minha amiga. - responde baixo - Orar e confiar que o Senhor cuidará deles, não temos o que mais fazer. - diz e eu choro mais.
Que provação é essa meu Senhor? e por que comigo? por que com a minha família?
- Eu deveria ter ido com eles. - murmuro sentido meu coração comprimido.
- Não ia fazer diferença Soph, não se martirize. - pede e o encaro.
- Ia sim, eu estaria com eles. - respondo grosseira e ele apenas me observa - Me desculpe, me desculpe Oli... - murmuro chorando.
- Tudo bem. - assente calmo. - Eu entendo seu desespero. - afirma e eu concordo deitando minha cabeça sob seu ombro.
- Eu estou om medo, medo de perdê-los. - confesso e no mesmo instante ele me afasta.
- Ei, ei... - repreende. - Não pense dessa forma, nós temos conosco o melhor dos médicos, Ele é dono de todo o poder, Ele está no controle da vida dos seus pais, acalme-se. - diz - Está parecendo os discípulos dentro do barco, não tem fé no nosso criador? - questiona firme e eu reflito.
- Você tem razão. - assinto - Mas eu ainda me sinto angustiada. - confesso e ele assente.
- Jairo também se sentia quando foi ao encontro do mestre, mas mesmo assim não deixou de crer que o Senhor poderia curar sua filha morta. - afirma - Creia em Cristo Sophia, creia somente. - pede e eu assinto chorando. - Onde está sua mala? - pergunta se pondo em pé e olhando ao redor.
- Na estante de cima do closet. - digo fungando - Pode abrir. - afirmo ele assente indo até lá.
Bebo o chá gelado que desce espremido pela garganta enquanto meu amigo desce a mala preta e de rodinhas.
Eu, em nenhum momento imaginei que voltaria à Lorena pela notícia de um acidente e ainda mais um acidente dos meus pais, a ficha ainda demora a cair e provavelmente só cairá quando eu vê-los, o que, humanamente falando, temo fazer.
- Soph? - ouço Ame chamar do corredor e então irrompe o quarto acompanhada de Betânia que varre o quarto a minha procura e então vem até mim, se ajoelha a minha frente e me abraça.
- Não tenho costume, mas acho que essa é a necessária hora que darmos as mãos e oramos. - diz se afastando, mas mantendo as mãos em meus ombros.
- Eu acho uma ótima ideia. - diz Oliver que colocara sobre a cama a mala.
- Eu não sei nem o que falar... - murmuro sincera deixando de lado a xícara.
- Não se preocupe minha amiga, sabemos que o Espírito Santo sabe traduzir suas lágrimas e Ele as leva ao pai como clamor. - Ame se coloca diante de mim e ao lado de Bet.
- Amém. - Oliver também se junta a elas e nós damos as mãos. - Pode começar. - ele diz a moça que o olha.
Ela assente e então fecha os olhos e abaixa a cabeça.
- Senhor Deus, sabemos que não precisamos de cerimônias pra entrar na sua presença, mas gostaria de pedir, de clamar pra que o Senhor visite Ethan e Mary agora. - ora ela - Nós somos pequeninos e não podemos fazer muito, mas eu sei está lá também. - ora enquanto eu choro aos pés dEle.
Senhor, Senhor...
Guarde-os, por favor.
- Cremos que Tu és o médico dos médicos, o melhor em todo o universo, por favor tome nossos irmãos em suas mãos, cuida deles, por favor. - a ouço fungar. - Também te pedimos pela nossa amiga Soph, transborde ela de força e da sua paz que excede todo nosso conhecimento, permita que o coração dela descanse em Ti, pois sabemos que só Contigo estaremos insetos do medo e da ansiedade. - pede - Guarde-a nessa viagem e, acima de tudo, faça tudo conforme a sua vontade, pois sabemos que mesmo sem entendê-la muitas das vezes, ela continua sendo boa, perfeita e agradável.
- Amém! - todos dizemos juntos e limpamos nossos rostos.
- Vai ficar tudo bem minha amiga. - fala Bet me abraçando.
- Amém. - digo me sentindo anestesiada, eu ainda não consigo acreditar.
- Confie no Senhor, Soph. - Ame pega minhas mãos pra em seguida as beijar.
- Se quiser eu vou com você Soph... - diz Oliver me abraçando. - Sem você aqui serei uma vela solitária. - brinca fazendo bico me fazendo rir baixo.
- Eu serei uma vela solitária lá também. - afirmo me afastando.
- Sra. O'Kelly virá em alguns minutos pra conversar com você em relação a procedência dos estudos durante o período que ficar lá. - diz Betânia e eu assinto.
- Obrigada por isso. - agradeço e ela assente com uma feição gentil. - Eu não estou com cabeça pra arrumar isso. - digo olhando pra mala e vou em direção ao closet. - Vou colocar algumas roupas e...
- Ah não, de jeito nenhum! - exclama Betânia tomando minha frente e se virando pra mim. - Minha amiga, você vai à Lorena... - seus olhos caem pro chão e sua face toma uma expressão tristonha. - Por um motivo trágico, mas mesmo assim é Lorena, França babe. - volta a me olhar com seus olhos castanhos brilhantes. - Logo eu, uma espanhola raiz, não deixarei que permanece lá com roupas que não acompanhe ao ar real que emana daquele reino simpático.
- Betânia, aqui também é um e eu não vivo de vestidos. - digo sorrindo levemente, mas ela nega.
- Não precisa ser apenas vestidos. - diz e eu vou retrucar, mas a campainha toca me impedindo de falar. - Vá, desça com Oli e converse com sua tutora, deixe que eu e Ame fazemos as malas. - manda e eu assinto. - E não diga que eu furei aula. - e eu rio baixo.
- Tudo bem. - olho pra morena de olhos claros que sorri. - Vamos Oli. - chamo meu amigo que assente.
Desço as escadas escoltada por ele que me dá passagem assim que chegamos ao primeiro piso, caminho até a porta e quando a abro encontro o rosto preocupado da mulher de meia idade.
- Boa tarde Sra. O'Kelly, entre por favor. - peço e assim ela faz.
- Boa tarde Sophia. - olha para mim enquanto fecho a porta. - Fui informada que terá que fazer uma viagem de emergência? - pergunta e eu assinto.
- Por favor, me acompanhe até a sala para conversarmos. - peço e ela assente.
Não vejo Oliver no recinto, mas ouço barulhos vindos da cozinha.
- Como a senhora deve saber, meus pais são missionários. - comento e ela assente enquanto se senta.
- Sim, Mary mencionou a alguns anos atrás quando nos esbarramos na feira de Portobello. - afirma e eu sorrio.
- Pois então, eles foram para Lorena com projetos de um grande evento evangelístico, estão lá desde o fim do mês passado. - conto e ela assente - Mas hoje no almoço recebi uma ligação informando que eles sofreram um acidente. - digo sentindo mais uma vez um bolo na garganta.
- Com licença. - Oliver se aproxima e oferece a mulher uma xícara de chá, serve a ela, a mim e a si sentado em seguida ao meu lado.
- Obrigada! - ela sorri agradecida.
- Eu entrei em contato com o médico que estão os acompanhando e ele não me deu muitos detalhes. - conto com um suspiro segurando o pires e a alça da xícara de porcelana de mamãe. - Vou embarcar mais tarde. - digo e ela assente.
- Eu lamento muito Sophia. - diz e pra não chorar a sua frente bebo um gole do chá. - Isso é muito ruim, tanto pelo acidente quanto pela sua ausência nas últimas semanas antecedentes às provas. - ela diz e eu assinto.
- Eu concordo. - afirmo abaixando as mãos e depositando o objeto na mesa de centro. - Não fui com eles a essa viagem justamente por isso, mas agora me vejo sem escolha, eu preciso estar lá com eles.
- Eu compreendo e está coberta de razão. - fala - No ano passado tive um tutorado que sofreu um infarto e ficou internado por algumas semanas, consegui que ele assistisse as aulas remotamente. - conta e eu assinto. - Como seu caso também é grave provavelmente conseguirei estender a você essa opção.
- Mas, e quanto as provas e a apresentação do meu TCC? - questiono com as mãos no colo.
- Sobre as provas conversarei com a diretoria, se caso você não puder voltar até que a semana dos testes enviaremos um fiscal para acompanhá-la ou monitoraremos remotamente. - diz - No entanto, creio que terá que vir para a apresentação do seu TCC na banca. - afirma segurando uma de minhas mãos - Contudo, não se preocupe, pois a King's tem compromisso com seus alunos, por isso afirmo que não ficará desamparada.- eu assinto olhando de relance para Oli que beberia o chá com o de Dinho em pé. - Além de que você sempre foi uma aluna dedicada, sempre com boas notas e um comportamento exemplar.
- Obrigada pelo apoio Sra. O'Kelly, me sinto aliviada quanto a isso. - digo e ela assente.
- Terei uma reunião de emergência com a diretoria ainda hoje, tratarei seu caso e eles conversaram com os professores. - diz se pondo em pé - Falarei com seu orientador do TCC, mas mande um e-mail pra ele para explicar a situação, quanto as aulas e as provas, entre amanhã e sexta-feira de manhã entrarei em contato, certo?
- Sim, obrigada Sra. O'Kelly. - me levanto também.
- Obrigada pelo chá Oliver. - diz e ele arregala os olhos por ela saber seu nome. - Ouvi boatos de que você anda pulando a catraca da universidade.
- Foram só cinco vezes. - murmura rápido. - Duas pra entrar e uma pra sair. - explica - Dá outra vez eu passei por baixo e hoje eu entrei pelos fundos. - responde com o tom de voz diminuindo, ele coça a nuca e arranca um risada mulher.
- Não faça mais isso, pode te dar problemas futuros. - alerta ela e ele assente.
Eu a acompanho até a porta, agradeço mais uma vez e a vejo se despede com um acenar de mão entrando em seu brilhante e alto carro.
Fecho a porta e olho pra Oliver.
- Por debaixo da catraca, Oli? - pergunto e ele dá de ombros. - Francamente... - murmuro sorrindo desacreditada.
- Pra você ver o quanto eu prezo estar com vocês. - o ouço dizer enquanto subo as escadas.
- Eai? - Ame questiona quando me vê entrar no quarto.
- Ela disse que poderei assistir as aulas remotamente. - digo e Bet franze o cenho.
- E como isso funciona?
- Tipo EAD, chamada de vídeo. - explica Ame e ela assente voltando a dobrar uma peça de roupa e guardá-la na mala. - Isso é bom Soph, mas e as provas?
- Se ela não puder voltar a tempo eles enviarão um fiscal ou fiscalizarão remotamente também. - responde Oli por mim.
- Tudo depende da reunião que a senhora O'Kelly terá com a diretoria mais tarde. - digo me aproximando da cômoda e tirando dos portas retratos as minhas fotos com meus amigos.
- O que está fazendo? - pergunta Betânia.
- Vou levar comigo. - digo olhando pras imagens.
Os únicos que não estão mais conosco é Oscar que mudou-se para Portugal e Olivia que voltou para a Bélgica seu país de nascença.
Tiro também a que estou no meio dos meus pais e recebo um beijo dos dois, com um suspiro pesado junto ela com as outras.
- Ah, que linda. - ouço Oli e faço careta para ele guardando em seguida as fotos entre as folhas do meu diário.
Com certeza tê-los aqui me ajuda a não me desidratar.
- É a apresentação do TCC pra banca, Soph? - ouço Bet enquanto separo os livros da biblioteca que ela prometeu devolver em meu lugar.
- Vou ter que vir pra apresentar, mas eh ainda não finalizei, eh e Raul precisamos terminar a conclusão. - em uma mala menor que a de roupas coloco alguns cadernos, apostilas, meu estojo de lápis e o espaço que sobra Bet usa pra colocar sapatos. - Que inclusive tá mais complicado que todo o resto. - Ame solta um riso e eu um suspiro.
- Isso daí não vai dar B.O na hora do check-in? - pergunta Oli que está sentado na minha cadeira de escritório nos observando trabalhar.
- Se não tiver nada ilícito e acima do peso limite, não. - Isla responde da porta, endireito minhas costas para olhá-la e então sorrio em sua direção.
- Oi. - a cumprimento quando a mesma caminha pra me abraçar.
- Eu mandei uma mensagem à ela. - ouço Ame e agradeço após me afastar.
- Eu sinto muito pelos seus pais, Soph. - a ruiva diz e eu assinto grata.
- Eles ficarão bem. - assegura Ame guardando a sandália que usei pra ir ao Chimis na semana passada na mala. - Eles ainda irão ao meu casamento. - diz sorrindo.
- E a nossa formatura. - acrescenta Oli.
- Eu nem consegui mostrar minha aliança de noivado à eles. - fala Bet.
- É, nem eu. - concorda Isla.
- Eles ficarão bem. - murmura Ame e assinto.
- No final Bet tinha razão, Soph vai mesmo pra Lorena. - fala ela se jogando na minha cama arrumada.
- Não como eu gostaria, - observa a espanhola - Mas vai... - conclui.
Com as malas maiores prontas eu me aparto dos meus amigos para ligar para minha avó em Washington, precisava avisar sobre o ocorrido a alguém da família pra que ficassem informados e para que iniciassem as orações.
- Soph, uma e dez. - fala Isla do último degrau da escada.
Peço um minuto com o dedo e ela assente voltando a subir.
*Tudo bem, eu manterei a senhora informada. - digo a minha avó materna que mantinha a voz preocupada.
*Creio em Deus pai que irá sará-los. - fala e eu assinto.
*Amém vovó, eu também creio. - afirmo e suspiro *Eu vou ter que desligar pra ir me arrumar, fica com Deus e peça pra que orem, sim?
*Tudo bem Soso, fique tranquila que estaremos orando. - afirma *Faça uma boa viagem minha neta.
*Amém vovó, obrigada!
Após desconectar a ligação subo as escadas e encontro meus amigos deitados de barriga pra cima na minha cama.
- Você tem vinte minutos pra se arrumar. - fala Isla se pondo em pé. - Eu e Oli vamos descer as malas.
- Vamos? - pergunta erguendo apenas a cabeça. - Ah, tudo bem. - levanta com um resmungo. - Tava tão bom... - murmura e eu sorrio.
- Obrigada gente. - digo quando eles passam por mim, a moça com a menor e Oli com a maior.
- Eu separei sua roupa, mas deixamos sua mala de mão para você ajeitar. - fala Bet e eu assinto.
- Não vou pôr muita coisa. - digo indo até a estante e pego minha bíblia, caminho até minha escrivaninha e pego o diário, o notebook e seu carregador e de dentro da minha gaveta de documentos tiro meu passaporte.
- Como será que deve ser o palácio? - pergunta Betânia ainda deitada e olhando pro teto.
- Bonito. - murmuro e as duas que ficaram riem.
- Sério, Sophia? - questiona a espanhola irônica.
- É. - olho pro meu celular que vibra. - Ame, mandei o pdf do meu cartão de embarque, imprime pra mim, por favor? - peço a que ela assente se levantando.
- Vai ficar no palácio? - pergunta ela e eu organizo tudo dentro da maleta deixando de fora apenas o passaporte.
Caminho até o closet e pego uma calça jeans e um moletom verde claro.
- Pelo jeito, sim. - respondo sorrindo pra Betânia que faz careta ao ver minha escolha de look, mas não fala nada. - Não que eu queira. - resmungo baixo.
- E Dan? - pergunta Ame se sentando.
- Não sei. - suspiro fechando minha nécessaire com pasta e escova de dente, pequenos frascos de creme para mãos, corpo e cabelo, manteiga de cacau, um pequeno frasco de perfume, um mini pacote de lenços umedecidos, um de lenço de papel, três embalagens de absorvente, espelho de mão e rímel. - Ele é a última pessoa em quem tenho pensado hoje. - murmuro fechando a mala.
A roupa que Bet separou para mim é um vestido mostarda de corte reto que desce até minha canela, de alças altas e finas, fendas laterais e com bolsos na altura da cintura.
Após um banho eu o visto, ainda no banheiro prendo o cabelo em um coque, pela pressa não junto todos os fios e alguns caem em meu rosto enquanto coloco minhas roupas anteriores no cesto de roupa suja.
Passo perfume, desodorante e saio do cômodo caminhando novamente para o quarto.
Oliver está de volta a cadeira da escrivaninha digitando sem parar no celular, Isla está sentada na beirada da cama com o braço apoiado na coxa, a cabeça na mão e o semblante apaixonado enquanto encara a aliança no dedo.
Ame e Bet conversam baixo, a espanhola descansa a cabeça sobre a barriga da londrina.
Caminho até Isla e me sento ao seu lado tomando sua atenção, pego o Nike branco no chão e o visto.
- Estamos prontos? - pergunto e Ame se levanta.
- Estamos! - afirma Oli também se pondo em pé.
- Eu não vou poder ir com vocês pro aeroporto. - diz Isla - Eu disse pro meu gerente que logo voltaria. - comenta e eu a olho.
- O que disse pra ele? - volto a calçar o tênis.
- Que meus tios haviam sofrido acidente e você precisava de um apoio. - conta e Bet ri enquanto eu a encaro desacreditada. - O que? - olha de mim pras meninas atrás dela. - Eu não menti, eu chamo seus pais de tio e tia direto. - explica e eu sorrio.
- Só você mesmo. - me levanto.
Vejo Ame pegar sua bolsa no canto do quarto e Oliver sua pochete cara, Isla confere a hora no celular e Bet se levanta pegando minha mala de mão.
- Vamos. - chama cantarolando a espanhola animada e eu pego meu celular e o passaporte.
- Obrigada, Ame. - beijo sua bochecha quando ela me entrega a folha impressa. - Aah!!! - exclamo antes de sair do quarto.
- O que foi? - pergunta.
- Nada, pode descer. - digo - Esqueci meu carregador. - explico e vou em direção a mesa de cabeceira e da tomada que havia ali próximo, o desconecto da tomada saindo rápido do quarto.
Antes de descer confiro todas as janelas dos quartos e então desço as escadas, confiro se as portas dos fundos está trancada e então caminho em direção a da frente.
Olho ao redor, a chave do carro no chaveiro e a da casa na porta, com um suspiro saio, tranco a porta e caminho em direção aos meus amigos.
- Ah, Soph... - murmura Isla - Sentirei sua falta. - afirma e eu sorrio emocionada.
-Eu irei mais, aqui vocês ainda terão um ao outro, lá eu estarei só. - falo em tom de brincadeira, mas era mesmo verdade, não tenho amigos em Lorena, não que eu saiba.
- Tá, agora você fez eu me sentir ainda pior. - murmura ela e eu rio.
- Desculpa. - peço e ela beija minha bochecha.
- Melhoras aos seus pais, não vejo a hora de poder abraça-los de novo. - diz e eu assinto.
- Obrigada minha amiga. - a abraço novamente e então ela se vai.
- Você trancou certinho o carro do meu pai? - pergunto a Oliver que está sentado ao meu lado.
- Sim. - afirma - Certeza. - reafirma - Não se preocupe. - alega e eu assinto.
- Obrigada! - agradeço sincera.
- Não esquece de devolver os livros Bet, por favor. - peço pra garota que está no banco da frente e que mexe incansavelmente no rádio do carro de Ame.
- Confia em mim Soph, no último dia do prazo eu devolvo. - diz olhando por cima do ombro e nós rimos.
- Não brinca com isso. - peço e ela ri.
Pelas informações que Roger mandou o aeroporto em que irei embarcar é o mesmo que meus pais embarcaram, o que significa poucos minutos para chegarmos.
- Qual terminal, Soph? - pergunta Ame.
- Dois. - digo após conferir a mensagem.
- São quantas horas de viagem até lá? - pergunta de novo.
- Se a Soph não fizer conexão, no máximo duas. - diz Bet e eu sorrio.
- Idem ao que ela disse. - murmuro.
- E o que vai acontecer com o evento agora? - questiona Oli olhando para mim e eu apenas suspiro.
- Não sei. - digo - Não tinha pensado nisso. - falo sincera. - Mas acho que cancelaram pelo jeito que Roger disse. murmuro.
- É, é provável que eles estacionem o andamento de tudo durante o período de recuperação da Mary e do Ethan. - fala Bet e eu assinto.
- É, eu acho que sim. - murmuro - Mas vou esperar chegar lá pra tirar conclusões. - comento - Projetos grandes assim envolve várias forças que as vezes não irão querer esperar. - murmuro.
- É, isso é verdade. - concorda Oliver.
- Você fala dos patrocinadores? porque eles tem bastante. - comenta Betânia.
- Dos patrocinadores, fornecedores, do próprio povo. - afirmo - Tudo isso envolve dinheiro e quando tocamos no bolso de alguém a coisa aperta. - falo e Oli concorda.
- E se eles quiserem dar continuidade no projeto? - pergunta Ame me olhando do retrovisor.
- Bom, eu não tenho muito espaço pra opinar. - dou de ombros - Eu posso ajudar, mas sem grande enfoque e sem contar que tudo vai depender das pessoas contratadas também. - digo.
- Então, era verdade que Hillsong ia? - pergunta Oliver de repente animado.
- Talvez, meus pais não entraram com detalhes até porque queriam me fazer ir, mas segundos minhas especulações e as da mídia, sim. - concordo.
- Cara, que massa... - resmunga ele.
- Esse reino é influente, não é? - questiona Amélia.
- Eu disse à vocês. - sorri Bet. - Isso porque eles promovem grandes festivais, bailes e eventos, como esse, para o povo e para as regiões e outros países. - fala ela - Sem contar nas fortes alianças com reinos vizinhos.
- Betânia, eu acho que você deveria ser professora de história. - fala Oliver e nós rimos.
- Ou jornalista. - digo.
- Uma coluna de fofoca sobre os príncipes e reis combina perfeitamente com ela. - fala Ame e a garota ri.
- Eu acho que estou no curso errado. - brinca.
Quando chegamos Ame destrava o porta malas eu e Oli tiramos as malas.
- Soph, eu já sei o que te darei de presente de aniversário. - fala Betânia enquanto entramos no aeroporto.
- O que? - pergunto já sorrindo. - O check-in é pra lá. - aponto e digo pra Oliver.
- Malas novas, o preto não te valoriza. - fala e Ame bate de leve em seu braço. - O que foi? - pergunta a moça - Amigo é quem aconselha. - diz e eu sorrio.
- Tá bem, eu amarei as novas malas. - afirmo me pondo em frente ao televisor de totem para fazer meu auto check-in.
- É dois voos? - pergunta Oliver me observando fazer o processo.
- Sim. - falo apenas com o cenho franzido enquanto copiava as letras do código de reserva que disposto com as informações que Roger me encaminhou. - Mas o segundo é privado.
- Privado? - pergunta os três juntos.
- É, privado. - afirmo me arrependendo de ter mencionado esse detalhe.
- Mas como assim? - pergunta Bet.
- É um jato particular, ué. - explico.
- Não!!! - exclama - Você vai em um jato particular? - pergunta animada e eu assinto - Quem mandou, os pais do Dan?
Eu paro para encará-la, Betânia parece uma criança que caminha com os pais em direção a uma loja de brinquedos.
- O rei. - conto por fim e por um segundo penso que ela iria desmaiar.
- O que? - perguntam os três juntos de novo.
- Ué gente, todos sabem que meus pais estavam hospedados no castelo, obviamente eles se responsabilizariam. - digo e Bet nega.
- Não vem não, isso é grande coisa sim, de quem é o jato? - pergunta e eu sorrio.
- Não sei, Roger não disse. - respondo dando de ombros.
- Quem é Roger? - questiona e Oliver ri alto.
- Isso é um interrogatório? - eu a olho e vejo assentir.
- É sim, e depois vou querer todos os detalhes. - afirma e eu sorrio desacreditada. - Quem é Roger?
- Primeiro secretário do príncipe, se não me engano. - respondo e ela solta um gritinho.
- Do príncipe? - pergunta e gruda no meu braço - Isso quer dizer que o príncipe está envolvido e talvez o jato seja dele.
- E o que que tem? - pergunto me desvencilhando de seu aperto e ela grunhe fazendo careta.
- Como você é chata. - resmunga - Isso pode ser um sinal. - diz e eu rio.
- Sinal de quê Betânia? para de viajar. - digo e ela nega.
- Escuta o que eu tô te falando. - murmura e Ame resmunga um "doida" - E sobre os voos, ela vai desembarcar em Metz e então terá, mais ou menos, vinte minutos de chão até Lorena. - diz enquanto me abaixo para colar nas malas os códigos impressos pela máquina e as etiquetas colo nas alças.
- Idem ao que ela disse. - murmuro de novo com um sorriso simples e passamos a caminhar para fazer o despache.
Para otimizar o tempo dos passageiros e funcionários dentro do aeroporto foram criados balcões de autoatendimento, fazemos nosso próprio check-in e despache das malas.
- Atenção senhores passageiros. - ouço a voz feminina e olho pro rosto de Ame alerta - Última chamada para o voo 456, com destino a Washington, Estados Unidos da América. - informa e eu suspiro aliviada. - Embarque no portão 17.
- Por um momento meu coração parou. - resmungo sorrindo, mas Oli e Bet nem olham pra mim.
- Você é esquisita. - fala Oliver pra espanhola e ela sorri.
- Eu tô noiva. - responde e ele gargalha.
- E o que isso tem a ver? - questiona de braços cruzados enquanto eu coloco as malas, uma de cada vez, na balança, depois eu e Ame colocamos elas sob a esteira enquanto Oliver e Bet discutem e passo o scanner nas etiquetas.
Quando o processo é finalizado a esteira começa a rodar e vejo minhas malas serem levadas.
- Essa tecnologia é legal, gostei. - murmura Oli e eu concorda.
- É, né? - cruzo meu braço no de Ame dando licença pra outro passageiro.
- Ei, não me ignore seu inglesinho... - Betânia murmura logo atrás de nós.
- Tenho dó do Dom. - ele resmunga.
- Pelo menos ele tem uma garota pra chamar de noiva. - ela diz com um sorriso vitorioso enquanto Oliver para no meio do aeroporto com um semblante de horror e com a mão no peito.
- Você tocou no meu ponto fraco. - fala e Betânia revira os olhos.
- Atenção senhores passageiros do voo 0868, com destino à Paris, embarque permitido no portão 3.
- É o seu? - pergunta Amélia.
- Agora é. - afirmo após conferir.
- Retira o que disse. - pede Oli e Ame ri.
- Vamos gente! - chamo liderando a fila torta.
- Ei, vocês são adultos mesmo? - repreende a inglesa enquanto nos direcionamos ao portão, Oliver mantém uma careta emburrada no rosto enquanto apressa o passo para se livrar de Bet.
Eles parecem mesmo crianças.
- Retiro o que disse. - fala a garota dando uma leve cutucada em Oliver após correr um pouco para alcançá-lo.
- Eu acho bom. - fala ele e eu rio.
- Eu vou sentir saudade de vocês. - digo quando estamos de frente para à fila de raio-x.
- Nós sabemos. - o garoto diz com um sorriso enquanto me ponho de frente à eles.
Seguro a mala com as duas mãos em frente ao meu corpo e sorrio.
- Nós também vamos. - afirma Ame.
- Não quero me despedir, até porque não é uma despedida, nós veremos em breve. - diz Betânia se aproximando para me abraçar.
- Com certeza! - digo e rompo os poucos centímetros que resta.
- Vai com Deus Soph, se cuida. - pede e eu assinto em seu ombro.
- Pode deixar, eu me cuidarei. - afirmo me afastando - E... - prolongo a pronuncia da letra - Prometo mandar fotos do palácio. - digo e ela sorri batendo uma mão na outra algumas vezes seguidas.
- Perfeito. - comemora - Eu ia pedir, mas não queria se insensível, sabemos porque está indo. - murmura mais calma e eu concordo com um sorriso fechado.
- Não se preocupe, eu precisarei manter minha cabeça ocupada em todos os minutos dos dias que ficarei por lá.
- Sendo assim, mande uma do príncipe também. - pede piscando um olho na minha direção.
- Betânia. - eu e Ame repreendemos juntas enquanto Oliver apenas ri.
- O que? - nos encara - Não temos príncipes jovens na Inglaterra. - explica - Somente velhos e adolescentes, ou pré... - faz careta após deitar a cabeça no ar parecendo pensar.
- Adoraria que o Dom estivesse aqui pra ver o seu interesse questionável no príncipe de Lorena. - resmunga o garoto a cutucando com o cotovelos preso nos braços cruzados.
- Não há nada de errado, podemos admirar pessoas bonitas. - rebate após o afastar com um leve empurrão.
- Soph, que Deus permita que faça uma boa viagem. - se aproxima Ame. - Mande lembranças à Mary e a Ethan, diga que aqui estamos orando e que os esperamos ansiosos de volta. - ela fala com suas mãos na minha desocupada.
- Amém minha amiga, eu falarei. - a abraço. - Cuida das coisas por aqui na minha ausência e não deixa esses dois se matarem. - peço pra ela que sorri.
- Pode deixar. - afirma.
- Você podia ter pelo menos um peixe pra eu me oferecer pra alimentar, não é? - murmura Oliver me abraçando forte.
- Poderia. - concordo - Se eu tivesse tempo. - concluo e ele me solta.
- Vai com Deus e volte logo, eu realmente não quero ter que aguentar a barra sozinho como a vela do grupo por muito tempo. - fala e eu rio.
- Pode deixar, eu voltarei o mais rápido que der. - prometo me afastando.
- E não deixe de nos ligar e nem de atender nossas futuras ligações. - pede Ame.
- Tudo bem. - assinto.
- Estarei esperando as fotos. - avisa Bet.
- Eu vou mandar, I promise. - digo e ela assente.
- Tchau. - acenam enquanto me afasto. - Vai com Deus. - desejam enquanto eu aceno.
Olho mais uma última vez pra trás e vejo Bet me mandar um beijo, Ame sorrir e acenar e Oliver cruzar os braços, é agora é oficial, estou indo pra Lorena.
Entro na fila de raio-x e não demora muito pra chegar a minha vez.
- Boa tarde. - cumprimenta a funcionário estendendo a mim uma bandeja de plástico. - Coloque aqui chaves, celular, moedas, cinto, sapatos e se estiver com o notebook na mala coloque-o aqui também. - instrui e eu assinto já tirando meu all star e ficando só de meias de morango e cereja.
Passo pelo raio x sem complicações e do outro lado volto a colocar meu tênis e guardar meus pertences.
- Obrigada, faça uma boa viagem. - diz a mulher e eu sorrio em agradecimento.
Continuo caminhando e mais a frente entro em mais uma fila, aonde meu ticket é scaneado antes d'eu entrar no avião.
- Obrigada. - sorrio para o funcionário que devolve meu fino papel.
Caminho junto de outras pessoas pelo corredor e lembro o dia em que corri por um parecido pra alcançar meus pais para pegar a chave do carro, sinto medo dessa situação, sinto medo de perdê-los, mas em todos os momentos quando minha mente pende pra pensar o pior eu a volto pras palavras de fé dos meus amigos.
Crer em Cristo!
Entro no avião e procuro pela minha poltrona, como é um voo internacional o avião é maior e com mais fileiras, o ticket que seguro diz a fileira e a poltrona, quando eu as encontro guardo a mala de mão no compartimento acima da poltrona e depois me sento em um dos três assentos, por sorte o da janela.
Já acomodada, afivelo o cinto de segurança e miro a janela deixando meus pensamentos voar mais alto que o avião voará em minutos.
Passam-se alguns minutos antes da voz do comissário de bordo soar peloa avião.
- Senhoras e senhores, em nome do piloto Joshua Harris, do primeiro oficial Lucke Smith e toda a tripulação, temos prazer em recebê-los em nosso voo. - ele diz. - Para decolagem é importante que estejam com o cinto de segurança afivelados, mesas fechadas e travadas, o encosto da poltrona na posição vertical, persianas das janelas abertas e todos os equipamentos eletrônicos desligados. - instrui - Como responsáveis pela sua segurança durante o voo pedimos que esteja atento aos procedimentos de segurança que serão apresentados a seguir. - pede enquanto duas aeromoças se põe em frente as pessoas, uma no início do corredor e outra mais ao meio. - A todos uma ótima viagem.
As mulheres demonstram o que a gravação de voz diz enquanto o avião se locomove.
- Olha mamãe!!! - ouço a voz infantil de uma garotinha. - Elas fazem isso toda vez? - pergunta.
Olho pras minhas vizinhas de poltrona e sorrio simples.
- Sim, elas fazem. - a mulher concorda.
- Legal! - resmunga.
Sorrio pra moça que me olha e então volto a prestar atenção nas instruções de segurança, eu já sabia de cor, se pra ser comissário de bordo precisasse fazer somente isso, eu já poderia ser uma.
O avião decola e eu olho pra fora da janela observando a cidade se tornar um país e então some entre as densas nuvens brancas.
Com um suspiro olho pras minhas mãos unidas no colo e fecho os olhos encostando minha cabeça no vidro.
"Cura os meus pais, Deus" - peço em pensamento.
Volto a abrir meus olhos e fitar o céu, tão azul, as nuvens tão brancas. Eu me perco ao pensar em como será Sião, se aqui já é vistoso aos olhos, imagina a glória?
Essa linha de raciocínio me faz lembrar do louvor brasileiro - "Além do rio azul, as ruas são de ouro e de cristal, ali tudo é vida, ali tudo é paz, morte e choro, nunca mais..."
Sorrio para a paz que se instala de repente em meu ser e descanso minha cabeça no encosto e fecho os olhos.
- Você tá triste ou feliz? - ouço a pergunta e olho pra baixo.
- Anne! - repreende a mulher loira, movo meus olhos da garotinha pra ela e de volta pra pequena menina que ainda me observa com seus grandes olhos e com rosto sério.
- Oi? - resmungo confusa.
- Você... - aponta pra mim - Está feliz ou triste? - pergunta novamente e eu movo a cabeça com um simples sorriso. - É que está chorando, mas também está sorrindo. - argumenta.
A mulher iria lhe repreender de novo, mas afirmo não existir problemas.
- Mamãe disse que quando choramos é porque estamos tristes e que quando estamos contentes sorrimos. - fala ligeiro - Mas você está fazendo os dois, o que me deixa confusa. - resmunga ajeitando os pequenos óculos no nariz.
- Aah... - prolongo a pronuncia da palavra - Está certa, eu estou um pouco dos dois. - digo e ela assente olhando pra frente e se silenciando.
- Desculpa, Anne é tagarela, gosta de falar com todos que a cercam. - explica a mãe da garota e eu sorrio.
- Não se preocupe, eu não lig... - sou interrompida.
- Mas como isso é possível? - pergunta a little girl me olhando novamente.
Eu sorrio e olho pra janela por alguns instantes.
- Eu não sei. - afirmo sorrindo e ela assente.
- Cientificamente os seres humanos... - sua mãe a cala segurando ombro da menina..
- Anne, já deu filha. - ela a olha e a sua cópia assente.
Eu sorrio, mas não interfiro.
- Meu nome é Jade, muito prazer. - a mãe me estende sua mão e eu a aperto.
- Sophia. - sorrio - O prazer é meu. - afirmo.
- Eu sou Anne, mas a mamãe já falou. - diz a garota e eu sorrio.
- É um lindo nome. - observo.
- Sabia que meus pais vão se casar de novo? - pergunta.
- Ah é? - sorrio olhando pra moça que sorri para a filha.
- É, e eu vou ser a florista. - conta pomposa.
- Uau, tenho certeza que você será a melhor que seus pais poderiam ter. - falo e ela assente.
- Eu concordo com você, foi por isso que mamãe me escolheu. - afirma e pede pra eu me aproximar - Sabia que o casamento deles é mais velho que eu dez anos? - pergunta em um cochicho.
- É mesmo? - me afasto com um semblante surpreso e com a mão tampando a boca.
- É. - afirma balançando a cabeça pra cima e pra baixo - Só não conta pra mamãe que eu chamei o casamento dela de velho. - pede baixo após olhar em direção a mãe.
- Tudo bem. - volto a encostar minha cabeça no encosto. - Eu prometo. - afirmo e ela sorri.
- Estamos indo pra casa da vovó, ela mora em Parcoul e eu vou ficar lá por uma semana enquanto mamãe trabalha. - conta e eu assinto com as sobrancelhas altas. - E você, está indo pra onde? - junta as mãos no colo enquanto balança as pernas que não alcaçam o chão.
- Eu estou indo pra Lorena. - digo e ela ergue as sobrancelhas com a face animada.
- Mamãe!!! - cutuca a mulher que tira os olhos do tablet e a olha. - Ela vai pra Lorena. - fala e a mulher sorri.
- Isso é incrível. - diz a ela - Por que você não conta à ela da vez que visitou o palácio Louford. - sugere e a garotinha assente com um enorme sorriso banguelo.
- Siim... - exclama - Nós fomos no ano passado, eu, minha mamãe e meu papai. - conta numerando a família nos dedos. - Foi no meu aniversário. - diz contente. - Eu conheci um príncipe, sabia? - pergunta e eu rio de sua alegria.
- Uau, me conta, como ele é? - peço.
- Bem, bonito. - diz e eu rio. - Não conta pro papai, mãe. - olha pra mãe rapidamente que assente e simula passar um zíper nos lábios. - Ele tem cabelos pretos e tem olhos claros e é super legal. - conta - Ate me levou para conhecer o jardim real, a mamãe e a rainha nos acompanhou. - conta e eu assinto.
- Que incrível, eu irei conhecer o castelo também. - digo e a menina esbugalha os olhos.
- Está falando sério? - pergunta e eu assinto. - Eu deveria ter trazido o desenho que fiz pra ele. - murmura.
- Talvez você possa fazer um agora. - digo e ela nega.
- Mas eu não truce meu estojo de lápis. - fala.
- Pode desenhar com uma caneta, daí você deixa um recado dizendo que é pra ele colorir. - falo e vejo os olhos da menina brilharem.
Eu amo crianças, sempre quis ter irmãos ou irmãs, mas com as constantes viagens meus pais preferiram ter somente a mim.
- É uma ótima ideia. - exclama - Mamãe, mamãe? - chama. - Tem papel e caneta? - pergunta, mas a mulher nega. - Aah... - faz bico.
- Não se preocupe, eu dou um jeito. - falo e ela volta a sorrir.
- O que vai fazer? - pergunta séria me vendo erguer a mão. - A moça está vindo pra cá... - observa sorrindo grande. - Você é fantástica, Sophia!!! - exclama animada e eu sorrio com os olhos de sua mãe sobre nós.
- Em que posso ajudar? - a aeromoça sorri gentil para nós.
Eu olho pra garota que encarava a mulher morena com o cabelo preso em um coque e uma boina com a logo da companhia aérea com a boquinha aberta sutilmente e com olhos brilhantes.
- Hurum. - pigarreio e Anne me olha.
- Oh... - exclama a pequena ao olhar dela pra mim, de mim pra ela. - Meu nome é Anne, muito prazer. - se apresenta formalmente.
- O prazer é meu, Anne. - a mulher aperta a pequena mão da garota após cumprimentar a Jade e a mim. - Meu nome é Emma.
- Que nome bonito, vou colocar na próxima boneca que eu ganhar. - murmura com olhos no chão e a aeromoça ri fraco encantada - Será que você tem um papel e uma caneta pra me emprestar? - pergunta e ela assente - A Sophia vai à Lorena e no ano passado eu fui conhecer o castelo, conheci um príncipe, sabia? - pergunta e a aeromoça permanece sorrindo. - E eu quero fazer um desenho pra ele.
- Uau, que incrível. - diz Emma olhando de mim para ela. - Pode deixar que trarei a você papel e caneta. - afirma e Anne ao meu lado sorri.
- Eba. - comemora - Obrigada moça dos gestos, quando crescer quero ser como você. - fala e a mulher deita a cabeça no ar com semblante encantado.
- Eu fico lisonjeada Anne, muito obrigada! - agradece - Me dê um instante. - pede e a menina assente.
Emma se afasta calmamente sorrindo para os passageiros que lhe sorri também, ela vai em direção a cabine de descanso dos comissários e some de nossas vistas.
- Você viu isso? - pergunta a criança puxando minha atenção e meu cotovelo. - Eu falei com ela. - murmura parecendo realizar um sonho. - Eu falei com ela.
- É, você falou! - confirmo e ela me sorri.
Durante o restante do voo eu a ajudo a desenhar, ela faz um lindo castelo e eu a ajudo com a coroa dos reis, dos príncipes e da princesa.
Me sinto aliviada por ela não ter perguntado pelos meus pais, parece entretida demais pra pensar em algo que não seja acabar antes que anunciem o pouso.
- Acabamos! - exclama um pouco alto demais atraindo alguns olhares divertidos, encantados e outros rabugentos.
- Anne, por favor filha. - sua mãe a olha para depois voltar a atenção ao texto que edita.
- Desculpa. - sussurra a garota olhando em volta.
- Eu acho que ficou incrível. - murmuro olhando pro desenho feito em uma folha pautada e com a logo da linha aérea.
- Obrigada Sophia. - sorri para mim e depois olha para a figura concentrada ao seu lado - O que a senhora achou, mamãe? - pergunta mostrando o desenho.
- Fantastique mon amour - diz e no mesmo instante meu sorriso se fecha, suas palavras me traz a realidade e me lembra o motivo d'eu estar dentro desse avião.
- Merci - agradece sorrindo. - A mamãe gostou. - reporta olhando pra mim e, por isso, trato de sorrir.
- Isso é bom. - afirmo.
- É, sim. - concorda - Se mamãe gostou quer dizer que o desenho está a altura do príncipe. - afirma assistindo devagar, parecia analisar sua obra de arte. - Ela tem bom gosto. - murmura me entregando o desenho.
- Será uma honra entregar à ele. - afirmo enquanto observo o desenho.
- Obrigada por isso Sophia, esse foi o voo mais legal de todos os tempos. - se levanta e me abraça.
- Eu que tenho que te agradecer. - digo sentindo o cheiro de tutti frutti que vem do seu cabelo. - Você me deixou totalmente feliz. - digo e ela me olha nos olhos.
- Isso é bom, eu não gosto de saber que as pessoas estão tristes. - fala se sentando.
- É, eu também não gosto da tristeza. - digo e ela assente séria, mas então sorri.
- Já sei - se levanta - Quando você se sentir triste lembre dessa dica. - diz colocando as mãos em forma de concha. - Puxa o ar e... - inspira - Solta! - diz alto com um pulinho me fazendo rir. - Puxa o ar e... - inspira de novo. - Solta. - dá outro pulinho. - Mas tem que fazer certinho, se não, não dá certo. - instrui e eu assinto.
- Eu farei. - digo assistindo.
- Senhoras e senhores, dentro de instantes pousaremos no aeroporto de Paris, Charles de Gaulle. - ouvimos mais uma vez a voz do chefe de cabine. - Retornem, por favor, o encosto das poltronas pra posição vertical e afivelem os cintos de segurança, verifiquem se as mesas estão frechadas e travadas corretamente. - diz enquanto ao meu lado, Jade salva seu documento e desliga seu tablet. - Mantenham seus equipamentos eletrônicos desligados, inclusive câmeras de vídeo, laptops, jogos eletrônicos e câmeras fotográficas. - pede e eu olho pra Anne que sorri grande mostrando mais uma vez seu sorriso banguelo, aperto sua bochecha e sorrio também. - Para pouso a iluminação da cabine será reduzida, muito obrigado pela atenção.
- Aaah, eu não quero ir embora. - choraminga Anne enquanto sua mãe passa o cinto pelo corpo pequeno da menina.
- Vovó Joe ficará triste se souber disso, Anne. - fala a mãe dela.
- Você não pode ir conosco, Sophia? - me olha com olhos esperançosos.
- Se eu pudesse, eu iria, mas infelizmente tenho que seguir viagem. - digo e ela assente tristonha.
- Mas e seu eu der nosso contato a Sophia? - Jade sugere sorrindo - Com isso poderemos marcar um dia pra nos vermos novamente. - diz a Anne que já concordava.
- Eu acho perfeito. - afirma e vejo Jade escrever em uma das folhas que a aeromoça dera enquanto o avião desce.
- Obrigada. - sorrio pegando o papel. - Eu, com certeza, ligarei. - digo e Anne faz bico.
- Promete? - pergunta e eu assinto lembrando de Betânia.
Eu assinto, os olhos da menina miram a janela e os meus seguem os dela.
- Pousamos... - murmura e eu concordo abraçando seu corpo de lado.
O desembarque acontece calmamente, e ao meu lado Anne segue saltitante segurando na mão de sua mãe.
- Você sabe que terá que se despedir da Sophia, não é mesmo Anne? - pergunta Jade, mas a menina permanece animada.
- Vou pensar nisso só na hora mamãe. - diz ela olhando para mim rapidamente. - Não devemos sofrer por antecedência. - afirma e eu sorrio enquanto a mãe dela assente.
- Isso aí, quem te ensinou isso? - pergunta ela com um sorriso grande.
- O papai. - a menina diz e gargalha logo depois nos levando a sorrir. - É brincadeira, foi a senhora. - afirma e a mãe assente.
Seguimos as placas de passageiros em trânsito e o grande fluxo de pessoas que caminham para pegar suas malas e outros para esperar conexão.
Mais uma vez passo pela revista, mas dessa vez com a presença ilustre de Anne. Ela passa girando feito bailarina no raio x tirando risos meus, de Jade e dos funcionários.
Por ser um voo internacional a burocracia é maior, por isso nossos vistos são analisados com bastante atenção, mesmo eu sendo residente europeia.
- Acho que agora está na hora d'eu pensar na despedida. - diz a criança enquanto Jade pega as malas e eu espero as minhas chegarem.
- Eu acho que sim. - murmuro olhando pra esteira.
- Senhorita Owes? - ouço quando chamam por mim e me viro encontrando três homens com roupas elegantes, vulgo terno.
O que está mais a frente e com as mãos atrás do tronco é alto e com um porte entre magro e atlético, tem os cabelos negros baixo em um corte moderno, a pele clara, rosto liso e fino e em frente aos olhos castanhos usa um osculo de grau com a armação dourada.
Jovem, talvez apenas alguns anos mais velho que eu, olho pra Jade que os observa com o cenho franzido e olha para mim com o mesmo semblante.
- Em que posso ajudar? - questiono estranhando ele me conhecer e além de tudo saber meu nome.
- Falei com a senhorita mais cedo. - diz e ergo as sobrancelhas em compreensão.
- Oh sim, me desculpe. - murmuro. - Devo me curvar? - pergunto depressa.
- Não, não é necessário, não a mim. - sorri simples - Muito prazer, Roger. - fala me estendendo sua mão.
- O prazer é meu. - afirmo o cumprimentando.
- Com licença... - Anne interrompe com seu pequeno cenho franzido - Eu conheço você! - afirma e o homem lhe oferece um pequeno sorriso.
- Ah é? - questiona.
- Sim. - confirma - Eu o vi, com o príncipe quando fui no castelo de Lorena no ano passado. - conta e então arregala os olhos - Sim, mamãe é ele, o ajudante do príncipe Louford. - diz e o homem sorri.
- Oh, por Deus. - ele claramente encena uma expressão surpresa - Desculpe pequena senhorita, não a reconheci. - diz simpático - Estou imensamente honrado em encontrá-la novamente, como está bela. - elogia e ela sorri grande.
- Obrigada cavaleiro. - sorri - Você se lembra de mim mesmo ou só está sendo gentil? - pergunta com olhos semicerrados e o homem sorri.
- Anne. - Jade intervém tomando a atenção para si. - Perdoe-nos senhor, ela as vezes não tem travas.
- Não se preocupe, é isso o que eu mais gosto nas crianças, a transparência. - afirma - O mundo seria melhor se fôssemos como elas.
- Ele tem razão, mamãe. - afirma assentindo e olhando para a mãe. - Sabe, eu fiz um desenho para o príncipe e o deixei com Sophia pra que ela o entregue. - conta ela com a total atenção do homem - Por favor, não a deixe esquecer, sim?
- Com certeza. - afirma - Seu desenho será entregue. - promete e Anne me olha.
- Você não é uma princesa, não é? - pergunta, eu nego e ela abana a pequena cabeça pra cima e pra baixo rapidinho. - Eu ficaria chateada se fosse e não tivesse me contado. - fala e eu sorrio.
- Eu não esconderia isso de você. - afirmo e ela sorri. - Bem, eu temo que essa seja a hora da despedida. - digo olhando pra Jade que agora me observa com atenção e, o que parece ser, interesse e curiosidade.
- Aah, eu não quero! - resmunga e eu sorrio.
- Prometo te ligar. - chacoalho o papel que estava o número de sua mãe.
- Estarei esperando. - afirma e eu sorri me abaixando para abraçá-la.
- Jade, foi um imenso prazer. - falo e ela assente com um semblante amigável e aperta minha mão.
- O prazer foi meu, mas pode ter certeza, não é uma despedida. - diz e eu me afasto com um sorriso. - Façam uma boa viagem. - deseja e eu sorrio.
- Uma boa viagem à vocês também. - falo e Jade sorri.
- Senhora e senhorita. - Roger cumprimenta - Boa viagem à vocês. - deseja e elas agradecem.
- Dê tchau minha filha. - instrui e a menina sorri e acena quando começam se afastar.
Eu aceno de volta para elas que se afastam com Anne olhando várias vezes pra trás.
- Estamos prontos para partir? - cruza as mãos atrás de seu troco e eu concordo. - Daqui seguiremos no jato particular de sua alteza real até Metz. - explica e eu assinto.
- Do príncipe? - pergunto sob os olhos do homem que assente. - Okay, tudo bem. - afirmo com meus pensamentos indo diretamente à Betânia, ela surtará quando eu lhe contar que o jato realmente é do príncipe.
- Por favor, acompanhe-me. - pede começando a andar.
Eu o acompanho seguida por seguranças, pelo menos é isso que parecem ser. Roger cumprimenta os policiais da imigração e seguimos reto a esquerda.
Atraímos olhares de todo canto, o brasão em seu peito, que a pouco notei, denuncia quem esses homens são e eu me sinto um peixe fora d'água com tanta gente olhando.
Roger coloca a mão no ouvido e diz algo em francês, compreendo sua fala por ter aprendido a língua durante o tempo que morei no país, soube que ele falava com o guarda a alguns metros de nós quando esse abriu uma porta com aviso de acesso restrito.
- Merci. - ele agradece e eu sorrio em agradecimento também seguindo-o.
Caminhamos pelo corredor claro e saímos em outro mais iluminado, paredes de vidro dão vista pra pista.
- Podemos? - um segurança com uniforme do aeroporto questiona.
Me sinto dentro de um filme de investigação, ou então de agente secreto.
- Podemos seguir! - afirma e o outro homem assente passando a nos guiar.
Roger cumprimenta outros funcionários uniformizados que passam por nós, seguimos até uma porta de vidro que é aberta por outro segurança de terno, há um carro do outro lado.
- Merci. - sorrio para ele que somente assente.
A porta do carro é aberta para mim e então eu entro no carro, pelo vidro vejo Roger cumprimentar o segurança do aeroporto e logo a porta da esquerda é aberta e ele se senta próximo.
- Suas malas já estão na aeronave, no máximo cinco horas estaremos em Lorena. - diz e eu assinto.
- Posso ir direto ao hospital quando chegarmos? - pergunto calmo.
- Claro, senhorita. - afirma - Nós iremos. - afirma e eu assinto.
- Obrigada. - agradeço e ele assente - Me chame apenas de Sophia, por favor. - peço.
- Tudo bem. - afirma e eu sorrio mirando meu olhar pra fora da janela do carro que começa a se movimentar sob direção do segurança. - Nous sommes en mouvement. - leva a mão a orelha novamente olhando para a janela.
(Trad: Estamos em movimento)
Eu respiro fundo soltando o ar gradativamente, em poucos minutos estamos em uma pista ampla, o jato está parado com a porta aberta, esperando por nós.
Roger desce e em seguida minha porta é aberta.
- Senhorita. - o homem diz e eu saio do carro, ele se oferece pra levar minha pequena mala e eu aceito.
Me mantenho distante enquanto o secretário troca algumas palavras com um dos seguranças ao mesmo tempo que abotoa o botão central do terno caro, enquanto isso admiro o jato branco com detalhes em azul claro e escuro, era lindo e eu me sinto animada em saber que irei voar nele.
- Sophia, por favor. - chama me dando passagem.
Caminhamos lado a lado, nos aproximando do jato, cumprimento o piloto, o oficial e o comissário que nos recebem, após isso subo as escadas guiando Roger.
Os pilotos se encaminham pra cabine e eu me sento na poltrona sinalizada pelo comissário enquanto olho ao redor procurando pela mala que já está acima da minha cabeça.
Roger se senta a minha frente, ambos na janela, e os três guardas nas extremidades.
Durante o período que permanecemos em terra o silêncio reina dentro da aeronave, o que começa a me deixar aflita e impaciente, meus dedos já não param quietos e batucam sem parar em cima da perna.
Se a uma hora de voo for como está sendo os primeiros minutos, eu vou pirar.
O anúncio de que iremos decolar não demora muito mais a vir, afivelo meu cinto e olho pra fora da janela assistindo a decolagem.
Eu me sinto cansada, tanto psicologicamente quanto fisicamente, no momento eu só penso em meus pais, e apesar de não me preocupar com isso por hora eu sei que me encontrarei com Dan e, talvez, aí eu penso melhor no que farei.
Assim que estamos no ar Roger se senta a mesa do jato junto ao seu laptop, parece concentrado no que faz, ser secretário do príncipe deve ser osso, corrido e um cargo de alta responsabilidade, porém deve ser divertido também.
No silêncio e na melancolia que não me afundei no primeiro voo, eu me afundo nesse.
Meu Deus, que saudade de Anne.
Com alguns bons minutos de voo me levanto para ir ao banheiro, sou guiada pelo comissário até a suíte do príncipe, ele me direciona ao cubículo e então me deixa a sós.
Ainda no quarto olho ao redor observando tudo, era simples, mas bonito.
Na cabeceira da cama há alguns desenhos, alguns profissionais, outros infantis, que me fazem lembrar de Anne e outros mais amadores. Entre todos um deles me chamou mais atenção, não tinha característica de um desenho infantil, mas também não era perfeito.
Me sinto tentada a me aproximar para observar a obra de perto, dou alguns passos na direção parecendo em transe ao me lembrar da escrita da Sophia de alguns anos atrás.
FEEDBACK
Novembro de 2010
Stef, vamos embora, eu sei, eu também não queria, mas mamãe disse que precisamos voltar para casa, temos um novo destino, Canadá.
O pior de todas as coisas será me despedir de Dan, não sei bem como fazer isso, se despede de uma pessoa com um abraço? Não sei, mas estou fazendo um desenho, nós dois brincando de esconde - esconde no nosso jardim secreto, alguns pássaros também, as flores com certeza e o nosso puff da imaginação, eu amei tanto esse lugar Stef.
FEEDBACK
Engulo em seco enquanto olho pro desenho com meu coração aos pulos, eu não me lembro como é esse lugar, não sei se ainda existe, mas eu sei que eu quero um dia ir lá.
Custosamente dou as costas para o mural e caminho para o banheiro, eu me alívio e logo após estar vestida novamente jogo água no rosto, não me preocupo em me arrumar, até porque minha mala ainda está no bagageiro na cabine das poltronas.
Eu saio do banheiro após secar meu rosto e depois de olhar uma última vez para os desenhos saio do quarto.
Me aproximo terminando de secar as mãos no tecido do vestido e meus olhos se encontram com os de Roger que ainda está sentado à mesa.
- Se me permite a pergunta, está com fome? - pergunta ele servido apontado para o prato servido a sua frente.
- Estou. - afirmo antes de me sentar.
- Então por favor, me acompanhe. - pede e eu assinto sorrindo.
Me sento à frente dele que sorri sutilmente.
- Eu realmente sinto muito pelo motivo que te faz cruzar as fronteiras. - diz enquanto levo um pedaço do meu croissant no garfo à boca.
- Hum... - murmuro com a mão na boca.
Eu me sinto envergonhada por não saber como me comportar na frente dele, lembro-me do que aprendi nas aulas de etiqueta, mas sinto meu cérebro em branco quando tento raciocinar que lancho com o secretário real.
- Perdão. - peço descendo minhas mãos nervosas sobre as coxas.
- Não se preocupe. - me sorri gentil, e sorrindo de volta deixo meus olhos caírem no prato.
O olhar dele parece saber de toda minha vida, da minha história e isso me desconforta, pareço até uma coisa de interesse, mas não me parece que ele faz por mal.
- Eu também sinto. - afirmo - Mas estou orando pra eles fiquem bem logo. - falo e ele assente.
- Assim que sairmos do aeroporto iremos ao hospital. - avisa enquanto eu como - Não precisa se preocupar com a hospedagem, pois o rei e a rainha a esperam no palácio. - conta e eu assinto engolindo com dificuldade o pedaço que parece descer inteiro.
Eu sinceramente esperava por isso, porém devo confessar que me sinto nervosa.
- Obrigada pelas informações. - digo e ele sorri.
- Não por isso, senhorita. - diz e o olho a tempo de ver sorrir grande com uma careta no rosto e a sobrancelha levantada. - Sophia, perdão.
Eu solto um riso nasalado e nego para o tranquilizar.
O silêncio se estende por um momento enquanto comemos, eu, agora, estou longe o suficiente para não ouvir se ele me chamar, mas recobro a noção do real a tempo de vê-lo entregar seu prato ao comissário.
- Aqueles desenhos...? - pergunto atraindo o olhar dele.
- São obras do príncipe Adam e dos irmãos dele, e alguns dos outros sua alteza ganhou de crianças durante excursões de escolas infantis ao palácio. - explica e eu assinto.
- Que doce. - comento cruzando minhas mãos em baixo do queixo, e ele sorri.
- O príncipe tem um espírito artístico e é sensível também. - afirma e eu concorda.
- Posso recolher, senhorita? - pergunta o comissário.
- Claro, obrigada.
- Em instantes iremos pousar, vamos nos acomodar. - Roger aponta para as poltronas.
Eu me levanto e o sigo, sento novamente ao lado da janela e olho para fora sentindo, na hora, meu estômago girar dentro de mim.
- Está tudo bem? - pergunta o homem quando viro bruscamente minha cabeça para o lado contrário ao céu.
- Sim, foi apenas um enjoo leve. - garanto.
- Se estiver forte, temos remédio. - alega e eu nego.
- Obrigada, mas já passou, realmente foi apenas um enjoo repentino. - afirmo.
Ele assente em concordância e eu recosto minha cabeça no encosto sentindo meu estômago enjoado suavizar, realmente fora rápido, permaneço de olhos fechado até pousarmos.
- Está bem mesmo? - volta me perguntar quando já estamos em terra.
- Se voar comigo de novo no futuro, me lembre de não olhar para fora da janela após comer alguma. - peço me levantando e ele sorri.
- Eu lembrarei. - afirma e me dá passagem pela porta já aberta.
Aqui fora já é noite, está fresco, mas não sinto frio; desço os degraus enquanto vejo minhas malas serem descarregadas para serem postas no porta malas do Renault Captur preto.
Sou guiada até ele por um guarda, terno azul petróleo e com o brasão da família real no lado esquerdo do peito.
- Merci. - agradeço a ele que, como o outro do aeroporto, só assente.
Me acomodo no banco e tiro meu celular do bolso, eu o ligo para então lembrar que meu chip não funcionará aqui.
- Isso é ruim. - murmuro no mesmo instante que as três portas se abrem me pegando de surpresa.
Bloqueio meu celular e sorrio levemente para Roger que se senta ao meu lado.
- Directement à l'hôpital! - pede e eu suspiro olhando para fora da janela enquanto o carro se move para fora do aeroporto.
(Trad: Direto para o hospital)
Enquanto a noite cai e as horas se aproximam das seis meus olhos continuam fixos no céu, eu não presto muita atenção à paisagem em si, até porque quase todo o percurso é de vegetação.
Eu sinceramente me sinto cansada, voos cansam meu corpo e os muitos pensamentos cansam a minha mente.
Finalmente meus olhos desistem e caem para os vastos pastos que cercam a estrada, o verde está pra todo lado, mas ocultos pela escuridão da noite e a rua parece não chegar a lugar nenhum por causa da pouca iluminação dos poucos postes.
Talvez focar na estrada tenha sido um erro, pois agora me sinto ansiosa e se fosse permitido pediria ao motorista pra que aumentasse a velocidade.
- Estamos chegando. - tranquiliza Roger percebendo minha inquietação. - O hospital não fica longe da entrada do reino. - garante e eu concordo um pouco mais aliviada, mas ainda inquieta.
O celular do homem começa a tocar e ele não demora a atender, minha atenção se volta para fora da janela e eu fecho meus olhos recostando minha cabeça no vidro.
Percebo quando a rua começa a ficar mais iluminada, a quantidade de poste duplica e então focalizo nos grandes portões dos quais nos aproximamos, nós o cruzamos e atravessamos uma ponte sobre o lago entrando oficialmente no reino de Lorena.
- Bem vinda a Lorena Sophia! - deseja Roger e eu o olho.
- Obrigada! - agradeço com um sorriso singelo e volto a olhar pra fora da janela.
Eu não sei me localizar por aqui, mas Roger diz que estamos à seis minutos do hospital, ficar parada e sem notícias está me deixando doida, até coceira está me dando, porém as luzes da cidade e as casas estilo camponesas e também os prédios modernizados puxam um pouco da minha atenção e me vejo admirar Lorena, Roger me chama e aponta para um prédio grande, cinza e com a entrada toda de vidro escuro.
- Ai meu Senhor, graças a Deus... - murmuro grata por finalmente ter chego.
Ele fica na rua contrária a que estamos então Mário, o motorista, dá seta e espera os carros passarem, quando não tem mais nenhum próximo ele avança e vira novamente para entrar dentro do estacionamento a céu aberto do hospital.
- Eu posso descer aqui mesmo? - pergunto vendo que as únicas vagas que há estão longes demais da entrada do hospital.
- Claro. - ele assente. - Vamos, eu te acompanho. - assegura, abro eu mesma a porta sem esperar pelo motorista e desço ajeitando minha roupa.
Roger, que está ao lado direito, dá a volta e passa a caminhar ao meu lado, enquanto somos seguidos por dois seguranças, para a entrada do edifício.
- Por aqui. - chama quando eu paraliso olhando ao redor após cruzarmos as portas.
A recepção fica logo a frente, um balcão grande e atrás dele quatro recepcionistas, as cadeiras que existem aqui são bejes e outras vermelhas, há várias portas e placas com escrita francesa.
Eu vejo quando, discretamente, uma moça cutuca outra que olham na nossa direção.
- Boa noite, precisamos falar com o doutor Armand, por favor. - pede e a moça não hesita em pegar o telefone e discar rapidamente enquanto estamos sob o olhar das outras três.
Nem perguntou se temos hora marcada? Quero o poder desse brasão.
Volto a observar o ambiente sentindo meu incomodo aumentar com o cheiro característico de hospital, uma mistura de remédio, produto de limpeza e éter, nunca fui fã de hospitais e depois de passar alguns meses em um na adolescência minha relação com eles piorou ainda mais.
- O doutor não está em sua sala agora, mas posso levá-los lá. - avisa, seus olhos claros nos olha com atenção.
- Por favor. - peço apertando minhas mãos uma na outra.
- Acompanham-me. - pede ela.
Olho pras outras mulheres que permanecem quietas e as cumprimento para logo depois me retirar seguindo Roger e a loura de rosto fino.
Ela pede o elevador e o esperamos em silêncio enquanto batuco meu pé esquerdo no chão e oro pra que consiga ver meus pais ainda hoje, eu estou com tanta saudade e tão preocupada.
- Você é parente do casal Owes? - pergunta ela por fim quando entramos no cubículo.
- Eu sou a filha deles. - explico e ela ergue as sobrancelhas em compreensão.
- Sinto muito pelo acidente. - lamenta e sorrio simples.
- Obrigada. - digo apenas.
- Seus pais estão em quartos separados. - comunica - Mary está no quarto 234 e Ethan no 235. - informa enquanto nós saímos. - Aqui fica somente a sala de descanso e refeitório dos enfermeiros e as salas privadas dos médicos, normalmente usadas para reuniões particulares com pacientes ou familiares, como no seu caso. - articula e olha rapidamente pra mim. - Por favor, fiquem à vontade, ele virá em alguns minutos. - garante a nós dois.
- Obrigada. - sorrio pra ela que assente e se retira me deixando sozinha com Roger.
- Se quiser, posso me retirar. - fala ele ainda de pé próximo a porta que havia se fechado sozinha.
- Não, eu não me importo que fique. - asseguro. - Aliás, eu até prefiro, sozinha aqui ficarei ainda mais nervosa do que já estou. - confesso e ele concorda.
Sem dizer mais nada Roger se senta em uma das duas poltronas de couro disposta para pacientes após abrir o botão do terno, eu permaneço em pé e olho em volta observando as prateleiras de livros do doutor, todos relacionados a medicina, os certificados, também tem fotos.
Analiso com atenção o rosto sorridente do homem grisalho e com marcas de expressão que segura as pernas de uma menina morena e com olhos puxados, que também sorri, e que ele mantém em suas costas, o semblante fofo do pequeno garotinho que tem os olhos puxados comprimidos pelo sorriso grande que está no colo de uma mulher asiática linda, que assim como os outros também sorri.
Eu sorrio pra foto com meus pensamentos indo diretamente para meus pais, não é reconfortante em nada pensar que eles correm risco de vida, tento deixar esse tipo de pensamento de lado, porém eles invadem minha mente sem minha permissão e angustiam meu coração.
Junto minhas mãos em baixo do queixo e passo a andar de um lado pro outro, fecho meus olhos e oro em pensamentos, eu preciso de um milagre de Deus, eles precisão de um milagre, nós precisamos de Deus, como nunca.
- Sophia, sente-se. - ouço Roger e o olho. - Dessa maneira só irá ficar ainda mais aflita. - aconselha e eu suspiro.
- Estou tão preocupada. - confesso esfregando as mãos no rosto e deixando elas caírem ao lado do corpo logo depois. - Meu coração está em chamas, e não são boas. - digo caminhando e me sento ao lado dele.
- Eu entendo. - afirma - Mas precisa estar calma para o que o doutor irá falar. - diz e eu assinto olhando pro chão.
- Ele te disse alguma coisa? - questiono olhando-o rápido.
- Não, as informações dos pacientes são confidenciais e somente os parentes podem saber e depois transmitir, se quiserem. - afirma.
- Mas você é... - ia dizendo, mas seu sorriso divertido me cala.
- Não quebramos regras por trabalharmos pra família real. - assegura e eu arregalo os olhos.
- Desculpe, eu não quis dizer isso. - falo rápido.
- Tudo bem, não se preocupe. - garante e então franze o cenho. - Existe chama boa? - pergunta e eu o olho para depois sorrir.
- A do Espírito Santo. - respondo e ele assente devagar parecendo entender. - E a que queima nosso peito quando estamos apaixonados. - concluo.
Mas bão veko a reação dele pois no minuto seguinte ouvimos a porta abrir e depressa eu me ponho em pé novamente, vejo quando um homem alto, aparentando cinquenta e poucos anos entra na sala e sorri minimamente para nós, ele tem alguns papéis nas mãos e o semblante pesado nem parece o mesmo da foto.
- Roger. - cumprimenta o secretário que também se pôs de pé. - Senhorita Owes. - aperta minha mão na sua.
- Apenas Sophia, por favor. - peço e ele assente. - É um prazer.
- O prazer é meu. - retribui caminhando pra seu assente. - Sentem-se, imagino que esteja ansiosa para saber de seus pais.
- Com certeza, por favor. - digo rapidamente e ele assente.
- Ainda agora estava acompanhando sua mãe em mais uma ressonância. - anuncia e fixo meus olhos nos deles, ele suspira e franze os lábios. - Não tenho boas notícias. - afirma.
Sinto meus olhos lacrimejarem ao som de suas palavras, um nó se forma na minha garganta e meu coração dispara.
___________________________________
INFO:
ATENÇÃO: o voto de vocês é importante, então deixe sua estrelinha, por favor.
- do Inglês:
Sorry - Me desculpe
Oh God! - Oh Deus
Worship - Adoração
Marry me? - Casa comigo?
I promise - Eu prometo
Dumpster - Depósito de lixo
*No way! - Não mesmo!
*Little Girl - Garotinha
*Baby - Querida
(as últimas três expressões englobam muitos outros significados além desses, no caso, no contexto em que são usadas os sentidos são esses.)
- do Francês:
Merci - Obrigada
(as demais expressões utilizadas foram traduzidas no próprio capítulo)
- do Português:
Chifu - eufemismo pra diabo ou cão
- do Espanhol:
(as palavras utilizadas foram traduzidas no próprio capítulo)
N/A | NOTA DA AUTORA
Gente, oi, tudo bem com vocês? eu espero que estejam todos bem e pra quem não está desejo melhoras.
Enfim mais um capítulo corrigido, adicionei novos adesivos, mas ainda falta a nova capa que ainda está sendo confeccionada. Além de que eu só pretendo trocá-la somente quando o livro estiver "pronto".
Esse capítulo tem 25.537 palavras sem contar com o vocabulário e essa nota, grande? sim. Segundo o site, vocês ficarão lendo por 2 horas, o que eu acho um exagero, mas demonstra como é grande, porém peoples não se acostumem porque nem todos terão esse tamanho, acredito, né? Enfim, eu espero que vocês curtam as mudanças, não esqueçam de darem as estrelinhas e comentarem, por favor.
Ontem era 2:30 da manhã e estava postando capítulo porque foi o único horário que eu havia conseguido parar pra focar na correção, acabou que deu bug na plataforma e acho que não publicou, sei lá gente, só Deus pra entender algumas coisas que acontecem, mas mesmo assim me desculpem pela demora, é porque a tia aqui virou adulta. :(
Aaah, eu ia me esquecendo, as ruas mencionadas, os pontos turísticos e todos os lugares e coisas destacadas em itálico são fatos, okay? Nunca fui a Londres, mas tentei ser o mais realista possível com ajuda do meu caro amigo, Google Maps.
Bjinhos
A.I.M.
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