CAPÍTULO DEZ

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ATENÇÂO: seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor.

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Eu olhava pra foto dos meus pais em cima da minha penteadeira pensando nas vezes que pensei em como me sentiria quando me apaixonasse, pensando nas vezes que vi o olhar admirado de Willi pra Ame, os sorrisos bobos de Bet para Dom e os carinhos que Isla e Henry sempre trocavam, eu sempre pensei na minha vez, quando fosse eu a sorrir toda boba para alguém, quando trocássemos olhares cúmplices, na minha vez de andar de mão dadas com alguém, nos apelidos carinhosos. 

Apesar desse não ser um assunto de importância máxima para mim eu não posso negar que fantasiei muitas vezes sobre o dia em que encontraria pessoa, sempre achei que seria algo mágico e lindo, não sei se é por essa quebra de expectativa que choro ou se é pelo fato de nunca ter dado a devida importância pra esse sentimento que queima no meu peito de forma diferente a muito tempo por Adam. 

Eu me sinto estranhamente vulnerável perante essa descoberta, vejo que minha fuga era uma forma de me manter inerte ao quanto esse sentimento era grande e antigo. Tudo está uma bagunça e parece piorar quando eu penso em Madeline e na história que Miranda me contou, minha mente queima neurônios e minhas mãos soam em nervosismo. 

Me levanto e me aproximo da foto presa em um porta retrato dourado, aliso com o polegar o rosto felizes dos meus pais e limpo minhas lágrimas com o dorso da mão, meus olhos vão em direção a porta da sacada que está aberta. 

Preciso de conselhos, preciso dos meus pais. 

Dou as costas para o quadro e alcanço meu celular em cima da cama, várias mensagens, mas não estou em condições de responder nenhuma delas, pego meu casaco sobre as costas da poltrona e deixo o quarto fechando a porta atrás de mim. 

Sigo pelo corredor silencioso e quase que deserto, cumprimento os guardas e seguro o corrimão quando começo a descer os degraus. 

Me sinto melhor fisicamente, depois do remédio que Miranda me deu minha cabeça deu sossego, minha garganta não raspa mais, a única coisa que precisa se acalentar agora é minha mente e meus pensamentos confusos e agitados.

Cruzo a sala de recepção e saúdo os guardas que vigiam as portas principais, não me lembro se foram eles que encontrei antes de invadir a sala de reunião, mas vejo em seus olhos o reflexo de preocupação. 

- Um carro, por favor. - o moço mais alto e mais velho assente e sorri simples para mim para logo depois comunicar meu pedido com o chofer. 

Atravesso a passagem que me foram abertas e abraço meus braços finos quando o vento gélido assopra por mim, as tantas incertezas e os medos permanecem a me apavorar, sufocam o meu peito e dificultam até minha respiração. 

A todo custo seguro as lágrimas que ameaçam voltar a descer e sigo pelas escadas atravessando o pátio principal. 

O sol aqui fora está em seus minutos finais e pelo jeito o trajeto até o hospital será bonito, sigo em direção ao chafariz e me sento de frente para os portões de ferro de costas o palácio, sei que ouvirei quando o carro se aproximar e então irei até ele. 

Meus olhos vagam pela beleza da parte exterior do castelo e não evito pensar em Betânia e em como ela se divertiria aqui, muito provável começar a fantasiar seu casamento nesse jardim, e é mesmo a cara dela tudo isso. 

Com um suspiro cansado afasto meus amigos da mente, não quero pensar na saudade agora, mas tão rápido como piscar eu me arrependo, pois minha mente se volta para os acontecimentos recentes, se tudo acontece com um propósito, por que muitas vezes não conseguimos compreender eles? 

Já me questionei sobre isso quando sofri o acidente e perdi minha memória e novamente eu me encontro com o meu ser perturbado, tudo o que vivi me tornou uma pessoa mais forte apesar do sofrimento, mas mamãe sempre me incentivou a seguir em frente, não posso fraquejar. 

Deus me fez forte, Ele me fez a sua imagem. 

Dois minutos se passam e estranho o fato de nenhum carro ter aparecido até então, fecho meus olhos enquanto os últimos raios de sol banham meu rosto, aqui é mesmo um lugar encantador e queria estar em meus melhores dias para aproveitar sem tanta melancolia. 

Nunca fui de reclamar por pensar que poderia estar bem pior, ou ainda em coma, e percebo agora que tenho perdido esse pensamento, venho deixando meu coração falar mais alto que a razão e deixado o medo me tomar. Não sou assim, não posso ser. 

- "Isso um dia vai melhorar." - digo a mim mesma, abraço meus braços ainda de olhos fechados.Um tempo e um propósito, eles sempre existem, mesmo que não o conheçamos ou entendamos. 

Talvez a razão d'eu estar aqui seja me libertar, libertar desse sentimento que sempre mantive em oculto, curar minhas feridas interiores e seguir, seguir em frente, com ou sem Adam. 

 As poucas gotas de água que espirram em minha roupa e as molham me fazem abrir os olhos, olho por cima do ombro em direção as portas de entrada, algumas pessoas estão em pé, mas não tem nenhum sinal do carro que pedi.  

Talvez o guarda não tenha entendido meu pedido já que minha voz falhou durante minha fala, mais um minuto e iria até lá. 

Volto meu corpo para frente e fito o chão, as palavras de Miranda em minha mente não ajudam a melhorar meu humor, na verdade continuo a me perder em sentimentos desconhecidos, ou conhecidos, mas difíceis de lidar. 

Uma vez ouvi que tudo que é bom nunca vem fácil, eu poderia considerar isso, eu e Adam temos a nossa história e nunca pensei que poderíamos reconstruí-la e dar-lhe um final diferente como penso agora, para mim era mais cômodo não pensar sobre isso, mas tudo o que quero agora é poder resolver tudo isso. Jesus nunca falou que a vida seria fácil, não é mesmo? e de algumas semanas pra cá ela vem sendo nível hard, gostaria de ter o controle e colocar no nível iniciante. 

Solto um suspiro resignado, abaixo minha cabeça, espremo minha testa com os dedos e fecho as pálpebras com força. 

- Me ajude, Deus... - peço baixinho lutando contra o choro preso a garganta.

Estou cansada de pensar, eles não me ajudam em nada agora e eu só quero meu diário aqui, escrever sempre me ajudou por pra fora o que não consigo falar. 

Eu não devo me culpar por isso, mas tenho que admitir que tomar a decisão de me afastar não foi uma forma justa de resolver o problema que havia se instalado. Ele merecia saber afinal, mas eu preferi me esconder, talvez eu não deva me culpar tanto pelo afastamento, até porque ele também poderia ter me procurado, mas eu sei que tenho parte em tudo isso. 

Nunca havia pensado em Adam como o amor da minha vida, quem sabe meu pai estivesse certo e eu estivesse mesmo dificultando as coisas, mamãe tinha razão, aquelas sempre eram desculpas, nunca pensei diretamente nele e sim em mim. 

Provavelmente lá no fundo eu sabia que o que sentia era grande, mas se agora parece algo improvável antes eu nem cogitaria, como não cogitei. 

Agora eu vejo claramente, eu temi seu julgamento, temi ser destratada, talvez abandonada, mas sem nem pestanejar eu fiz justamente o que não queria que acontecesse comigo, com ele. 

A minha decisão foi totalmente para não me magoar e isso soa totalmente egoísta. 

- Porque ser adulto é tão difícil? - questiono retoricamente limpando as lágrimas que desceram com a manga longa que esconde as minhas mãos e metade dos meus dedos agarrados a ela. 

Um vento gélido assopra pelas árvores, arrasta e carrega as folhas de um canto para o outro, as árvores chacoalham em suas copas e meus cabelos serpenteiam no ar, alguns fios grudam nos rastros molhados das lágrimas. 

Me encolho e volto a me abraçar com força, olho pro céu com os olhos fechados, meus fios rebelados batem contra meu rosto, mas não causam dor.

"- Você deve deixar de questionar em momentos que exigem ação." - ouço novamente a voz de mais cedo, suave e calma, abro meus olhos instantaneamente. 

Nada mudou, o sol perde seu brilho e a noite caí de forma bonita sobre mim, as estrelas começam a brilhar magnificamente e o vento ainda investe contra meu corpo me trazendo uma sensação de frescor no rosto molhado. 

As lágrimas não tem trégua e eu fungo baixinho descendo meu queixo em direção ao chão. 

 "- Chegou o tempo, você tem apenas que enfrentar esse pequeno desafio para descobrir o propósito..." - a voz de meu pai repercute pelo meu cérebro e eu abro minha boca em um semicírculo. 

- Um tempo e um propósito, momento de agir... - sussurro para mim mesma e volto a fechar meus olhos. 

"- Meu Deus, eu preciso saber como agir, não quero ser imprudente e meter as mãos pelos pés..." - oro em pensamento, pedindo a Deus um pouquinho da sabedoria que ele deu à Salomão. 

Estou tão envolta aos meus pensamentos e desvaneios que não ouço os passos que se aproximam pela minha esquerda, mas sinto quando um cheiro conhecido me cerca e eu abro os olhos em alerta, eu o conhecia bem para hesitar em dizer quem era. 

Meu corpo tenciona sobre a beirada do chafariz e eu deixo minhas pernas encontrarem o chão novamente, minhas mãos se agarram em meu colo. 

Respiro fundo e solto o ar gradativamente, eu sei o que tenho que fazer.Vejo quando Adam se aproxima o suficiente para eu vê-lo pelo canto dos meus olhos, engulo em seco em puro nervoso, meu coração bate forte no peito e de repente esqueci tudo o que planejava falar a ele. 

Não tenho coragem de encará-lo, mas sinto quando seus olhos caem sobre mim fazendo minha pele pinicar, as mãos nos bolsos da calça preta, os ombros largos escondidos pelo sobretudo da mesma cor, seus cabelos balançam com o vento e então sem me conter eu movo meu rosto para ele encontrando seus olhos verdes cintilantes presos em mim. 

Não consigo deixar de sentir o frio inundar meu corpo e se fixar no pé minha barriga, engulo em seco de novo sentindo meu coração acelerado errar batidas uma atrás da outra, num instante está frio e no outro quente demais. Não dou conta de encarar a energia gritante de seus olhos indecifráveis e por isso desço meu olhar para o espaço vago na beira do chafariz e então para meus próprios pés, solto o ar com uma lufada e sinto uma gota de suor escorrer pelo canto da testa. 

Meu nariz com certeza está vermelho, assim como minhas maçãs do rosto e olhos, mesmo assim espalmo minhas mãos no banco e com um impulso arrasto meu corpo para o lado afim de dar-lhe espaço para se sentar. 

Tudo dentro de mim revira me xingando internamente, meu cérebro insiste em me provocar mostrando o quão pequeno era o espaço que tinha entre nós, solto um suspiro frustrado, uma enorme vontade de me socar. 

Adam, por sua vez, não diz nada e nem se move pelo minuto seguinte, incomodada por seus olhos me encararem descaradamente levo minha minha até a boca para roer a unha, um costume ruim que me tira o foco do objeto que me causa ansiedade, faço isso desde sempre segundo mamãe. 

Mais uma vez olho por cima do ombro, mas tudo que eu vejo são dois guardas em frente as portas principais, agora, fechadas. 

Volto meu olhar para meus pés inquietos com uma vontade enorme de sair correndo ou nem ter saído do quarto.Vejo quando ele tira as mãos dos bolsos e ergue a pernas da calça para se sentar, talvez isso fosse um hábito já que elas nem tem tecido o suficiente para deslizar pelas pernas do ruivo. 

Olho pra ele que agora mantém as costas num ângulo de noventa graus, o tronco apoiado nos cotovelos que estão escorados nas pernas, as mãos estão unidas formando um triângulo com seus antebraços. 

Ele nada diz, mas vejo inspirar profundamente, segura o ar por dois segundos e então expirar, Adam parece nervoso, talvez esteja sendo tão difícil pra ele quanto pra mim, ou até mais já que eu meio que invadi sua casa.Os cachos vermelhos estão levemente desgrenhados e quando o vejo levar os dedos até ele entendo o motivo, abaixo a mão da unha que roía e viro meu rosto totalmente para ele. 

Não vou mentir, Adam é realmente lindo, ele é uma versão mais velha e amadurecida da foto que mantenho na escrivaninha, além de que seus cabelos antes castanhos avermelhados agora são completamente ruivos. Ele tem o rosto liso, o nariz um pouco torto, talvez o tenha quebrado em algum momento de sua vida, e um pequeno aranhão em cima da sua maçã do rosto bem delineada, está bem avermelhado então deduzo ser uma ferida recente; desço meus olhos pra seus ombros e braço que ele mantém sobre as coxas e então subo para seu rosto de novo, seu físico não é o tipo malhado, mas os músculos que eu vi outro dia por cima da t-shirt simples denuncia que ele não é fraco. 

Em todo momento ele mantém a mandíbula travada, sabe que eu o analiso, mas não me detém até porque fez o mesmo comigo a minutos atrás, ele também não parece constrangido, aliás ele não demonstra reação, o que, se referindo a Adam, é normal. 

Em seus dedos finos se prende anéis, e em seu pulso uma pulseira fina de ouro, eu não sei se vai contra as normas de ética da realeza, mas nele fica bom, combina com seu estilo, vejo quando os lábios cheios e avermelhados se retorcem em uma curva pra baixo denunciando seu incomodo. 

- [...]não é novidade para ninguém que a rebelião de Adam reflete a dor que queima em seu coração... - a frase de Miranda ecoa em minha mente enquanto meus olhos ainda estão presos em seu rosto, o quanto ele sofreu até hoje? eu não condigo ter noção. 

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ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrelinha quando chegar ao fim, por favor. 

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- Uma foto dura mais. - sua voz ressoa rouca no ar estourando minha bolha e estremeço sentindo meu rosto pipocar e esquentar. 

Como se obedecesse uma ordem meus olhos correm dele para os grandes portões. meu coração ainda bate rápido, descompassado, enquanto eu seguro o impulso de sair correndo. 

- Eu sei... - a afirmativa escorrega por meus lábios secos, mas franzo o cenho me repreendendo mentalmente no segundo seguinte. - Quer dizer, perdão. - reformulo num quase riso nervoso, meus olhos fechados sobre minha mão que treme levemente. 

Ele por sua vez não diz nada, nem o ouço respirar, se não sentisse seu perfume tão próximo e inebriante juraria que ele teria ido embora. Solto mais uma lufada de ar nervosa ainda me repreendendo pela resposta inicial. 

- "Eu sei, Sophia? ia dizer que sabe por causa das que guarda contigo até hoje? francamente..." - uma parte de mim diz encabulada enquanto a outra me acalenta afirmando não ter sido nada demais. 

O silêncio volta a reinar em nosso meio e mais uma vez me vejo olhar por cima do ombro intrigada, puxo o ar com força e enfio minhas mãos em baixo das pernas. 

Ficar calada nunca foi algo difícil para mim, mas, sinceramente, não poderíamos ficar aqui e assim a noite inteira, e de repente minha coragem some e tudo que eu quero é lhe pedir licença e dar no pé. 

- Eu... - digo o interrompendo. 

- Descul... - diz me interrompendo. 

Falamos ao mesmo tempo e ao mesmo tempo nos calamos, olho pra ele que agora mantém os olhos semicerrados, mas ainda não olha pra mim. 

- Pode começar. - cede e o vento chacoalha seus cachos trazendo até mim o suave cheiro de gengibre e alecrim com um toque cítrico de limão, respiro fundo inalando o cheiro gostoso e sinto meu peito bombear mais rápido o sangue no corpo. 

Se continuar assim ele vai estourar feito balão, que Deus me livre, amém. 

- É... - hesito e junto minhas mãos no colo, eu estou tremendo e tenho certeza que não é de frio, mas isso ele não precisa saber. - Eu... - engulo em seco quando sinto Adam virar seu rosto para mim lentamente, esperando que eu deixasse de gaguejar e falasse logo. 

Mas ao invés disso eu o olho e vejo o que parece ser expectativa no seu olhar, tudo o que eu queria era pedir licença e sair daqui, mas eu realmente me perco em seus olhos verdes esmeralda e sinto que não tenho mais pra onde fugir. É isso, ou eu conto ou eu conto. 

- E-eu... - tranco meus olhos retorcendo meu rosto em uma careta desgostosa e poderia jurar que o ouvi rir, mas fora tão baixo que acredito ser minha mente me pregando peças. 

 - "Existe uma versão do Adam antes de você ir e uma depois que você se foi..." - a voz de Miranda soa em minha mente e eu fecho meus olhos puxando o ar com força e o soltando lentamente. 

- Eu posso explicar. - não ouço nada além do barulho da água caindo atrás de nós e o som da minha própria voz que sai como um sussurro, sinto tudo em meu corpo se remexer, o nervoso acelera as batidas do meu pobre coração, minhas mãos soam assim como minha testa e meu estômago rodopia despertando a bile. 

Ia continuar a falar, procurava as palavras certas pra isso, mas o suspiro dele me calou e eu espero que ele fale algo e isso não demora a acontecer. 

- Me desculpe. - o olho sem entender por um segundo pelo que ele se desculpa, mas minha mente reflete nossos encontros desastrosos e a grosseria que ele destinava a mim. 

- Como? - minha testa franzida, as sobrancelhas unidas. 

Olho pro rosto de Adam quando ele também franze o cenho, seus olhos brilham uma emoção diferente e eu sinto vontade de tocar-lhe a face e pedir pra que ele olhe pra mim, dentro dos meus olhos. 

- Eu não queria ter te tratado daquela forma. - sua voz soa baixa, eu consigo sentir o quanto é difícil pra ele, ela soa quase dolorida e meu coração se retraí.

Eu o machuquei. -

" [...]ele está constantemente na defensiva, tanto quando está perto de você ou quando mencionam seu nome, sempre foi assim." - eu posso perceber nitidamente agora, seu ombros tencionados, as mãos levemente tremulas segurando a si mesmas. 

- Eu não consegui evitar... - sinto meu estômago borbulhar quando ouço sua voz falhar ao entalar em sua garganta. - Sei que não justifica, mas eu... - se cala, a cabeça balanguando uma, duas, três vezes em negativo. - Me desculpe. - seu peito infla quando ele respira fundo e eu mordo o lábio para evitar o soluço que sobe pela minha garganta, os olhos transbordando em lágrimas. Adam está aqui ao meu lado, está despindo seu coração e eu vejo sua dificuldade, e eu quero o abraçar e quando seus olhos me fitam vejo a dor e a expectativa neles e eu sei, que de alguma forma, não posso mais esconder os meus motivos, mesmo que agora eles pareçam egoístas. 

Prometemos nunca quebrar nossa aliança, levaremos nossa amizade até o fim dos tempos ou até que todos os chocolates e balinhas de framboesa acabem. 

Eu quebro o contato visual ao lembrar da nossa escrita no meu diário, a letra dele está lá, nossas digitais também, ele pegou a esponja de tinta do carimbo do pai dele no escritório aquele dia, está tudo no diário e essas são lembranças que eu não tenho mais e que doem em mim não recuperar. 

- "A verdade é que Adam ainda mantém o garoto apaixonado dentro de si..." - aperto minhas mãos uma na outra e fecho os olhos, meus pensamentos viajam para a foto de Dan adolescente e meu coração dói quando eu o imagino sem entender o motivo d'eu não voltar como eu prometi, o motivo d'eu quebrar a nossa promessa. 

- Me desculpe por quebrar a promessa. - o fiapo de voz repercute por todo meu corpo despertando ainda mais lágrimas que eu seco com a manga da blusa, já Adam engole em seco, consigo ver seu pomo de Adão subir e descer com a saliva. - Talvez o que eu diga não vá justificar, mas eu peço que me escute primeiro. - meus olhos encontram os deles e o brilho de nenhuma estrela se compara com o brilho dos olhos de Adam. 

Sua atenção está em mim, totalmente em mim, agora impassível, focado e intenso, eu me sinto intimidada, mas não quebro nossa conexão, quero que ele veja a verdade em mim, já ouvi dizer que os olhos são as janelas da alma e quero que ele veja a minha e o quanto eu sinto muito. 

Fecho meus olhos por um instante e lembro do que o Senhor me disse mais cedo, suas palavras ainda ressoam em minha mente. 

- "O medo impede que você veja as minhas maravilhas." - não quero ser dominada pelo medo e nem quero que minha história seja manchada pelo medo. 

Viro meu corpo em direção a ele e coloco minha perna esquerda sobre o banco e me sento sobre meu pé, eu me lembro do que li no meu diário e sinto meu coração se encher dos sentimentos que descrevi no diário quando escrevi sobre minha partida, eu era só uma criança, mas o mesmo sentimento de dor preenche meu coração nesse momento fechando minha garganta. Deixo meus olhos caírem pras minhas mãos unidas no colo, tento achar uma forma fácil para começar a contar, mas tudo o que sinto são as lágrimas que caem lentamente e eu praguejo mentalmente por isso, eu queria ser forte. 

Elevo minhas mãos envoltas nas mangas de algodão e limpo os olhos e e então fungo decidida continuar mesmo sem saber como. 

- Você está melhor? - sua voz soa suave, meus olhos se erguem para ele.Adam estuda minha feição e eu agradeço sua sensibilidade repentina, assinto engolindo em seco e sorrio agradecida pelos minutos que ele me dá. 

- Estou melhor. - o vejo concordar vagarosamente, os olhos brilhantes ainda me atordoam, me faz sentir algo diferente no estomago, não é como a ânsia de mais cedo, é mais como uma queimação ansiosa, como...borboletas no estômago. - Obrigada por perguntar.

É algo novo e um pouco apavorante nas condições das coisas. 

- Desculpe, eu sai da mesa de uma forma tão abrupta e tão antiética. - fungo mais uma vez envergonhada o suficiente pra não conseguir manter seu olhar, eu solto um riso nervoso e ouço o suspiro pesado de Adam. 

Busco seu rosto para ver sua expressão e tentar entender o que sua reação significa, ele é como um cubo mágico, difícil de decifrar, ele se remexe inquieto sobre o banco e então pigarreia, abre a boca e fecha e então franze o cenho. 

- Achei que você fosse morrer ali na minha frente. - seus olhos fitam o chão, evitam os meus e eu o entendo. - Eu já... - se cala hesitante. - Eu já passei por algo semelhante. - sua voz suave encanta meus ouvidos e eu sei que poderia ouvi-la pra todo sempre.

Incrível como esse Adam a minha frente consegue ser tão diferente do que eu vi todos esses dias, esse se parece com o dos relatos da mamãe, se parece com o meu Dan, se é que eu posso chamá-lo assim. 

- Me desculpe por isso também. - sussurro o olhando. - Eu não sei explicar o que aconteceu. - relembro dos acontecimentos de mais cedo e sinto um arrepio percorrer meu corpo quando me lembro da sensação de tudo se apagar. 

- Tudo bem. - assente encontrando meu olhar, e ele volta a se calar por segundos. - Eu me senti culpado porque você estava olhando pra mim. - deito minha cabeça no ar o olhando com atenção, meus olhos fitam suas sobrancelhas cheias e vermelhas, o cabelo caindo sobre sua testa, as pequenas sardas pintando seu rosto coo constelações, as maçãs do rosto bem marcadas, nunca tinha visto uma beleza como a de Adam e mais uma vez quis tocar seu rosto e desenhar sobre suas delicadas sardas. - E então seu rosto ficou pálido e seus olhos sem vida... - sua voz some e eu volto a fitar seus olhos claros, eles me dizem tanta coisa agora, mas é quase impossível decifrar pela intensidade deles. 

Lembro do olhar preocupado de Adam sobre mim, como ele foi o primeiro a perceber que tinha algo errado, lembro-me da sua voz carregada de medo, de genuína preocupação.Não sei dizer quando o espaço entre nós dois ficou tão pequeno, mas eu sei que eu me aproximo e toco sua mão que estava sobre o banco, eu enfio meus dedos por debaixo da sua palma e seguro a dele, vejo seus olhos descerem para nossas mãos com cuidado, o maxilar se travando e então ele engole em seco. 

- Não se sinta culpado, por favor. - peço sentindo sua mão quente debaixo da minha, ele não diz nada, seus olhos ainda estão sobre nossas mãos, por alguns segundos tudo permanece assim, os dois em silêncio, eu olhando para o rosto dele que está em branco e ele olhando pra nossas mãos. 

Os olhos de Adam encontram os meus e por alguns segundos eu vejo eles brilharem de uma forma diferente, mas esse brilho logo se apaga no instante em que ele se afasta gentilmente do meu toque e só então percebo que a minha mão pinica, sinto a falta do calor de sua pele e isso me parece patético, clichê. 

- "Consegue sentir a batalha de emoções que ocorre quando se encontram? dá pra ver pelos olhares e dá pra sentir a tensão que existe entre vocês..." - sinto agora, com uma enorme certeza, eu enxergo essa batalha ocorrer dentro dele através de seus olhos, no entanto eu estou abaixando minhas armas e desistindo de lutar contra. 

- Eu... - encaro a camiseta lisa e escura que ele usa por debaixo do sobretudo, tomo folego e começo de novo. - Quando fomos embora... - recomeço com o cenho franzido, estava certa, é estranho contar minha história com a sensação dela não ser minha. - Quando fomos embora, a diretoria de missões nos mandou direto para o Canadá. - a reação dele me cala e olho pra ele que murmura algo baixo demais. 

- Por isso as cartas sempre voltavam. 

- O que? - minhas sobrancelhas se juntam em confusão, foi baixo, mas eu ouvi.

- Continue, por favor. - pede sem querer me dar detalhes e apenas concordo.

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ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrela quando chegar ao fim, por favor.

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- Era inverno lá e eu sempre gostei dessa estação por causa da neve e dos lagos congelados perfeitos para patinar. - sorrio nostálgica e ele assente lentamente deixando escapar um pequeno sorriso ladino enquanto fita o chão agora com as mão enterradas nos bolsos do casaco preto - Com a nossa mudança e com os trabalhos que já haviam começado a desenvolver na igreja, meus pais estavam sempre corridos, porém eu insistia pra que eles me levassem para patinar de qualquer maneira. - junto minhas mãos nervosa sob o colo a noite está ficando mais fria e eu não posso negar que relembrar o dia em que mamãe contou toda a história da minha curta vida nunca é bom. - Depois de duas semanas insistindo mamãe cedeu e em um sábado nós fomos até um lago que não ficava muito longe de casa. - pauso sentindo a garganta fechar e as lágrimas voltam a encher meus olhos escuros. 

Sinto Adam atento à mim e às minhas palavras, ainda estamos próximos e noto quando ele levanta a mão na minha direção, meus olhos correm na direção dela, mas a desvia para seus próprios fios ruivos, seus olhos cheios de hesitação, insegurança. 

E eu quis seu toque. 

- Mas eu não vi aquele dia acabar. - minha voz sai num fio, fito seus olhos e sua expressão está ilegível, não existe nenhuma expressão e isso me afeta imensamente, engulo em seco, mas eu tenho que continuar, tenho que terminar. - Em algum momento eu caí e bati com a cabeça. - conto e tudo dentro de mim rui.O silêncio de Adam permanece, sua feição séria também, mas eu vejo lá, estampada em seus olhos a dor, eu imaginei esse momento muitas vezes, mas agora que ele está realmente acontecendo, que Dan está bem na minha frente parece irreal. 

Na verdade, eu não sei o que eu esperava, mas com certeza não era assim. 

- Eu fui desacordada para o hospital e permaneci em coma por cinco meses. - os olhos claros dele se arregalam, não consigo conter um soluço e cubro meu rosto com minhas mãos. - Desculpe. - digo após alguns minutos, puxo o ar com força e então desço minhas mãos limpando meu rosto. 

Talvez eu me sinta um pouco patética, mas esse assunto me machuca até hoje, não é fácil não me lembrar quando tudo o que eu queria era justamente isso, é difícil, é muito difícil. 

- Tudo bem. - sua voz chega a mim como um sussurro, e eu assinto tentando acalmar minha respiração, acalmar as lágrimas, olho pro céu e fungo para depois respirar fundo.- Eu acordei três vezes durante esse período, mas sempre voltava a desmaiar. - ouço minha voz estranha por conta do choro. - Em todas as vezes que acordei eu não entendia o que estava acontecendo, eu não lembrava o que tinha acontecido e não sabia o motivo de sentir tanta dor. - choro e permaneço com meus olhos longe, a parte que eu sempre temi revelar está chegando e eu estou com medo de olhá-lo. 

Mesmo que tenhamos crescido distantes, mesmo que eu tenha quebrado minha promessa, mesmo que ele me repudie, mesmo que nossas vidas sejam diferentes agora, mesmo que eu não me lembre dele, Adam é uma das pessoas mais importantes da minha vida e saber que eu o magoei, saber que a dor que estampa seus olhos é minha culpa também me parte ao meio. 

Eu queria que fosse diferente, mas eu não tenho uma máquina do tempo. 

- E quando eu finalmente acordei... - me calo quando um soluço corta minha voz, escondo os olhos com as mãos, que droga! - Quando eu acordei eu não me lembrava de nada. - revelo por fim e permaneço com meus olhos escondidos, eu não queria o olhar e enxergar o desprezo nos deles, mesmo que talvez eu merecesse sentir o que ele sentiu. 

Estamos perto, consigo ouvir sua respiração desconforme, mas não tenho coragem para encará-lo, mesmo depois que liberto meu rosto. 

- O médico disse que as memórias poderiam voltar, mas isso nunca aconteceu. - continuo com a atenção nos meus dedos. - Foi minha mãe que me contou sobre você depois que li meu diário, ela me mostrou nossas fotos, contou sobre o período que passamos aqui... - sou interrompida por sua voz embargada e um tanto dolorida. 

- Por que não me mandou uma carta? - olho pra seu rosto e vejo lágrimas em seus olhos. - Ou sei lá...um telefonema, um e-mail... - se cala de repente parecendo tentar conter o soluço, ele não consegue mais se manter impassível e seus olhos revelam a tristeza de seu interior de uma maneira que me faz querer abraçá-lo e pedir perdão várias vezes. 

Adam me implorava para ser sincera sem ao menos dizer, seus ombros estão baixos, eu o sinto vulnerável, como nunca pensei que estaria. Sim, meus pais, Ame e Miranda estavam certas e só eu não percebi. 

- Porque eu tinha medo. - confesso pela primeira vez em voz alta - Porque nunca soube lidar com isso, nunca consegui aceitar o fato de que... - me calo quase engasgando com a saliva. - E eu estava apavorada, a vida era nova e eu tinha apenas onze anos, não soube como lidar, não conhecia mais ninguém, nem meus melhores amigos. - as palavras escapam de minha boca sem eu ter controle, sinto meu coração se apertar e eu me abraço me sentindo desamparada. - Quando mamãe me contou sobre você... - encaro seus olhos desesperada, ele precisa acreditar em mim, ele precisa me entender. Um calafrio percorre meu corpo, Adam está focado em mim, a mandíbula travada, tenso e com lágrimas nos olhos. 

Não quero que ele chore, isso me machuca e então me toco, mais uma vez estou sendo egoísta. 

- Eu senti medo de contar, tive medo de que me rejeitasse pelo que aconteceu, por não me lembrar de você. - meu corpo balança enquanto eu também choro. 

Não sei, eu reprimi esse sentimento por muito tempo, sempre que eu olhava pra foto de Adam na minha instante eu sentia falta dele e era estranho porque eu não conseguia me lembrar de como erámos juntos, e então eu tentava fugir desses sentimentos mesmo que eles sempre voltassem, eu estava constantemente escrevendo sobre Adam e eu vivia imaginando como haviam sido o passado, as vezes que eu adormeci buscando pelas lembranças e tentando recriá-las, das vezes que eu chorei e implorei pra Deus pra que Ele me devolvesse minha memória, das cartas que eu escrevi pro príncipe durante os meses da minha recuperação até meus treze anos, da forma que eu sorria toda vez que relia as folhas do meu diário. 

Adam sempre esteve presente na minha vida, no meu coração, nos meus sentimentos. 

- Eu sabia que você era importante pra mim, eu sentia e toda vez que eu lia meu diário eu tinha mais certeza disso e meu medo crescia. - limpo meu rosto ainda sem olhá-lo. - Então eu decidi que seria melhor se eu me mantivesse afastada, eu não queria arriscar. - sinto meu peito inchar e a dor do medo de anos se instalou em mim. - Na minha mente eu pouparia eu e você. - concluo minha fala e um arrepio reverbera pelo meu corpo quando ouço o riso sarcástico de Adam. 

Meus olhos se voltam para seu rosto e eu enxergo a descrença, a dor, a raiva, a tristeza e as lágrimas que escorrem de seus olhos. 

- Me poupar do que exatamente? - a amargura em seu timbre injeta no meu corpo a insegurança em um nível alto e eu me encolho no banco. 

- Não sei. - gaguejo engolindo em seco - Por favor Adam, tente me entender. - o desespero se alastra pelos meus poros quando vejo seus olhos rolarem para longe de mim e seu corpo se tornar pedra de novo. - Eu era uma criança e mesmo depois, e-eu... - minha voz morre quando seus olhos voltam na minha direção, rígidos, tristes, enraivecidos. - Olha, na minha nova realidade você me conhecia, mas eu não conhecia você. - minha voz soa em suplica, mas ele nega. - Eu não sabia como lidar, eu não sabia como iria contar. 

- Da mesma forma que está fazendo agora. - a frieza com a qual ele se dirige a mim é como um soco no meu estomago, me arranca o ar e é minha vez de negar, então me afasto um pouco. 

- Você acha que é fácil assim? - franzo o cenho buscando forças não sei de onde pra continuar falando, ele solta mais um riso e eu desejo sumir. 

- Também não foi fácil passar doze anos da minha vida com uma maldita sensação de desprezo e insignificância dentro do meu peito por uma pessoa que eu... - ele se cala de repente esfregando o rosto com as mãos. - E-eu... - emudece grudando os lábios um no outro em uma linha reta. - Eu só precisava saber que você ainda se importava, eu só precisava saber que ainda tinha você... - exclama baixo demais, mas eu ouço e sinto meu coração quebrar. 

Eu queria abraçá-lo, fazer algo para tentar concertar essa situação, mas eu estou tão quebrada quanto ele e no momento não consigo juntar nem meus próprios pedaços. 

Eu devo isso à ele, eu sei. 

- Eu sinto muito. - sussurro verdadeira, as lágrimas escorrem por meu rosto, quero dizer que ele é sim importante, contar que ele sempre esteve em meu coração, mas eu não consigo dizer nada. 

Sinto meu estomago embrulhar quando os olhos de Adam me fitam, eu sempre ouvi dos meus pais que a verdade liberta, mas agora eu sei que ela também machuca e muito. 

Quando Adam olhou pra mim eu vi a verdade em seus olhos, eu vi o quanto eu errei em deixá-lo no escuro por todos esses anos, eu vi o quanto foi errado não lhe contar antes e não pensar em como ele se sentiria, eu vi o quanto ele me amava e eu apenas o quebrei. 

Ele se põe em pé no minuto seguinte e meus olhos o acompanha, ele passa a mão por seu cabelo nervoso e então esfrega o rosto molhado parecendo transtornado. 

- É... - sua voz soa seca, sem vida e ele olha ao redor evitando encontrar meus olhos novamente. - Eu também sinto. - afirma e bagunça novamente o cabelo com os dedos magros e cumpridos. 

Eu me levanto também e dou um passo na sua direção, quero fazer algo para que ele não se vá, mas ele recua um passo e seus olhos caem nos meus, Adam nega e eu paraliso. 

em que eu pudesse fazer mais nada ele me dá as costas e quase corre para dentro do palácio, cada passo o distancia mais e quanto mais longe fica mais meu peito parece vazio, frio. 

Reprimo a vontade de gritar e então olho pra frente, meu corpo cai sem força no banco novamente e eu deito sobre ele olhando para o céu, me encolho ali e choro baixinho.   

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INFO:

ATENÇÃO: seu voto é importante, então deixe sua estrela, por favor. 

N/A - NOTA DA ESCRITORA

Pessoal, bom início de tarde pro cêis, bom domingo. 

Eu estava contando com a meta de estrelas, mas acabei desistindo dessa ideia, sei que, por causa da revisão e da reescrita, o número de leitores diminuíram, então vou pegar leve, mas quero que vocês sigam firmes nos votos, ok? 

Outra coisa que eu quero avisar, os caps permanecerão sem dia previsto pra postagem porque as aulas presenciais voltaram e meu tempo tá muito mais corrido por causa do integral, pra alegria de vocês eu tenho um tanto de capítulos já fabricados que eu só preciso dar uma averiguada antes de postar, então eu demoro, mas não tanto assim. :)

E outra coisa, saibam que vão ter alguns erros mesmo, gente. É uma história que ainda não passou pelo processo oficial de revisão, eu reviso antes de postar, mas não consigo ver tudo, então eu peço pra que tenham paciência que logo tudo se resolve. 

Era isso, obrigada pelo apoio de vocês e pela paciência também.

Bjinhos.

A.I.M

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