2. capítulo trinta e quatro

ㅤㅤㅤFoi preciso alguns minutos até que sua respiração se estabilizasse. Alice olhou para as próprias mãos, por um longo período. Estavam limpas. Limpas, sem qualquer rastro de sangue. Uma risada nervosa escapou, embora não tivesse nada engraçado sobre aquilo, e ela secou uma lágrima que escorria por sua bochecha. Está tudo bem, garantia-se, foi só um sonho ruim.

ㅤㅤㅤAs palavras de Amy ressoavam em sua mente, cada vez mais distorcidas até que não parecia a voz del: O que acha que vai acontecer quando ele te encontrar? Alice não sabia exatamente o que significava o pânico que subia por sua garganta, já que, se ela acabasse morta em suas mãos, todo aquele jogo finalmente terminaria e ela poderia descansar em paz.

ㅤㅤㅤAbriu o porta-luvas e procurou o celular entre os papéis antigos, lixo e o velho manual do carro. Encontrou o pequeno aparelho e acendeu a tela, revelando dezenas de chamadas perdidas e uma enxurrada de mensagens de texto que fizeram um nó se apertar em sua garganta. "Onde você está, Alice Taylor?"

ㅤㅤㅤ"Eu vou te encontrar"

ㅤㅤㅤ"Volte AGORA"

ㅤㅤㅤ"Acha mesmo que pode fugir?"

ㅤㅤㅤ"Você é MINHA"

ㅤㅤㅤVieram de vários números desconhecidos, provavelmente vindos de chips pré-pagos que eram descartados logo em seguida. Alice massageou a têmpora. Suas únicas opções eram encarar a fera ou desaparecer por conta própria, em qualquer uma delas, Alice estaria caminhando para um beco sem saída da morte.

ㅤㅤㅤVamos dar um jeito, pensou ao fechar os olhos por um momento e inspirando profundamente antes de sair do carro.

ㅤㅤㅤ― Está tudo bem? ― Jonas perguntou ao vê-la.

ㅤㅤㅤEle estava sentado no banco na frente do mercado, fumando um cigarro pela metade, e se levantou assim que ela bateu a porta. Alice não sabia por quanto tempo ele estava ali, e sentiu o rosto esquentando ao perceber que Jonas provavelmente viu quando ela discutiu com Amy. Jesus, tenho coisas mais importantes para me preocupar.

ㅤㅤㅤAlice balançou a cabeça brevemente em resposta, e passou direto por ele, empurrando a porta de vidro com força e o sininho ecoou no interior do mercado. Jonas jogou o cigarro no chão, e apagou com um pisão antes de segui-la.

ㅤㅤㅤ― Sem querer me meter, mas não parece não ― Jonas foi para trás do balcão e se apoiou no mesmo.

ㅤㅤㅤEla o ignorou e foi até a geladeira de bebidas que ficava no fundo da loja. Ela olhou para as garrafas de vodka, e o frio do vidro em sua mão parecia tentador, mas ela fechou os olhos por alguns segundos antes de soltar um xingamento baixo e pegar uma garrafa de água.

ㅤㅤㅤ― 'Cê tem um cigarro? ― Alice indagou, limpando a garganta. O garoto a olhou, curioso, e quando fez a menção de tirar uma carteira do mostruário, ela balançou a cabeça. ― Não, você, Jonas. Eu quero uma unidade de cigarro.

ㅤㅤㅤ― Ah, certo. ― Ele tirou o maço do bolso do casaco e entregou um para ela. ― Você deveria tá fumando...?

ㅤㅤㅤ― Não é da sua conta ― Alice resmungou, atrapalhando-se ao puxar uma cédula de seu bolso, que estava tão dobrada que cheirou a amaciante quando ela a desdobrou.

ㅤㅤㅤEle soltou um suspiro, hesitante.

ㅤㅤㅤ― Olha, de novo... ― Jonas disse, sem jeito, e encolheu ao receber um olhar cortante. ― Não quero me meter na sua vida, Mia, mas...

ㅤㅤㅤ― Então não se meta.

ㅤㅤㅤ― Mas ― ele continuou, deixando claro em sua expressão que era melhor que ela o ouvisse. ― um cara veio aqui procurando por você.

ㅤㅤㅤUm zunido encheu seus ouvidos, como um soco inesperado. Um torpor tomou conta de seu corpo, deixando-a incapaz de sentir os membros. O coração errou uma batida, e seus dedos apertaram a garrafa plástica com força.

ㅤㅤㅤ― Como ele era? ― perguntou em voz baixa.

ㅤㅤㅤ― Ah, era grandão, bem arrumado, cabelo escuro ― respondeu Jonas, inclinando a cabeça, como se tentasse se lembrar de mais detalhes. ― Tinha uns olhos esquisitos, sabe? Me deram calafrios. E olha que aqui eu lido com todo tipo de gente, mas ele... sei lá, era estranho.

ㅤㅤㅤAlice sentiu um calafrio percorrer sua coluna. Não havia dúvidas de que Adam a estava procurando.

ㅤㅤㅤ― Como você sabe que estava atrás de mim? Pode ser qualquer pessoa.

ㅤㅤㅤ― Ele mostrou uma foto sua ― Jonas deu de ombros enquanto pegava o troco no caixa, seus movimentos lentos.

ㅤㅤㅤ― E o que você disse a ele?

ㅤㅤㅤ― Disse que nunca tinha visto você ― Jonas pigarreou e coçou a cabeça, notando o nervosismo de Alice. ― Sei lá porque falei isso, mas não vou mentir, Mia... fiquei com medo dele. Me preocupei que você estivesse em alguma encrenca, sabe? ― Ele limpou a garganta. ― Fazia alguns dias que você não aparecia...

ㅤㅤㅤ― Ele disse mais alguma coisa? ― Os olhos de lápis-lazúli eram hesitantes, arregalados, quando o encarava diretamente.

ㅤㅤㅤ― Não, só perguntou por você. Ele não pareceu muito satisfeito com o que eu disse, mas acabou indo embora.

ㅤㅤㅤAlice assentiu, tentando processar a situação, mesmo que com dificuldade.

ㅤㅤㅤ― E então? Ele é o... ― Jonas começou, mas hesitou, coçando a cabeça outra vez. ― Quer dizer, não é da minha conta, mas... Você sumiu depois que comprou aquele tes-

ㅤㅤㅤ― Jesus ― Alice interrompeu, pegando o troco da mão dele, sentindo o rosto esquentar. ― Isso não é da sua conta.

ㅤㅤㅤ― Desculpa, você tá certa. ― Jonas limpou a garganta, mas a curiosidade ainda estava estampada em seu rosto.

ㅤㅤㅤAlice mordeu o interior da bochecha, olhando para as moedas e o cigarro em sua mão. Você não precisa ser uma filha da puta sempre, ele tentou te ajudar. Suspirou profundamente.

ㅤㅤㅤ― Valeu, Jonas. Pelo cigarro e pela mentira. ― Ela tentou exibir um sorriso de gratidão, mas sua expressão parecia de alguém que estava com dor. ― Fico te devendo essa.

ㅤㅤㅤEla começou a ir na direção da porta, pode ouvir a hesitação no ar antes de Jonas se inclinar sobre o balcão e falar: ― Acho que você deveria ir na polícia ou algo assim. Esse cara não parece ser coisa boa.

ㅤㅤㅤ― Não posso. ― O murmúrio de Alice foi tão baixo que ele não conseguiu ouvir.

ㅤㅤㅤDo lado de fora, nuvens cinzentas cobriam o céu, mas alguns raios de sol escapavam tímidos entre elas. Seu olfato era preenchido pelo cheiro da cidade misturado com o concreto molhado, e o vento frio corria pelas ruas.

ㅤㅤㅤAlice enfiou as mãos no bolso do casaco enquanto fazia seu caminho até o apartamento, sentindo-se inquieta. Olhava por cima do ombro constantemente, ouvia sussurros que às vezes eram apenas outros pedestres conversando, mas sentia os olhos deles grudados em sua nuca.

ㅤㅤㅤE quando um deles andou em sua direção, fixando os olhos inteiramente negros nela, ela sentiu um tremor percorrer seu corpo. Ele passou por ela, e seu pescoço se torceu como o de uma coruja para que não a perdesse de vista. Alice desviou o olhar e acelerou os passos, ignorando o cansaço.

ㅤㅤㅤO que eu faço agora? As palavras se repetiam em sua mente, buscando uma resposta que fosse a luz no fim daquele túnel. O ar abafado dentro do prédio dava a impressão de que tudo estava fechado e que milhares de pessoas respiravam ao mesmo tempo; as Pessoas de Sombra se acumulavam pelos corredores, e nas escadas também.

ㅤㅤㅤO cheiro da nicotina invadiu suas narinas, fazendo a ânsia voltar. Alice apressou o passo, cumprimentando a vizinha de maneira desajeitada, sem encarar o cigarro aceso que ela segurava entre os dedos e apertou o que carregava no bolso. Atrapalhou-se com as chaves ao chegar na porta do seu apartamento, e respirou fundo.

ㅤㅤㅤQualquer coisa, é só gritar.

ㅤㅤㅤAlice não sabia exatamente o que esperar ao entrar no apartamento, mas com certeza não era ouvir vozes mexicanas ecoando pela sala, vindas de sua televisão. Ela congelou por um instante, abrindo a porta devagar e espiando o interior pequeno.

ㅤㅤㅤPaul estava sentado no sofá, usando uma regata branca que destacava ainda mais suas tatuagens e jeans desgastados. Seus pés calçados com meias furadas, estavam apoiados em sua mesa de centro. Ele segurava um pacote de salgadinhos, e mastigava com os olhos fixos na tela.

ㅤㅤㅤAlice sentiu o estômago revirar, mas manteve a postura ao entrar. Ao notar sua presença, ele apenas inclinou a cabeça ligeiramente em sua direção.

ㅤㅤㅤ― O que você está fazendo aqui? ― Alice perguntou, tão nervosa que sentia ânsia, os olhos correram para a televisão.

ㅤㅤㅤEle não a respondeu de imediato, pois sua atenção ainda estava voltada para a novela, que exibia um close dramático da mocinha chorando e se lamentando em espanhol. Quando os comerciais finalmente começaram, após a cena final, ele ergueu o olhar para ela.

ㅤㅤㅤ― Trabalho ― disse, curto e direto, como se explicasse tudo.

ㅤㅤㅤEla piscou, atordoada.

ㅤㅤㅤ― Trabalho? ― Repetiu, incrédula.

ㅤㅤㅤOs olhos do homem se voltaram brevemente para a televisão, onde passava um comercial de produtos de limpeza. Ele tirou um salgadinho do pacote, mastigando devagar, e assentiu antes de gesticular com a cabeça para a cadeira próxima.

ㅤㅤㅤ― Senta.

ㅤㅤㅤAlice arqueou uma sobrancelha, continuando em pé, e o homem não pareceu se importar com sua reação - talvez até já esperasse por aquilo. Ele tornou a olhar para a televisão, mastigando outro salgadinho antes de amassar a embalagem.

ㅤㅤㅤ― Senta. ― Ele repetiu, sem levantar a voz, mas o gesto de sua cabeça indicava que ele não falaria outra vez.

ㅤㅤㅤEla semicerrou o olhar para ele, depois para a cadeira indicada e, com um suspiro teatral, finalmente se sentou. O homem desligou a televisão e inclinou-se para a frente, apoiando os antebraços tatuados sobre os joelhos enquanto observava Alice com um olhar calmo, mas firme. Ela imitou seus movimentos, e eles ficaram frente a frente.

ㅤㅤㅤ― Sumiu por três dias ― ele começou, a voz grave e lenta não demonstrava qualquer emoção, além de tédio ― Adam não gosta de não saber onde você está.

ㅤㅤㅤAlice sentiu um desconforto ao ouvir seu nome, mas se obrigou a manter sua postura. Não iria dar o braço a torcer.

ㅤㅤㅤ― E você é o garoto de recados, porra? ― Alice resmungou, mas sua voz traía o desconforto que tentava esconder, e o estômago ainda retorcia.

ㅤㅤㅤPaul soltou um riso curto, carregado de desdém, sabia que ela estava tentando se manter no controle da situação. Ele a observou por um momento com os olhos frios, o silêncio se estendeu entre eles causando um desconforto.

ㅤㅤㅤ― Você é minha responsabilidade agora.

ㅤㅤㅤAlice estreitou os olhos, seu corpo estava tenso enquanto as palavras pairavam no ar como fumaça. O desconforto crescia a cada respiração, mas ela se mantinha firme. Ela observou o homem cruzar as mãos atrás da cabeça e se recostar no sofá, uma expressão despreocupada em seu rosto.

ㅤㅤㅤ― E o que isso significa?

ㅤㅤㅤ― Não quero gracinhas. ― Paul rebateu.

ㅤㅤㅤA irritação crescia em seu interior, e não sabia dizer se era pelo tom entediado que ele usava ou se era por estar sem opções. Ela se levantou e começou a andar em círculos pelo espaço entre a televisão e a mesa de centro; seu corpo estava tenso. O olhar de Paul caia sobre ela, observando cada passo.

ㅤㅤㅤ― Onde está Adam? ― Alice perguntou enquanto dava passos lentos, os olhos evitavam qualquer contato.

ㅤㅤㅤ― Fora da cidade, até amanhã.

ㅤㅤㅤAlice mordiscou a unha do polegar, perdida em pensamentos. Sua cabeça parecia correr a milhões.

ㅤㅤㅤ― Ele acha que pode controlar tudo... mas não pode.― ela murmurou com a voz rouca.

ㅤㅤㅤ― Tenta dizer isso pra ele e vê o que acontece. ― Paul rebateu sem se alterar.

ㅤㅤㅤAlice ergueu o olhar para ele, seu maxilar travado com raiva. Ela deu um passo à frente, mais confiante, os olhos agora fixos nos de Paul.

ㅤㅤㅤ― E o que vai acontecer? ― Ela desafiou, a voz traída pelo tremor. ― Adam vai me prender como se eu fosse um animal e esperar que eu o obedeça cegamente?

ㅤㅤㅤO silêncio que se seguiu foi denso. Paul a encarou com os olhos semicerrados como se forçasse a memória enquanto analisava as palavras dela, logo se normalizaram, embora sua expressão tenha permanecido inalterada; até que um sorriso muito discreto surgiu.

ㅤㅤㅤ― Até onde vi, Adam sabe como te fazer obedecer ― respondeu com a mesma voz entediada, e o deboche era tão sutil que poderia ter passado despercebido.

ㅤㅤㅤAlice sentiu o rosto corar, mas não era vergonha - era raiva. Ele não precisou gritar ou alterar o tom de voz para provocá-la; o desdém em sua voz foi um golpe preciso com o único objetivo: humilhá-la. Cada palavra gritava nas entrelinhas: "Eu vi até onde você permite que ele te controle".

ㅤㅤㅤ― Você é a porra de um cachorrinho, Alice ― Paul disse, pausadamente.

ㅤㅤㅤAs palavras pesaram no ar antes de afundarem lentamente em seu peito. Não sou a porra de um cachorrinho, Alice disse com a raiva queimando em seu peito, porém estava estasiada demais para conseguir expressá-las em voz alta. Em vez disso, foram engolidas junto ao gosto amargo da vergonha.

ㅤㅤㅤ― Você pode me dar licença? ― Alice hesitou, sentindo seus membros pesarem uma tonelada ― Eu tenho... assuntos de garota... Pra resolver.

ㅤㅤㅤPaul a olhou brevemente e, sem dizer uma palavra, calçou os sapatos e se levantou. Ele era tão grande que parecia preencher toda a sala ao ficar de pé, e seus movimentos eram surpreendentemente fluidos para alguém do seu tamanho. Alice se encolheu instintivamente, o corpo tenso, mesmo que tentasse não demonstrar o desconforto que ele proporcionava.

ㅤㅤㅤEle caminhou até a porta sem pressa, parando por um momento antes de sair.

ㅤㅤㅤ― Vou fingir que você não voltou... Por enquanto. ― murmurou, sem olhar para ela. ― Seu namorado veio aqui ontem.

ㅤㅤㅤA porta se fechou em um clique suave, e Alice ficou paralisada. Lucas veio aqui? Um turbilhão de pensamentos invadiu sua mente, e todas as piores possibilidades começaram a surgir diante de seus olhos. O que ele falou? O que aconteceu em seguida? Paul fez algo com ele? E se Lucas tivesse se encontrado com Adam?

ㅤㅤㅤAlice tentou organizar as perguntas, e olhou ao redor. Estava sozinha pela primeira vez desde... O corpo desabou na cadeira, a tensão dos últimos dias finalmente demonstrando os sinais. Os músculos tensos começavam a protestar, e seus ombros pesavam como se todo o cansaço acumulado caísse sobre ela de uma vez.

ㅤㅤㅤLágrimas brotaram antes mesmo que ela percebesse, silenciosas e quentes, enquanto ela acariciava a barriga inconscientemente. Tudo o que ela queria era parar de se preocupar com Lucas, mas, de alguma forma, ele sempre encontrava um jeito de voltar.

ㅤㅤㅤFoi então que Alice se lembrou do último dia que esteve ali: durante o jantar com Adam, ela colocou a sacola de compras embaixo da mesa antes que se tornasse um tópico na conversa. Jesus, meus burritos. Com certa dificuldade, ela se levantou e foi até onde a sacola deveria estar, mas não a encontrou.

ㅤㅤㅤEla se abaixou, verificando embaixo da mesa uma segunda vez, e entre as cadeiras. Nada. Revirou os armários, as gavetas e até mesmo o cesto de lixo, esperando que ela tivesse guardado em algum canto antes de sair para o trabalho.

ㅤㅤㅤO cansaço se misturou com a irritação, e ela praguejou alto andando em círculos na sala de estar. Por alguns segundos, ela parou diante do corredor e seus olhos se fixaram na porta do banheiro. Eu me lembraria, é claro. Hesitante, ela entrou.

ㅤㅤㅤSob o pequeno balcão da pia, lá estava o teste.

ㅤㅤㅤIsso significa que Adam viu? Ou talvez tenha sido Paul... Mas nenhuma das opções era algo confortável. Seu estômago gelou e o enjoo repentino tomou conta, e Alice correu para o vaso sanitário. A bile ácida subiu por sua garganta, queimando, e ela se agarrou nas bordas do vaso para vomitar.

ㅤㅤㅤMerda.

ㅤㅤㅤOfegante, limpou a boca com as costas da mão e olhou novamente para a caixa que parecia ainda mais acusatória - se é que fosse possível. Ergueu a mão trêmula, percebendo que não conseguiria ignorar aquilo por mais tempo.

Desculpem os atrasos, estava na cachaçada ontem e não deixei o capítulo programado!

Feliz Natal! <3

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