1. capítulo oito

ㅤㅤㅤFazia quinze minutos que havia estacionado em sua vaga rotineira e fazia dez desde que o Porsche preto estacionou ao seu lado, nesse meio tempo ninguém saiu do carro e pareciam estar esperando um ao outro. Alice considerou várias vezes manobrar o carro para o outro lado do estacionamento do colégio, porém daquela forma deixaria bastante explícito de que estava sim tentando ignorá-lo de todas as formas que fosse possível; suspirou, saindo do carro com um cigarro pendurado pelos dentes já sabendo o que viria a seguir, estava prendendo seus cabelos em um rabo-de-cavalo quando ele falou: ― Finalmente.

ㅤㅤㅤEla estava pulando de alegria por dentro.

ㅤㅤㅤContinuou andando em direção ao prédio.

ㅤㅤㅤ― Espera. ― Exclamou ao ativar o alarme do carro. ― Tenho algo que você quer.

ㅤㅤㅤ― Dificilmente. ― Retorquiu com um sorrisinho que ele não podia ver.

ㅤㅤㅤJá havia tomado uma distância considerável entre eles.

ㅤㅤㅤ― E o seu diário?

ㅤㅤㅤAlice Taylor parou.

ㅤㅤㅤPrecisou de alguns segundos para absorver o impacto daquelas palavras e entendê-las com clareza, o tempo se arrastou por uma eternidade em sua cabeça ao sons dos gritos e risadas dos rostos que ficavam cada vez maiores ao seu redor, prontos para devorá-la com os dentes afiados. Como ele sabe? O que ele está fazendo? Por que isso está acontecendo? Virou para o garoto e sentiu sua garganta fechar quando o mesmo abriu um sorriso com dentes pontudos de orelha a orelha e olhos totalmente negros. Fechou os olhos quentes com força e quando tornou a abri-los, respirou aliviada ao perceber que Lucas continuava com a mesma feição e o que ela havia visto não passava de Lock tentando tomar o lugar dele em flashes. Mate. O sorriso que ele carregava era descontraído, não tinha maldade ou zombaria, apenas uma pequena vitória por ter conseguido falar com ela depois de tanto tempo.

ㅤㅤㅤ― Smith, me dê isso. ― Sua voz saiu trêmula, sentiu a bile queimar sua garganta.

ㅤㅤㅤ― Agora que eu finalmente tenho sua atenção, posso perguntar o motivo de estar me evitando?

ㅤㅤㅤ― Não te vi.

ㅤㅤㅤ― Falei com você semana passada e você simplesmente virou a cara enquanto eu falava e saiu andando.

ㅤㅤㅤEla não se lembrava daquilo.

ㅤㅤㅤVocê está entendendo errado,

ㅤㅤㅤeu não quero te machucar.

ㅤㅤㅤ― Me devolve.

ㅤㅤㅤ― E se eu tiver lido?

ㅤㅤㅤ― Se tivesse lido, não conseguiria me olhar desse jeito depois de ler minhas fantasias bizarras com você.

ㅤㅤㅤEle arregalou os olhos e riu, esticando o braço para entregar o diário para ela, porém não soltou fazendo com que a ponta dos dedos roçassem uma na outra, causando uma série de arrepios por seu braço.

ㅤㅤㅤ― Toma mais cuidado com ele. ― Alertou por fim. Isso é uma ameaça? ― Sorte que foi Amy que o encontrou, se fosse outra pessoa poderia ter cópia das páginas espalhadas pelo mural do colégio nesse exato momento.

ㅤㅤㅤ― A-Amy? ― Alice ergueu as sobrancelhas e deu um risinho nervoso.

ㅤㅤㅤ― Amys não te falou? Puts, não fica com raiva da ruivinha, beleza? ― Lucas passou a mão pelos cabelos e umedeceu os lábios rosados. ― Eu tomei dela pra conseguir falar com você, mas... Pelo visto, você teve uma semana complicada.

ㅤㅤㅤComo explicaria que a semana foi complicada justamente por seu diário?

ㅤㅤㅤAmy.

ㅤㅤㅤ― Bom, nos vemos por aí, Freaktaylor.

ㅤㅤㅤAcariciou a capa aveludada do caderno sem conseguir piscar ou se mexer, seus olhos ardiam e ela ignorava o fato dele ter a chamado por um apelido dado por Natasha; às costas do garoto estavam escondidas por uma jaqueta de couro e se afastaram, embora ela não conseguisse vê-lo realmente, também não prestou atenção quando ele olhou para trás e sorriu. Tudo que via diante de si era uma imagem da ruiva com dentes pontudos, olhos negros e chifres, alternando em uma velocidade que a deixava enjoada: Amy gargalhando, Amy com o telefone nas mãos trêmulas, Amy apontando o dedo para ela, repete. Isso é real? Olhou ao redor para garantir que ninguém tivesse visto aquela cena, guardou o caderno no fundo da mochila e seguiu para a aula.

ㅤㅤㅤAquela manhã foi complicada, os cochichos em seus ouvidos se tornaram mais altos e ela esperava que ninguém estivesse ouvindo o choro baixinho vindo do fundo de sua mochila. Amy ficou visivelmente desconfortável quando viu o caderno de veludo azul em meio aos livros que Alice tirou da bolsa e sempre que parecia pronta para falar, balançava a cabeça e olhava para o outro lado com aqueles olhos culpados; toda vez que Alice queria perguntar algo, balançava a cabeça e acendia um cigarro para disfarçar sua tristeza, nunca havia sido traída daquela forma e nem imaginava que fosse possível. O que ele falou foi uma ameaça ou ele só estava sendo amigável? Não conseguia lembrar o tom exato que foi usado por Lucas e toda vez que forçava sua memória ficava pior.

ㅤㅤㅤEla não deveria confiar em ninguém.

21 de outubro – 16:40

Querido diário, gostaria tanto que pudesse me contar exatamente o que fizeram com você durante esses dias... Nós estamos em perigo? Eles encontraram a garota que estava comigo no galpão naquela noite, não... Não era eu, mas de alguma forma eu me lembro, você entende? Ela não estava como deixamos, nem onde deixamos, não consigo ter certeza do que está acontecendo aqui. ― Você está completamente pirada, Alice. ― Se for para me xingar você pode ficar calado mesmo.

Por que Amy fez isso?

Por que Amy confiou nele?

Por que Amy não me contou?

Não consigo parar de pensar que a qualquer momento algo ruim vai acont-

ㅤㅤㅤUm esbarrada proposital em sua mão e a caneta fez um risco enorme na página antes mesmo da frase ser finalizada, ergueu os olhos frios para Lucas quando o mesmo tirou a canela de sua mão e a colocou sobre os lábios como se fosse um bigode de acrílico.

ㅤㅤㅤ― Boa tarde, minha jovem. ― Cumprimentou sentando-se à frente dela.

ㅤㅤㅤ― Está me perseguindo, porra?

ㅤㅤㅤ― Parece que fui descoberto. ― Ergueu as mãos como culpado, depois apontou com a caneta para uma mesa do canto onde haviam dois rapazes com camisas do time de futebol e Natasha com suas amigas. A loira olhava séria para Alice. ― Ou essa cafeteria a uma quadra do nosso colégio é bastante popular entre o pessoal e eu estou acompanhando meus amigos, mas vou deixar você decidir essa.

ㅤㅤㅤPegou a caneta de volta.

ㅤㅤㅤ― Você não tem vergonha de expor seus sentimentos em público? Ou você é aquele tipo de garota misteriosa que senta sozinha pra escrever sobre, sei lá, vampiros ou coisas do tipo?

ㅤㅤㅤ― Não é problema seu.

ㅤㅤㅤ― Quer tomar algo?

ㅤㅤㅤAlice apontou com a caneta para os três copos descartáveis de café que se acumulavam ao seu lado, era uma boa desculpa para as mãos trêmulas.

ㅤㅤㅤ― Sobre o que você está escrevendo?

ㅤㅤㅤ― Não é da sua conta.

ㅤㅤㅤ― Você é tão simpática. ― Alguém chamou pelo seu nome no balcão, ele olhou para Alice e gesticulou para trazer seu pedido. ― Não vou buscar porque você pode aproveitar o momento para fugir.

ㅤㅤㅤ― Eu nem pensei nisso.

ㅤㅤㅤA garçonete trouxe uma xícara de café preto fumegante e um pedaço de red velvet, embora Alice tivesse tido a impressão de que a garota piscou para ele, Lucas continuou a estudá-la.

ㅤㅤㅤ― Tudo bem se eu continuar te chamando de Freaktaylor? Combina bastante com você.

ㅤㅤㅤ― Sua namorada é ótima com apelidos, não é?

ㅤㅤㅤ― É namorada do meu irmão. ― Ele deu uma garfada no bolo.

ㅤㅤㅤ― Irmão?

ㅤㅤㅤ― Já comeu isso? ― Ele a interrompeu. ― É horrível, mas vale a pena pelo creme.

ㅤㅤㅤ― Como você consegue ser tão irritante, Smith? ― perguntou ao fechar o diário com força desnecessária, mas queria demonstrar que aquilo não estava agradando tanto. Guardou o caderno na bolsa e deu alguns goles no café amargo, rodou o copo nas mãos e o encarou.

ㅤㅤㅤ― Se eu não falar, você não fala... Estou certo, Freaktaylor?

ㅤㅤㅤEle estava.

ㅤㅤㅤEm silêncio, Lucas terminou de comer o bolo e deu alguns goles no café enquanto ela o olhava; estava aliviada dele não ter tocado no assunto de antes ou no dia da festa, mas tensa porque não sabia o que esperar dele. Lucas a encarou como se tivesse esquecido completamente que ela estava ali e agora as mãos da garota suavam, ninguém havia sustentado seu olhar por tanto tempo daquela forma, podia sentir a curiosidade.

ㅤㅤㅤ― Qual seu problema, Smith? ― disse de repente.

ㅤㅤㅤ― Finalmente, achei que ia ter que começar a falar novamente. ― Ele abaixou a xícara que estava a meio caminho para os lábios e pousou delicadamente no pratinho. ― Não tenho problema algum. E você, gata?

ㅤㅤㅤ― No momento, tenho apenas um.

ㅤㅤㅤVocê.

ㅤㅤㅤ― Que fofo, vai falar que o problema sou eu.

ㅤㅤㅤEla o encarou incrédula com a ousadia de ouvir seus pensamentos e os expor daquela forma.

ㅤㅤㅤ― Poderíamos sair qualquer dia desses.

ㅤㅤㅤ― Poderíamos.

ㅤㅤㅤ― Você está aceitando?

ㅤㅤㅤ― Não. Estou afirmando que poderíamos, mas não vamos.

ㅤㅤㅤEle riu e pegou a caneta novamente, segurando a mão de Alice e passou a manga de seu casaco em sua palma, um gesto tão sutil que ficou claro que ele sabia que suas palmas estavam suadas, mas não queria envergonhá-la com aquilo, fazendo parecer um movimento qualquer. A sensação das peles se tocando enquanto ele escrevia alguns números nas costas de sua mão, o leve formigar quente fez as bochechas dela ficarem levemente rosadas, se encararam e ele deu um sorrisinho hesitante, não queria soltar sua mão tão cedo por não saber quando conseguiria segurá-la novamente. Culpado, culpado, traidor, culpado. Alice balançou a cabeça afastando-se, recolheu suas coisas e tentou não olhar para trás quando saiu pela porta, mas pelo canto do olho pode ver o garoto retornando para a mesa de seus amigos com um sorriso no rosto.

ㅤㅤㅤFalso, falso, falso, falso, falso.

ㅤㅤㅤUma hora depois resmungou ao olhar seu reflexo no espelho após um cochilo rápido em seu quarto, no qual dormiu com a mão em sua bochecha fazendo com que a tinta transferisse o nome e o número do garoto para sua pele.

ㅤㅤㅤ― Inacreditável.

não esqueçam de favoritar os capítulos que leram e, caso queiram, deixar comentários. gosto de receber o feedback de vocês, significa muito pra mim <3

att, vdek

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