1. capítulo dezenove
https://youtu.be/DrJ7grCnwUc
ㅤㅤㅤEla limpou a garganta.
ㅤㅤㅤDesconfortável.
ㅤㅤㅤVamos lá...
ㅤㅤㅤComo chegamos até aqui?
ㅤㅤㅤNão conseguia lembrar.
ㅤㅤㅤA ficha de que algo estava errado começava a cair e as grandes lacunas em sua memória continuavam se expandindo, consumindo o pouco que restava de suas lembranças e as transformando em nada. Sentia-se extremamente envergonhada ao encarar a nuca do rapaz, será que ele sabia onde estavam? A luminária fraca do galpão balançava no teto iluminando a cadeira onde ele estava sentado com seus membros amarrados de uma forma que impossibilitava-o de se mexer, o garoto olhava para os lados buscando alguém que pudesse ajudá-lo; como poderiam sair daquela situação sem ficar um clima estranho? Passou as mãos pelos cabelos e escondeu o rosto entre elas, deu um passo em direção a ele apenas para dar dois para trás porque precisava de um tempo para pensar no que falaria e como explicaria aquilo. Vamos lá, não tem porque ser diferente das outras vezes, não é? Cruzou as mãos nas costas e caminhou devagar até ficar diante dele com um sorriso amarelo no rosto, um pano sujo estava em sua boca e ele não parecia feliz.
ㅤㅤㅤ― Vou ser bem sincera com você agora, ok? ― Começou esperando que as palavras se formassem sozinhas e ela não precisasse pensar demais sobre. ― Sinto que acabei de acordar de um longo sonho onde nós estávamos nesse mesmo galpão, mas não estávamos sozinhos, eu... ― Ela fez um esforço, franzindo a sobrancelha, segundos antes de formular aquela frase se lembrava perfeitamente, mas a lembrança foi apagada com suas palavras. ― Não consigo lembrar quem estava aqui, só consigo me lembrar da sensação dele... A sensação de não estar a sós, você entende? Preciso que você me ajude a lembrar o que aconteceu conosco e o por que de estarmos aqui ― Ela ergueu a mão para tirar a mordaça, ele recuou para evitar o contato e ela suspirou, compreendendo. ― De todas as pessoas no mundo, você era a última que deveria estar aqui... O que você fez, Lucas?
ㅤㅤㅤ― Sonho... ― Ela ouviu o sons do salto ecoando ao se aproximar às suas costas e uma risadinha que a fez fechar os olhos e suspirar pesadamente antes de se virar, não havia ninguém além dela mesma entrando no círculo de luz para ficarem frente a frente. ― É assim que você se refere a mim? Que fofo.
ㅤㅤㅤEram a mesma pessoa em fases diferentes da vida. Alguns anos mais velha, a Outra encarava sua versão mais nova com a nostalgia de não saber o que a esperava no futuro; usava um vestido claro e justo, sandálias brancas com saltos que a deixavam dez centímetros mais alta e seus cabelos ondulados estavam comportados emoldurando o rosto maduro e saudável, os olhos eram trapaceiros e os lábios pintados de vermelho carmim estavam entreabertos ansiando contar o motivo de ser essencial terminar o que começaram ali - é nossa única salvação, Alice. Seu reflexo se assemelhava tanto ao de Clarice que causava-lhe mal estar.
ㅤㅤㅤ― O que você está fazendo aqui? ― A mais nova indagou claramente irritada. ― O que ele está fazendo aqui?
ㅤㅤㅤ― Não é óbvio? ― Alice deu alguns passos em sua direção e sentou no colo de Lucas, cruzando as pernas e apoiando a mão no queixo. ― Você trouxe ele pra cá.
ㅤㅤㅤ― Não fiz isso. ― Balançou a cabeça, olhando-o.
ㅤㅤㅤLucas se balançava na cadeira em uma tentativa de soltar, falava algo que ela não compreendia por conta do pano que mordia e os olhos castanhos estavam vidrados nela carregando consigo uma mescla de indignação e raiva que Alice não conseguiu sustentar, engoliu seco e encarou sua gêmea.
ㅤㅤㅤ― Não fiz isso. ― Repetiu em tom baixo como se pedisse desculpas porque, de fato, ela não tinha certeza.
ㅤㅤㅤ― Incrível como você nunca tem culpa, não é? ― Revirou os olhos azuis pesados de forma teatral, seu sorriso carregava deboche com a situação. ― Sempre a vítima e eu, a vilã... Isso chega a ser cômico de tão patético.
ㅤㅤㅤ― Cala a boca.
ㅤㅤㅤA Outra virou o tronco para poder encarar Lucas de frente, com uma das mãos segurou seu rosto e com a outra puxou um canivete retrátil do decote de seu vestido, entortando a cabeça para o lado enquanto ele se debatia mais ainda ao ouvir o estalo. De olhos abertos, ela assistia tudo aquilo em terceira pessoa. Uma lágrima escorria dos olhos castanhos quando a lâmina foi pressionada contra sua bochecha. Balançou a cabeça negativamente usando as mãos para cobrir as orelhas tentando impedir os sussurros de devorar seu cérebro e fechou os olhos, era ela que segurava a faca contra o rosto do rapaz.
ㅤㅤㅤ― Para com isso. ― Alice pediu evitando piscar a partir daquele momento.
ㅤㅤㅤO garoto teve seus gritos abafados quando um talho foi cortado em sua pele e o líquido bordô começou a verter; Alice lambeu o pescoço do garoto lentamente, desde a base salgada pelo suor subindo até sua língua encostar na abertura com gosto metálico. Lambeu os próprios lábios, a ponta de seu nariz estava suja de sangue.
ㅤㅤㅤ― Eles tem um gosto melhor quando estão com medo, não é mesmo? ― Disse virando a cabeça na direção de Alice e exibindo os dentes vermelhos, seus olhos ardiam. ― Que tal um pouco de música?
ㅤㅤㅤSem cerimônias, cortou o tecido na boca do rapaz que o cuspiu no chão juntamente com um pouco de baba.
ㅤㅤㅤ― O que você está fazendo, Alice? ― Ele berrou, seu rosto ficando vermelho. ― Que porra é essa?
ㅤㅤㅤ― Lucas, eu...
ㅤㅤㅤ― Não! ― Ele a interrompeu fazendo gotículas de cuspe voarem em sua direção. A Outra ainda estava sentada em seu colo com os braços ao redor do pescoço do rapaz, ambos a encaravam. ― O que caralhos tem de errado com você?
ㅤㅤㅤEla sentiu as mãos tremendo, olhou para seus pés. As vozes aumentavam sem serem compreendidas, faziam cócegas em seu crânio.
ㅤㅤㅤ― Lucas... ― Sua voz falhou e ela teve medo de que as palavras que entravam por seu ouvido, saíssem pela boca em alto e bom som.
ㅤㅤㅤ― Me deixa sair daqui, sua maluca do caralho.
ㅤㅤㅤA Outra arregalou os olhos se levantando e ficando de costas para Alice: ― Não fale conosco assim.
ㅤㅤㅤ― Do que você está falando? ― Lucas balançava a cabeça rindo de nervosismo, incrédulo. ― Que merda você tá falando?!
ㅤㅤㅤ― Você não entende. ― Engasgou=se com as palavras.
ㅤㅤㅤ― E nem quero! ― Disse em resposta. ― Sou eu que devo te perguntar o que fiz para estar aqui, você não se lembra? Eu só estava tentando te ajudar. Foi você que pediu para eu voltar, você me trouxe pra cá e você fez essa merda comigo.
ㅤㅤㅤLágrimas escorriam pelo rosto da garota deixando sua vista turva, não queria piscar, as unhas fincadas na palma da mão não eram o suficiente para fazer com que aquilo parasse.
Ela tentou avisar desde o começo.
ㅤㅤㅤ― Foi sem querer! ― Gritou encarando-o diretamente. ― Eu não queria... Eu não queria isso, Lucas, ela que me obrigou. ― Apontou para a Outra a sua frente.
ㅤㅤㅤ― Nós estamos sozinhos, Alice!
ㅤㅤㅤSeu corpo tremia por inteiro e ela balançava a cabeça negativamente enquanto gesticulava aleatoriamente no ar procurando palavras para fazê-lo entender, era perigoso, ele estava nervoso demais para compreender que eles nunca estiveram totalmente sozinhos ali - agora era a Outra e antes dela era... Quem estava ali quando chegaram? Não conseguia se recordar por mais que tentasse, mas ainda sentia sua presença como um pesadelo escondido nas esquinas de sua mente que crescia a cada taquicardia; era uma de suas Pessoas de Sombra? Como chegaram até ali?
ㅤㅤㅤ― Eu vou te soltar. ― Ela disse puxando o ar com força e esfregando os olhos. ― Vou te soltar e vamos conversar, ok? Não quero te machucar, James.
ㅤㅤㅤSem resposta, ela se aproximou agachando-se diante dele e com o canivete cortou a fita enrolada em várias passadas que seguravam seus tornozelos aos pés da cadeira, o olhou de soslaio esperando alguma reação que não obteve e segurou sua mão suada enquanto cortava os amarres de seus pulsos, os quais ele massageou assim que se soltou. Evitando encará-lo diretamente, Alice se levantou devagar como um cachorro arrependido e jogou a arma para longe, esperando que ele entendesse suas intenções; a Outra estava parada atrás da cadeira, observando a situação com uma expressão curiosa.
ㅤㅤㅤ― Me escuta, por favor ― Alice falou exibindo a palma das mãos na altura do rosto, sua voz soava estranha aos seus ouvidos e se misturava com as vozes que a cercavam. Toda vez que piscava, via a nuca do rapaz e ela própria diante dele. ― Eu preciso que você me ajude, ok? A última coisa que me lembro é você indo embora e depois... O que aconteceu depois?
ㅤㅤㅤ― Como você consegue ser tão cínica? ― Ele riu abaixando a cabeça. ― Como caralhos você consegue?
ㅤㅤㅤEm silêncio, tomava consciência de que sentia uma dor aguda em sua cabeça e flashes de memórias começavam a pulsar em sua mente sem revelar o principal; lembrava de chegar ao apartamento e se deitar, lembrava do calor de seu corpo contra o seu e se lembrava dele indo embora. Volta logo, James, ouviu sua própria voz naquela lembrança não se recordando de ter dito aquilo, não foi ela... Depois se lembra dele chegando com a mochila sobre o ombro e um sorriso no rosto, ela disse que estava faminta e ele foi até a cozinha procurar algo para comerem. Enquanto Lucas analisava o interior da geladeira falava que poderiam sair para comer algo, a escultura de mármore que ganhou de herança de seus pais nocauteou a parte de trás da cabeça garoto e quando o corpo caiu pesado, batendo-se contra o eletrodoméstico, ela percebeu a merda que havia feito.
ㅤㅤㅤPuta merda.
ㅤㅤㅤO que aconteceu depois, James?
ㅤㅤㅤComo tirei você de lá?
ㅤㅤㅤ― Sinto muito. ― Disse baixinho com a voz trêmula, quase como um miado de gato.
ㅤㅤㅤ― Cansei disso. ― Ele disse. ― Você só não vai ser presa porque eu vou te matar.
ㅤㅤㅤE, sem aviso, Lucas avançou contra a garota fazendo com que ela tropeçasse nos próprios tênis ao tentar recuar, caindo de costas no chão. Não, não, repetia arrastando-se pelo chão para evitar que ele se aproximasse o suficiente, mas o garoto foi mais rápido e usou o peso de seu corpo para imobilizá-la no chão, as pernas apertando seus braços para que ela não conseguisse se defender e Alice gritava ao sentir a pele abrindo sob os punhos. Não fui eu, não fui eu. Os baques secos continuavam se repetindo. É tudo culpa sua, Alice. Ela tinha a impressão que sua cabeça estava derretendo. As lágrimas quentes caindo em sua bochecha trouxeram memórias e ela sentiu medo porque, novamente, se viu sozinha contra o demônio. Eu não fiz nada, pai. A Pessoa de Sombra acima dela tinha olhos vermelhos e chifres enormes; segundos antes de perder totalmente a consciência, um estampido alto ecoou fazendo um zunido constante permanecer em seus ouvidos.
ㅤㅤㅤO tempo congelou pelo que pareceu serem horas e Alice tentava absorver o que havia acontecido por trás da vista turva. Por que ele havia parado? Não era aquilo que ela merecia? O garoto continuou em cima dela alguns poucos segundos antes de seu corpo finalmente tombar para o lado e se projetar em uma posição inumana; ao lado deles, com uma expressão entediada de quem já havia vivido aquela cena inúmeras vezes, a Outra-Alice girava no dedo pelo guarda mato um revólver 38.
ㅤㅤㅤ― Viu? Não é tão difícil. ― Deu de ombros observando a garota se levantar. ― Além do mais, não podia ficar assistindo ele te matar, por mais que eu quisesse... Sabe como é, eu meio que dependo de você.
ㅤㅤㅤ― Você não é real. ― Alice disse com a voz abafada, sua boca estava cheia de sangue e sua língua parecia estar no tamanho de três. Alguns dentes faltavam.
ㅤㅤㅤ― Se eu não sou real, quem é que te ajuda quando você apaga, hein? ― Ela se aproximou em passos lentos como um felino. ― Quem é que tem que fazer todo trabalho sujo porque você é covardezinha demais para lidar com a realidade? ― Ela abriu um sorriso de orelha a orelha, sua fala arrastada se distorceu à medida que as palavras saiam de seus lábios em forma de fumaça preta, ficando escritas no ar por alguns segundos. ― Se eu não sou real, quem está com as mãos sujas?
ㅤㅤㅤAntes mesmo de olhar, ela já sabia a resposta.
ㅤㅤㅤAs lágrimas abriam caminho pelo sangue em seu rosto e seu coração começou a palpitar tão rápido que sentiu seu peito travar quando a pulsação começou a subir por sua garganta. Sentia-se como o único ponto inerte de seu mundo enquanto tudo ao seu redor continuava em movimento, transformando tudo em borrões, estava enjoada e quando finalmente tomou coragem para ver as mãos tingidas de vermelho segurando o revólver, suas pernas fraquejaram e ela sentiu a bile inundando sua boca. Não, não, não, pensou em desespero olhando ao redor e encontrando-se sozinha naquele local.
ㅤㅤㅤEle não mentiu.
ㅤㅤㅤA arma escorregou de sua mão e ela caiu de joelhos no chão. Não, não, não. Seu rosto se retorceu em pura agonia quando o grito rasgou sua garganta soando tão profundo que era como se todas suas vidas passadas se unissem naquele momento; com os dentes cerrados e os olhos arregalados, ignorava o ponto de entrada da bala no meio de sua testa e o aninhou em seu colo, os pedaços de seu cérebro se espalharam pelas roupas dela. Não fui eu. A culpa é toda minha. Seu corpo tremia, curvado para a frente em uma tentativa de abraçar a cabeça de Lucas e unir seus corpos em um só. As coisas saíram do controle.
ㅤㅤㅤEu sinto muito, James.
ㅤㅤㅤ― Alice? ― A voz a chamou, dando um estalo em sua mente. ― Alice, por que você está chorando?
ㅤㅤㅤA garota piscou algumas vezes até sua visão se adaptar ao ambiente, levou sua mão até a bochecha e a ponta dos dedos tocaram o caminho molhado de algumas lágrimas que escorriam involuntárias; assustada, olhou para seu colo ainda sentindo o peso da cabeça e a textura dos cabelos entre seus dedos, mas não encontrou nada - olhou ao redor. Sentia a palpitação em seu peito impedindo-a de respirar direito, sua cabeça pesava e quanto mais tentava lembrar, mais sentia sua memória se fragmentar. Onde estava? Como ela chegou ali? Onde ele estava?
ㅤㅤㅤ― Eu... ― Alice franziu o cenho e se levantou.
ㅤㅤㅤAi...
ㅤㅤㅤFez careta ao sentir uma pontada em seu tórax, a dor em suas costelas era fresca - quando foi a última vez que tomou seus remédios? Elas estavam na cafeteria e Amy a olhava preocupada.
ㅤㅤㅤ― Você não deveria ter dirigido assim, Al.
ㅤㅤㅤ― Não me chame assim. ― Retorquiu com acidez sentando-se, respirar começava a se tornar um incomodo novamente. ― O que estamos fazendo aqui?
ㅤㅤㅤ― Você me chamou pra conversar. ― Amy mordiscou a ponta dos dedos, era possível ver o sangue brotando nos cantos. ― Lucas falou que você ficou no seu apartamento dormindo por causa dos remédios, por isso estranhei quando você ligou.
ㅤㅤㅤ― Você falou com ele? Quando?
ㅤㅤㅤ― No colégio... Alice, se eu soubesse que você tava assim, teria ido pra sua casa sem problemas.
ㅤㅤㅤ― Eu apaguei. ― Alice apoiou os cotovelos na mesa e escondeu o rosto com as mãos; com os olhos fechados, via apenas a imagem vermelha de horas atrás.
ㅤㅤㅤ― Você não tem medo quando isso acontece? ― Amy perguntou, disparando as palavras rapidamente em uma tentativa de disfarçar seu nervosismo, apenas o deixando mais aparente. ― Eu ficaria apavorada. E agora eu entendo porque às vezes eu falava com você e parecia que você não estava ouvindo.
ㅤㅤㅤ― Amys, saia da minha cabeça. ― Alice suspirou com uma expressão cansada. ― Não preciso de uma terapeuta.
ㅤㅤㅤ― Certo, desculpa... Sobre o que você queria falar?
ㅤㅤㅤApenas perguntas difíceis.
ㅤㅤㅤ― Apenas... Não conte para ninguém, ok? ― Ela pediu em um tom baixo.
ㅤㅤㅤ― Você pode contar comigo, Alice! ― Amy exclamou com os olhos brilhando. ― Pode confiar.
ㅤㅤㅤ― Eu não confio em você desde que roubou o acendedor do meu carro.
ㅤㅤㅤAmy se curvou para pegar a mochila que estava embaixo da mesa, passou uns dois minutos resmungando enquanto vasculhava o interior; Alice viu um bottom preso no bolso da frente que mostrava algum desenho japonês, alguns dias atrás lembra de ter visto aquele mesmo na bolsa de uma garota de sua turma de biologia. A ruiva esticou o braço sobre a mesa com a mão fechada e deu um sorrisinho amarelo para Alice.
ㅤㅤㅤ― Podemos voltar a ser amigas? ― Amy abriu a mão revelando o acendedor roubado.
ㅤㅤㅤ― Vou pensar no seu caso. ― Alice disse pegando o objeto e retribuindo o sorriso.
ㅤㅤㅤ― Por que você tava chorando? ― Perguntou novamente, curiosa.
ㅤㅤㅤLucas...
ㅤㅤㅤLembranças daquele momento eram vividas e deixavam seu corpo tenso, carregado de incertezas junto aos detalhes frescos, desde o tom grosseiro de sua voz até os olhos castanhos vazios. Os olhos azuis escuros estavam inquietos, vasculhando o rosto de Amélia como se a garota trouxesse as respostas necessárias, porém não revelavam nada justamente por saber menos que ela; Eu matei ele, pensou sentindo um nó se fechar em sua garganta e os olhos ficarem quentes, é isso, Amys, eu matei James.
ㅤㅤㅤE, no momento em que abriu a boca procurando palavras para fazer aquela revelação, Alice sentiu o celular vibrar no bolso da calça fazendo-a sobressaltar em sua cadeira. As mãos trêmulas buscaram o aparelho e, olhando o visor iluminado, sentiu o peso em seu peito se dissolver quando viu o nome reluzir na tela apenas para ficar tensa novamente no mesmo segundo. Aquilo não estava certo, estava? Ele estava morto, não estava? Teve medo de atender a ligação e encontrar uma voz deformada do outro lado da linha, sentia medo de facilitar a comunicação com o outro lado, não queria falar com eles.
ㅤㅤㅤ― Onde você está? ― Ele indagou antes mesmo que ela falasse algo, o alívio tomou conta do corpo da garota. A voz dele era carregada de preocupação, no fundo era possível ouvir Bart latindo. ― Alice, meu deus, cadê você?
ㅤㅤㅤ― Estava procurando por você.
ㅤㅤㅤPor quanto tempo eu sonhei?
não esqueçam de favoritar os capítulos que leram e, caso queiram, deixar comentários. gosto de receber o feedback de vocês, significa muito pra mim <3
att, vdek
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