Segunda Folha


Oi diário,

Ainda não acredito que estou fazendo isso. Devo estar mais entediada do que minha consciência tenha notado.

Nada mais é interessante.

Eu poderia estar dando meu primeiro beijo, perdendo minha virgindade ou talvez, simplesmente dançando em algum lugar. Quem sabe, alguma dessas ou qualquer outra forma de distração, seria meu escape para sentir alguma fagulha de paz. Na verdade, para tentar sentir alguma coisa.

Mas, eu simplesmente não os faço. Desânimo me define para tudo.

Quem eu sou? Emy.

E a Emy tinha tudo para ser uma pessoa comum, alguém normal, seja lá o que isso signifique para o mundo. Para mim, seria um sonho de descanso, totalmente diferente da minha realidade que diverge do significado do meu nome: Benção (para quem?); graça divina (então o céu é tedioso?!); protegida (não faço ideia por quem e não é como se eu estivesse bem).

Os meus pais são cristãos e desde que me lembro sempre me levaram a igreja em que congregam. Mas nunca me impuseram sua religião nem o tal Deus a quem servem. E aos meus dezessete anos atualmente, eu e Ele ainda não fomos devidamente apresentados.

Algo bom que essa convivência com a igreja me trouxe, foi a música. Aprendi a tocar instrumentos e meus favoritos são violão, guitarra e bateria ou pelo menos eram, já que não toco há muito tempo. Há uns sete anos para ser exata. Tenho até simpatia com este número.

Minha família é boa e até diria unida. Pelo menos o casal. Não sou de interagir com eles. Eu sei que a reserva de quem sou hoje, nada tem haver com quem já fui. Sei que no fundo eles também sabem que eu não era assim. Entretanto, não fazem nada. Todavia, não os culpo.

Minhas notas no colégio são ótimas e apesar da minha falta de concentração, a raiva junto a pressão que todo estudante sofre me forçam a terminar o ensino médio. O próximo ano será o ultimo e enfim, me verei livre para o que tento não adiantar o pensar.

Eu tenho dois melhores amigos e, sem mentiras eles são os únicos que suportam minhas grosserias. A Kate é tão delicada e fofa que dá inveja. Parece que foi feita de porcelana de tão alva. O que mais me irrita é ela sempre estar de bom humor e sua espontaneidade única que a faz se dá o direito de me abraçar. Fora que tagarela no meu ouvido durante todo tempo que pode. E me incomoda, ela por incontáveis vezes, conseguir me roubar um meio sorriso. Arrgh! Por outro lado, tenho o Noah. Calmo, sincero, carinhoso e um tanto divertido. O que odeio nele é a intensidade nos olhos castanhos. Ele parece discernir e desvendar os sentimentos conflitosos que existem dentro de mim, além de vasculhar a alma mais próxima pela paz que transmite. Ele já foi um membro da igreja que meus pais frequentam. Foi onde nos conhecemos. Não que ele tenha se rebelado. Apenas afastou-se do tal Deus e pelo que sei foi por causa de um problema familiar, mas ele é totalmente fechado para este assunto, ou melhor, eu sou a fechada do grupo e não sei por que eles andam comigo parecendo curtir minha merda de companhia.

Bom, vou indo... A escuridão me chama. 

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