Quarta Folha

Olá, carinha.

Lembra que te disse que merdas iam acontecer? Eu estava certa.

Como sempre, coloquei uma blusa preta de mangas compridas por baixo da camisa do colégio para esconder minhas feridas, a calça jeans obrigatória e meu casaco companheiro também preto, pois não importa se faça frio ou calor, se chove ou deixa de chover. Simplesmente não importa para mim. Sobre a escolha da cor é que o preto é a junção de todas as cores, e como não tenho ânimo nem vontade de escolher, eu uso todas as cores no preto. Arrumei meus cabelos loiros, lisos que vão até minhas costas no mesmo coque habitual com minha franjinha solta e meus óculos de armação vermelha para tentar tampar minha face de quem não dormiu direito.

Tomei café com meus pais normalmente. E como sempre eles tentaram quebrar a barreira que criei. Até gosto de vê-los tentando. Mas, não adianta. Nada adiantaria.

Com minha mochila preta, fornecida pelo colégio, fui em direção ao meu tédio costumeiro: a escola.

Eu não teria nada de mais para contar-lhe se eu não tivesse um deslize.

Durante o intervalo, eu estava na arquibancada da quadra vazia. Sim, vazia. Não sou ninguém mesmo. Era difícil, mas às vezes eu conseguia me esquivar dos meus amigos e eles respeitavam o meu espaço.

Enfim, por conta do suor, os cortes estavam incomodando-me muito. Tirei meu casaco e puxei suas mangas da camisa de baixo para o cotovelo, estava a passar um algodão que trazia comigo no estojo, tirando o excesso de suor que escorria por conta do clima quente e abafado do dia, quando ouvi a voz da Kate:

— Porquê...? - sobressaltei. Merda! Ela viu. Como encará-la? E se ela me julgar e se...? E se? Não conseguia pensar. Tinha medo de pensar.

Simplesmente abaixei as mangas rapidamente, tomando coragem para olhar em sua direção, mas foi inevitável analisar sua expressão. Percebi em seu olhar a preocupação e as interrogações. O clima tencionou.

— Você não entenderia. — eu disse.

— Emy... — ouvi sua voz um tanto chorosa, mas balancei a cabeça negando exageradamente, enquanto guardava as coisas que tinha retirado da mochila e as coloquei de volta, o que a impediu de falar ou perguntar sobre aquilo. Pendurei a mochila nas costas e disse:

— Olha, sua cabeça vai ferver se buscar explicações.

— Somos amigas, Emy. Pode compartilhar seus sentimentos comigo. — eu ri secamente — Estou falando sério! Eu posso te ajudar. — deu passos, se aproximando.

— Kate... Ninguém pode me ajudar. - vi seus olhos encherem de lágrimas e saí dali.

Sei que foi covarde, não a encarei o resto do dia nem a deixei se aproximar de mim. O Noah achou estranho e tentou falar comigo diversas vezes e em todas elas eu o ignorei, fui indiferente até. Mas, não quero que se culpem por algo que é unicamente de minha responsabilidade.

E sei que como sempre, mais uma vez, eu estraguei tudo. E tenho medo de perder tudo o que eu tinha com eles, mesmo sem merecer: A alegria da amizade, apesar de eu quase nunca me entregar e abrir totalmente. Mas, o que eu estou falando? Eu com certeza já perdi tudo.

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