"Fighting"


       — Se eu fosse você não faria isso. — O diabo estava parado de frente para Lara, olhos nos olhos, mas suas palavras eram direccionadas para Andreza cuja mão tinha deslizado até ao telefone quando julgava não estar sendo vista. Se enganou, e as palavras dele se camuflaram numa corrente elétrica que a chocou e fez com que afastasse seus dedos muito antes de tocar no objeto.

— Eu só pretendo trabalhar. — Ela se justificou, endireitando o bonito corpo volumoso. Sabia que a prima tinha pedido que levasse Veludo – que não parava de circular sacudindo a cauda – para a cozinha, mas seu instinto a fez pensar em outra coisa.

— Discordo. — Se a voz dele tivesse cor seria cinzenta como a fumaça das labaredas quentes do inferno, que antes de queimar sufocam todos ao redor, fazendo o ar ficar pesado só para depois os transformar em puras cinzas. — Mas estou muito ocupado agora para elaborar um motivo.

— Faça o que eu disse, Deza. Por favor. — Quando Lara falava, os olhos vazios de Konstantine acompanhavam a forma como os lindos lábios se mexiam devagar e decoravam o queixo que tremia ligeiramente. Por que adorava vê-la naquele estado? Não sabia dizer o quanto aquele temor acariciava seu interior, pois mostrava que ela já tinha tido seus dois lados. O que podia se sentir totalmente segura e o que gerava medo e dúvidas.

— Tudo bem. — Pela forma como apertou os lábios, Andreza não se mostrava satisfeita. Também não era para estar, não diante do cenário que se estendia a sua frente, mas precisava esperar até a mais velha poder lhe explicar tudo o que era necessário para estar em dia com o capítulo daquela novela. Até porque não era justo começar a meio. — Vamos, Veludo!

— Outros trabalhadores podem surgir a qualquer momento. Estão trabalhando e costumam circular. — Lara disse com todo um tacto, não querendo repetir que era melhor irem para a sua sala, pois tinha certeza de já ter sido escutada pelos ouvidos apurados.

Konstantine não esquivou os olhos do rosto dela nem por um segundo, mesmo quando Veludo e Andreza se movimentaram para longe dali. O som da porta da cozinha a fechar teria sido o suficiente para que ficasse satisfeito de poder usufruir daquele momento a sós, mas a da entrada foi aberta de rompante, quebrando seus anseios de forma crua. Prendeu a mão dela quando sentiu que tentava escorregar para longe da sua.

Onde ela pensava que ia?

— Bo-Bom dia! — Martino era alto, tinha um corpo magro sem ser musculado, mas firme o bastante para se destacar. O grande buquê de rosas vermelhas cobria o rosto emoldurado por uma barba bem aparada, mas exibia os fios escuros de seus cabelos sedosos. Parecia bem-disposto, entrando com os sapatos simples que faziam barulho pelo chão brilhante de madeira clara.

— Martino! — Lara engoliu em seco ao vê-lo, no entanto os olhos nada simpáticos do homem obscuro ao seu lado, a examinaram de cima baixo, desde a forma como flexionou as sobrancelhas notáveis no seu singelo rosto redondo, que, diga-se de passagem, ele conhecia muito bem. À maneira como os lábios ousaram inventar um sorriso que jamais se completou.

Ela estava tensa. Muito tensa.

E o Diabo ficou zangado.

— Já experimentou cantar quando estiver falando? Invente uma melodia qualquer e vá entoando. Pelo menos as pessoas se divertem com a sua cara ao invés de aborrecê-las por tentar completar suas palavras demoradas. — Foi brusco, podia sentir que aquele homem já tinha mijado no seu território e não apreciava nem um pouco sequer a ideia de imaginá-los juntos. E, ainda por cima, sua mente era um planeta fértil e infinito que se multiplicava em ramificações sem nunca parar de evoluir.

— E vo-você é? — Martino afastou o buquê para o lado, mostrando a blusa de mangas compridas de algodão com gola alta e os olhos claros que desceram diretamente para as mãos que se uniam bem à sua frente.

— Ainda bem que chegou. — Konstantine deu um passo em frente, puxando o buquê com apenas uma mão e as analisou, apreciando as pétalas vermelhas com pontas levemente esbranquiçadas. — É o rapaz das entregas? Realmente flores completam a nossa comemoração.

— Come... co-comemoração?

— Pare com isso. — Lara finalmente decidiu intervir. — O Martino é o meu sócio igualitário na Bordados & Paixão.

— E ? — O sussurro arrastado era desconfortável, principalmente quando os olhos azuis analisaram o homem parado, de baixo para cima, lentamente. No final balançou a cabeça.

— Você quer falar comigo, Martino? — A Designer não estava confortável e saber disfarçar estava longe de seus talentos naquele momento. — Pode esperar? Estou resolvendo um assunto agora.

— Aproveite e pense num preço para a sua parte das ações da loja. Cubro qualquer proposta. — Konstantine lhe jogou as flores que voaram pelo ar, e o sócio encaixou com um reflexo rápido, mas sem largar a cara de quem não sabia mais o caminho para casa.

Martino meneou a cabeça várias vezes, estreitando os olhos.

— Pre-preço? — Tartamudeou. — Lara, o que está a-acontecendo?

— Falaremos daqui a pouco sim?

— Isso. Agora precisamos resolver assuntos sobre o nosso casamento. Eu estou pensando num bolo de limão, aposto que me inspirei num rosto qualquer. O que acha, Paixão? — Konstantine a puxou suavemente pelo braço, mas seu pescoço virou de súbito e os orbes azuis encontraram a mão grande com um relógio que se fazia parecer caro para quem pertencia a uma classe média e que apertava seu ombro com força, então ele subiu a própria mão livre para agarrar o pulso de Martino em resposta.

Os dois homens se enfrentaram, numa luta silenciosa, mas breve o sócio dela baixou os olhos por não conseguir sustentá-los contra os Antárcticos e retirou a mão lentamente, levantando as duas para o ar, indicando uma trégua que não lhe pertencia. A respiração dele subia e descia quando largou o buquê contra o chão e o pisou antes de lhes dar as costas e empurrar as portas de vidro com força, para fora dali.

— Acho que o seu namoradinho ficou muito chateado.

Lara bufou, desta vez conseguindo se soltar das amarras dele, e andou a pisar o chão com força até abrir a porta do seu escritório. Levou a ponta dos dedos indicadores para coçar as têmporas, sem acreditar que realmente aquilo estava acontecendo. Seus olhos se abriram na totalidade assim que o "clique" da porta a ser fechada por Konstantine se ouviu e pareceu despertar sua alma inteira ao ver a mão grande girar a chaves para os trancar lá dentro.

Ela se livrou do torpor.

— Ninguém pode desmentir que está realmente vivo e que isso é um obviedade que necessito aceitar de uma vez por todas. Está aqui para me proteger e em troca me casarei com você. — Ela expirou o ar pelo nariz, negando ao de leve num gesto lento com a cabeça. — Eu concordei com isso. Irei assinar os papéis, mas por favor, não quero que intimide as pessoas que trabalham comigo. É a mim que quer para poder se vingar, certo?

— Você dormiu com aquele idiota? Há quanto tempo isso dura? — Konstantine tinha a mão apoiada no queixo e as linhas marcadas do rosto apareciam ainda mais por conta do ultraje que parecia sentir. Acompanhou a boca dela se abrir e se fechar.

— O Martino é um amigo.

— As mentiras se entranham entre as verdades. — O Diabo disse, a posição do rosto fazia com que a encarasse de esguelha, soltando nuances claros que num único sorriso irónico se desfazia em afirmações. Era ele o rei das mentiras e as conhecia tão bem, assim como poderia dizer todas as que tinha escutado até então. E, aquela era uma delas. — Me decepciona.

— E daí? Já chegou aqui com raiva e ódio, mais uma ou menos uma decepção não importa. Sequer se interessa em me ouvir.

— Eu irei ouvi-la, mas não sobre o que quer falar. Sei muito bem como suas mentiras conquistam quem as escuta.

— Você disse que tem alguém chamando Angel que quer me matar. — Lara se mostrou prática, tentando ignorar as palavras que a acusavam, mas sem poder se esquivar do olhar afiado que fazia picadinho de sua alma. Tinha repensado e decidido que jamais contaria a verdade para ele, não quando podia ver no que se tinha tornado, um assassino com tanto rancor que o toldava a mente impedido de enxergar o que estava bem na sua frente.

— Aquele Marciano fazia você gozar? — O Diabo deu um passo em frente, frustrado com a ideia de outras mãos terem passado por aquele corpo. — Ele sabe do que você realmente gosta, Paixão? O quanto é uma pervertida?

Ela fechou os olhos involuntariamente quando a mão tocou seu rosto e o polegar escorregou para seus lábios. Quantas vezes tinha desejado um momento como aquele? Mas em todos os seus sonhos, nenhum se parecia tão perto de um pesadelo excitante como estar fechada na sala de seu escritório com o Diabo.

— Insaciável... — Ele sussurrou. O polegar parou em seu queixo, fazendo-a estremecer só pela forma como desceu pela curva do pescoço. Os lábios frios se aproximaram do ouvido dela e a outra mão encaixou a bunda, puxando-a de encontro ao seu corpo forte. — Devo dizer que achei interessante a escolha do seu nome.

— Como pode ver... — Fez uma pausa ao sentir a saia ser levantada até a altura da cintura. Se queria recusar, por que continuava inerte? — Há muitas coisas sobre o passado que se encontram na minha vida em pequenos detalhes.

— Quando me matou, você se esqueceu de se matar dentro de mim... — Ele rodeou a mão para a frente e a escorregou para dentro da calcinha de renda, adorando as meias finas que cobriam as pernas só até metade da coxa.

— Só renasce quem vai ao céu, não é o que dizem? Então como raios voltou do maldito inferno? — Mesmo sem querer, Lara gemeu ao sentir o dedo hábil que a tocou no ponto certo, causando arrepios automáticos que correram por todo corpo. Apoiou as duas mãos nos ombros largos, lembrando de um passado tão distante de quando se amavam dia e noite sem nunca cansar. Feitos um para o outro.

— Esqueça o céu, Lara. Porque é aqui na terra, vivo, que se pode ir para o céu. Enquanto demorar a compreender isso, então viverá um inferno. — Konstantine aprofundou seu dedo dentro dela, não se admirando por encontrá-la molhada quase em automático, pois sempre tinha sido tão receptiva, e tão sua. Só sua. — Eu demorei muito a perceber. Então serei o seu inferno para que também chegue a uma própria conclusão.

Lara quase se sentiu abandonada quando a mão se apartou para longe do seu corpo fragilizado, o coração batendo eufórico pelos sinais que a excitação transmitia para seu sangue. Como era possível que depois de tantos anos, ele ainda conseguisse aceder seu corpo de forma tão fácil? Quase morreu de vergonha.

Konstantine quase não parecia respirar, embriagado pelo cheiro único pelo qual sempre fora viciado. Passou a mão por cima da calça do terno, acalmando seu membro que não se fazia de rogado ao se exibir se empurrando contra o tecido caro. Não importavam os outros, pois, ela era sua.

— Quer consumar antes do casamento? — Perguntou de um jeito sério, antevendo o próximo movimento dela só pelos olhos envergonhados. Empurrou para baixo, com as duas mãos, o tecido preso em sua cintura e ajeitou a peça íntima, escondendo parte do rosto.

— Antes ou depois, tanto faz. — Ela caminhou até se sentar na sua cadeira giratória de couro, puxou a mala que tinha guardado por baixo, na noite anterior, e a pousou em suas coxas, abrindo-a para tirar os papéis. — Sexo para mim, não passa disso, apenas sexo. Pode incendiar meu corpo num único toque e me desconcertar, mas o que realmente quer, não vai achar.

O Diabo estreitou os olhos, se sentindo desafiado ante àquelas palavras. Apertou os lábios e acompanhou a mão que puxou uma caneta Parker para começar a assinar as folhas todas, sem se dignar a ler, talvez porque a vida valia mais que qualquer coisa que ali fosse exigia. Por uns instantes, o semblante dele pareceu uma estátua ganhando vida, mas não demorou o tempo suficiente para que a Designer o visse.

— O que eu realmente quero é que sinta a dor que eu senti. E não falo da física, nada do que me aconteceu depois se compara, nem por um milésimo, ao que senti quando me apunhalou pelas costas. Eu teria dado minha vida por você sem hesitar, Paixão, juro que teria. Era só ter me contado se a sua estava em causa e nunca deixaria que tirassem um único fio do seu cabelo. Antes, eu preferia ser dividido em dois. — A voz num sussurro quase cortante parecia carregar o inverno de North Folk para aquela sala. — Você escolheu me fragmentar em mil pedaços, mesmo sabendo que cada um deles era seu.

Os olhos dela se iluminaram pelos cantos, mas permaneceu de lábios apertados e não se moveu um milímetro quando Konstantine se debruçou sobre a mesa para levar o contrato. Analisou cada assinatura até a última página, concordando num silêncio interno.

— Caçarei Angel até aos confins do mundo. — Garantiu, sem lhe dizer que protegê-la foi uma promessa quando ainda era um jovem passional, mas que mesmo assim cumpriria até o dia de sua morte. — Trate da Igreja, do vestido e da recepção. Não poupe esforços para organizar a maior festa do ano.

— Pode ser em Fevereiro?

Ele piscou.

— Três meses? Está com falta de ar no cérebro? — Ele caminhou com toda elegância até a porta. — Uma semana e basta. Não vejo a hora de... eu iria dizer foder, mas como somos oficialmente noivos, achei por bem ser um pouco mais romântico. Que tal me fundir a você? Bem melhor, não é?

Uma semana?

— E não esqueça... — Konstantine abriu a porta. — Bolo de limão.

Seu coração de destrancou ao mesmo tempo em que a mão máscula girou a chave para abrir a porta e sair sem olhar para trás, levando toda intensidade consigo e toda sala pareceu se encher de ar novamente. Lara respirou profundamente, seus pulmões voltando a funcionar devidamente e apoiou a cabeça nas próprias mãos. No que estou metida?

Mais uma vez a morte batia sua porta. E ele a socorria.

— Paixão? — Andreza espreitou.

— Não agora, por favor.

— Justice Fuertes está aqui, diz que não vai sem falar com você.

— Era só o que me faltava! — Ela bateu com a mão na mesa, chamando atenção da prima que a conhecia por nunca dispensar trabalho mesmo quando estava exausta. — Deixe entrar.

Se ajeitou na cadeira, verificando a roupa que trajava e pressionou os lábios para ter certeza que o batom ainda estava intacto. Pelo menos por fora continuava tão ilesa em relação ao seu interior que fervilhava de um jeito descomunal. Uma luta selvagem acontecia na arena do seu peito.

Se levantou quando a cliente entrou, afobada, e lhe estendeu a mão para um aperto.

— Sente-se. — Apontou para a cadeira, tarde demais, pois a noiva já estava acomodada. A preocupação era como uma nova tatuagem fixa em seu rosto jovem, nem precisava ser um bom avaliador para perceber. — Eu desenhei outro vestido, não se preocupe que meus profissionais irão tratar de tudo.

— Eu não quero me casar. Por favor me ajude. — Justice se inclinou num desespero absoluto e puxou as mãos da Designer. — Senhorita Paixão, meu pai é um político influente e quer que eu me case com o deputado Trevor Davidson. Minha mãe sabe que eu não gosto de homens, mas diz que é apenas uma assinatura para a formalidade. Mas o noivo não sabe e por isso estou dando em louca. Estou travando uma luta pessoal sem fim.

Lara franziu, se perguntando em que momento é que tinham atravessado o lado profissional para o confessionário? Piscou algumas vezes, se remexendo na cadeira e procurou o que dizer, sem querer soar muito óbvia.

— Não se case. Quem a pode obrigar? Não é mais nenhuma criança.

— É por isso que detesto tanto todos os vestidos, porque estou colocando para o casamento errado. Não tenho mais com quem falar e, a senhorita Paixão é a que mais esteve próxima todo estes meses. — Justice trajava um conjunto caríssimo de joias que se destacavam na clavícula descoberta pelo corte redondo do vestido Chanel de pregas e rosado, em contraste com as botas douradas e o casaco felpudo que a cobria numa elegância exagerada.

Eu?

— Não gaste seu tempo fazendo mais nenhum vestido. Estou fugindo da cidade com a mulher que eu amo. — Parecia ter acabado de decidir aquilo na hora, mostrando como sempre o quanto era impulsiva quando não estava recebendo ordens. Justice se levantou. — Eu devia ter feito isso há mais tempo.

— Senhorita Fuertes...

— Muito obrigada. — Ela soltou um suspiro. — Seus serviços serão totalmente pagos não se preocupe. Eu agora preciso ir!

Lara arregalou os olhos ao vê-la se levantar num pulo, a cliente estava ansiosa e provavelmente em stress iminente por causa da pressão do casamento e das indecisões que viviam em permanência na sua cabeça.

— Sente-se por favor. Vou lhe oferecer um chá e...

— Até mais. — A noiva em fuga sequer a esperou, saindo disparada para fora da sala, deixando a Designer indignada por aquela interrupção abrupta. Quando pensava que já tinha lidado com um louco, então aparecia outro. Contudo, sabia bem que a juventude podia ter seus ímpetos.

Mas então, parou e pensou no vestido que estava na sala de provas e que possuía mais de mil pérolas na cauda. Tinha sido concebido por inteiro com suas ideias, mas quem sabe se, inconscientemente não o tinha feito para si.


Booom diaaa Diabinhas.

Como estão? Esperoo que estejam gostando da históriaaaaaaa. As coisas começam a aquecer.

Dica: Tudo. Todas as acções aqui não são aleatórias e terão reações. Leiam com atenção, nomes, pessoas e gestos. Sim? Uhauhauahua. Até a fuga da Justice vai dar rolo!!!

E então? Lara e Konstantine têm química? Hum?

Sei que estão ansiosas para o passadoooooooo... kkkkk não se preocupem. No próximo capítulo é capaz de ter, não sei. É que começo escrevendo e escrevendo e quando vejo já é um capítulo loooongo demais. Ihihihi.

BeijosBem Quentes!!

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