"Blood"

             Charles deu um passo em frente, os olhos azulados se destacavam pela inexpressividade perante o pai que se encontrava possesso. Moveu os lábios devagar, não conseguindo imaginar o que aconteceria se encontrassem aquela que escondia na cabana do falecido noivo da senhorita Pool.

— Eu também vou. Irei verificar nas montanhas — decidiu embebido de praticidade, seu rosto ainda jovial era uma bomba enigmática quase sempre a um passo de explodir diante daquele grande homem que se virou lentamente para o encarar com desprezo.

— Já não esteve fora toda noite, Konstantine? Não é você que não se importa com o que possa ter acontecido com Credence? — Deu um passo em frente, intimidando o filho que não se moveu, nem mesmo quando Veludo deixou um rosnar baixo. — Vá limpar os currais e alimentar os animais. Eu irei pessoalmente pelo mar e Jack pelas montanhas.

— Sim senhor.

Mardok se afastou da porta e caminhou até a mesa para apanhar uma de suas caçadeiras, calçou as luvas e colocou um grande chapéu de frio sob a cabeça de cabelos tão revoltos quanto os do filho que o fitava com atenção. Cuspiu para o chão, antes de deixar a casa junto de Jack que o aguardava do lado de fora. Charles continuou de dentes cerrados, não conseguindo compreender ainda de onde vinha o medo que começava a sentir, e se esgueirou em direção ao quarto, mas antes parou para ver a mãe que estava sentada num banco de madeira e gemia baixo enquanto mexia uma panela velha e amolgada nas laterais com marcas escuras por baixo.

— Bom dia.

— Charles. — Ela não se diferenciava muito daquela cozinha decadente que tinha o chão partido e as paredes encardidas com gordura. A mesa de madeira tinha um pedaço de papel por baixo de uma das pernas retas deselegantes, com o fim de poder calçá-la para que não se desequilibrasse. Os armários sem porta revelavam a loiça entulhada uma por cima da outra e as janelas fechadas tinham cortinados amarelados com renda na bainha que eram mais velhos que o próprio rapaz que desviou os olhos ao ver a mãe que lhe sorriu sem um dente da frente.

Diziam que tinha sido uma mulher muito bonita, os cabelos dourados e fartos ainda eram um reflexo disso, assim como os grandes olhos azuis. No entanto, o filho não se lembrava de alguma vez tê-la visto senão naquelas condições deploráveis, de corpo tão magro e ossudo, e marcas escuras por baixo dos orbes. O nariz torto confirmava que já tinha sido partido quantas vezes fosse possível.

— Como está? — Ele perguntou mais frio do que gostaria. Muitas vezes se tinha perguntado por que não abandonava o pai e ia embora dali com ele, para bem longe de North Folk. Já tinha escutado histórias de que Mardok a tinha tomado a força quando ainda era uma jovem, obrigando-a a se fazer sua mulher.

— Um pouco cansada. — Suspirou. — Estou fazendo sopa de abóbora, sua favorita e, tem papas de aveia que guardei para que comesse quando voltasse.

Ele assentiu, ainda atento no estremecer do corpo dela mesmo que estivesse tão perto do fogo e envolta num grande casaco de pele de urso. Estava pálida e provavelmente doente, as erupções que surgiam na testa e no pescoço eram um sinal claro disso.

— Obrigado. Preciso trabalhar. — Charles costumava se culpar de vez em quando por ter se tornado tão distante daquela que lhe tinha colocado no mundo, gostava de poder abraçá-la mais vezes e dizer palavras calorosas, mas não conseguia. O facto de ela não reagir a nada do terror doméstico que vivia, era o que mais o desnorteava. Ao mesmo tempo que, se talvez ainda não tinha se aventurado para longe dali, fosse por causa dela. — Mãe?

— Sim, meu querido?

— Tem algum casaco que já não use? Meias e calças?

— Sabe que não tenho muita coisa. — Jessy se lamentou. — Mas posso verificar. É importante?

— Sim. — Só se deu conta disso ao responder. Andou até a mesa onde um prato de plástico cobria a papa já fria, sentou-se e começou a comer. Não sem antes despejar metade para a tigela de metal de Veludo que rápido se aproximou para saborear junto de seu dono. Ele engolia cada colherada – que apesar de fria estava saborosa – sabendo que o estômago agradeceria, mas em nenhum momento deixou de imaginar o que seu pai faria se encontrasse Adla. Estava de mãos atadas e temia o pior.

— Então encontraram muita gente?

— Não.

— Deus disse que devemos amar a todos como iguais. — Jessy gemeu no lugar e virou o rosto para tossir. Meneou a cabeça. — Como é que essas pessoas conseguem louvar a Deus aos domingos sabendo que... Charles?

— Mãe?

— Não vai comentar com o seu pai sobre o que penso disso, pois não?

— Jamais.

— Bom menino. Pode ligar a rádio?

— Claro. — Terminou de comer e apanhou seu prato e o de Veludo para lavar na parte de trás da casa onde tinham bacias com água gelada. Assim que terminou, voltou a entrar na cozinha quente e procurou o rádio velho que era castanho claro na caixa e escuro na base. Puxou a longa antena para o alto e rodou os pequenos botões prateados de um lado para o outro até sincronizar em alguma frequência que tocava um som contagiante de country contemporâneo.

Deixou-a sozinha a murmurar alguns trechos da melodia conhecida e foi até ao fundo do único corredor que tinha na casa, abrindo a porta do quarto pequeno com paredes descascadas e uma cama velha com base de madeira e um colchão gasto que estava mais fundo no centro. Tinha algumas caixas com jornais antigos que costumava ler e colecionar, uma mesa com uma Bíblia de capa preta ainda bem conservada, um armário com peças de roupas antigas e desbotadas, salve uma e outra que ainda estavam novas e eram usadas em ocasiões especiais. Finalmente deixou a mochila, trocou a roupa para umas calças com suspensórios e camisa de um tom mais escuro, e saiu para cumprir os seus afazeres diários. Talvez a única forma que podia encontrar para ocupar seus pensamentos.

Apesar da casa onde morava ser pequena, seu pai tinha a maior extensão de terra de North Folk. Ninguém sabia em que altura ou como é que se tinha tornado dono daqueles hectares, muitos eram os arrendatários que ocupavam espaços mesmo a meio a tanta necessidade, e comentavam que Mardok escondia uma grande fortuna algures. Charles apanhou a pá enferrujada e suas botas afundaram na neve enquanto caminhava para o curral já a sentir o cheiro de porcaria ao de longe. Àquela hora da manhã não costumava ser tão fria como ao anoitecer, e o trabalho braçal ajudava a aquecer o corpo magro, enquanto alimentava os porcos e as galinhas, cuidava dos vitelos e da grande vaca que lhes dava leite fresco. Carregou baldes e baldes de fezes para deitar e esfregou o lugar com alguma água.

Era quase fim de tarde quando terminou tudo, então foi se lavar ignorando o corpo que reclamou da água fria. Passou sabão nos braços e na cabeça, libertando o cheiro que parecia ter se entranhado dentro de suas veias. Konstantine tinha crescido e vivido ali, mas sempre sentiu que não pertencia àquele lugar, principalmente quando seus olhos corriam as notícias sobre empresários ricos e alguns hábitos de luxo que muito bem se encaixariam nele. Gostava de se imaginar vestido de um terno confortável e a dirigir uma daquelas viaturas incríveis que todos anos eram lançadas.

Veludo que corria atrás de pequenos pássaros que se atreviam a pousar no grande quintal com longas cercas de madeira, ladrou alto, fazendo com que o seu dono levantasse o rosto ainda a escorrer água para que visse a jovem que carregava um cesto com cenouras e pepinos, se aproximar. Era baixa, com a cara redonda com bochechas encarnadas. Os cabelos castanhos estavam bem presos, mas alguns fios escapavam de suas têmporas e dançavam enroscados até aos ombros. Tinha uma boca relativamente grande, assim como o sorriso de dentição como chicletes. Usava um vestido de algodão com mangas compridas e botas escuras.

— Olá. — Se aproximou a passar a língua pelos lábios ressequidos e pousou o cesto no chão. — Fiquei preocupada com você.

— Por quê? — Charles passou as mãos no cabelo e no rosto para tirar o excesso de água que corria pelo torso pálido.

— Soube que estava fazendo patrulha com o desgraçado do Credence. Não dormi a noite inteira, rezando por você.

— Obrigado, Mary — agradeceu apanhando a camisa que tinha usado e a mergulhou no balde que usara para se lavar. Teria feito o mesmo com as calças, se ela não estivesse ali o encarando com os olhos iguais dois berlindes brilhantes.

— Estou livre agora... — Ela balbuciou. A mão pousou no pescoço e depois desceu um pouco até ao busto, num gesto que parecia ser inocente, mas revelava todas as intenções. Olhou para os lados antes de se aproximar, se encostando no corpo molhado que estava arrepiado por conta das gotas frias.

— Eu não... — murmurou em resposta, mas engoliu em seco quando a mão dela deslizou para dentro de suas calças folgadas que estavam seguras pelos suspensórios. Apertou-o com um sorriso malicioso e deitou um olhar para a pequena casa de oficinas que estava um pouco afastada.

— Vamos lá, Charles... — retorquiu, aproximando os lábios do pescoço dele e lhe passou a língua até ao lóbulo da orelha. Ele apertou os seios pequenos que cabiam nas duas mãos, mas quando fechou os olhos ao se deliciar com a excitação, não conseguiu evitar se lembrar do machado que se enterrou na cabeça de Credence.

Recuou.

— O que foi? — Mary ergueu o sobrolho. Fazia algum tempo que se encontravam, e até onde sabia ou procurava saber, ele não se envolvia com mais ninguém naquela pequena cidade. Pelo contrário, as meninas o achavam antipático demais. Inclusive, já tinha começado a bordar o enxoval porque esperava que lhe fizesse o pedido em breve.

— Eu não estou a... — A frase direta foi cortada a meio quando ouviram urros que vinham do outro lado. Gritos de homens e cães que ladravam alto, fazendo Veludo se agitar ao responder.

O coração dele subiu para a garganta, fazendo com que corresse até a porta de trás da casa onde sua mãe já se encontrava em pé a ajeitar uma de suas camisas a qual lhe entregou logo que o viu atravessar o lugar e vestir enquanto seguia em frente. O cão veio atrás e depois a sorridente Mary que acenou para ela. Todos passaram pela sala apertada e abriram a porta principal para ver os homens que arrastavam uma mulher por uma corda que estava apertava nos punhos de pele escura.

— Apanhamos uma! Apanhamos uma!

Charles não conseguiu respirar, descendo entre a multidão que seguia até a pequena praça, empurrando os homens com os cotovelos e parou ao avistar a mulher que era colocada de joelhos contra a neve fria. Apertou os olhos, tentando compreender a angústia mesclada de alívio quando descobriu que era mais velha e tinha tranças que apesar de serem estranhas para os seus olhos, eram bonitas. Ela não chorava, estava toda machucada, mas olhava cada um deles nos olhos sem nunca baixar a cabeça. Uma criança de quase nove anos apanhou uma pedra e arremessou contra a cabeça da mulher negra, fazendo um filete de sangue escorrer a meio das risadas dos demais.

A bile subiu pela garganta dele ao ver o pai que tomou rédea da situação, dando dois passos até a prisioneira e lhe apontando a espingarda bem no meio da testa, diante de todos que quisessem ver. Na grande roda estavam desde velhos a crianças, e só Charles parecia estar em choque pela cena que decorria.

— Imunda... — Mardok trincou os dentes e ficou furioso quando a mulher proferiu alguma coisa na própria língua e cuspiu nos pés dele, dando uma risada em seguida e levando a mão para um colar que balançava junto ao peito. — Filha da puta!

Charles teria saído dali, não fosse ter reconhecido o rosto de traços similares. As sobrancelhas destacadas e os olhos bonitos, muito se parecia com...

— [...] Adla... — Foi a última coisa que a mulher balbuciou, mais para si do que para que a escutassem, mas que ele facilmente identificou na leitura labial por estar atento a todas suas feições. Saiu dali no mesmo instante, atordoado por uma culpa que não lhe competia e por ter ficado a assistir, e não viu, mas ouviu o som do tiro que fez os corvos se dispersarem pelo ar.

Passou pelas duas mulheres que estavam paradas na porta de sua casa, correu até ao quarto e apanhou a mochila, voltando para a cozinha para encher água na garrafa e serviu sopa para uma vasilha de plástico, fechando-a com cuidado. As mãos estavam pálidas quando embrulhou um pão e arrumou tudo com cuidado.

— O que está fazendo? — Jessy surgiu, se apoiando na parede e tossiu mais um pouco.

— Preciso sair.

— Espere.

Charles viu a mãe desaparecer da porta e aproveitou para ir ao quarto colocar uma roupa mais adequada para poder se embrenhar pela floresta. Observou que precisava de luvas novas quando as colocou, mas tudo o que fez foi terminar de se arrumar e apanhar o seu machado.

— Aqui. — A mãe trazia um casaco grande e limpo, com algumas peças dobradas lá dentro. Não perguntou nada, apenas colocou dentro de uma sacola e entregou para o filho. — Tome cuidado. — Tossiu.

— Tomarei.

— Venha comer antes de sair.

— Eu levei comida.

— Essa é para depois.

Ele olhou para o relógio velho com o vidro partido, sabendo que ainda faltava algum tempo até dar seis horas da noite, então concordou em ir até a cozinha e deixou que a mãe lhe desse um prato de sopa e um pedaço de carne que dividiu com Veludo. Seu pai fazia questão de salientar que não alimentaria o animal doméstico e que cabia ao filho arranjar uma forma de o fazer, nem que para isso tivesse que dividir as próprias refeições. Jessy ficou a vê-lo beber diretamente da tigela, sem usar colher, e limpar a boca com o braço quando terminou. Alguma coisa o incomodava e desejou não saber o quê. Já não bastava o problema que tinham dentro daquela casa! Preferiu pensar que talvez só quisesse estar sozinho.

— Vamos, Veludo! — Charles chamou, não conseguindo esconder a impaciência, e saltou do banco. Acenou para a mãe que lhe retribuiu com um sorriso cansado, e deixou a casa de olhos abertos e desconfiados. Não demorou a compreender por que Mary não o tinha seguido, e viu algumas mulheres que espreitavam curiosas o corpo negro largado na neve tingida de vermelho. Também se aproximou quando todas finalmente dispersaram, deixando a mulher pela rua sem se importar em tirá-la dali. Concordou que era parecida com Adla sim e puxou o colar que tinha um dente de marfim como pingente. Espreitou para ver se ninguém o estava a ver e fechou os olhos dela. Depois se afastou, sem voltar a olhar duas vezes, e correu pelo lado oposto. Nem o peso que carregava pareceu ser o suficiente para detê-lo.

Enquanto caminhava entre os trilhos da floresta gélida, não deixava de se questionar como iria olhar para aquela que se escondia na sua cabana sem lembrar da mulher que seu pai tinha assassinado a sangue frio como diversão dos demais? Seria a mãe? Também sabia que precisava de um plano a longo prazo para mantê-la segura o suficiente até arranjar uma solução para quem sabe conseguir tirá-la de North Folk.

Por que se importava?

Um coelho deu um salto e se escondeu entre os arbustos, mas uma raposa branca cruzou o caminho com rapidez e o seguiu pela mata a dentro. Veludo latiu.

— Shhh... — Charles pediu.

O vento se mostrava cada vez mais cortante a medida em que se afastavam ainda mais da pequena cidade. Subindo os trilhos densos e oblíquos, dificultando como sempre que a caminhada fosse mais flexível. Dali de cima e nos espaços que separavam os troncos, dava para ver o mar lá em baixo e os homens que circulavam nas beiradas a espera das próximas vítimas. Era uma situação ultrajante e tudo o que podia pensar era que deveria denunciar para as autoridades da capital. Mas como chegar até lá?

Suspendeu a respiração e apertou os passos ao avistar a cabana triangular. O céu já estava arroxeado, e Veludo foi o primeiro a correr até lá. Ele subiu os degraus perigosos por causa das tábuas soltas e finalmente empurrou a porta, receoso por temer que algo de errado tivesse acontecido. Estava escuro, ainda mais naquele lugar que era coberto por árvores que pouco facilitavam a entrada de luz.

— Adla? — Chamou, os olhos azuis intensos rondaram o lugar e se estacaram ao escutar um soluço. Desceu o machado que se encontrava pendurado no ombro e deu um passo lento pelo chão de madeira precário. — Adla!

Ela estava encostada num canto, segurava o relógio de ferro nas mãos como se fosse sua própria vida, suas roupas rasgadas denunciavam alguma luta, assim como a panela no chão e a xícara partida. Estendido perto de seus pés, um homem estava inerte e sangue escorria formando uma poça. Chorou quando o viu se aproximar.

— Shhhh... Sou eu. Charles. — Disse deixando cair a mochila aos pés e procurou um isqueiro para identificar melhor quem era que estava ali. Reconheceu Jack que tinha saído com seu pai naquela manhã, e ao descer a luz pelo corpo, viu que estava com a braguilha aberta.

Sentiu raiva.

Txarles?

— Ele te magoou? — Perguntou, espreitando-a melhor para ver se sangrava, mas tudo o que viu foi a marca de dedos que enfeitava o rosto bonito, mostrando que levara uma bofetada muito forte.

Xeis? — Ela olhou para o relógio em sua mão avermelhada, também estava sujo de sangue, e soltou um suspiro antes de o deixar cair contra o chão e começar a chorar copiosamente. Aflita demais para conseguir se sentir aliviada.

— Sim... São seis. — Se agachou diante dela e fitou os olhos que despejavam rios de lágrimas. Ela se lamentou ao meio do choro, tentando explicar na língua que Charles não conseguiu interpretar, mas era fácil de perceber o que tinha acontecido. — Está tudo bem agora. — Levantou o dedo polegar. — Bem.

— Bem. — Ela repetiu e imitou o gesto, erguendo o dedo grande.

Ele confirmou com a cabeça e puxou o corpo de Jack para fora dali, deixando um trilho de sangue – que daria trabalho para limpar – e que escorria deixando marcas serpentinas pela neve branca. Contornou a cabana e procurou por uma pá, começando a cavar um buraco fundo o suficiente para esconder pelo menos por aquela noite. Precisaria de petróleo para o queimar no dia seguinte, pois o gelo poderia manter o corpo mais conservado do que era necessário. Não deixou de pensar na ironia da vida, afinal seu pai tinha tirado uma vida que provavelmente era importante para ela e agora era o pupilo Jack que tinha partido desta para melhor.

Logo que terminou entrou na cabana para acender a lareira, guardando na mente que pela manhã precisava cortar mais madeira. O lugar se iluminou, e ele arrumou a cama e pousou a sacola que sua mãe lhe tinha dado. Apanhou a panela, e limpou o relógio com água, antes de apanhar um balde sem pegas e voltar a sair para colocar neve dentro até ao topo. Veludo o seguia para dentro e para fora todas as vezes, e finalmente sossegou quando o dono colocou o balde perto do fogo.

— Roupa. — Apontou para a sacola e ela ainda sentada o olhou com desconfiança. — Roupa — repetiu e puxou o próprio casaco com as pontas do indicador e do polegar, para exemplificar.

Ela se levantou, timidamente e tropeçou duas a três vezes antes de se aproximar para abrir. Tirou um casaco grande, um agasalho menor, calças e meias de lã. Olhou para Charles e depois para aquilo, antes de baixar os olhos para o vestido cheio de sangue. Não o olhou quando puxou a roupa por cima da cabeça, deixando que fosse ao chão, e deu um pulo para trás quando o viu se levantar em toda sua estatura.

— Bem? — Adla perguntou, cruzando os braços no peito grande.

— Bem. — Charles apanhou o vestido, voltando até ao balde e mergulhou no gelo derretido. Torceu o tecido com experiência e caminhou até ela para limpar as mãos sujas de sangue, o pescoço e o rosto. Ela estremecia, experimentando o estranho contacto do tecido frio nas mãos quentes e sua barriga subia e descia com rapidez. Quando terminou, ajudou-a a colocar as calças quentes e o agasalho, deixando para que usasse as meias sozinha.

Antes de se afastar para limpar o chão, ele desceu a mão para dentro do bolso do casaco e puxou o colar com um dente de marfim, levantando-o na altura dos olhos escuros que voltaram a se transformar num mar de lágrimas.

— Bem?

— Não. — Ele negou com a cabeça.

Booooa tarde/Dia diabinhas.... Ontem não teve capítulo, mas cá estou novamente para compensar o atraso. Então, de volta ao passado né? Muita coisa de ruim aconteceu lá atrás, por isso esses dois estão todos fodidos no presente. Mas não se preocupem, tiveram momentos lindos também e menos crus como esses.

Próximo capítulo estaremos de novo no presente e continuaremos com o desenrolar do mistério. Me contem o que acham que vai dar essa confusão toda? Não dá para esconder por muito tempo, pois não?

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