XXXII
Seu pai estava lendo um livro em voz alta para ela. Fazia uma voz para cada personagem, divertindo-a bastante. Lembrou-se da sua infância quando ele fazia a mesma coisa quase todas as noites antes dela dormir. Amélie não tinha palavras para agradecer ao pai por estar com ela naquele momento em que se sentia tão vulnerável.
Heinz havia viajado para Hamburgo com Adam, para resolver algumas questões. Ele não queria deixá-la, mas Amélie não podia deixar que Heinz privasse suas obrigações por causa dela. Heinz tinha partido com certo receio, mas bastou ela dar um sorriso e sua benção, ele partiu mais tranquilo.
— Prestou atenção, querida? — ouviu a voz do seu pai alegre.
— Não, papa. — apoiou a cabeça na mão. — Estava pensando em Heinz.
— Ele chegará em breve, Hamburgo não fica tão longe.
— Fica sim, papa. — sorriu.
— Ninguém consegue enganá-la. — fechou o livro e beijou a cabeça dela.
— Ninguém.
— Como está se sentindo?
— Desconfortável. Não me recordo da gravidez de Ferdinand ser dessa forma, essa em compensação deixa-me completamente sem disposição para nada. — passou a mão pela enorme barriga. — Espero que seja uma menina, para eu poder pentear os lindos cabelos.
— E se for um menino, não vai pentear o cabelo dele?
— Ora, papa, sim! — começou a rir.
Amélie abraçou o pai e colocou a cabeça sobre o peito dele para escutar seu coração. Sempre fazia isso quando queria se acalmar, as batidas do coração do seu pai era como uma prova que tudo ficaria bem. Talvez fosse o enorme amor e carinho que ele transparecia sobre ela, não saberia explicar, mas era mais ou menos dessa forma.
— Hofburg nunca mais foi a mesma coisa sem você.
— Sentiu falta das minhas crises, papa? — brincou.
— Seria estranho se eu dissesse que sim? Porque ao menos eu estaria perto de você, cuidando de perto, observando tudo. Agora que estou longe, fico sabendo das coisas por cartas, telegramas. Fico angustiado, sem poder fazer nada.
— Estou sendo bem cuidada, não se preocupe.
— Eu sei, basta ver você para saber disso.
— Por que decidiu vir para cá tão repentinamente, sem ao menos comunicar minha mãe?
— Porque foi uma ideia que surgiu quando eu estava sozinho caminhando, assim como fiz com você uma vez. Lembra-se?
— Jamais me esquecerei dos momentos que passei ao seu lado.
Amélie sentiu uma dor e apertou a mão do pai.
— O que está sentindo?
— Dor. — apertou ainda mais a mão do pai. — Meu Deus, como dói. — levantou-se do sofá devagar.
— Está entrando em trabalho de parto. — Peter a pegou no colo e a levou para a cama. — Ainda é cedo para essa criança nascer!
— Eu sei! — mordeu o lábio com força, que sangrou.
Seu pai saiu correndo do quarto, enquanto Amélie se esticou o suficiente para tocar a campainha dos empregados. A cada contração, gritava de dor, estava sendo insuportável. A parteira e o médico entraram no quarto completamente afobados. As empregadas começaram a trazer diversas toalhas e bacias com água.
Algumas horas se passaram, e a dor aumentava cada vez mais. Em alguns momentos desejava dormir, porque estava se tornando insuportável ficar acordada.
— Quando vier a próxima contração, vossa majestade faz força.
Amélie confirmou com a cabeça.
A contração veio mais forte que nunca, e ela fez toda força que podia.
— Estou vendo a cabeça. — a parteira deu um sorriso. — Vamos, mais uma vez.
Então ela juntou todas as forças que lhe restavam.
Ouviu o choro do seu filho depois de alguns minutos, e conseguiu dar um sorriso mínimo.
— É um menino! — uma das empregadas falou com alegria.
A parteira passou a mão pela barriga dela.
— Existe outra criança.
— Gêmeos? — Amélie perguntou assustada.
Sentiu outra contração, e sem a parteira pedir, ela fez força.
— Essa criança veio mais rápido que o irmão. Mais um pouco de força, majestade.
Amélie fez, e mais um bebê foi para o colo da parteira.
— Uma menina.
— Tragam eles para eu ver. — Amélie começou a chorar.
Colocaram os bebês cada um de um lado, para ela ter uma visão melhor.
— São tão lindos. — lágrimas começaram a descer por seu rosto. — Tão lindos... — sua voz começou a falhar.
— Ela está tendo uma hemorragia! — gritou o médico.
— Oh, não! — a parteira começou a massagear a barriga dela.
Amélie não sabia o que estava acontecendo, apenas conseguia ouvir vozes bem longe. Sentia-se fraca, exaurida por causa do esforço que havia feito para colocar dois filhos no mundo. Ela queria apenas dormir e descansar, seu corpo implorava por isso.
— Majestade, não feche os olhos.
— Estou com sono.
— Por favor, se esforce para não dormir.
— Sr. Schneider, simplesmente não consigo manter meus olhos abertos.
— A hemorragia está deixando ela fraca.
— Não podemos fazer mais nada, doutor. — a parteira disse. — Apenas esperar que nada de ruim aconteça a ela.
— Oh, ela não pode morrer.
— Peço a Deus que não leve nossa amada kaiserin, mas se for de sua vontade, nada poderemos fazer.
Então Amélie percebeu que poderia morrer a qualquer instante, qualquer coisa que ela tivesse, a estava matando lentamente. Mas não poderia partir antes de ver pela última vez Heinz.
❈
Heinz saiu de Hamburgo assim que foi possível. Para não atrasar sua viagem de volta a Berlim, resolveu voltar a cavalo. Sabia que seria uma viagem bem mais cansativa e dolorida, mas não queria ficar mais nenhum minuto longe de Amélie; não sabia o que o destino tinha reservado para eles.
Desde que Amélie lhe contou sobre a gravidez, o medo lhe torturou todos os dias. Estava feliz por ter um novo filho, mas estava triste em pensar que havia uma possibilidade de ela morrer durante o processo. Sabia que muitas mulheres morriam nos partos, por isso seu medo cresceu ainda mais.
Quando chegou no palácio, um guarda veio correndo em sua direção.
— Majestade, a kaiserin deu à luz a duas crianças.
— Como assim? — entregou as rédeas do cavalo para ele. — Ainda não era o momento certo para ela ter os bebês.
— Corra, majestade, ela não está bem.
Heinz saiu correndo para dentro do palácio com toda velocidade. Precisava chegar no quarto imediatamente para vê-la, não gostaria nem de imaginar se chegasse lá e Amélie já estivesse morta.
Quando finalmente chegou na porta do quarto, abriu completamente atordoado e com falta de ar. Amélie estava deitada, completamente pálida, com os olhos abertos. Aproximou-se mais, e percebeu que continham lágrimas.
— Amélie, meine Liebe.
— Você chegou. — sua voz saiu fraca.
— Sim, eu cheguei. Para ficar ao seu lado, mais uma vez.
— É um menino e uma menina. Gêmeos, veja que surpresa mais agradável. — tossiu.
— Uma ótima surpresa. — passou a mão pelo rosto dela, que ardia em febre. — O que está sentindo?
— Dor, muita dor.
Heinz começou a chorar, quando ela passou os dedos nas lágrimas dele.
— Caso eu parta desse mundo para outro lugar, jamais me esquecerei de você. Meu amor, meu eterno amor, fez-me tantas coisas boas, que jamais terei palavras para agradecer. Espero que eu tenha sido no mínimo tudo o que você significa para mim.
— Não me fale essas coisas.
— Eu apenas não quero morrer sem dizer que eu amo você. Amo muito, muito.
Ele deu um beijo nela e voltou a olhar nos olhos dela.
— Eu também amo você, minha Amélie. — fechou os olhos e encostou sua testa na dela. — Meu eterno e único amor, jamais haverá outra pessoa que substitua o seu lugar, porque você é única para mim.
Quando terminou de falar, não sentiu a respiração de Amélie. Seus olhos estavam abertos, mas sem vida. Seu corpo estava imóvel, ainda mais pálido. Estava morta, como se estivesse apenas esperando pela chegada dele.
Heinz deu um grito gutural abraçado ao corpo de Amélie.
— Não, não, não. — as lágrimas desciam cada vez mais por seu rosto. — Não me deixe, Amélie, por favor, não me deixe. Por favor, por favor.
— Meu filho... — a mão da sua mãe estava em seu ombro.
— Deixe-me sozinho! — gritou. — Deixe-me sozinho. — largou o corpo de Amélie e caiu no chão chorando.
Não aceitava a morte dela de forma alguma. A dor que sentia era tão insuportável que sentia vontade arrancar o próprio coração. Estava sendo o pior momento da sua vida, a pior coisa que poderia ter acontecido com ele.
— Meu filho, sinta a sua dor. — Susi abraçou o filho. — Eu sei o quanto amava essa mulher, e também sei o quanto ela amava você. Nada vai apagar as boas lembranças que viveram juntos, Amélie estará eternamente em seu coração, ninguém será capaz de apagá-la de sua memória.
Heinz chorava como uma criança no colo da mãe.
Aquele era o adeus mais longo e doloroso da sua vida.
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