XXXI
Amélie caminhava com Ferdinand e Rachel pelo jardim calmamente. Estavam aproveitando o dia de sol, pois apesar de ser verão, estava chovendo bastante. Seu filho estava andando com sua ajuda, ria quando tropeçava em alguma pedra, fazendo-a rir também.
Dois anos haviam se passado, e a felicidade de ter tido aquela criança aumentava a cada dia. Ferdinand dava-lhe tanto orgulho, mesmo sendo tão pequeno, que podia apenas agradecer a Deus por ter lhe dado aquele presente. Quanto mais ele crescia, mais se parecia com Heinz. Ele só havia herdado dela os cabelos, o restante era tudo igual a Heinz.
— Mama. — Ferdinand puxou a saia do seu vestido.
— Sim, meine Liebe?
— Podemos comer? — olhos azuis dele brilharam.
— Sim, meu querido. — sorriu. — Rachel, tudo está pronto?
— Sim! Também estou faminta!
— Sempre está com fome. — Amélie revirou os olhos.
— Estou grávida, Amélie. — a empurrou levemente.
— Sim, eu sei. — colocou o braço sobre o ombro dela. — Minha afilhada nascerá em dois meses, certo?
— Certo. Mas como pode ter tanta certeza que será uma menina?
— Ah, porque eu desejo muito que seja uma menina.
— Você sendo você. — revirou os olhos. — Bem, deveria achar aquela vidente para mim, porque poderíamos ter certeza das suas convicções.
— Acho que nunca mais irei encontrar aquela senhora. Só espero que Ferdinand seja realmente amado como ela disse.
— Como não amar essa criança linda?
— Crianças crescem, Rachel. — colocou Ferdinand sentado em uma cadeira, e depois se sentou. — E ele será kaiser.
— Como se eu não soubesse disso. — Rachel serviu-se de suco. — Adoro quando eles fazem tortas de frutas vermelhas. — começou a cortar um pedaço. — As melhores são feitas aqui.
Amélie começou a rir e também se serviu com um copo de suco.
— São realmente muito boas. Mas não estou sentindo muita fome hoje, o estômago embrulhado.
Rachel olhou para ela com curiosidade.
— Há quanto tempo está sem suas regras?
Amélie engasgou com o suco.
— Isso é algo natural, Amélie.
— Ferdinand está aqui.
— Está distraído com Frieda. — apontou o menino brincando com a empregada. — Diga-me, quanto tempo?
— Dois meses. Mas isso é comum...
— Não é comum! No máximo alguns dias, você já tem dois meses. Está grávida, Amélie.
— Isso não pode acontecer, Rachel. Deve ser alguma outra coisa.
— Está com o estômago embrulhado, assim como eu estive no começo da minha gravidez. Todas essas evidências, não pode ser outra coisa.
— Estive grávida, Rachel, se não esqueceu. Desmaiei na frente de todos em pleno baile de casamento. — ficou ruborizada. — Fora que não podíamos contar o motivo do desmaio.
— Jamais, imagine se descobrissem que o kaiser e a kaiserin...
— Rachel!
— Está bem, isso não é realmente bom em se falar na frente da criança. — olhou para a empregada. — Frieda, leve o arquiduque para passear.
— Ele mal comeu, Rachel. — Amélie protestou.
— Então o leve para o quarto e dê o lanche dele.
— Sim, vossa graça. — Frieda fez uma mesura e pegou Ferdinand no colo. — Com sua licença, majestade.
Fez um gesto positivo com a cabeça e Frieda levou Ferdinand.
— Não posso ter mais filhos, Rachel. — colocou as mãos na cabeça. — Não posso de forma alguma.
— Faz dois anos que o médico deu aquele diagnóstico, não significa que não pode ter mais filhos.
— Continuo doente, nada mudou.
— Sim, eu sei. — Rachel relaxou a postura. — Sua crise da semana passada foi muito pesada.
— Nem me lembre disso. — virou o rosto, para não mostrar as lágrimas nos olhos.
— Não queria deixá-la assim.
— Não se preocupe.
Lembrar do medo que havia sentido naquele dia era sempre angustiador; preocupava-se tanto em deixar seu pequeno filho sem mãe, porque poderiam obrigar Heinz a se casar novamente, e não saberia se a madrasta seria boa com ele. Todos esses pensamentos a atormentava dia após dia.
— Odeio quando fica calada. Pior, quando fica pensativa. Conheço todos os seus demônios, Amélie.
— Conhece.
— Principalmente a principal.
— Esqueça Eugenie, Rachel. — Amélie conseguiu dar um pequeno sorriso.
— Jamais. — colocou um pedaço de torta na boca com raiva.
— Às vezes nem lembro que Eugenie existe.
— Melhor coisa que faz em sua vida. Possui coisas bem mais importantes para serem lembradas.
— Preciso conversar com um médico.
— A insuportável da Hertha vai comunicar a arquiduquesa, que falará com Heinz.
— Se estiver certa, eu darei a notícia a ele. Somente eu estarei apta para comunicá-lo sobre isso. — respirou fundo. — Heinz vai se sentir culpado.
— Oh, eu imagino que sim. Mas, fique tranquila, as coisas darão certo.
— Seu positivismo me acalma tanto, Rachel. — colocou a mão sobre a dela. — Obrigada por permanecer ao meu lado até hoje.
— Como eu posso deixar minha kaiserin? Meu Deus, o quanto eu me diverti com você esses anos. Meu exemplo de força, jamais conheci alguém como você.
— Sempre gentil. — seus olhos ficaram marejados novamente.
— Merece minha completa admiração e gentileza, Amélie. Nunca deixou seu título influenciar em nada, isso é tão raro quanto um sorriso da arquiduquesa.
Amélie e Rachel começaram a gargalhar.
— Falando sério, quer que eu fale com o médico?
— Sim, quero vê-lo ainda hoje.
— Caso seja verdade que esteja grávida...
— Será um misto de sentimentos, pois eu sempre quis ter mais filhos. Porém, a insegurança vai rodear essa gravidez.
— Tenho fé que dará tudo certo.
— Tenho fé, Rachel, nunca a perdi, sabe disso.
— Sim. — bebeu mais um pouco de suco.
Amélie sorriu e ficou observando sua amiga comer.
❈
Rachel estava certa em suas afirmações: estava grávida. O médico havia confirmado com alegria, mas também havia preocupação em sua voz. Ele sabia os riscos, assim como ela, e isso tornava as coisas bastante difíceis. O maior problema seria contar para Heinz.
Enquanto andava em direção ao gabinete dele, pensou em diversas maneiras de comunicá-lo que teriam mais um filho. Estava completamente nervosa, porque não queria falhar de forma alguma na frente dele, poderia desestabilizá-lo de maneira exorbitante.
Quando chegou em frente a porta secreta que dava para o gabinete dele, respirou fundo e entrou.
Heinz estava debruçado sobre a mesa, parecia estar cochilando; não era a primeira vez que pegava ele daquela forma. Ficou observando por alguns segundos, até se aproximar o suficiente.
— Heinz. — passou a mão nos cabelos dele.
Ele levantou a cabeça rápido por causa do susto. Depois deu um largo sorriso ao vê-la.
— Meine Liebe, que surpresa agradável.
— Estava dormindo mais uma vez sobre a mesa? Isso não vai lhe fazer bem.
— O sono me venceu dessa vez. — bocejou. — Por que está com esses trajes? Vai dormir tão cedo?
— Estive com o médico.
— O que está sentindo? — perguntou preocupado.
— Querido...
Respirou fundo antes de continuar e olhou nos olhos dele.
— Estou grávida.
Heinz ficou com a boca aberta por alguns segundos. Seus olhos se moviam de maneira bastante rápida, deixando Amélie ainda mais apreensiva. Ele colocou as mãos no rosto e começou a chorar.
— Acalme-se, Heinz. — sua voz saiu embargada.
— Isso é culpa minha.
— Não, não é.
— Oh, Amélie, é sim.
— Não pense dessa forma.
Heinz agarrou o corpo dela com força chorando.
— Eu tenho medo de perdê-la.
— Não vai me perder, eu prometo.
Mas ela sabia que não podia prometer aquilo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top