XXI
Não existia sentimento pior do que aquela vulnerabilidade que estava sentindo. Como era difícil ver Amélie deitada naquela cama completamente dopada com remédios. Sua respiração estava calma, seu peito descia e subia tranquilamente; os pulmões estavam comportados.
Sua tia estava sentada olhando para Amélie com atenção e receio. Mas sabia que sentia culpa, porque tinha sido sua filha mais velha que havia provocado aquilo. Jamais pensou que a ambição de Eugenie chegaria ao ponto de deixar a própria irmã passar mal.
Anika conversava murmurando com uma das damas de Amélie. A dama estava aparentemente furiosa, deveriam estar falando de Eugenie. Tinha certeza, que se pudesse, faria alguma coisa contra a arquiduquesa austríaca.
— Deveriam castigá-la. — a dama disse alto suficiente para todos do quarto ouvirem, principalmente a kaiserin. — Como pode uma irmã causar isso? Sabe o que é isso, Anika? Sangue ruim.
Heinz quis rir, mas não achou apropriado. Magda olhou assustada para a dama, enquanto Anika gargalhava com as falas da moça, ela estava realmente irritada com toda situação; ele também estava, mas não podia manifestar da mesma forma que ela.
— Majestade. — seu secretário fez uma referência. — O senhor tem uma reunião com os ministros em meia hora. Deseja que eu cancele a reunião?
— Não. — caminhou até Anika. — Quando ela acordar, sem os remédios, me comunique.
— Sim, majestade.
Heinz voltou-se para a dama de companhia.
— Qual o seu nome mesmo?
— Rachel, majestade.
— Concordo que ela tenha um sangue ruim. — disse olhando para a tia. — Mas não é somente ela, a criação também ajuda. Preciso ir, até breve.
Saiu do quarto acompanhado do secretário. Estava cansado, não tinha dormido a noite preocupado com a noiva. O médico recomendou que até o casamento, Amélie deveria passar um tempo em algum lugar quente, para melhorar seu estado de saúde. Pensou em diversos lugares juntamente com Peter, optaram por Corfu, uma ilha grega no mar Egeu. Era um lugar que todo mundo falava bem; um lugar paradisíaco. Ficaria triste ao tê-la tão longe, mas como era para o bem dela, aguentaria a saudade. Poderiam trocar cartas durante a recuperação dela.
— Lembre-me, com que vai ser a reunião?
— Com o duque Löhnhoff, majestade.
— Isso não me soa bem.
— Ele parecia bastante feliz, majestade.
— Bom, assim me alegro depois de um dia preocupante.
— Sim, majestade.
Andaram até o gabinete com rapidez, Heinz não queria perder muito tempo longe de Amélie quando ela mais precisava da companhia dele. Provavelmente ela acordaria com os grandes olhos azuis da mãe sobre ela, e não se sentiria bem, já que estavam instáveis em relação uma com a outra.
O duque estava sentado, quando o viu, levantou-se e fez uma reverência.
— Majestade.
— Bom dia, . Espero que me traga boas notícias.
Indicou a cadeira para o ministro sentar, e sentou-se logo depois.
— A Espanha finalmente rendeu-se.
— Não consigo acreditar. — cruzou os braços e encostou-se na cadeira. — Tem certeza?
— Absoluta! — entregou um documento para Heinz ler. — Queremos negociar um acordo de paz entre os dois países.
— Acho muito suspeito.
— Vossa majestade desconfia das intenções do rei espanhol?
— Sim, desconfio. Ele tomou essa decisão de maneira muito repentina, não confio nesse rei. Por isso, peço que dobrem a segurança em nossas fronteiras. Lembre-se dos gregos com os troianos.
— Farei isso, majestade. Perdoe-me se agi dessa forma.
Heinz devolveu o documento para o ministro.
— Não precisa do meu perdão, eu entendo perfeitamente que um acordo de paz seria a melhor coisa no momento, porém, não se confia em inimigos tão facilmente.
— Errei em minha função, deveria ter farejado melhor essa situação.
— Acalme-se. — levantou-se, e andou até uma mesa com bebidas. — Aceita beber algo?
— Um conhaque, majestade.
O kaiser serviu em dois copos o conhaque e levou até a mesa.
— Se o senhor me permite, soube que haverá um noivado em breve. Wankel estava redigindo o contrato de casamento entre vossa majestade e sua alteza, Amélie. Como eu estava no escritório dele, acabei vendo. Perdoe-me se fui intrometido.
— O senhor se preocupa demais ao falar comigo, apenas fique calmo. — sorriu. — Sim, irei me casar com Amélie.
— Fico bastante feliz que em breve teremos uma kaiserin.
— Não se importa em ela ser doente?
— Bem, se ela faz o senhor feliz, quem sou eu para lhe dizer algo? A coroa tira tantas coisas do monarca, o amor principalmente, com esses malditos casamentos arranjados. Então, majestade, seja feliz.
— Obrigado, Löhnhoff.
Seu secretário entrou no quarto e fez uma reverência.
— Majestade, a enfermeira de sua alteza imperial, Amélie, pediu para lhe comunicar que a arquiduquesa despertou e está bem.
Heinz respirou aliviado.
— O que aconteceu com ela?
— Brigou com a irmã, esforçou-se demais, acabou acontecendo uma das crises de ar dela.
— Fico feliz que ela já esteja bem.
— Não sabe o quão isso acalma meu coração. Tenho necessidade em vê-la bem, sorrindo, sendo teimosa. Ah, estou verdadeiramente apaixonado por ela, não consigo mais enxergar meu futuro sem Amélie estar ao meu lado.
— Tenho o mesmo sentimento por minha senhora.
— Considero um casal modelo a ser seguido.
— É o amor que nos faz sermos o que somos. Além do respeito, carinho, atenção, compreensão, tudo isso é essencial para um relacionamento. Depois chegam os filhos, tudo muda. Conselho para você e sua noiva: Não deixem seus filhos somente sendo criado por babás.
— Algum problema com elas?
— As crianças precisam da presença dos pais.
— Compreendo. — bebeu o resto do líquido do copo. — O senhor poderia me dar licença, quero vê-la.
— Claro, majestade.
— Traga-me notícias o mais rápido que puder.
— Sim. — levantou-se da cadeira e fez uma reverência.
— O levarei até a porta.
Andaram até a porta, que foi aberta pelos guardas que estavam na porta.
Löhnhoff seguiu para direita, enquanto Heinz seguiu para a esquerda, ansioso para rever Amélie.
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Amélie acordou com o pulmão ainda pesado. Sua boca estava seca, precisava beber um copo d'água imediatamente. Passou a mão pela boca, também estava seca. Começou a se encostar na cabeceira da cama, quando sentiu duas mãos ajeitando seu travesseiro, para depois ajudá-la a ficar em uma postura melhor. Pensou que tinha sido Anika, ou uma das suas damas, mas era sua mãe.
Estava abatida, com olheiras marcadas, o cabelo desgrenhado, vestia um dos seus poucos vestidos simples. Em sua frente estava a mãe que tanto admirou um dia, não aquela mãe egoísta que fazia tudo somente para agradar somente uma filha.
— Mãe.
— Amélie, como está se sentindo?
— Bem. A senhora não dormiu?
— Um pouco.
— Cadê papa?
— Teve que voltar para a Áustria com seus irmãos. Eles não queriam ir, mas o dever chamou.
— Claro. — sorriu, queria seu pai ao seu lado, ele sempre falava alguma coisa engraçada ou amorosa.
— Eugenie também foi com ele.
— Fico feliz por isso. — engoliu em seco.
— Enquanto estava adormecida por conta dos remédios, o médico recomendou que até seu casamento, deverá ir para algum lugar mais quente, por causa dos seus pulmões. Seu pai e seu noivo decidiram por Corfu, uma ilha grega.
— Quando partirei? — perguntou empolgada, sempre quis conhecer uma ilha grega.
— Assim que se sentir melhor.
— Perfeito.
— Não ficará triste por ficar longe do seu noivo?
— Claro, mas vamos nos ver tão brevemente, que nem vamos nos dar conta da distância.
— Certo. Vou me encontrar com minha irmã, dizer que está melhor.
Amélie assentiu e se esticou para pegar a garrafa com água. A kaiserin correu em seu auxílio e colocou a água em um copo para ela.
— Precisava apenas pedir, Amélie. Ainda sou sua mãe, devo-lhe cuidados.
Apenas bebeu a água do copo, e nada respondeu.
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