XVII
Seus olhos não saiam de Amélie e seu irmão dançando por aquele salão. Estava tão enraivado, que já tinha perdido a conta de quantas taças de champanhe havia tomado. Estava começando a se sentir tonto, mas também estava com vontade de fazer alguma besteira.
Resmungou um palavrão e pegou outra taça de champanhe na bandeja de um garçom que passava.
— Está ficando bêbado. — Heidi aproximou-se dele. — Pare com isso imediatamente.
— Não manda em mim, Heidi. — respondeu rudemente.
— Eu sei muito bem disso, Heinz. Mas estão comentando o seu excesso com a bebida.
— Eu realmente não me importo.
— Vamos dançar?
— Quero ir embora daqui.
— A ceia não começou, nem a entrega dos presentes...
— Os meus estão assinados e destinados a cada um de vocês. — sua cabeça começou a doer. — Não preciso continuar aqui para continuar.
— Pare de ser tão grosso! Vamos dançar, por favor.
— Somente essa valsa.
— Bom, agora me entregue essa taça. — tomou a taça da mão dele rapidamente e colocou em cima da mesa.
Heinz conduziu sua irmã até o meio do salão e começaram a dançar a valsa que a orquestra tocava no momento. A cada rodopio, sua dor na cabeça aumentava ainda mais. Estava rezando para a valsa acabar, mas sabia que ainda faltava muito para terminá-la, e não iria deixar sua irmã no meio de uma dança.
— Heinz, parece que irá sucumbir a qualquer momento. Não deseja parar?
— Não, vamos continuar. — colocou suas mãos na cintura dela e a levantou.
— Está pálido.
— Bebi demais, não estou acostumado.
— Por que mergulhou no champanhe?
— Aconteceu algumas coisas antes de eu vir para cá. Estou chateado, magoado e desnorteado. Parece que fui atingido de forma precisa no coração e na cabeça. — riu com escárnio. — Acho que eu mereci tudo o que aconteceu.
— Do que está falando exatamente?
— Esqueça o que eu disse. — a valsa havia acabado.
— Não...
— Não há ninguém me observando, vou sair daqui. Ajude-me.
— Isso é errado, Heinz.
— Estar aqui é errado. Estou me sentindo sufocado em estar na presença de Amélie.
— O que aconteceu? — sua irmã segurou seu braço quando ele estava saindo.
— Nada. — tirou o braço da mão de Heidi.
Heinz saiu apressado em direção a porta, porém, sua tia Magda surgiu em sua frente tão rápido, que ele não sabia da onde ela tinha surgido. Apesar de estar embriagado, notou que a kaiserin austríaca estava com a expressão desconfiada. Tentou sorrir para ela, mas o máximo que conseguiu foi uma careta.
— Querido Heinz, peço-lhe perdão antes de fazer esta pergunta.
— Oh, faça a pergunta.
— Ouvi sua conversa com Heidi. Por que Amélie está lhe sufocando?
Heinz abriu e fechou a boca várias vezes, pensando no que responderia.
— Temo que eu possa ter falado outra coisa, não sobre Amélie.
— Tenho certeza que ouvi o nome Amélie. — disse com convicção.
— E eu lhe digo, devo ter falado outra coisa.
— Heinz...
— Basta.
Heinz saiu de perto da tia antes que ela conseguisse todas as informações que queria. Os guardas abriram a porta para ele, que saiu mais apressado do que nunca para o lugar onde podia se esconder sem ninguém para achá-lo, com exceção de Amélie.
Amélie.
Aquele nome estava rondando sua cabeça sem parar, parecia que era sua sombra. Começou a chorar como nunca mais havia chorado, desde a morte do seu pai. E aquilo parecia tão infantil para ele, mas não conseguiu se conter. Amélie tinha conseguido arrebatá-lo de forma precisa e certeira, como nenhuma outra mulher havia conseguido. Heinz não se importava com a grave doença pulmonar dela, ou se ela não poderia lhe dar herdeiros. Queria apenas ter ela ao seu lado até que a morte os separasse.
Passou as mãos pelo cabelo, bagunçando-os, apressando ainda mais seus passos para chegar onde queria. As lágrimas desciam sem parar, algumas vezes passava a mão para enxugá-las, mas, outras surgiam.
Abriu a porta e fechou assim que entrou. Andou até o velho piano do seu pai e sentou-se no banco almofadado. Começou a procurar uma partitura que lhe desse a vontade de tocar até o dia amanhecer, e acabou optando por Für Elise.
Abriu a tampa do piano e colocou seus pés sobre o pedal. Começou a dedilhar as notas pelas teclas, que considerava suas velhas amigas. O piano sempre o confortava, não importava o momento em que ele se encontrava.
Desejou que o piano também fosse capaz de curar a dor que sentia no coração.
❈
O seu natal havia sido estranho, chato e constrangedor. Depois que Heinz saiu daquele salão como um furacão e não deu satisfação a ninguém, o clima no ambiente ficou pesado e desconfortável. Porém, o que a deixou mais curiosa foi sua mãe ter ido ao encontro dele, e depois não deu nenhuma satisfação para eles do que tinha perguntado a ele. Amélie não deixou de notar os olhares da sua mãe em sua direção de maneira desconfiada e curiosa. O resto da noite foi o belo jantar e as entregas de presente.
Estava com uma enorme preguiça de acordar, desejava ficar naquela cama o resto do dia sem ser incomodada por ninguém; coisa impossível demais de acontecer com ela.
Abriu seus olhos. As cortinas estavam abertas, o fogo crepitava em sua lareira e sentada perto da sua mesa estava sua mãe. Suas mãos estavam entrelaçadas sobre a mesa, sua expressão estava furiosa e os lábios estavam franzidos.
— Mama, bom dia.
— Amélie, ontem à noite algo me surpreendeu bastante.
Amélie sentou-se na cama e encostou a cabeça na cabeceira curiosa.
— Ouvi o kaiser mencionar que se sentia sufocado ao estar perto de você. Fiquei claramente curiosa e fui perguntar a ele o motivo disso. — sua expressão se fechou mais ainda. — Ele saiu furioso e não me respondeu.
— Bem, desconheço as razões dele. — engoliu em seco.
— Não, não desconhece. — puxou seu diário do colo.
— O que a senhora está fazendo com o meu diário? — levantou-se da cama rapidamente.
— Eu sabia que eu encontraria minhas respostas em seu diário, sempre escreve seus sentimentos ou situações. É amante do kaiser.
— Eu não sou amante de Heinz! — vociferou.
— Estavam se encontrando escondidos... — colocou a mão na cabeça. — Se beijaram! Não sei nem se fizeram algo mais!
— Respeite-me! Sabe que jamais faria nada indecoroso!
— Estou abismada com suas atitudes Amélie! Completamente abismada. — levantou-se da cadeira. — Eugenie ficará arrasada quando souber que a própria irmã a estava traindo!
— Traindo como? — vociferou. — Heinz não sente absolutamente nada por ela! Ele ama a mim, por eu ser quem eu sou! — pegou o diário em cima da mesa. — Estou completamente invadida e decepcionada com a senhora, mãe.
— Eu que estou completamente decepcionada com você, Amélie.
Amélie sentiu as lágrimas descendo por seu rosto. Estava tão decepcionada, acima de tudo triste pelo o que a mãe havia feito com ela. Ter seu diário lido por outra pessoa, sem ser ela. Estava sendo julgada por amar alguém.
— Não. A senhora está dessa forma porque não aceita que alguém goste de mim. Eugenie sempre foi sua preferida, todos sabem disso. É tão certo quanto minhas crises de pulmão.
— É doente sua criança inconsequente! Acha que poderia dar um herdeiro para o kaiser? — riu com desdém.
Cada palavra que sua mãe disse foi como uma facada. Não compreendia sua crueldade. Andou até a lareira e lançou seu diário ao fogo.
Todas as palavras que existiram ali um dia, estavam sendo apagadas pelo fogo.
— Saia daqui.
— Irei sair, mas não porque está mandando. Comece a organizar suas coisas juntamente com suas damas. Irá para longe daqui.
Quando sua mãe saiu do quarto, desabou no chão e começou a chorar.
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