XV

Como o natal estava próximo, Heinz resolveu ir pessoalmente ao centro de Berlim para comprar um presente especial para Amélie. Jamais permitiria que outra pessoa comprasse algo para ela em seu lugar, pois ele a conhecia.

Depois do dia em que se beijaram pela primeira vez, eles voltaram a se encontrar todos os dias no mesmo lugar. Conversavam sobre o dia deles, os problemas com a família, alegrias, e sobre música.

Amélie era especial de todas as maneiras. Ele jamais pensou que fosse se apaixonar por alguém tão profundamente, como estava apaixonado por ela. Não era pela beleza rara que ela possuía, e sim, pela a essência dela. Ela reunia todas as coisas boas do mundo. Chegava a compará-la como um dia de sol depois de uma forte tempestade.

Estava na joalheria do senhor Romberg escolhendo joias para sua mãe, irmã, tia, prima e Amélie. Ele conhecia os gostos extravagantes de todas elas, sabia que quanto mais pedras o colar tivesse, mais elas iriam gostar. Mas Amélie era diferente de todas elas, sempre colocava joias simples. E quando ocorria de usar algo mais pomposo, sabia que deveria ser algum presente.

— Vossa majestade decidiu-se o que vai querer?

— Infelizmente ainda não achei nada que me lembrasse dela.

— Nunca vi uma mulher não desejar algo pomposo.

— Ela é simplesmente diferente das outras mulheres.

— Estou percebendo. — riu. — Ela é um espírito livre, não é mesmo? Vou buscar algo que guardei em algum lugar. — senhor Romberg coçou a cabeça. — Estou com a cabeça meio desmemoriada ultimamente.

— O senhor ainda é tão novo.

— Eu tenho sessenta e sete anos meu jovem kaiser, a memória começa a ficar meio apagada.

— Não seja exagerado. — riu, pegando a caixa de veludo com o colar de Heidi.

O joalheiro começou abrir diversas gavetas procurando alguma coisa. Heinz encostou-se na cadeira esperando ele procurar o que tanto queria. Parecia que a busca não estava tendo êxito, pois ele pilhava várias caixas de veludo a cada minuto.

— Achei!

Romberg olhou a caixa de veludo vermelho com um brilho nos olhos diferente. Entregou para Heinz com um belo sorriso amarelado no rosto. Ele sabia que aquela joia deveria ter algum valor muito especial para ele.

— Abra, abra. — fez um gesto com a mão.

Heinz abriu a caixa com grande curiosidade. Dentro tinha um colar com uma corrente fina de ouro, com um pingente de pássaro, e duas pequenas pedras de diamante na região dos olhos. Era algo simplesmente simples e bonito. Era o que ele queria.

— Vou lhe contar a história desse colar.

— Gosto de boas histórias.

Romberg deu uma risada fraca, tirou seus óculos redondos, e pousou na mesa com gentileza.

— Tive dois filhos e três filhas. Eu amava todos os meus filhos, mas minha filha Eleonora era diferente. Ela era um espírito livre, diferente de todos os outros irmãos. Ela adorava cavalgar, correr pelos campos da nossa propriedade, escrever poesias... — uma lágrima começou a descer por seu rosto. — Minha esposa ficava praticamente louca com o comportamento dela, mas a amava muito também. Certo dia ela foi brincar sozinha, sem nos avisar, o que foi o pior erro dela. — Romberg começou a chorar. — Ela se perdeu na estrada que dava para Berlim. Um grupo de ladrões estava passando pela estrada...

— Peço-lhe, se isso está afetando o senhor, não precisa contar o restante. — Heinz tomou sua mão.

— Preciso terminar. — fungou. — Eles a raptaram, fizeram coisas terríveis com ela. Minha filha voltou para casa, eu nunca havia me sentido tão feliz em revê-la. Fiquei horrorizado com todas as coisas que fizeram com ela, gostaria de matá-los com minhas próprias mãos, mas eu tinha absoluta certeza que eu nunca mais os veria. Eleonora perdeu todo brilho, toda natureza livre que possuía. Minha filha morreu, mesmo estando viva.

Ele pausou por uns minutos, e Heinz ficava mais triste a cada minuto.

— Por mais que eu tentasse agradá-la, nada surtia efeito sobre ela. Absolutamente nada. Resolvi desenhar esse colar para ela, para tentar alegrá-la. Não pude entregar a ela, pois ela tirou a própria vida.

— Romberg...

— Escute-me Heinz. Esse colar é bastante precioso para mim. Veja que é de uma simplicidade inocente, assim como era minha Eleonora. O pingente do pássaro significa liberdade, como minha filha era, e como sua amada deve ser. — conseguiu dar um pequeno sorriso. — Sei que está apaixonado por esta moça, basta você mencioná-la, para seus olhos ganharem um brilho totalmente diferente.

— Tem absoluta certeza que quer me vender esse colar?

— Não estou lhe vendendo, estou lhe dando. Especificamente para sua amada mulher.

— Não tenho palavras para lhe agradecer, e o quão me sinto honrado em ter merecido sua confiança.

— Vejo em você um bom jovem. Tomou tanta responsabilidade para si com apenas dezoito anos. Ah, Heinz, estou muito feliz em ter alguém usando o colar que foi inspirado na minha amada Eleonora.

— Amélie ficará belíssima com esse colar.

— Amélie? Nome adorável.

— Ela é a arquiduquesa...

— Austríaca, eu sei.

— Acho que todos sabem. Fui um tolo ao pensar que não saberia quem era ela.

— Nunca a vi. Espero vê-la algum dia.

— Verá. A propósito, possui algum anel de noivado?

— Vejo que terei uma nova kaiserin em breve.

— Assim espero Romberg.

Os dois deram uma pequena risada.

Heinz vestiu-se com seu uniforme branco para passar o natal. O dia 24 de dezembro chegou mais rápido do que um vento. Colocou todos os presentes debaixo, com exceção do de Amélie, do enorme pinheiro que estava no salão principal.

Antes de descer para a sala de jantar, resolveu passar no quarto de Amélie para lhe entregar o presente longe dos olhares de todos. Naquele natal seria apenas sua família, e a imperial austríaca; o que ele achava bem mais agradável, pois iria se sentir bem mais à vontade.

A porta dela estava entreaberta, e saia somente a voz dela do quarto. Abriu a porta dela devagar, fechando atrás de si. Ela se virou rapidamente assustada, mas quando o viu, sua expressão se suavizou, dando um enorme sorriso.

Heinz sentiu seu coração acelerar quando ela deu aquele sorriso para ele. Gostaria que o mundo pudesse inteiro pudesse ver aquele belo sorriso, tão sincero e tão puro. Os olhos dela estavam com um brilho tão diferenciado dos outros dias, que ele poderia ficar olhando para o dia inteiro.

— Acho linda a maneira que me olha. — Amélie colocou a mão sobre o rosto dele. — Poderia ficar com você o dia inteiro, que eu não me cansaria.

— Minhas vontades são recíprocas por você.

— Fico feliz por isso. Deseja falar algo comigo antes de irmos? Estamos atrasados.

Ele puxou a caixa de veludo vermelho de dentro do uniforme e entregou para ela, que esbugalhou os olhos de surpresa.

— Heinz...

— Apenas abra.

Amélie abriu a caixa lentamente, e começou admirar o colar.

— Tão simples e delicado. — passou a mão pelo colar. — Não usarei agora, mas amanhã com certeza ele estará em meu pescoço.

— Gostaria que usasse esta noite.

— Não quero perguntas e nem aborrecimentos essa noite, me compreende? — fechou a caixa e colocou sobre a penteadeira. — Bom, eu não poderia deixar de lhe dar nada. — abriu uma gaveta, puxando um enorme envelope. — Não abra na minha frente. — seu rosto ficou ruborizado.

Heinz pegou o envelope da sua mão e colocou no mesmo lugar onde antes estava a caixa de veludo.

— Vou fazer o que me pede, mas não posso negar, estou curioso para saber o que fez para mim. — Heinz beijou sua bochecha corada. — Arquiduquesa Amélie, me daria à honra de acompanhar-me até a sala de jantar?

— Eu que ficaria honrada, vossa majestade.

Amélie envolveu seus braços no pescoço de Heinz.

— Obrigada por esses maravilhosos minutos. Você é um dos meus bens mais preciosos.

— Amélie...

— Cale-se. — sorriu. — Beije-me como eu sei que você deseja.

— Mas não estamos atrasados?

— Você é o kaiser, nunca está atrasado. Eles que estão adiantados.

— E você? — arqueou a sobrancelha, rindo.

— Apenas uma arquiduquesa doente. — sorriu de volta.

— Por favor, não...

Amélie o interrompeu com um beijo que ele tanto desejava.

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