XIV
Nem mesmo em seus maiores sonhos, Amélie poderia imaginar que um dia poderia ser beijada pelo kaiser da Alemanha. Ele era tão gentil e atencioso com ela, que por um momento esqueceu-se de todos os problemas que possuía em sua vida. Ela só queria viver aquele momento como se fosse o último. Nada mais importava para ela, somente aquele beijo.
As mãos de Heinz acariciavam suas costas, e ela se apaixonava a cada segundo por seu toque. O cheiro que exalava dele era tão bom, que ela queria manter seu nariz sobre o pescoço dele. Mas seus lábios não queriam abandonar os deles, que eram tão irresistíveis.
Amélie mergulhou suas mãos nos cabelos de Heinz, fazendo gestos circulares por sua cabeça. Sentiu-o rir durante o beijo, deixando seus lábios descobertos apenas por segundos, até retornar da onde tinha parado.
Jamais tinha imaginado que seria beijada com tanto ardor, desejo e paixão. Se ela pudesse, pintaria um quadro daquele momento e o colocaria em frente a sua cama para poder dormir e acordar observando o quão havia sido bom aquele momento.
— Creio que nossos lábios vão ficar levemente inchados. — Heinz beijou a ponta do nariz de Amélie.
— Ficarão inchados por um bom motivo. — Amélie deu um sorriso satisfeito. — Acho que nunca me senti tão viva em tanto tempo.
Heinz se limitou apenas a lhe retribuir o sorriso e acariciar suas bochechas coradas.
— Falarei com seu papa...
— Ainda não. — Amélie o interrompeu. — Permanecerei no palácio por tempo indeterminado. Podemos nos conhecer melhor a cada dia. — colocou o dedo nos lábios de Heinz quando ele ia falar. — Não estou dizendo que seus sentimentos por mim não são verdadeiros. Jamais diria isso. Mas eu sou insegura sobre tudo e todos. Dê-me um pouco de tempo e verá que estarei mais preparada para aceitar sua proposta. Tudo que nós sentimentos é uma paixão, e eu não sei se isso pode vir a se tornar um amor verdadeiro.
— Parece que você pensa com mais clareza do que eu. — riu e retirou o dedo dela de seus lábios. — Daremos o tempo que for necessário. — Heinz pegou sua mão e beijou lentamente. — Esperarei por você o tempo que for.
— Diante disso tudo que está acontecendo entre nós, preciso lhe fazer uma pergunta.
— Esteja à vontade. — a observou colocar os braços para trás.
Amélie hesitou um pouco antes de falar, e olhou no fundo dos olhos dele.
— Por que eu?
Heinz assumiu uma expressão surpresa, mas logo um sorriso surgiu em seus lábios.
— Porque você é diferente. Não chegou aqui com nenhum objetivo, a não ser melhorar a saúde dos seus pulmões. Também não existe aquela pressão de eu tentar agradá-la o tempo todo, ou chamá-la para dar um passeio pelo palácio. Conversar sobre coisas fúteis, que para muitos devem ser ideais para uma futura kaiserin, que sim, é fundamental, mas não é tudo. — Heinz respirou fundo. — Eu a vi naquele salão de baile tão linda, tão natural, acabei me encantando por você. Claramente que nosso primeiro encontro não foi um dos melhores, mas me mostrou um pouco do que era.
— Minha...
— Esqueça sua doença por um momento. Você é muito mais do que ela. Sempre a suportou com toda força que podia. Seu pulmão pode até lhe impedir de fazer muitas coisas, mas não lhe impede de amar e viver a vida da melhor maneira possível. Por favor, jamais pense que não é capaz de fazer qualquer coisa por isso.
Amélie ficou paralisada por uns segundos até assimilar tudo que ele havia dito. As palavras dele ficaram ecoando em seu interior a todo o momento. Eram palavras confortantes e sinceras. Não houve um resquício de pena, o que a deixou ainda mais feliz.
E tudo que ela fez foi envolver seus braços no corpo dele e apertar com toda força que possuía. Aconchegou sua cabeça no peito dele e ouviu seu coração bater aceleradamente.
— Obrigada.
Heinz pousou uma mão em suas costas e a outra começou fazer um carinho por seu longo cabelo.
— Eu que agradeço.
❇
Quando Amélie voltou para seu quarto, foi bombardeada de perguntas da sua mãe e da sua irmã. Ela apenas ignorou e mentiu dizendo que estava com dor de cabeça e precisava dormir. Pelo rosto de Anika, ela nada havia dito para as duas, o que a deixou bastante satisfeita.
Acordou com Anika abrindo as cortinas e suas damas de companhia andando de um lado para o outro. Levantou-se, encostou-se a cabeceira da cama ainda com sono e bocejando. Esfregou os olhos e começou a pentear os cabelos com a mão.
— Amélie. — sua mãe entrou no quarto.
Amélie fechou os olhos com força e os abriu novamente sem vontade.
— Bom dia mama.
— Por onde esteve ontem?
— Pelo palácio. — revirou os olhos. — Rachel pode preparar meu banho?
— Não há necessidade de tomar banho agora, Amélie.
— Sinto necessidade de tomar banho, mãe.
— O que estava fazendo pelo palácio?
— Explorando. — Amélie se levantou da cama.
— Sem nenhuma das suas damas?
— Elas não nasceram grudadas em mim.
Anika ofereceu para ela uma colher com seu remédio que ela odiava. Tomou sem objeção e fez uma careta feia quando o líquido desceu por sua garganta.
— Odeio quando fica me ignorando, Amélie. Sabe muito bem disso.
— A senhora odeia muitas coisas.
— Sempre com uma resposta na ponta da língua.
Amélie suspirou cansada daquele interrogatório logo pela manhã e se sentou em frente a sua penteadeira. Olha-se no espelho e percebeu que seu rosto está mais descansado. Pega uma escova para escovar seus cabelos devidamente.
— Com quem você estava Amélie?
— Por que a senhora quer tanto saber? — Amélie perguntou frustrada. — Não posso fazer nada que a senhora vem com esses interrogatórios sem fundamentos. Eu não sou mais sua criança doente! — levantou-se enfurecida. — Saia daqui!
— Amélie...
— Saia!
A kaiserin austríaca olhou para a filha por uns segundos para depois sair do quarto com a expressão fechada. Amélie sentou-se na penteadeira novamente e começou a chorar. Annelie colocou a mão em sua cabeça, enquanto Anika, Leni e Rachel apenas ficaram observando.
— Acalma-se Amélie. Não pode ficar nesse estado. — Annelie afagou suas costas.
— Vossa alteza pode ter outra crise se não se acalmar. — Anika disse preocupada.
— Por favor, retirem-se do meu quarto. Preciso ficar sozinha.
Todas fizeram uma pequena reverência e saíram do quarto como ela havia pedido. Abriu a gaveta, pegou seu diário, o tinteiro e uma pena.
16 de dezembro, 1850
Hoje deveria ser um dia em que eu deveria acordar completamente feliz. Na verdade, eu até mesmo tentei que isso acontecesse, mas minha mutter muitas vezes tem o talento de me fazer ficar triste e desnorteada.
Eu odeio simplesmente gritar com as pessoas, ou ser grossa. Porém isso se torna impossível, pois não consigo me conter muitas vezes. Sinto-me invadida por minha mutter, como se eu nada pudesse fazer. Como se eu fosse limitada a tudo. Creio que ela quer que eu pense isso, mas ela está falhando em suas tentativas.
Desde que eu beijei Heinz ontem, sinto-me livre e mais viva. Eu pensava que nunca seria desejada por ninguém, pois me faziam acreditar dessa maneira. Minha mutter sempre tentou disfarçar, muitas vezes até brigava comigo quando eu dizia que ninguém iria casar com uma mulher que vivia dando crises de falta de ar, e que possivelmente não poderia nem gerar um herdeiro para o marido, mas no fundo ela concordava comigo. Muito mais até do que eu podia imaginar.
Eu sempre tentei fingir que não ouvia e não via nada, mas chega um momento em sua vida que tudo é desgastante demais para ser suportado, e você acaba explodindo. Fui sufocada a minha vida inteira, com muitos dizendo que eu não era capaz. E hoje eu sei, sou capaz como qualquer outra pessoa.
Meu papa sempre me motivou quando tinha tempo de ficar comigo, serei eternamente grata a ele. E não só a ele, mas a Heinz também.
Não sei se um dia eu irei amar Heinz devidamente, ou se ele realmente vai me amar um dia. Tudo é muito incerto, o futuro é uma caixinha de surpresa da qual eu tenho muito medo de abrir.
Peço a Deus que ele guie meus caminhos e meu coração da melhor forma possível.
Amélie.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top