XIII
Depois da visita que tinha feito para Amélie, resolveu tirar o resto do seu dia de folga. Não queria ficar confinado no gabinete com milhares de relatórios para ler. Ele sabia que podia atrasar a leitura de alguns documentos, mas definitivamente precisa de um descanso. Necessariamente, precisava se distrair. Porém, algo dentro dele falava para ele chamar Amélie para passearem perto do lago que ficava perto do palácio. Mas ele não sabia se ela já podia sair da cama, então evitou o convite, pois ela era muito teimosa e possuía um espírito rebelde e faria de tudo para ir. Heinz não queria procurar confusão com seus tios, e muito menos com sua mãe, que diria para ele chamar Eugenie para lhe fazer companhia.
Depois de muito pensar em seu quarto, resolveu enfrentar seus temores e saiu em direção ao quarto de Amélie. Queria passar mais momentos ao lado dela. Queria conhecer mais sobre ela. Estar perto dela era um fascínio que ele não conseguia mais esconder. Amélie tinha o poder de acalmá-lo, de fazê-lo esquecer de seus maiores problemas. Nunca havia encontrada uma mulher tão forte e encantadora. Ninguém se comparava a ela. Amélie era única.
Quando chegou a frente da porta do quarto de Amélie, sentiu-se inseguro. Ela poderia estar dormindo, ou até mesmo cansada do que tinha ocorrido com ela mais cedo. Respirou fundo, tomando coragem, deu três batidas na porta.
A enfermeira de Amélie ficou mais uma vez assustado ao vê-lo, fazendo uma reverência desajeitada. Heinz retribuiu com uma vênia e um sorriso discreto.
— Senhorita Anika, Amélie encontra-se acordada?
— Ela está andando pelo quarto refletindo sobre sua crise de mais cedo. Sempre faz isso quando se sente melhor. — mordeu o lábio inferior com força. — Não acho aconselhável vossa majestade vê-la nesse estado.
— Quem está com você, Anika? — Amélie se aproximou de ambos. — Oh, majestade. Não esperava revê-lo tão brevemente. — abriu a porta completamente. — Não estou no meu melhor estado, mas já me viu mais cedo, e eu estava ainda pior.
— Amélie... — Anika a repreendeu.
— Bom, vim convidá-la para um passeio pelo palácio. — colocou seus braços para trás.
— Basta eu trocar de roupa e podemos ir. — Amélie ia saindo, quando Heinz pegou em seu cotovelo.
— Está ótima dessa maneira.
— Não é muito apropriado eu andar pelo palácio com uma camisola e um robe. O que vão pensar de mim, Heinz?
— O importante é está comigo e aceitou meu convite. — Heinz olhou para Anika. — Nenhuma palavra sobre nós, senhorita.
— Claro, majestade. — Anika respondeu gaguejando.
— Ótimo. — Heinz ofereceu o braço para Amélie. — Não traia minha confiança.
Amélie colocou o braço sobre o de Heinz rindo. O barulho da risada dela era algo tão confortante e acolhedor, que passou a ser um dos seus sons preferidos. Tudo no que se referia a aquela arquiduquesa austríaca, o intrigava de certa forma. Jamais sentiu algo tão avassalador por alguém, era algo novo para ele. Estar apaixonado era algo novo.
— Heinz? — a voz dela o despertou de seu devaneio.
— Sim?
— Ouviu alguma coisa do que eu disse agora a pouco?
— Perdoe-me, não.
— Bem, eu disse que foi muito hilário a sua maneira de calar Anika. Com absoluta certeza iria correndo aos aposentos da minha mãe para nos delatar. E com certeza, Eugenie ficaria furiosa comigo.
— Por qual motivo Eugenie ficaria furiosa com você? — perguntou com curiosidade, apesar de desconfiar o motivo.
— Ela gosta de você. Creio que esteja apaixonada. Eu nem deveria estar falando essas coisas.
— Continue.
— Lembra-se do dia em que toquei piano para todas aquelas pessoas?
— Como eu poderia esquecer? Tocou divinamente. — Heinz sorriu para Amélie, deixando-a ruborizada.
— Ela ficou furiosa comigo de uma maneira que eu nunca havia presenciado antes. Sinceramente, eu nunca tinha presenciado Eugenie furiosa ou tendo algum comportamento parecido. Com certeza, foi por sua causa. Ela quer que você preste somente atenção nela.
— Obrigado por esclarecer melhor as coisas para mim. Minha mama quer que eu me case com sua irmã. Deve saber sobre algo, tenho absoluta certeza que minha não quer esconder isso de ninguém. Muito pelo contrário, ela quer que essa notícia se espalhe por toda Europa.
— Diga-me Heinz, o que acha disso tudo?
Aquela pergunta foi totalmente inesperada por ele. Ninguém nunca o perguntou o que ele achava ou o que sentia, simplesmente tinha que aceitar e obedecer às regras da realeza sem protestar, mesmo não concordando muitas vezes com elas. Foi ensinado desde pequeno que teria que se casar não por amor, mas por alianças políticas. Quando era menor, aceitava de bom grado, porém, quando atingiu a fase adulta, começou a pensar diferente. Mas sua mãe sempre o lembrava das suas obrigações.
— Amélie, é a primeira pessoa que me pergunta como me sinto em relação a tudo isso.
— Se tem uma coisa que eu aprendi durante toda a minha vida, é que as pessoas não ligam para os sentimentos alheios. Não importa se a pessoa está magoada, triste, ou amargurada. Os seres humanos querem benefício para si próprio, os que estão ao redor que se danem. — respirou fundo. — Através daquele dia em que toquei piano, e minha irmã ficou furiosa comigo, percebi que ela faria qualquer coisa para me ver longe. Ela não assume, mas tem pena de mim, e me acha um grande fardo.
As palavras de Amélie o atingiram tão fortemente, que teve vontade de abraçá-la no corredor. Ela estava sendo tão sincera sobre seus sentimentos, que ele se sentia na mesma obrigação de ser sincero com ela.
Heinz permaneceu em silêncio e a conduziu para seu lugar preferido no palácio. Ficava perto do seu antigo quarto o cômodo que ele queria levar Amélie. Era o local onde sempre se escondia com seu pai quando era pequeno, quando o antigo kaiser queria esquecer-se de todos os problemas. Ele nunca quis mostrar aquele lugar para ninguém, nem mesmo para seus irmãos. Entretanto, sentia vontade de mostrá-lo para Amélie.
— Ficou tão calado. — deu um sorriso tímido.
— Estava com meus pensamentos em um passado que eu gostava bastante. Do qual eu sinto muita falta.
— Gostaria de saber essas lembranças tão doces.
— Você vai saber.
Heinz abriu a porta, dando passagem para Amélie passar, e entrou logo em seguida, fechando a porta. Andou em direção as cortinas, abrindo cada uma, revelando enormes janelas de vidro. Um belo piano de calda preto estava no fundo da sala, entrando em contraste com as paredes brancas. Havia um grande tapete felpudo, com almofadas espalhadas pelo chão. O cômodo nunca foi muito mobiliado, pois seu pai nunca havia permitido mais do que aquilo. Ele simplesmente gostava da simplicidade quando estava livre de suas funções.
— Um lugar belo, apesar da simplicidade. Adorável, eu diria.
— Venha ver os jardins por aqui. — pegou sua mão e a conduziu para perto da janela. — Observe como tudo daqui aparenta ser mais bonito. Considero aqui um dos melhores lugares do palácio.
Amélie começou a observar tudo calada.
— Eu e meu papa costumávamos ficarmos escondidos do mundo aqui. — riu. — Funcionava sempre. As pessoas ficavam malucas nos procurando, e nunca encontravam. Meu papa tocava muitas músicas naquele piano. — apontou para o final da sala. — Por isso comecei a me apaixonar por música ainda mais. Ele me dizia que o homem não pode viver sem música, é uma parte do nosso ser. Um dos alimentos da alma.
— Gostaria de ter conhecido seu papa.
— Ele teria adorado ter conhecido o que você se tornou, Amélie.
— E o que eu me tornei? — ficou de frente para ele.
— Uma jovem bela, forte e com personalidade ainda mais forte.
— Gostaria de ouvir isso mais vezes. — deu um largo sorriso.
Heinz involuntariamente colocou suas mãos no rosto de Amélie, acariciando suas bochechas, que começaram a ficar ruborizadas. Os olhos dela ganharam um brilho diferente, e ele se sentiu ainda mais atraído por ela. Seus olhos desceram em direção aos seus lábios e ficaram lá por segundos.
— Não posso me conter. — afastou-se dela.
— Não se contenha. — sussurrou.
Amélie não precisou dizer mais nada. Ele se virou, segurando seu rosto mais uma vez, e a beijou. Beijou-a como ele ansiava e desejava há dias, mesmo negando para si mesmo que estava apaixonado por ela. Toda dúvida que ainda lhe restava sobre nutrir algum sentimento por ela, acabavam de ser confirmados com aquele beijo.
Heinz não conseguia mais enxergar um futuro sem Amélie. Precisava dela daquele momento em diante.
Enfrentaria tudo para estar ao lado dela.
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