XII

A biblioteca estava bastante aquecida, a chuva havia cessado um pouco para a alegria de Amélie que pretendia sair. Suas damas conversavam animadamente sobre bailes e vestidos, ela apenas ria ou fazia algum comentário, não gostava de assuntos tão supérfluos. Colocou a cabeça sobre a mão e começou a pensar se tinha sido correto falar dos seus sentimentos para suas damas. Tinha receio que uma delas fosse falar alguma coisa para sua tia, e uma grande confusão surgisse. Eugenie não estava muito bem com ela, e fazia questão de deixar isso bem claro.

Olhou em direção a porta, pois escutou o barulho da maçaneta. Seu pai surgiu com um enorme sorriso no rosto e começou andar na direção dela.

Papa? — levantou-se. — O senhor chegou quando?

— Minha pequena Amélie. — a abraçou fortemente. — Quantas saudades eu senti da minha linda Amélie. — afastou-se. — Cheguei faz algum tempo. Tive que vir buscar sua mãe, se não ela ia permanecer aqui para sempre.

— Nem faz tanto tempo assim. — Amélie riu.

— Talvez, mas para mim foram meses longe dela. Seus irmãos vieram, mas foram atrás da sua mama. — o kaiser olhou para as damas e Amélie acompanhou o olhar do pai.

— Minha tia Susi exigiu que eu tivesse damas de companhia. Elas se chamam Annelie, Leni e Rachel.

— Sua tia como sempre ostentosa. — revirou os olhos. — Senhoritas, podem nos dar licença?

As damas assentiram com a cabeça e fizeram uma reverência antes de saíram. Amélie voltou a se sentar no mesmo lugar de antes, e seu pai se sentou na poltrona onde Leni estava sentada. Seu pai inclinou o corpo para frente e a encarou sorrindo. Amélie retribuiu o sorriso e pegou as mãos enluvadas do pai.

— Como está sendo seus dias aqui?

— Estou gostando de tudo por aqui, por enquanto. Não tenho nenhum problema, tudo está indo bem.

— Alguma crise?

— Apenas uma crise, não muito grave.

— Fico feliz por isso.

— Algo me diz que o senhor quer saber algo mais. — Amélie riu. — Conheço bem o senhor.

— Conhece um pouco. — encostou-se na poltrona e retirou as luvas. — Aprendi desde cedo que eu tinha que estudar a pessoas para tentar saber o caráter dela. Sempre fui muito bom em estudar expressões e o modo da qual a pessoa fala. Bem, posso me orgulhar disso.

— Aonde o senhor quer chegar com isso tudo?

— Amélie, eu devo me preocupar com você em relação à Heinz?

Amélie arregalou os olhos quando seu pai mencionou o nome de Heinz e a maneira como ele falou. Sentiu seu rosto ficar quente e desviou o olhar do pai. Colocou a mão sobre o colo e mordeu o lábio inferior com força.

— Devo. — Peter respirou fundo.

— Não deve papa.

— Como não? Olha sua reação minha filha. Isso me deixa preocupado.

— Não precisa se preocupar. Por Gott, da onde o senhor tirou que eu gosto de Heinz?

— Ele gosta de você. Não sei de que maneira, mas gosta. Ele falou sobre você de maneira tão carinhosa, e os olhos dele brilharam em mencionar seu nome. Ele sabia onde você estava.

— Eu esbarrei com ele no corredor antes de vir para cá.

— Eugenie sabe...

— Não há nada para Eugenie saber. O senhor está imaginando coisas. — Amélie começou a ficar nervosa.

— Não fique nervosa, sabe que não pode.

Amélie começou a sentir uma grande falta de ar. Uma dor se alastrou por todo seu corpo, seu peito queimava por dentro. Seu pai a pegou no colo e saiu correndo da biblioteca. Ela não conseguia observar nada a sua volta, apenas enxergava vultos. Os corredores se tornaram borrões, perdendo toda a beleza que ela havia admirado.

Ouviu seu pai gritando ordens para os guardas abrirem a porta. Sentiu ele a colocando na cama e Anika em cima dela pedindo para ela se acalmar. Amélie tentava assentir, mas não conseguia. A falta de ar havia retornado com força total.

— Amélie, por favor, lembre-se de todos os exercícios ensinados para sua falta de ar. — Anika pegou em sua mão e apertou. — Ela estava tão melhor esses dias. O que causou essa reação? Vossa majestade sabe?

— Culpa minha. — seu pai começou a chorar.

Amélie se sentiu culpada em ver seu pai daquela maneira, e sua garganta começa a se fechar ainda mais. Anika percebeu que ela piorava ainda mais, apertou sua mão ainda mais.

— Majestade chame os médicos o mais rápido possível, ou nossa Amélie morrerá.

Amélie odiava dar crises de falta de ar. Odiava toda preocupação em cima dela. Odiava ser doente. Odiava tudo aquilo com todas as forças. Sempre tentou manter-se firme e feliz, não por ela, mas por seus pais; mas não conseguia. Toda vez que tinha uma crise, sentia-se vulnerável e inválida. Muitas vezes desejava que a morte a levasse o mais breve possível, pois assim não traria mais sofrimento para todos que a cercavam.

Respirou com grande dificuldade, ainda doía tudo por dentro. Seus olhos foram se abrindo lentamente, tentando se adaptar a luz do ambiente, que era bem pouca. Anika estava sentada em uma poltrona lendo um livro, como sempre fazia quando Amélie estava dormindo.

Ouviu uma batida na porta, e fechou os olhos rapidamente. Não queria falar e nem ver ninguém no estado em que se encontrava. Poderia ser seu pai se sentindo culpado, sua mãe com a expressão preocupada ou Eugenie normalmente, pois já estava acostumada com tudo aquilo. Em seu interior, Amélie sentia que Eugenie tinha vergonha de ter uma irmã adoentada, e a cada dia sua teoria ficava forte.

— Vossa majestade. — Anika disse.

— Como ela está? — a voz de Heinz invadiu seus ouvidos.

Amélie sentiu seu coração acelerar rapidamente ao saber que ele estava ali tão perto dela. Queria tanto falar com ele, ou apenas observá-lo. Começou a pensar que a causa de ela estar em uma cama sendo vigiada por Anika, foi por causa de uma conversa relacionada a ele. Involuntariamente, deu um pequeno sorriso.

— Até agora ela não reagiu. Muitas vezes ela nem quer acordar quando passa por uma dessas crises. Amélie sente vergonha disso tudo...

— Oh, ela não deveria sentir vergonha da doença. Existem coisas bem piores, e garanto que pulmões doentes não se encaixam em algo vergonhoso. — pigarreou. — A senhorita poderia me dar uns minutos a sós com ela?

— Sim majestade. Caso...

— Eu a chamarei. Fique tranquila.

Amélie ouviu os passos de Anika se distanciar, até ouvir a porta sendo fechada. Ela estava sozinha com Heinz, o que a deixava feliz e apreensiva ao mesmo tempo. Sentiu um leve arrepio quando ele beijou sua mão.

— Eu sei que ouviu tudo. Também sei que se nega a ver qualquer pessoa. Porém, eu adiei uma reunião importante assim que soube do que havia acontecido com você. Peço-te, abra uma exceção para mim.

Ela deu um sorriso travesso e começou abrir os olhos lentamente.

— Bom, levarei isso como um bom sinal. — pegou sua mão e se ajoelhou ao lado da sua cama. — Como se sente?

— Melhor. — respondeu com dificuldade.

— Estou forçando você demais?

— Não. — Amélie apertou a mão de Heinz. — Minha garganta está seca.

— Quer água?

— Agora não.

— Mas...

— Eu sei o que estou fazendo.

— Se você diz, não irei dizer o contrário.

— É um cavalheiro, Heinz.

— Por eu não discordar de você? — ele riu.

— Exatamente.

— Você é muito interessante Amélie.

— Por que acha isso? — começou a tossir e observou Heinz ficando com a expressão preocupada. — Acalme-se, é normal.

— Claro, não estou acostumado. — sua expressão ficou mais aliviada. — Respondendo a sua pergunta, acho suas atitudes diferentes das outras mulheres das quais eu já estive próximo.

Amélie sentiu um pequeno ciúme surgir em seu coração, mas deixou de lado aquele sentimento.

— Um pouco diferente.

— Isso faz toda diferença. Isso a torna especial e única.

— Obrigada.

— Tenho que ir, não posso mais demorar. — levantou-se. — Estou feliz por ter deixado sua vergonha de lado e ter me recebido.

— Sinta-se honrado.

— Sinto-me sim. — Heinz sorriu. — Passarei aqui amanhã antes de ir ao gabinete. — beijou sua testa. — Espero que melhore logo.

— Também espero.

Auf wiedersehen, Amélie.

Auf wiedersehen, Heinz.

Ele sorriu mais uma vez para ela e foi embora. Amélie sentiu uma grande felicidade invadir seu peito. Borboletas dançavam em seu estômago e sua cabeça mantinha a imagem do sorriso dele como se fosse uma bela pintura a ser observada.

— Amélie? — Anika a chamou. — Está rindo?

— Estou.

— Que milagre o kaiser fez em você?

— Ah, Anika, segredo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top