XI

Ele podia afirmar para qualquer um, que o sorriso de Amélie era o mais belo e sincero de toda Alemanha. Ela estava presente em seus pensamentos desde que se encontraram no corredor do seu quarto. Já havia acordado pensando nela, mas vê-la aumentou ainda mais a vontade de estar perto dela.

Aquele dia no gabinete estava entediante, queria sair dali. Os relatórios não estavam lhe dando sossego, e outros países também não. Seu maxilar estava cerrado ao ler um relatório falando da situação delicada em que se encontrava com a Espanha. Ele prometeu a si mesmo que evitaria derramamento de sangue em seu governo, mas o rei espanhol estava frustrando suas promessas. Esperava que Jaime III soubesse com quem estava se metendo, e estivesse ciente das escolhas precipitadas que estava tomando. Lembrou-se do que Manfred lhe disse; o rei espanhol ainda era um jovem inconsequente.

Sabia como era subir ao trono tão precocemente, todas as coisas que tinha que resolver e ouvir. As opiniões divergentes que tinha com seus ministros, discussões calorosas, mas jamais deixou ser levado por ideias que não lhe agradasse e não achasse certo. Seu pai havia lhe ensinado que a paciência é uma dádiva quando temos que lidar com várias pessoas de pensamentos diferentes, e que deveria ter sempre pulso forte, pois sempre teria aquele que iria querer ter mais autoridade do que o próprio soberano. E aparentemente era isso que acontecia com Jaime.

— Vossa majestade, — disse seu secretário. — Sua alteza imperial, o arquiduque Adam.

— Mande-o entrar. — levantou a cabeça e deixou o relatório em cima da mesa.

Adam entrou no gabinete com uma expressão atormentada. Seu corpo inteiro tremia e estava muito pálido. Heinz logo se levantou da poltrona e foi em direção ao irmão mais novo.

— O que aconteceu meu irmão? — Heinz perguntou preocupado.

— Aquela mulher que eu chamo de mãe. — respirou fundo. — Cumpriu o que vinha dizendo.

Heinz sabia que aquilo não deveria ser algo bom, pelo tom de voz do irmão.

— O que arquiduquesa fez?

— Ela conseguiu o que queria Heinz. Separou-me de minha noiva, não sei como. Recebi a carta de Emmeline agora há pouco. Ela está a caminho da França! Desde quando a família dela tem algum parentesco com alguém da França? — segurou o ombro do irmão e começou a sacudir freneticamente. — E ela também disse que não me amava, que tudo não passou de uma paixão passageira. Que não queria mais me ver, pois não queria que eu tornasse as coisas mais difíceis. Por que, Heinz? Por quê? — soltou o irmão. — Estou farto disso tudo. Farto da nossa mãe se meter em nossas vidas como se fôssemos marionetes dela. Acho que ela tem prazer em nos infernizar!

— Não posso nem pedir para que mantenha a calma. — colocou as mãos para trás. — Muitas vezes a arquiduquesa passa dos limites. Eu não poso controlar ela o tempo todo, na verdade eu raramente consigo controlar nossa mãe.

— Ela parece um demônio de saia. — começou a ficar mais calmo.

— Adam, apesar de tudo, ela é nossa mãe. — repreendeu Heinz. — Vou conversar com ela...

— Proíbo determinantemente você falar alguma coisa com ela. Preciso de um tempo dessa corte alemã. — olhou em direção a janela.

— O que está querendo dizer com isso?

— Enviei uma carta para o kaiser da Áustria pedindo para eu ficar lá. Em breve terei respostas, assim espero. Como ele é nosso tio postiço, tenho uma vaga certeza que ele não me negará esse favor.

— Certamente ele vai gostar da sua ida a Viena. Gostaria de pedir para que não fosse, mas se assim você deseja meu irmão, só peço que Deus o abençoe onde você estiver.

— Preciso inteiramente do seu apoio. — abraçou o irmão com força. — Eu queria ir embora daqui sem Susi saber, mas certamente ela tem olhos por todo esse palácio.

— E nosso tio poderia falar por carta com nossa tia Magda.

— Pedi para que ele fosse discreto sobre isso com nossa tia. Ela vai partir depois do natal.

— Tão cedo?

— Uma kaiserin não pode ficar tanto tempo longe de casa.

— Entendo. — Heinz mordeu o lábio inferior. — Tenho algo a lhe contar.

— O que seria? — Adam perguntou curioso.

Uma batida na porta atrapalhou a conversa dos irmãos. O secretário mais uma vez entrou e fez uma reverência.

— Perdão interromper vossa majestade e vossa alteza, mas o senhor tem uma visita que exige falar com os dois.

— Quem seria?

— Sua majestade imperial, Peter Hans von Battenberg.

— O kaiser da Áustria está aqui? — perguntou Adam atordoado.

— Terá sua resposta pessoalmente. — Heinz deu um sorriso de lado. — Por favor, Richard, mande o kaiser entrar.

Richard fez uma vênia e foi chamar o kaiser austríaco.

Os dois irmãos se posicionaram para receber o tio postiço. Um homem alto entrou no gabinete com um enorme sorriso no rosto. Estava com uma roupa comum, sem farda como costumam se vestir os imperadores. O cabelo loiro estava bagunçado e sua barba era enorme.

— Bom dia vossa majestade e vossa alteza. — deu uma risada. — Acho meio ridículo esses protocolos e todas essas etiquetas, sendo que somos uma família. — apertou a mão dos sobrinhos com força. — Perdoe-me por invadir seu país sem avisar, mas eu tinha que vir pessoalmente buscar minha mulher, se não ela vai ficar aqui para sempre.

— Fico feliz por estar aqui, Peter. — Heinz deu um sorriso contido. — Convido o senhor para passar o natal conosco.

— Heinz, o convite está aceito. — deu umas palmadinhas no ombro de Heinz e Adam. — Quanto a você meu jovem arquiduque alemão, — encarou Adam. — Acabei encontrando o seu mensageiro pela estrada. Podemos conversar sobre isso depois. Não quero entrar em conflito com sua mãe, conheço ela há muito tempo, e sei que quando ela quer uma coisa, ela inferniza até conseguir. Vou procurar por Amélie, ainda não a vi.

— Ela está na biblioteca. — Heinz sorriu ao lembrar-se dela.

Heinz sentiu o olhar curioso e desconfiado do outro kaiser sobre ele.

— Seu secretário pode me levar até a biblioteca?

— Richard. — chamou Heinz.

O homem apareceu prontamente.

— Poderia levar sua majestade até a biblioteca?

— Certamente.

— No veremos mais tarde, meninos. — fez uma vênia.

Ele saiu do gabinete e fechou a porta.

— Eu esperava que ele fosse mais sério. — Adam falou depois de uns minutos de silêncio.

— Digo o mesmo.

— Vamos sentar. Conte-me o que tinha a me dizer antes de nosso tio chegar.

Eles seguiram em direção à mesa, sentaram-se e Heinz colocou a mão sobre o queixo e respirou fundo.

— Aconteceu algo comigo.

— Gostaria que não houvesse muitos rodeios.

— Amélie von Battenberg aconteceu.

— O que está querendo me dizer? — Adam deu um sorriso travesso.

— Que estou perdidamente apaixonado por ela.

— Tem consciência que isso será mais difícil e complicado do que pensa?

— Tenho total convicção.

— Duas irmãs, isso pode ter derramamento de sangue. — Adam tinha um olhar mordaz.

— Não seja exagerado. — Heinz encostou-se na poltrona. — Nunca dei esperanças para Eugenie.

— Todo mundo acha que fariam um belo casal. — sorriu ironicamente.

— Isso é o que nossa mãe acha e faz todos acreditarem.

— Ah, Heinz. Se prepare para viver um inferno.

— Suas palavras me confortam, Adam.

— Só estou lhe avisando antecipadamente o que pode vir acontecer se você confessar seu fascínio por Amélie.

— Infelizmente eu sei o que pode acontecer, mas eu não desistirei dela por causa de ninguém.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top