X
Era um daqueles dias chuvosos em Berlim onde não se podia fazer quase nada, coisa que Amélie já estava acostumada. Sabia que em poucos minutos sua mãe entraria em seu quarto ordenando que ela deitasse, pois poderia ter uma crise de falta de ar. Porém, ela se sentia livre e rebelde, não queria cumprir ordens que não lhe trariam uma mínima diversão, queria passear por aquele enorme palácio.
Suas damas chegaram cedo e ela já estava arrumada esperando por elas. Rachel, Leni e Annelie estavam receosas em desobedecer às ordens da kaiserin austríaca, mas sua filha pouco se importava com isso, afinal, já estava acostumada. Como não queria ter uma crise, vestiu um vestido com grandes camadas de anáguas, com mangas compridas e uma gola alta. Leni havia trançado seus longos cabelos, enquanto as outras distraiam Anika. Amélie gostava que as pessoas a subestimassem, pois nunca achavam que ela poderia fazer muitas coisas, principalmente trapaças.
Annelie e Rachel chegaram rindo, e no fundo ela já sabia que elas haviam conseguido realizar o problema com prontidão. Leni colocou um laço de fita na ponta da trança de Amélie delicadamente.
— Gostou Amélie? — perguntou sorridente.
— Claro. — sorriu de volta. — Então, conseguiram?
Annelie sentou-se na cama e começou a rir novamente, assim como Rachel.
— Alteza, Anika está dormindo como um anjo. — Rachel afirmou.
— Somente duas gotas? — Amélie começou a rir também ao citar seu remédio.
— Nada mais, nada menos. — Annelie riu.
— Perfeito! — levantou-se da cadeira. — Para onde podemos ir? Trabalhavam aqui antes?
— Sim. — Leni respondeu. — Em poucos dias que estamos com a senhorita, acho que gostaria de conhecer a biblioteca real e o belo jardim de inverno. A estufa seria um problema hoje, por causa da sua saúde, por Deus, não quero me meter mais em encrenca. — colocou a mão sobre o coração. — Só estou fazendo isso por realmente gosto da senhorita.
Amélie a abraçou rapidamente e apertou sua mão.
— Obrigada por fazer essa pobre garota feliz.
— Sempre as ordens. — Annelie retribuiu sorrindo.
— Biblioteca ou jardim?
— Biblioteca. — Amélie e Rachel responderam juntas.
— Ótimo! Vamos logo.
Saíram devagar do quarto, mas não conseguiam conter os risos. Abafaram os risos com as mãos, quando passaram em frente aos quartos da mãe e irmã de Amélie. Viraram em direção ao corredor do lado direito, o corredor do kaiser, onde era mais vazio e corriam menos risco de serem vistas. Fizeram o máximo de silêncio que podiam, mas uma porta foi aberta, e de lá saiu o kaiser conversando animadamente com seu camareiro. Quando ele as viu, ficou com uma expressão confusa, com certeza não entendia presença delas naquele corredor. Dispensou o camareiro com a mão, andando em direção a elas. Amélie ficou paralisada quando seus olhares se encontraram, sentiu algo dentro de si ficar feliz.
Na verdade, ela estava feliz em vê-lo.
— Bom dia, senhoritas. — fez um cumprimento com a cabeça. — Amélie. — pegou sua mão e beijou por alguns segundos.
— Bom dia majestade. — responderam as quatro.
— É meio confuso ter pessoas por esse corredor. Estão fugindo de alguma coisa? — arqueou as sobrancelhas.
Elas se olharam e riram.
— Heinz, eu estou fugindo da minha mãe, irmã, Anika, que é minha enfermeira, e qualquer pessoa que queira me trancar no quarto.
— Por que elas iriam querer você no quarto? — cruzou os braços.
— Está um tempo chuvoso. Elas acham que eu vou morrer em tempos como esse, isso me incomoda mais do que sapatos apertados.
Heinz começou a rir. Amélie nunca o tinha visto gargalhar. Sentiu-se orgulhosa por aquilo.
— Eu deveria me preocupar também. — voltou a ficar sério. — Entretanto, admiro sua ousadia e rebeldia. Quero ser como você algum dia, Amélie. Podem seguir o caminho de vocês, não direi nada a ninguém. — piscou o olho para ela e andou na direção oposta a delas.
Amélie soltou o ar que nem sabia que estava prendendo.
— O que foi isso? — perguntou Rachel. — Não sei se notaram a maneira como o kaiser olhou para Amélie.
— Fala baixo, Rachel! — Leni a repreendeu. — Vamos falar sobre isso na biblioteca. Andem mais rápido.
Elas obedeceram à ordem de Leni, andaram o mais rápido pelo corredor. Chegaram às escadarias rapidamente, mas Amélie começou a sentir cansaço, o que deixou todas preocupadas. Logo, ela fez um gesto com a cabeça e voltaram a descer as escadarias. Quando chegaram ao térreo, Annelie começou a andar em direção à ala oeste. Apressaram ainda mais os passos quando vários empregados começaram a surgir.
Elas pararam em frente a uma grande porta, Annelie abriu a porta e aprontou para Amélie e as outras entrarem. O lugar estava aquecido por causa das duas lareiras acesas, provavelmente alguém esteve ali mais cedo, o que deixou Amélie mais confortável ao sentir aquele calor. As cortinas estavam abertas, podendo ver a forte chuva cair. Amélie procurou logo um lugar para se sentar perto da lareira, e uma poltrona estava lá como se fosse especialmente para ela. Leni se acomodou na poltrona ao seu lado, enquanto Rachel e Annelie sentaram no tapete.
— Não vai explorar a biblioteca, Amélie? — Leni perguntou.
— Estou um pouco cansada. Qualquer esforço para mim é grande.
— Entendo.
Amélie fechou os olhos.
— Agora quero falar sobre Amélie e Heinz. — Rachel falou animadamente. — Aquele olhar foi tão profundo e intenso. Oh Gott! Eu só queria alguém me olhando daquela maneira.
Amélie abriu os olhos e sorriu.
— Você é uma sonhadora apaixonada, Rachel. Deve ser simpatia que ele sente por mim, aposto. Ele jamais se apaixonaria por mim, ainda mais tão rapidamente. Sou doente, e seria muito ruim para eu oferecer herdeiros.
— Você não está aqui para melhorar? — Leni perguntou curiosa.
— Sim, mas nunca se sabe querida Leni. Tudo é muito incerto para mim.
— Ele olha para você de maneira diferente, tenho certeza! Raramente erro em minhas intuições.
— Leni, mesmo que sua intuição esteja certa, eu não poderia fazer isso. Minha irmã sonha com ele acordada. Na verdade, esse foi um dos maiores motivos para ela ter vindo. Eugenie já está apaixonada por Heinz, e tenho certeza que a arquiduquesa apoia esse casamento, ao contrário se fosse comigo.
— Quem decide isso é ele, não a arquiduquesa Susi. — Rachel se remexeu no tapete.
— Uma mãe sempre tem certa influência sobre o filho. — opinou Annelie.
— Eu diria que a relação dos irmãos com a mãe não é tão boa. Veja, o arquiduque Adam foi contra todas as ordens da arquiduquesa e vai se casar com alguém que ela não queria. Todos que trabalham aqui no palácio sabem que ela odeia a futura nora pelo simples fato dela não a achar adequada para entrar na família imperial Hohenlohe-Langenburg.
Amélie refletiu sobre aquilo, sorriu e pensou o inferno que Susi não faria em ter uma nora doente dos pulmões.
— Desde pequena tive a convicção que nunca casaria e nem teria filhos. Nenhum homem vai querer ter ao seu lado uma mulher tão doente como eu, sei muito bem o meu lugar. As coisas são só melhores pelo fato de eu ser filha do kaiser da Áustria, se não, eu seria tratada pior ainda. Odeio que tenham pena de mim, simplesmente odeio aqueles olhares de compaixão sobre mim. — respirou profundamente antes de continuar. — Em momento algum vocês me olharam assim, por isso confio em vocês, deixo me chamarem apenas pelo meu primeiro nome sem formalidades. — sussurrou. — Eu acho que estou nutrindo sentimentos por ele.
— Eu sabia! — Leni deu um sorriso enorme. — A troca de olhares entre vocês era notável! Desejo tanto que vocês fiquem juntos.
— Leni, acalma-se. — Amélie riu. — Não crie expectativas em algo que será impossível.
— Querida Amélie, apenas não seja negativa desse jeito. — Rachel pegou sua mão.
Ela riu e respirou fundo mais uma vez.
— Eu tentarei.
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