IX
Depois da apresentação de Amélie, Heinz voltou para seu gabinete para ler os relatórios. Ainda estava com as notas do piano em sua mente, era impressionante a maneira como ela havia tocado. Ele estava hipnotizado. Sorriu consigo mesmo, começou assobiar pelos corredores.
— Heinz! — sua irmã chamou. — Espere um minuto.
Ele se virou para trás, deparando-se com sua irmã chorando. Ele nunca havia a visto chorar daquela maneira. Andou rápido em sua direção, abraçando-a com delicadeza. Afagou suas costas com carinho, dando beijos nos cabelos da irmã. Ele sentiu a respiração dela ficar mais calma, afastou-se dela devagar, colocando suas mãos na face avermelhada de Heidi.
— Eu deixei você risonha. — limpou uma lágrima no rosto da irmã. — O que aconteceu nesse pouco tempo?
— Sabe que nunca fui boa com instrumentos. — soluçou.
— Isso nunca foi problema. — sorriu para ela.
— Sabe que para mama é. — colocou a mão na do irmão. — Ela me humilhou para todos.
— Nossa mãe fez isso? — perguntou espantado.
— Não sei por que se espanta. — virou o rosto.
— O que me deixa espantado é ela ter feito isso na frente dos convidados. — tirou as mãos do rosto de Heidi.
— Ela estava muito irritada, assim como nossa tia.
— Tia Magda irritada? O que colocaram nas comidas e bebidas?
— Amélie é a resposta. Você sabe que elas queriam impressionar você. Elas sabiam que Eugenie não era boa com o piano, mas insistiram.
— Isso tudo por causa do talento dela? Santo Deus! Isso é inadmissível! Vou falar com a arquiduquesa agora!
— Você tem mais coisas com que se preocupar. — deu seu melhor sorriso. — Pode ficar tranquilo.
Heinz ficou indeciso se acatava a decisão da irmã.
— Está bem. — cedeu.
— Ótimo.
— Mais tarde converso com ela.
— Heinz...
— Está decidido. — beijou a bochecha da irmã. — Vejo você no jantar.
— Acho difícil você comparecer, mas manterei as esperanças.
— Vou tentar. — sorriu com certo cansaço.
— Não pode descansar pelo menos um dia? — arqueou a sobrancelha.
— Descansei no meu aniversário, não foi uma boa ideia. Você precisava ver a grande pilha de relatórios que eu tinha que ler hoje.
— Acho melhor você ir.
— Também acho.
Heidi sorriu para Heinz.
— Eu amo você, não sei o que faria sem você.
— Você tem o Adam também.
— Você sabe que não é a mesma coisa. — revirou os olhos.
— Eu sei. Você me ama mais. — riu.
— Não seja convencido, Liebe.
— Com uma condição. — riu. — Daria a honra de passear comigo, ou ficar comigo no gabinete o dia inteiro me distraindo?
Heidi ficou espantada, ficou em silêncio por uns instantes até responder aquela proposta inesperada.
— Seria pedir muito ter os dois?
— Não mesmo. — ofereceu o braço para ela. — Vamos?
— Basta você me guiar. — colocou o braço no de Heinz.
Começaram andar pelo corredor familiar. Heidi estava contando o quão estava se sentindo mais alegre com mais pessoas no palácio. Contou sobre suas aulas de equitação que fluíam perfeitamente bem, ao contrário das suas de piano, e que ela já queria desistir. Heinz não queria contar sobre as rebeliões de rebeldes em algumas cidades, muito menos em guerras, por isso deixou sua irmã conduzir a conversa. O duque Löhnhoff já estava esperando do lado de fora com seu filho Meik.
Meik encarou Heidi com certa admiração, olhando logo em seguida para o kaiser que tinha os olhos cravados nele com certa curiosidade. Quando o duque se deu conta que o kaiser estava ali, levou um susto, fazendo uma reverência desajeitada, ao contrário do seu filho que tinha uma reverência impecável.
— Vossa majestade. — disse. — Vossa alteza. — direcionou-se para Heidi.
— Heidi esse é o nosso ministro da guerra. — Heinz apresentou a irmã para o duque. — Seu filho Meik sempre o acompanha.
— Um prazer conhecê-los senhores.
— O prazer é nosso, alteza. — Meik respondeu com um leve sorriso nos lábios.
O kaiser olhou a maneira como o filho do duque olhava para sua irmã, incomodando-se um pouco com aquilo. Ele sabia que um dia ela se casaria, mas aquilo o incomodava. Ela era seu bem mais precioso, uma joia rara. Heidi sempre foi sua irmã preferida, ele não escondia isso de ninguém, nem mesmo do seu irmão Adam.
Pigarreou, com a cabeça indicou que deveriam entrar imediatamente. Os guardas abriram a porta, e eles entraram. Heinz sentou-se em sua cadeira, sua irmã se acomodou em uma poltrona próxima à lareira, enquanto o duque e seu filho sentaram nas duas cadeiras em frente à Heinz.
O duque puxou da sua pasta vários papéis, entregando para Heinz ler. Por muito tempo ele conseguiu manter a Alemanha longe de guerras, mas havia alguns países que queriam destruir seu propósito de paz. A Espanha queria invadir territórios que possuíam a Alemanha, isso estava tirando o sono de Heinz. Preocupava-se muito com as pessoas daquela religião, não queria que pessoas inocentes morressem.
O relatório que estava em suas mãos dizia que as tropas espanholas estavam avançando rapidamente, e por onde passavam deixavam destruição e sofrimento.
— O que os outros ministros disseram sobre isso? — colocou os papéis em cima da mesa.
— Eles estão bastante preocupados.
— Já enviaram mais homens?
— Precisamos da sua ordem definitiva.
— Onde está o papel para eu assinar?
— Aqui. — entregou o papel com a ordem. — Ainda é cedo para declarar guerra a Espanha, mas sabemos que isso vai ser inevitável. Temos que esperar o fim dessa batalha em Saarbrücken para saber qual fim isso levará.
— O que o rei Jaime acha que é uma guerra? Ele tem ao menos ideia do que é o império alemão? — começou a assinar os papéis.
— Ele ainda é muito jovem e inconsequente. Cercado por falsos amigos da coroa. — Manfred alisou a barba com a mão. — Você sabe que rei Jaime III morreu cedo, a rainha mãe é meio maluca, então vários regentes tomavam conta. Alguns queriam usurpar a coroa, ou seja, queriam matar o único herdeiro. Mas a rainha pode até ser louca, porém não é burra. Escondeu o filho na corte francesa até completar dezoito anos.
— Entendo. — Heinz terminou de assinar os papéis. — A França nunca foi exemplo de honestidade.
— Heinz! — Heidi disse. — Estamos com visitas francesas aqui. As paredes têm ouvidos.
— Você estudou muito bem o passado da França, sabe do que estou falando.
— Sei muito bem do que fala, mas evite certos comentários quando se tem visitas de certos países em sua casa.
— Obrigado pela dica. — respondeu ironicamente.
Ela olhou feio para ele, entretanto, ele apenas sorriu para ela.
— Se as coisas piorarem, eu mesmo tomarei frente do exército. — Heinz disse por fim.
— Perdoe-me dizer isso majestade, mas não é correto o senhor ir para guerra.
— Por quê? — encostou-se na cadeira.
— O senhor ainda não é casado, consequentemente não tem herdeiros. Não pode deixar o trono vazio.
— Eu tenho um irmão para assumir caso algo me aconteça.
— Sabemos que o primogênito é sempre o preferido. Seu irmão Adam não é bem visto por todos na Alemanha, o senhor bem sabe. E não queremos perder nosso kaiser.
— Estou procurando uma noiva Manfred.
— Fico feliz por isso. Está com sorte?
— Um pouco, eu diria. — sorriu e lembrou-se de Amélie.
— Espero ter logo uma linda kaiserin.
— E terá. — Heinz disse.
— Acho que acabamos por hoje. Amanhã o general Scheidemann virá trabalhar com o senhor os últimos detalhes.
— Estarei esperando ele o mais cedo possível.
— Claro. — levantou-se juntamente com kaiser. — Adeus, majestade.
— Até breve, vossa graça. — apertou a mão do duque.
Meik fez uma vênia para Heinz, depois para Heidi. Os dois homens saíram do gabinete, deixando os irmãos sozinhos.
— Eu não queria estar em seu lugar. — aproximou-se do irmão. — Decidir a vida de milhões de pessoas.
— Diga-me se encarar a arquiduquesa Susi não é mais fácil? — deu um sorriso cansado.
— Bem mais fácil. — afagou o ombro do irmão. — Tem mais alguma coisa para hoje?
— Não tenho nada marcado, mas eu sei que vai aparecer algo para eu resolver.
— Que maravilha. — disse com ironia.
Heinz riu da ironia da irmã.
— Eu observei os olhares entre você e o filho do duque.
— Não seja ridículo, Heinz. — ficou ruborizada.
— Estou sendo ridículo? — riu. — E esse rosto escarlate significa o que?
— Você é insuportável! — ficou ainda mais ruborizada.
— Nunca posso falar a verdade que sou insuportável. Irmã, você está interessada por ele?
— Eu o conheci hoje! — respondeu indignada.
— Não importa. Eu conheci Amélie...
— Amélie? — Heidi foi para a cadeira onde anteriormente estava o duque, encarando o irmão. — O que tem ela?
— Absolutamente nada. — repreendeu-se mentalmente por ter falado demais.
— Heinz Joseph Bastian Vincent Hohenlohe-Langenburg, você está interessado por Amélie Kirsten Anke von Battenberg?
— Você é algum padre para falar os nossos nomes inteiros?
— Não mude de assunto. — apontou o dedo para o irmão. — Vamos, diga logo.
— Dizer o que? — colocou a mão no queixo e encarou a irmã.
— O que sente por Amélie. — sorriu maliciosamente. — Eu tinha para mim que Eugenie não era do seu agrado. Muito certinha e queridinha da nossa mama. Nossa Heinz, você me surpreende.
— Eu não disse nada, Heidi.
— Seu olhar disse tudo.
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