IV

Amélie não aguentava mais ficar sentada na carruagem. A viagem parecia que durava anos, e nada de chegar em Berlim. Fazia três dias que estavam na estrada, e isso era torturante. Sua mãe e Eugenie só falavam da corte alemã e suas regras, que eram menos rígidas do que as austríacas. Amélie nem estava dando atenção para aquele assunto chato, pois tudo que se referia à etiqueta e modos deixava-a entediada. Levantou a cortina da carruagem e avistou casas surgindo pela estrada.

— Acho que já chegamos. — Amélie sorriu.

— Finalmente. Não ficou sossegada em nenhum momento da viagem. Até dormindo estava agitada.

— É insuportável ficar trancada dentro de uma carruagem. — Amélie revirou os olhos. — Nem consigo ler por causa do sacolejar da carruagem.

— Pare de reclamar, Amélie. Pense que já estamos perto do palácio. — disse Eugenie com um enorme sorriso no rosto.

— Não está reclamando por causa dos seus interesses pelos nossos primos. — cruzou os braços. — Acha que está velha demais para não estar casada. Posso não ser muito presente na vida dos meus irmãos, mas eu estou sempre observando.

— Amélie! — a kaiserin repreendeu a filha.

— Ela está falando a verdade mama. — Eugenie respondeu secamente. — Amélie nunca poupou palavras para dizer o que pensa. — encarou a irmã. — Mas deveria poupar algumas vezes, pois algumas palavras magoam.

— Falam coisa pior de mim, e eu nunca disse nada. — Amélie pousou suas mãos em seu colo. — Não reclame da sua vida, Liebe. Sua única preocupação é arranjar um marido, e a minha é amanhecer bem no dia seguinte.

— Amélie!

— A senhora sempre se incomoda quando eu falo a verdade. — Amélie revirou os olhos mais uma vez.

— Pare de revirar tanto esses olhos. Isso é falta de educação. E eu não me incomodo com a verdade, mas é bastante inconveniente quando quer.

— É um dos meus talentos. — Amélie deu um sorriso malicioso.

— Deus me ajude. — a mãe murmurou.

— Que ele ajude mesmo, porque eu não vou ajudar. — deu mais um sorriso malicioso e encostou a cabeça na janela. — Estamos na cidade. As pessoas são bastante bonitas. Oh, uma criança brigando com a outra por causa de um doce. — Amélie riu. — Eu queria brigar com alguém por causa de um doce.

— Você roubava os meus quando éramos mais novas. — Eugenie acusou Amélie rindo. — No natal roubava todos os meus biscoitos.

— Sempre ganhava mais que eu.

— Todos ganhavam a mesma quantidade. — a mãe deu um risinho.

— Mentira! — Amélie riu. — A senhorita Schramm gostava mais da Eugenie do que de mim. A senhora sabe disso mama.

— Eu não sei de nada. — riu mais uma vez.

— Bem, eu...

Eugenie foi interrompida com a porta da carruagem sendo aberta pelo lacaio. Um mordomo deu a mão para ajudar Magda descer da carruagem, logo depois Eugenie e por último Amélie. Ela observou que havia muitas flores pelo jardim do palácio, e uma pequena fonte no meio. O palácio era simplesmente belo e exuberante. Havia tantas janelas que ela nem conseguia contar. O mordomo começou a guiar elas para dentro do palácio, e Amélie começou a se perguntar onde estaria sua tia Susi para recebê-las. Achou muita falta de consideração ela não estar lá, mas sabia que a tia era extremamente chata, apesar da mãe nunca admitir só porque era sua irmã.

— Onde está minha irmã? — perguntou Magda com certa secura.

— Sua majestade está resolvendo uns imprevistos e pediu para encaminhá-las para os quartos. Ela irá se encontrar com vossa majestade e vossas altezas antes do almoço. Não sei se é do conhecimento de vossa majestade, mas hoje o kaiser Heinz faz aniversário.

— Oh, eu não me lembrava.

— Vai ter um baile em sua homenagem, por isso a arquiduquesa não veio recebê-las.

— Entendo.

— Eu acho que ela poderia muito bem ter dado um jeito e ter vindo ver a gente. Que falta de consideração. — cochichou Amélie no ouvido da irmã.

Eugenie riu baixo, e a mãe logo olhou feio para elas. Começaram a subir um longo lance de escadas, e acabaram em um longo corredor. Ele tinha quadros bastante bonitos, e outros de monarcas antigos. Amélie olhava tudo com muita atenção e fascinação. Nunca havia ido a outro palácio sem ser os da Áustria, e aquilo era uma experiência e tanto.

Estava achando aquele mordomo muito insuportável e metido, não falou nada, somente o que a mãe perguntou. Poderia ser o treinamento deles, mas mesmo assim não estava satisfeita com a situação. O mordomo parou em frente a uma porta branca com detalhes dourados e abriu.

— Esse será o quarto de vossa alteza imperial Amélie.

— Isso aqui é tudo meu? — Amélie ficou espantada quando entrou. — É simplesmente bonito. — foi em direção às janelas. — Meu quarto tem vista para os jardins. Céus, que lugar lindo. — abriu porta que dava para a pequena varanda. — O ar aqui é tão puro e maravilhoso. Sinto-me revigorada.

— Que bom que o quarto a agradou, vossa alteza. — disse o mordomo com um sinal de sorriso nos lábios. — Suas coisas já estão arrumadas no quarto de vestimentas. Caso precise de alguma coisa, é só tocar a campainha que logo alguma empregada virá atendê-la. — virou-se para sua irmã e sua mãe. — Vossa majestade e vossa alteza poderiam me acompanhar? Vou mostrar o quarto de vocês.

— Claro. — a imperatriz respondeu prontamente. — Você ficará bem, Amélie?

— Pode ter certeza que sim. — riu. — Eu gostaria mesmo de ficar sozinha. — respondeu da varanda. — E, por favor, fechem a porta.

Eles obedeceram ao que ela pediu, e saíram fechando logo a porta em seguida. Ela estava experimentando uma sensação de liberdade, não sabia muito bem como explicar aquilo, pois mal havia chegado e já sentia isso. Ela pensou que provavelmente estava maluca, ou era cansaço da viagem. Optou pela segunda hipótese.

Saiu da varanda e fechou a porta da varanda devagar. Começou a explorar o grande quarto que agora lhe pertencia por tempo indeterminado. Sua cama era enorme e tinha uma colcha simplesmente linda bordada com rosas vermelhas. Sua penteadeira já estava com seus perfumes, sua escova preferida de pentear os longos cabelos. Ela teria que arranjar alguém para penteá-los, pois a cada dia eles estavam maiores. Abriu a porta que dava para o banheiro, e logo fechou, pois não a interessava tanto naquele momento. Jogou-se na cama com grande felicidade e rindo.

Ela não deveria estar tão feliz; ela estava longe de casa e ficaria ali sem os pais e os irmãos, com exceção de Eugenie. Mas sentia uma leve felicidade invadindo seu coração, e ela não via a hora de explorar todo o palácio. De repente, alguém entrou em seu quarto, e ela deu um grito de surpresa.

Lá estava um rapaz, não parecia ser muito velho, mas também não era tão jovem, com uma expressão furiosa. Ele tinha cabelos loiros bem penteados, e usava uma roupa informal. Seus olhos eram de uma tonalidade de azul totalmente penetrante e ameaçadores. Repreendeu-se por observar tanto um homem que tinha acabado de invadir seu quarto.

— Céus! Perdoe-me, eu não sabia que tinha alguém nesse quarto. — disse o homem estranho.

— Quem é você?

— Quem é você?

— Eu perguntei primeiro, porém vou responder. — levantou-se da cama. — Sou a arquiduquesa da Áustria, Amélie.

— Sou Heinz. — deu de ombros.

— O kaiser?

— Não. — riu.

— Por que invadiu meu quarto? — o olhou desconfiança.

— Bem, como eu disse, eu não sabia que tinha gente aqui. Eu estou fugindo... Bem, não lhe interessa. — cruzou os braços.

— Certamente. — cruzou os braços também. — Pode sair dos meus aposentos?

— Certamente vossa alteza. — riu com certa zombaria. — Até mais tarde no baile.

— Veremos. — revirou os olhos.

Ele abriu a porta, e antes de sair faz uma reverência, fechando a porta logo em seguida. Amélie deitou-se na cama de novo e ficou pensando se esse estranho homem não estava mentindo para ela, e ela achava que estava. Provavelmente aquele era o kaiser da Alemanha, seu primo, e ela praticamente o expulsou do seu quarto. Porém, ela não ligava muito como tinha agido com ele, pois foi ele quem mentiu.

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