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Yanka achou que ia morrer enquanto via Eros lutar habilidosamente contra os guardas no oásis. No entanto, nem sua força, nem sua velocidade ou sua inteligência foram suficientes para fazê-lo driblar os inúmeros guerreiros.

Ela avançou desesperada quando ele empurrou os homens para a água e foi engolido no meio da confusão, mas a tropa de Eros a puxou para trás.

Apesar de lutar, ela não conseguiu sair de suas garras e apenas permaneceu olhando chocada e impotente enquanto um dos homens tentava golpear Eros.

Ao seu redor, os líderes do conselho olhavam estupefatos a cena, como se não acreditassem que alguém tivera a ousadia de invadir o oásis por vontade própria.

E de repente, Eros estava na frente dela de joelhos, machucado e sangrando.

- Eros! - Ela gritou, caindo nos braços dele. Ele gemeu de dor e Yanka recuou, observando-o. Estava cheio de cortes, hematomas enormes por todo o corpo e com o olho direito fechado. Eros sorriu vermelho para ela. Yanka trincou os dentes, chorando – Como ousa fazer isso?! O que te deu na cabeça? Você... você...

- Queria uma desculpa para que você cuidasse de mim de novo. Descobri que adoro isso mais do que qualquer outra coisa.

Ela socou seu braço e ele se encolheu.

Uma sombra pairou sobre eles. Quio os olhava com um sorriso encabulado.

- Estou impressionado. Em menos de cinco minutos ele conseguiu atravessar nossa guarda do oásis, tocar na água e aparecer magicamente de volta.

Yanka se levantou, raiva inflando seu corpo. Cutucou o peito do homem, não se importando nem um pouco se seria presa ou morta por isso. Aquela situação... simplesmente... simplesmente saíra do controle.

- E você está satisfeito agora? Por um acaso era justamente isso que você queria? Nós estamos nessa jornada há muito tempo, e todos nós damos nosso sangue e nossa vida por isso! Perdemos pessoas, nos arrastamos no deserto, fugimos de feras e de batalhas, fomos ameaçados, passamos fome, sede e estamos exaustos! E o que?! Precisamos provar algo?! Estar aqui já não é prova suficiente? - Ela gritou, a voz reverberando pelo lugar. Quio colocou as mãos na frente do corpo, cautela em seus olhos.

- Não foi isso que eu quis dizer...

- Então eu vou falar o que você quis dizer. - Apontou enfaticamente para o conselho – Esse conselho é feito de velhos bundões e fedidos que não tem a mínima capacidade de achar que algo poderia acontecer ao enorme santuário da tribo Tote. Mas pessoas estão morrendo lá fora! Pessoas estão sendo marcadas, pessoas estão sumindo, estão sendo torturadas e MORTAS! Enquanto vocês sentam essas bundas moles nessa tenda, decidindo onde colocar guardas ao redor de sua preciosa água, estes homens – Ela apontou para Eros e seus homens – Estavam lá fora, cuidando do povo que vocês deveriam cuidar, mas que vocês preferem ignorar e não levantar um dedo para ajudar! Esses homens sobreviveram ao inimaginável para vir aqui contar que há algo prestes a atacar Tote, e vocês se limitam a simplesmente não acreditar! - Ela avançou ameaçadoramente, sentindo a fera dentro de si rugir. Ninguém. Encostava. Em. Seu. Eros. Ninguém. - Então, ou vocês acreditam na porra da profecia, ou podem enfiar a arrogância e estupidez de vocês no seu orifício de merda e esperarem aqui para morrer!

Silêncio.

Por vários momentos, apenas o passar longínquo das caravanas entrando na tribo Tote era ouvido.

Os homens olhavam chocados para Yanka e Quio piscava surpreso.

Um homem atarracado começou a dizer algo, o pescoço vermelho de fúria. Quio levantou a mão e o homem se calou.

- Já tinha ouvido falar de sua ferocidade, Yanka da tribo Cati – Ele sorriu, olhando para um Eros com aparência péssima, mas orgulhoso de Yanka – E agora esse jovem... há muito tempo eu não via um jovem tão corajoso.

Ele cruzou os braços. Yanka estava pronta para brigar com ele de novo, uma infinidade de obscenidades passando pela sua cabeça.

- Portanto eu só tenho a dizer uma coisa.

- Se tivermos que fazer outra loucura de novo... - Ela vociferou.

- Sejam bem-vindos. O conselho da tribo Tote lhes deu ouvidos, e acreditamos em vocês. Pedimos desculpas pelo ocorrido, mas acredito que agora é o momento certo para começarmos a nos preparar.

Yanka piscou, aturdida. Não acreditava que ele tinha aceitado. Ao seu redor, os homens balançaram a cabeça afirmativamente, mesmo que a expressão de alguns deles fosse tudo, menos amigável.

- Vamos... nos preparar para o que? - Ela perguntou confusa, sem acreditar. O homem riu, abrindo os braços.

- Ora... para a batalha! Há muito tempo não sinto tanta energia e adrenalina assim!

E saiu acompanhado pelos velhos.

- O que aconteceu? - Eros resmungou. Ele estava em péssimo estado e seus homens o apoiavam para que não caísse.

- Vamos nos preparar para a batalha, Yretoo.

- Então deu certo? - Ele resmungou de novo e desmaiou antes que Yanka conseguisse segurá-lo. Ela apoiou a cabeça dele no ombro, tentando não se desesperar. Precisariam de toda força possível para conseguir passar por aquilo.

- Deu certo, querido. Você conseguiu – Ela murmurou em seu ouvido.

////

Yanka permaneceu no conselho durante o resto da tarde.

Nicholas insistiu para que eles fossem resolver isso, e ele e alguns homens cuidariam de Eros.

Quio atribuiu algumas tendas do primeiro quadrante a eles, mas Yanka recusou enfaticamente. Se aceitassem, Eros ficaria muito distante dela, e ela mal conseguia se sentar e ouvir táticas de batalha sem querer sair correndo até seu homem.

Portanto, montaram acampamento ali perto.

- O que acha, Yanka? - Kaiko perguntou. Estavam discutindo a força que a tribo Tote teria para enfrentar uma batalha daquela magnitude. Ela pensou por um momento.

- Pelas nossas contas, o exército inimigo deve passar de 10.000 homens, isso se o relatório que pegamos estiver certo. Será impossível derrotá-los somente com a força da tribo Tote, até porque nem todos podem ir ou a cidade ficará desprotegida.

- E o que você sugere? - Quio apoiou os cotovelos na mesa e Yanka sentiu o peso de sua presença ali. Depois que as Mães se foram, nunca mais houve posição de poder para mulheres no Continente. Ter o poder de sugerir algo... ela inflou os peitos, se empertigando.

- Vamos pedir ajuda às outras tribos.

Os velhos ao redor riram, debochados.

- E acha mesmo que todas irão nos ajudar?

- Se não tentarmos, nunca saberemos.

- Quanta ingenuidade! - Um deles bradou, batendo as mãos nas mesas – A única coisa em que todas as tribos concordam são sobre suas funções e ofícios! É impossível que todas elas ajudem!

- Também era impossível que há uma hora atrás alguém fosse transportado de um lugar para o outro num piscar de olhos.

O homem apertou os lábios e os outros desviaram os olhares. Com uma nova confiança, ela se virou para Quio.

- Vamos mandar mensageiros, os mais velozes que tiverem. Tenho certeza de que a tribo Wattu irá ajudar, desde que a situação de Kira permaneça a mesma. Talvez Bumbo ajude a convencer o líder da tribo Saqua.

- E as outras?

Yanka suspirou.

- Da última vez que eu verifiquei, as tribos Yeta e Malo queriam nos matar e a tribo Ula não estava sendo muito amigável. Teríamos que pensar numa estratégia que...

- Yanka – Kaiko chamou e sua expressão demonstrava que ele estava tendo uma ideia – Tenho uma ideia para convencermos a tribo Yeta e a tribo Malo. Mas vamos precisar de Eros.

Ela assentiu, prestes a falar algo, mas a aba da tenda foi levantada e uma figura mancou até eles.

Eros, com o braço apoiado em uma tipoia e parecendo pior do que antes, entrou no lugar como se tivesse sido conjurado, parou na ponta da mesa do conselho e olhou para cada um.

- Estou atrasado?

- Você deveria estar descansando! - Brigou Yanka.

Kaiko abriu espaço para ele ao lado de Yanka e ele desabou na cadeira. Se inclinou para ela e murmurou:

- E perder a chance de entrar de novo em um conselho? Da última vez foi tão interessante...

Ela lhe lançou um olhar cortante, sentindo calor ao lembrar do conselho de câmara fechada da tribo Yeta e o que fizeram para sair de lá.

- Não me provoque – Ela avisou enquanto o conselho tornava a discutir estratégias. Ele sorriu, deslizando a mão boa pela coxa dela.

- Não tenho nem desconto por estar machucado?

Yanka escondeu um sorriso e segurou a mão dele.

- Não consegue ficar sério em uma situação dessa?

- Estou feliz – O coração dela acelerou – Pela primeira vez, minha vida está uma completa zona, mas eu não consigo parar de pensar em você e no quanto estou feliz e orgulhoso da mulher maravilhosa que você é, Yanka.

Ela apertou seus dedos, o olhando carinhosamente.

- Se está feliz, então ponha essa cabeça para funcionar, porque temos uma longa semana pela frente.

E se virou para responder algo para Quio. É, longos dias esperavam por eles. 

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