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- Isso são... macacos?!

Os animais peludos gritaram em uma cacofonia animada. Eram muitos, de todos os tipos: de olhos miúdos, narigudo, grande, pequeno, com pelo castanho, branco, dourado, preto. Os pestinhas abandonaram suas posições ao redor de Yanka, Eros e Kaiko e começaram a escalar as torres e as árvores ao redor, pulando de galho em galho, os corpos repletos de tatuagens que brilhavam no escuro.

Yanka não conseguia acreditar naquilo.

Mãos a puxaram contra um peitoral largo e ela inflou os pulmões com o cheiro maravilhoso de Eros.

- Estava preocupado – Ele murmurou.

- Não pareceu.

- Porque eu confio que você vai se sair maravilhosamente bem. - Ela encarou seus olhos azuis e percebeu o quanto sentira falta de deles na claridade.

- Vou ganhar um abraço também?

Ela sentiu o peito de Eros retumbar com uma risada e ela mesma riu de alívio. Estavam vivos. Mesmo que as temíveis feras fossem apenas macacos.

Os homens deram tapinhas nas costas um do outro. Yanka sentiu sua felicidade se esvaindo quando a ficha caiu.

- Fomos enganados. - Eros e Kaiko a encararam – Achamos que eram feras temíveis E eram somente...

- Foram enganados porque não conseguiram ver além do que os olhos podem ver – A mesma voz rascante surgiu e Yanka estava pronta para gritar com aquele ser quando a figura apareceu.

Um homem de meia idade, com rugas ao redor dos olhos e com o rosto maltratado por anos ao sol apareceu. Vestia uma túnica leve, semelhante à da tribo Ula e um cinto de ferramentas na cintura. O cabelo era trançado e branco, e ele sorria divertido, uma chama de travessura em seus olhos pequenos.

- Quem... é você? - Ela sussurrou. Se colocou próxima os rapazes, e juntos observaram o homem se aproximar com incrível desenvoltura.

No entanto, o homem olhou para Eros longamente.

- Eros, filho de Helena da Grécia. Seja bem-vindo.

- Como... como sabe quem eu sou? Ou quem é minha mãe?

O homem riu, mostrando dentes perfeitamente brancos.

- Ora... como não saberia, se ela foi o amor da minha vida?

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Yanka não conseguia desviar a atenção de Eros enquanto esperavam. Ele parecia apático e distraído depois que o homem, que se autointitulara como sendo o próprio Bruxo da Árvore os levara pela Floresta de Gigantes até o lugar que morava.

Os macacos os acompanharam o caminho inteiro, fazendo muito barulho e tentando roubar tudo que viam na frente, atazanando até o pobre de Cinzento, que parecia levemente irritado com a zueira.

A casa de Bruxo da Árvore era nada mais do que uma enorme árvore, na qual ele escavara seu interior e fizera uma pequena e charmosa cabana. Apetrechos e bugigangas foram penduravam nos ramos da casa árvore, fazendo do lugar algo extremamente único que Yanka nunca vira em toda a sua vida.

Luz do sol caia com abundância na clareira que cercava a árvore, lançando sombras de suas folhas e criando um mosaico de luz e sombras no chão.

Eros, Yanka e Kaiko se sentaram na grama verde e macia enquanto esperavam que o cheio de energia Bruxo voltasse de sua cabana. Cinzento se desabou ao lado deles enquanto balançava a tromba, feliz pela primeira vez desde que entraram na Floresta.

Eros se deitou depois de um tempo, os olhos fechados.

- O que fazemos? - Kaiko mexeu os lábios sem emitir som. Era fofo o jeito que ele se preocupava com Eros.

- Não sei – Yanka franziu a testa.

- Parem de falar de mim como se eu não estivesse aqui – Eros resmungou.

- Mas...

- Hora de comer! - Bruxo da Árvore saiu da cabana, com panelas, caçarolas, cestas e muita fruta lotando seus braços fortes, além de arrastar uma caixa de madeira, repleta de frutas para Cinzento. A bicharada que tinha se aninhado nas árvores ao redor da clareira festejou e uivou de animação. Bruxo apontou o dedo para eles – Fiquem quietos! Esta comida é para meus convidados!

Um rosnado assustador saiu de um dos animais, um pequeno mico. Yanka não conseguiu deixar de rir.

- Então é assim que eles assustam quem entra aqui?

- É um pequeno truque que eu ensinei à eles – O homem parecia feliz enquanto arrumava a comida em um pano e Yanka se viu encantada pelo lugar e pelo jeito de Bruxo. Era impossível ficar com raiva ali.

A boca de Yanka se encheu de água quando viu o que o homem trouxera. Frutas difíceis de serem cultivadas ali, como melão, mamão e laranja estavam cortadas. Havia uma variedade de jarras com sucos e água, além de pãezinhos com especiarias, batatas cozidas ao creme de brócolis, torta de antílope, pimenta recheada com cenoura e alho e mais uma infinidade de coisas.

Começaram a se servir, mas parou quando viu Eros se ajeitar e encarar Bruxo da Árvore intensamente

- Como conhece minha mãe?

O homem pareceu pensar por um bom tempo antes de finalmente responder, entre uma mordida de outra da torta.

- Não deveria perguntar como eu conheço, grande guerreiro, mas porque eu conheço sua mãe.

Eros bufou exasperado, e Yanka botou uma maça em sua mão, incentivando-o a comer. A falta de cor em seu rosto a deixava preocupada.

- Há muito tempo as minhas gerações passadas começaram a viver aqui. - O homem começou, a voz cadenciada, repleta de anos de experiências - Nunca fomos bem aceitos pela tribo Ula, por acharem que usamos magia estranha para construirmos coisas que vão além da imaginação, mas começamos a viver definitivamente aqui por causa das joias que vocês usam.

- O que constroem? - Kaiko parecia extremamente interessado. O homem riu, entusiasmado.

- Qualquer coisa, jovem ferreiro. Fizemos muitas coisas incríveis, mas como é de se esperar, a inveja e o medo foram maiores que o desejo de crescer e prosperar. Então, há muitas gerações, minha família se esconde nessa Floresta.

- O que isso tem a ver com a minha mãe? - Yanka entrelaçou os dedos nos de Eros antes que ele avançasse no Buxo da Árvore, mas este nem pareceu notar.

O homem pegou uma bugiganga do bolso, uma bola cristalina maior que sua mão e a colocou contra o sol. Imagens rodopiantes fizeram sombra na grama, enquanto ele contava a história.

- O avô do meu avô foi procurado quando ainda era jovem por três jovens mulheres – Silhuetas de mulheres apareceram na grama, em frente a um velho encurvado – Elas continham um poder enorme dentro de si, que estava era invejado por homens maus. Elas queriam algo que canalizasse seus poderes, para um grande confronto que prometeria paz e prosperidade a esta terra – Ele girou a bola, e o homem encurvado apareceu debruçado sobre uma forja – Meu antepassado passou dias trabalhando, até chegar naquilo que vocês usam hoje: os colares. Três deles, um para cada Mãe. Separados eram poderosos, mas juntos são invencíveis.

Ele girou a bola, e as silhuetas pareciam estar passando poder para os colares.

- O processo de passar poder para os artefatos exauriu as Mães e debilitaram-nas de forma que tudo o que conseguiram fazer foi derrotar os Anciões e nada mais.

- Como isso foi parar com a minha mãe? - Eros apertou a mão de Yanka e ela percebeu que ele suava frio. Bruxo da Árvore suspirou, olhando para longe da clareira, obviamente lembrando de um tempo antigo.

- Calma, grande guerreiro. Nada poderá ser entendido, se eu falar tudo de uma vez. No tempo que estiveram aqui, as mulheres demonstraram seus poderes – As silhuetas mostravam as mulheres usando seus poderes – Aparentemente, esse era um dom passado de mãe para filha, que se extinguiu depois do grande confronto. Rila tinha o poder de manipular a água e tudo que era relacionado a ela. Meu pai me contou, que ela era capaz de fazer chover, e encher as vasilhas secas dos animais. Onde ela passava, a vida prosperava e o povo era feliz. Mila, manipulava a terra. Fazia terremotos, conseguia fazer a vida crescer em solos secos, fazia abrigos a quem precisava e curava com suas ervas e seu conhecimento. Onde ela passava, havia saúde e risos. Tila conseguia domar qualquer tipo de vida. Fazia os mais selvagens animais parecerem animais dóceis, fazia animais dóceis ficarem selvagens. Fazia mudo falar, surdo ouvir. Entendia pessoas com problemas mentais, que eram escorraçadas da sociedade. Onde ela passava, havia bondade e amor. Juntas, elas eram as joias mais preciosas dessa terra, as mulheres à frente das Mães, a força de todo o Continente.

A bola agora mostrava os feitos dessas mulheres, e Yanka teve vontade de chorar. Eram mulheres incrivelmente corajosas.

- Quando elas canalizavam seus poderes juntas, criavam outra coisa: a capacidade de prever o futuro. Foi a partir delas, que a profecia foi criada, e foi por causa delas que toda a minha geração tem vivido aqui. - Ele baixou a bola e a rolou entre os dedos. - Nos disseram para esperar... para quando o grande guerreiro viesse. Fizeram o mesmo com as descendentes das mães. Nos prepararam e nos ensinaram, e tudo o que nós temos feito nos últimos séculos é esperar por você, Eros.

Yanka finalmente entendeu. Ela fora preparada para receber Eros. Para cumprirem a profecia. Tudo fora revelado há muito tempo.

O grande guerreiro se ajoelhou, inclinando o corpo, ávido para que Bruxo da Árvore contasse mais. Seus olhos pareciam desesperados e Yanka sentiu vontade de abraçá-lo. Não sabia como ajudar, então apenas permaneceu quieta, assim como Kaiko.

- Minha mãe, Bruxo da Árvore. Por favor.

- Existe uma parte da profecia que vocês não conhecem, garotos. - O homem sacou uma folha amarelada de um dos inúmeros bolsos de seu avental e estendeu diante deles. Eros voltou os olhos ansiosos para Yanka, e ela se debruçou para ler.

Pelo fogo a jornada começará

Um guerreiro pálido da água

Uma filha da terra

29 homens pálidos e uma mulher

Perseguindo 3 fugitivos e 1 morto ladrão dos seres vivos.

Na tribo dos 50 antílopes terão que libertar os selvagens,

E na tribo voraz, 10 preciosidades terão que negociar

Pela tribo guerreira, 4 terão que derrotar o que não pode ser derrotado

E 2 corações devem ser testados na tribo sacerdote

3 terão que enxergar além do óbvio na tribo de tetos altos

E por fim, unir 3 artefatos na tribo mãe

Irão em busca da salvação de 1 tribo

E vão salvar o Continente inteiro

Até a 2° lua subir, ou toda a terra perecerá

E a vida prosperará

Sobre o sacrifício dos corações de 2 pessoas.

- Eu sou descendente da terra – Yanka apertou o colar dourado nas mãos. Olhou cautelosa para Eros – E ele é descendente da água?

Bruxo da Árvore assentiu, sem tirar o olhar de Eros. Kaiko teve que colocar o braço em cima dos ombros dele, caso Eros tentasse esganar o homem, na sua ansiedade de saber tudo.

- A profecia, feita pelas três mulheres neste mesmo lugar, foi bem recebida por Mila e Tila. No entanto Rila... - Ele tornou a erguer a bola. Rila segurava nas mãos um bebê, as vestes voando enquanto fugia – Rila estava grávida e ficou com medo do que a profecia significava para suas próximas gerações. Quando teve o bebê, ela viajou por muito tempo até chegar na costa do Continente. Lá, ela entregou seu filho e pediu que o levassem para o mais longe que conseguissem.

- Então... - Eros murmurou. Ela parecia zonzo. Engoliu em seco antes de falar – Eu sou mesmo descendente de Rila?!

- Exatamente.

- E como... como minha mãe veio parar aqui se vocês esperavam um grande guerreiro?

O homem coçou a cabeça, como se também não entendesse.

- Essa é a parte que bagunça tudo, Eros. Sua mãe ao que parece, veio por vontade própria, para que você não viesse. Ela veio para morrer no seu lugar. 

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