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Eros rolou para longe quando a forma, ainda indistinta pousou exatamente onde ele estivera com Yanka.
Um rosnado baixo, e Eros teve certeza de que aqueles eram os predadores temidos pela tribo Ula.
Ele recou, a espada apontada para a frente enquanto a massa de músculos, arabescos e formas brilhantes parecia avançar. Adrenalina passou pelo seu corpo e Eros se esforçou em manter a calma. Seguindo seu instinto, havia mais daquele monstro os cercando, as patas fazendo barulhos minimos.
- O que são? - Ele pergutou para Kaiko.
- Obviamente animais, mas não faço ideia do porquê eles têm tatuagens como o povo da tribo Ula. - Sua voz saiu algum ponto na lateral de Eros.
- E como vamos derrotá-los no escuro? - Yanka parecia travar uma batalha consigo mesma para deixar o medo fora da sua voz. - Eu nem sei se estou recuando de um animal ou de uma árvore!
Uma risada rouca fez Eros pular de susto, esquecendo momentaneamente do inimigo à sua frente. A risada aumentou ao ponto da pessoa se engasgar com a própria saliva.
A pessoa tossiu, e Eros passou os olhos freneticamente pelo lugar, tentando achar o dono da voz, mas apenas as formas ondulantes que brilhavam no escuro eram visíveis.
- Quem é você?! - Eros gritou, e a fera a sua frente rosnou. Um barulho de passos ao seu lado o fez pular.
- Eu sou quem não deveria ser, e não sou quem deveria. - A voz rascante parecia flutuar ao redor deles, falando na língua de Eros. Quase não tinha sotaque e Eros se viu surpreso por algum homem desconhecido saber se comunicar com ele.
- E onde você está? - Eros testou um passo para o lado, mas um rosnado baixo o fez recolher a perna. Atacar às cegas, usando somente as formas ondulantes no escuro era simplesmente loucura, mas permanecer à mercê dos animais não parecia uma boa ideia.
- Estou em todo lugar em lugar nenhum.
Ele ouviu uma bufada em algum lugar, e Kaiko gritou:
- Não pode achar que não iremos atacar esses seus... esses seus... Monstros!
A voz riu, divertida. Eros se forçou a soltar o ar dos pulmões. Ele estava testando-os.
- Porque não atacam, então?
Silêncio reinou, enquanto Eros se agachava, ficando na altura das feras.
- Mal conseguimos ver suas feras, e aparentemente elas nos cercaram. O que quer de nós? Só estamos aqui para ver Bruxo da Árvore.
- Ah! Vejo que temos um rapaz espirituoso aqui! - A voz parecia animada e entretida, e Eros teve vontade de atacar às cegas, só para ver se acertava aquele individuo irritante. - E o que voces estariam dispostos a entregar para ver esse tal de Bruxo da Árvore?
- Cuidado, Eros – Yanka avisou, em algum lugar a sua frente – A tribo Ula pode ser tão ardilosa quando a tribo Yeta se assim quiser.
- Ora minha cara, por que estragar meu jogo?
Depois de um farfalhar, Yanka soltou um gritinho e Eros avançou, mesmo com o aviso da fera.
- Yanka!
- Estou bem! - A voz dela era uma mistura de trêmula e corajosa. Eros queria gritar de frustração. E por que eles não ficaram todos juntos?!
- O que você quer? - Ele gritou, a mão apertando tanto o cabo da espada que ele entrou dolorosamente em sua carne. - Eu juro que se encostar um dedo sequer em qualquer um de meus amigos, eu vou arrebentar sua cabeça...
O homem gargalhou de novo.
- Faz anos que não tenho tanto divertimento! Não sei quem os mandou aqui, mas me fez um favor enorme! Vou deixá-los passar, se me entretiver mais.
- E o que deveríamos fazer? - Yanka perguntou.
- Devem achar um jeito de descobrir o que são minhas queridas feras. Se verem, estarão livres, e ainda os levarei até o Bruxo da Árvore. Vou dar a vocês alguns momentos.
E com um barulho pequeno, Eros entendeu que, quem quer que estivesse brincando com eles, havia ido embora.
- Eros – Kaiko chamou. - por que não acendemos uma tocha?
- Como faremos isso? - Kaiko praguejou. A tocha que tinham acendido antes de se recolherem estava apagada e nenhum deles tinha nada para fazer fogo.
Eros sentiu que ficaria desesperado a qualquer hora. A sensação de impotência lhe consumia ao ponto de deixá-lo a beira da loucura. Só de pensar que não tinham nada que pudesse ajudar...
- Yanka – Ela respondeu com um murmúrio, enquanto um plano maluco se formando na cabeça de Eros - Eu sei que vai parecer loucura, mas me ouça com atenção. Vamos usar nossos colares.
- O que? Não Eros, não tem como saber o que vai acontecer...
- Bumbo disse que nossos colares têm poderes.
- Mas nem sabemos quais são! Eros, pode acontecer qualquer coisa se usarmos, ou não acontecer simplesmente nada!
- Estou disposto a pagar o preço.
- Eu também – Kaiko concordou.
Yanka bufou.
- Preferia bem mais quando vocês se odiavam.
Eros percebeu que as feras ao seu redor se tensionaram. Ele levou a pequena concha aos lábios e soprou. Longos momentos se passaram, e nada aconteceu.
- Não acho que deu certo. - Eros concordou com Kaiko. Tudo parecia estranhamente estagnado, o ar parado e escuro e as feras com desenhos brilhantes ainda os cercavam. - Faça você, Yanka.
Eros, de algum jeito instintivo percebeu o exato momento em que Yanka soprou o colar, como se algo houvesse mudado no ar.
A terra tremeu violentamente e Eros se viu desequilibrando. Até as feras ficaram instáveis, enquanto o tremor se tornava cada vez mais forte. A parede atrás de Eros começou a se partir, e poeira a o sufocou.
- Precisamos sair de dentro da torre!
- Como? - Yanka gritou de algum lugar.
No mesmo momento, uma parte da estrutura acima de suas cabeças começou a se partir e caiu com um estrondo enorme, que fez Eros agachar e cobrir a cabeça com os braços.
Um grande facho de luz explodiu no lugar, e ele piscou diante da claridade súbita, depois de tanto tempo no escuro.
Girou a cabeça, tudo ao seu redor banhando em um dourado vivo.
- Yanka, Kaiko?
Eros... - Yanka murmurou - Você viu o que está nos cercando?
E ele finalmente enxergou as temíveis e assustadoras feras da Floresta de Gigantes.
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