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Yanka nunca se sentiu tão aliviada na vida do que quando Eros decidiu entrar na Floresta de Gigantes. Apesar de ter dispensando-o, em seu coração ela achou que não suportaria continuar sem ele. Observou o homem falar com sua tropa, enquanto aguentava as reclamações. Ela se sentia grata e calma pela decisão dele, e irresistivelmente atraída por aquele ser humano incrível.

Depois de uma longa discussão, os homens permaneceram agrupados, olhando desconfiados para a tribo Ula. Em sua maioria, estavam cabisbaixos e com olhares temerosos. Apenas Tiro, Catri e Gleitor se mantiveram tranquilos com a e aquilo pareceu confortar um Eros tenso e dividido.

Nicholas foi o mais resistente. Yanka entendia sua preocupação e se sentia mal por ter colocado Eros naquela situação. Apesar disso, ele ficou para trás, para ficar de olho em Ícaro e Alexander, que até aquele momento não haviam dado nenhum passo suspeito.

Conseguiram negociar com a tribo Ula acomodações e uma passagem segura para a tropa de Eros, desde que eles conseguissem sair da floresta, vivos.

E enfim, quando tudo estava resolvido, deixaram para trás os homens, a tribo Ula e também uma Wika saudosa.

A menina insistira para que eles levassem o animal gigante que sempre a acompanhava, dizendo que ele poderia achar o caminho para tribo Tote em qualquer lugar do Continente, bastava falar que queriam voltar para casa. Depois de hesitarem um pouco, aceitaram.

- Quem dá o nome de um animal de Cinzento? - Eros perguntou depois de terem andado em silêncio por algum tempo. O animal os seguia tranquilamente, as passadas lentas e enormes acompanhando os humanos rápidos.

- Aqui nós temos a mania de nomear pessoas e animais com aquilo que elas conquistaram, seja pelo lugar que moram, ou por algo da sua personalidade. - Kaiko pulou um tronco caído. O pio de uma coruja fez Yanka se encolher. O lugar era sombrio e acidentado, iluminado esporadicamente por fachos de luz que atravessavam as coberturas acima de suas cabeças. O lugar era sombrio o suficiente para deixá-la apreensiva de como como achariam Bruxo da Árvore, ou como sobreviveriam, apesar de estarem bem abastecidos.

- Você é tão sabichão – Eros resmungou e Kaiko riu dele – E como devemos cuidar desse grandão?

- Acha mesmo que precisamos cuidar dele?

Eros encarou o animal enorme por um tempo, pensativo.

- É, acho que ele pode se virar sozinho.

- Anh... e alguém sabe como iremos...

Ela escorregou no chão úmido, algo que definitivamente não estava acostumada e caiu sobre próprias as mãos. Eros correu para seu lado, levantando-a cuidadosamente.

- Tem que tomar cuidado – Ele murmurou, encarando seu corpo em busca de machucados. Yanka mordeu os lábios com sua avaliação.

- Para você é fácil falar, parece que nasceu andando em uma pilha de obstáculos. - Ela resmungou, voltando a andar.

- Não é tão difícil assim – Kaiko retrucou.

Yanka olhou para os dois, sem acreditar.

- É impressão minha ou os dois se viraram contra mim?

- O que mais me choca é que a gente concordou em algo – Eros comentou e Kaiko bateu em suas costas, divertido. O coração de Yanka se encheu de alegria vendo os dois se provocarem amigavelmente, até se lembrar de sua dúvida.

- Ah! - Ela gritou, fazendo os dois congelarem no lugar. Avaliou ao redor, tentando se achar, mas não fazia a mínima ideia de onde estavam, já que não conseguia ver por onde tinham entrado. As ruinas os cercavam, pilares enormes destruídos pelo tempo. Pedras, terra e plantas se espalhavam pelo chão. - E como vamos achar o Bruxo da Árvore? - Ela tirou a mochila que levava as costas e começou a remexer nela – Obviamente precisamos de um plano.

- Não precisamos não.

- Precisamos sim. Ou querem morrer perdidos? Nossas provisões irão durar apenas dois dias.

- Não vamos morrer nem ficaremos perdidos – Ela fuzilou Eros com o olhar. Ele parecia estranhamente relaxado, e Kaiko escondia um sorriso.

- Estão me escondendo algo – Ela acusou. Eros apontou para o lado e Yanka o olhou sem entender. - O que é?

- Olhe atentamente.

Depois de avaliar atentamente, ela percebeu com um susto que uma concha estava gravada em uma das ruínas, numa enorme torre que quase não parecia ter sofrido com a ação do tempo. Pegou seu colar dourado nas mãos e comparou. O desenho era exatamente igual.

- Descobrimos antes de entrar na floresta – Eros contou calmamente – Aparentemente existem alguns desses espalhados, e estamos seguindo aqueles que encontramos.

Yanka socou seu peito com força.

- E por que não me contaram?! Acham que eu sou palhaça?

Eros a puxou contra si, segurando seus punhos. Encarou a boca dela cobiçosamente e murmurou:

- E perder a chance de vê-la brava comigo, panemorfi?

Yanka chutou sua canela e Eros pulou em uma perna só, enquanto sua carne latejava.

- Da próxima vez que me irritar, pode pegar suas coisas e ir embora – Ela ameaçou, pisando firme.

- Acha que ela me deixaria ir embora? – Comentou com Kaiko enquanto a seguiam. O homem riu, divertido.

- Ah, tenho certeza de que ela moveria céus de terra para te manter aqui.

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Andaram até muito depois dos fachos de luz se tornarem amenos até desaparecerem completamente e ser impossível ver o caminho ou os símbolos.

Os símbolos continuavam aparecendo, como se os guiasse em um caminho invisível e no entanto, pareciam não estar chegando a lugar nenhum.

Yanka desabou contra uma ruina, cansada e frustrada, o corpo dolorido.

- Essas marcações podem não dar em nada.

Eros deu de ombros, remexendo na mochila que levava.

- Ou podem dar. - Ele puxou tiras de carne seca e distribuiu. Balançou o cantil, vazio e suspirou. - Menos um. Quanto de água ainda temos?

-Mais quatro cantis.

- Engraçado que nessa jornada eu nunca me preocupei tanto com água quanto agora – Ele riu, sem acreditar.

- Porque conhecemos o Continente, bunda mole – Kaiko explorava uma das ruínas, em busca de abrigo para passarem a noite, uma tocha nas mãos sendo a única fonte de luz. – Sempre nos abastecemos o suficiente nas tribos, e isso durava somente até encontrarmos a próxima. Mas este lugar... nunca nenhum de nós entrou aqui. Não sabemos o que vamos encontrar, nem como sobreviver.

Yanka tentou ignorar a cautela na voz de Kaiko. Ela também se sentia amedrontada ali dentro. Se acostumara com a vastidão e a secura do Continente. Mas aquilo ali... estava além da sua compreensão.

Para se distrair, ela observou de forma distante Cinzento. O grande animal erguia a tromba de vez em quando, mas na maioria do tempo, a usava para levar grama a boca. A pele era grossa e cinza, e os olhos escuros eram calmos. Fora isso, a Floresta parecia estranhamente calma, sem nenhum sinal das temidas feras que ali habitavam.

Ela fechou os olhos momentaneamente, o cansaço a arrastando para baixo. Nem forças para comer ela tinha.

Acordou sendo erguida, a cabeça apoiada em um peitoral musculoso. Ela se aninhou contra a carne quente, confortável e feliz de estar ali.

Dormiu por horas até acordar. Ainda estava escuro, e nem havia sinal dos fachos pálidos acima de suas cabeças. Após acostumar os olhos com a escuridão, ela conseguiu ver o contorno de uma das ruínas da tribo Ula.

Eros dormia sentado ao seu lado, a respiração calma e Kaiko estava encarapitado em cima de um monte de pedra, observando atentamente ao redor.

Yanka espantou o sono, e estava prestes a se levantar quando um movimento chamou sua atenção. Ela ficou paralisada, e pelo canto de olho, viu que Kaiko fez o mesmo. Segundos depois, a mesma coisa aconteceu.

Ela estendeu a mão, sem tirar os olhos da figura que parecia estar se aproximando deles. Cutucou Eros com força, e ele acordou imediatamente.

- O que... - Ele se interrompeu. Lentamente tirou a espada da bainha.

Formas e arabescos brilhavam no escuro, e quanto mais se aproximavam, mais se dividiam e os cercavam.

Yanka puxou sua funda e Kaiko puxou sua faca longa.

- Não sei se eu já disse isso – Eros falou, enquanto se aproximavam lentamente de Kaiko. Ele olhou Yanka intensamente, e mesmo no escuro ela conseguiu ver seus olhos azuis brilhando em desejo. Seu coração martelou contra o peito, o medo momentaneamente esquecido. Yanka só queria ficar naquele momento, tocá-lo... - Mas se eu morrer, quero que me faça um favor.

- Qual? - Ela prendeu a respiração. O que um homem como ele pediria quando sua vida estava em perigo?

Eros deslizou os dedos pela nuca dela e murmurou em seu ouvido, enviando uma onda de arrepios pelo seu corpo.

- Diga que eu fui o guerreiro mais nobre que passou por essa terra.

Yanka virou a cabeça, os lábios a milímetros do dele. Ele sorria divertido, os olhos na sua boca.

- Então vamos ter que dar um jeito de você sobreviver, Yretoo, assim não terei que mentir.

Ele sorriu, a chama entre eles ardendo e empurrou Yanka para longe, bem no momento em que uma forma pulou sobre eles. 

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