42 ☰••

Foi a primeira vez que Yanka viu as fascinantes construções da tribo Ula. Nem mesmo em suas viagens pelo Continente lhe foi mostrado tudo.

- Uau – Gleitor, arquejou - É simplesmente... magnífico!

E Yanka tinha que concordar. Torres impressionantes se erguiam na tribo, como grandes sentinelas. Incrustradas nas torres, haviam pequenas casas, que quando olhadas de longe, parecia apenas parte de uma aglomeração de árvores incrivelmente grandes, com seus topos encimados por coberturas que imitavam as copas das árvores.

As torres circulavam um pátio central, que tinha uma torre maior e mais robusta. Diferente das outras, nesta não havia pequenas casas aéreas, mas era lisa e sem aberturas.

Tochas, que mais pareciam pequenas estrelas, se penduravam em cordas amarradas entre as torres em ziguezague.

Yanka estava tão impressionada, que mal percebeu quando um homem da tribo se adiantou.

As formas que os levaram até ali, brilhantes, na verdade era o próprio povo da tribo. O que brilhava eram as tatuagens que cobriam seus corpos, em uma espiral de desenhos. Usavam capas grossas que cobriam o peito até o meio das coxas, com grandes cintos repletos de ferramentas rodeando suas cinturas.

- Recebemos uma mensagem de Bumbo – O homem falou, a voz repicando e ecoando. Ele tinha o cabelo trançado preso em um coque, assim como a maioria das pessoas que apareciam furtivamente das casas aéreas, espiavam o estranho grupo. - Bumbo implorou para que os recebêssemos, mas não sabemos se podemos confiar em vocês. O que querem aqui? E quem são eles? - Ele apontou com o queixo para Eros.

- Eu sou Yanka, da tribo...

- Eu sei quem você é. A notícia do que está acontecendo viajou pela terra, Yanka da tribo Cati. Todas as tribos estão temerosas e alguns dizem que por onde vocês passam, deixam um rastro de destruição.

- Isso não é verdade – Kaiko protestou – Estamos seguindo a destruição, e não a levando. Estamos tentando descobrir...

- Não acreditamos em vocês. - O líder da tribo afirmou, a resistência no olhar.

- Então por que nos trouxe aqui?

A postura era de defesa, e Yanka percebeu que todos os guerreiros que o acompanhava tinham uma arma a vista.

- O que está acontecendo? - Eros a cutucou insistentemente até ela bater em suas mãos, irritada.

- Ele disse que não confia na gente. Acredita que estamos levando a desgraça a todas as tribos.

Eros mordeu o lábio, e Yanka teve que desviar o olhar, para poder controlar seu coração. Montar um antílope junto com ele deixara seus nervos à flor da pele.

- Precisamos passar e encontrar o... - Ela tentou, desesperada. O líder balançou a cabeça, enfaticamente.

- O que irá acontecer conosco se eles não aceitarem? - Tiro perguntou, o medo evidente nos olhos.

Kaiko abriu a boca para responder, mas Nicholas interrompeu, a tez carregada de preocupação.

- Deixe-me adivinhar. Morreremos?

O silêncio que se seguiu foi a confirmação necessária do destino que os aguardava na tribo Ula.

Yanka se sentia sem saída. O que ela deveria fazer?

////

Foi no meio da noite que ela ouviu.

Um barulho pequeno, como alguma coisa sendo arrastada no chão.

Olhou ao redor do pequeno acampamento adormecido deles, nos limites da tribo Ula. O líder havia permitido que passassem a noite, depois de muito implorarem para que seu destino fosse decidido pela manhã.

A escuridão os envolvia, interrompida apenas pela luz suave que emanava da tribo. Yanka ficou em estado de alerta por alguns minutos, uma sensação estranha no peito.

Quando resolveu que era apenas coisa da sua cabeça e resolveu voltar a dormir, ela ouviu o barulho novamente.

Ela cutucou a forma grande ao seu lado e Eros acordou de prontidão, uma faca na mão. Yanka fez sinal para que ele fizesse silêncio e ouvisse.

Eros inflou as narinas, cheirando e virando a cabeça, completamente desperto.

O som tornou a aparecer, e Eros virou a cabeça na direção de um ponto específico, atras de si, exatamente na direção oposta à da tribo. Para Yanka, não havia ali além de escuridão, mas ele permaneceu imóvel como um predador.

Lentamente, Eros acordou um a um de seus homens, pondo-os de alerta enquanto o barulho ficava cada vez mais perto. Yanka pegou sua bolsa pequena de pedras e sua funda, pronta para entrar em combate a qualquer momento.

Kaiko pegou sua faca longa com cabo de osso, Catri tirou o machado da correia e Nicholas encaixou uma flecha no arco.

Foi somente quando a forma estava mais próxima que Yanka conseguiu visualizar o que se arrastava no meio da escuridão. Um animal, maior que dois homens em pé juntos e com orelhas enormes, parou em frente ao acampamento.

Tinha uma enorme tromba em frente a face, e pequenos olhos pretos.

- Não ataquem! - Ela gritou, assustando as sentinelas. Ela fez movimentos desesperados com os braços, junto com Kaiko, para que todos baixassem as armas - Não ataquem. Não podem ferir o animal.

- O que isso quer dizer? - Tiro parecia confuso e amedrontado.

Eros se levantou e encarou o animal majestoso que tinha se postado em frente ao acampamento.

- Vai ficar escondida por quanto tempo? - Ele perguntou, e Yanka se questionou sobre a sanidade dele. Não havia nada ali além do animal.

Minutos depois, uma cabeça pequena surgiu por cima do bicho enorme. Olhos redondos e infantis encararam Eros com divertimento.

- Como sabia que eu estava aqui? - Era a voz de uma menina, e Yanka encarou Eros chocada. Como ele sabia que ela estava lá?

- Tenho certeza de que um animal tão grande não ficaria nos encarando sem fazer nada por conta própria.

A menina desceu com habilidade do animal cinzento, caindo graciosamente sobre suas mãos e pés.

Não devia ter mais de doze anos, mas se adiantou como se fosse uma líder, os olhos brilhando com inteligência. Os guardas mal se moveram, e Yanka soube que ela não era uma menina qualquer, principalmente por estar vestida com uma capa de acabamento mais refinado, e ter um coque de tranças bem firmado.

- E como sabe que eu sei sua língua, guerreiro pálido?

Ele deu de ombros e Yanka observou fascinada a interação dos dois.

- Como não saberia se você está esperando minha chegada?

- Quem disse que estou te esperando? - Ela ergueu o queixo, duro em petulância.

- E porque veio aqui no meio da noite em um animal desse porte?

- Porque... - Ela piscou os olhos, aturdida. Logo em seguida abriu um sorriso sem um dente da frente e estendeu a mão. - Sou Wika, filha...

- ... Do líder da tribo. - Eros adivinhou, apertando a mão dela.

A menina voltou os olhos para o grupo, parando-os momentaneamente em Yanka.

- Ah! Outra filha de líder. - Ela entrou ousadamente no acampamento, ignorando o olhar de alarme nos guardas. Parou entre Yanka e Kaiko, pensativa. - Cati. - Apontou para Kaiko – Wattu. - Olhou para os homens que a encaravam, chocados - Grécia.

- Sabe de onde somos? - Tiro parecia chocado.

Wika soltou uma risada divertida e bateu palmas enquanto rodopiava pelo acampamento, olhando impressionada as coisas diferentes que a tropa de Eros levava. Com um sinal discreto, Eros ordenou que seus homens permitissem.

O coração de Yanka acelerou quando viu o carinho imediato que Eros dispensou a Wika.

Finalmente, a menina parecia satisfeita e finalmente parou na frente dele.

- Tenho que voltar – Anunciou, tristemente.

- Espere. O que devemos fazer para sermos aceito pela tribo? - Yanka perguntou.

Wika pensou por alguns momentos longos, se balançando em seus pés. Com um muxoxo, ela balançou a cabeça.

- Meu pai e todo povo estão com muito medo de vocês.

- Mas temos que encontrar alguém – Yanka grasnou, quase à beira do desespero – Existe algo grande se erguendo contra o Continente, e precisamos achar respostas para que o povo não pereça.

A menina pareceu levemente divertida enquanto observava Yanka gaguejar.

- E quem seria esse alguém, que tem a chave da sua resposta? - Ela perguntou, soando momentaneamente como uma adulta.

- Bruxo da Árvore - Kaiko respondeu no lugar de uma Yanka nervosa. A menina franziu a testa.

- Ele é um velho que vive isolado dentro da Floresta de Gigantes.

- Espere... Floresta de Gigantes? - Kaiko perguntou, e Yanka notou uma nota de medo em sua voz. Ela mesma não conseguia se imaginar entrando naquele lugar.

- O que tem lá? - Alguém perguntou.

- Dizem que feras enormes vivem na Floresta – Wika contou com entusiasmo, como se estivesse contando de uma aventura com os amiguinhos - Às vezes ouvimos seus rugidos a noite, e é aterrorizante. Bruxo da Árvore é o único que mora lá.

- E... nós temos que entrar lá? - Tiro perguntou, nervoso. Wika balançou a cabeça, naturalmente.

- Claro!

- E há algum jeito de sair vivos? - A menina deu de ombros.

- Bom, ninguém que entrou jamais saiu.

Os homens riram, de nervoso e Yanka se encolheu por dentro. Wika definitivamente não estava ajudando.

- E como fazemos para entrar lá? - Eros perguntou, ignorando os protestos da tropa. A coragem daquele homem era enorme.

- Não podem encontrá-lo a não ser que ele queira ser encontrado. Mas o fato é que devem entrar na Floresta. Sobre como vão entrar... eu tenho uma ideia.  

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top