39 ☽☐▲•
Eros saiu batendo o pé, indo o mais longe possível de Yanka.
Perguntas rodeavam sua cabeça sem parar e ele tinha vontade de gritar de frustração. Quando achara que começara a entender o que estava acontecendo, parecia que as respostas estavam mais inalcançáveis ainda e com toda certeza Yanka não estava ajudava.
"Se ao menos você estivesse aqui, mãe", Ele pensou, desesperado, "Ao menos eu saberia o que está acontecendo".
Bufando, ele virou uma esquina e voltou na mesma hora, colando o corpo na parede.
Espiou no cantinho da parede e visualizou Ícaro e Alexander no meio de uma discussão com um integrante da tribo Saqua. O homem olhou para os lados furtivamente e entregou um frasco transparente, cheio de um pó branco.
O homem saiu na direção oposta à de Eros, e ele ouviu seus soldados conversando:
- Acha mesmo que isso fará efeito?
- Não sei. Não pareceu que dá outra vez fez o efeito que deveria, não é mesmo?
Alexander, o mais baixo, balançou a cabeça, parecendo contrariado.
- Tantas moedas gastas para o homem se levantar como se tivesse ressuscitado. E tudo por culpa dele...
Eros enrolou as mãos em punho, o coração acelerado. Então o motivo pelo qual ele quase morrera fora seus próprios homens. Eles o envenenaram.
Ele deu um passo para sair de seu esconderijo e exigir que se explicassem, mas foi puxado de volta. Yanka o pressionou contra a parede, um dedo nos lábios.
Eros tentou se desvencilhar dela, mas Yanka o imobilizou dolorosamente, e se ele se livrasse dela, só a machucaria.
- Me solte – Ele rosnou quando escutou seus homens caminhando para longe.
Yanka espiou para dentro do corredor e o soltou.
Eros virou a cabeça para longe dela.
- Não se meta nisso. - E tentou caminhar para longe, mas ela o puxou. O sentido de urgência em seus olhos fez ele parar.
- Estou desconfiada dos dois há um tempo.
- E por que não me contou?! - Eros estava realmente bravo com ela, em ponto de explodir. - Eles tentaram me matar, sabia?
Ela deu tapa forte no seu peito.
- Porque você sempre grita comigo quando quero falar algo importante, seu babaca. - Ela o puxou para longe do corredor. - Grita e sai pisando duro, fazendo um show de drama.
Ele a acompanhou, de má vontade.
- Você não me fala nada.
- Vou falar, bunda mole.
- Não me chame assim – Ele a puxou de volta, mas ela continuou arrastando-o.
- Vou continuar chamando enquanto você se comportar assim.
- E para onde está me levando?!
- Vou te jogar nas águas de novo se continuar com essa merda, Eros.
- Me jogue então!
- Não me teste!
- Socorro – Ele gritou, despertando a atenção de algumas pessoas. - Essa mulher maluca está tentando me matar!
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- Uau. - Eros olhou ao redor. Estavam em uma caverna, nos limites da montanha. Pequenos furos no teto acima lançavam fachos de luz nas dezenas de flores do deserto que se espalhavam pelo chão, um mosaico de flores maduras vermelhas e jovens, amarelas e laranjas.
Yanka começou a andar cuidadosamente entre as flores, e Eros a seguiu, pisando onde ela pisava e observando suas costas. Ele ainda estava bravo com ela, por isso se recusou a falar até que ela quebrasse o silêncio.
- Comecei a desconfiar dos dois quando roubaram o mapa na tribo Yeta. Eles estavam estranhos nos túneis, sussurrando um com o outro, como se escondessem algo. - Ela parou e se virou para ele, os olhos pensativos e Eros deixou sua armadura cair. Apesar de discutirem sempre, isso parecia sem importância depois de um tempo – Na tribo Wattu, vi os dois se esgueirando para as forjas e nos vendedores ambulantes, comprando muita coisa. Isso me fez desconfiar que eles roubaram algo da tribo Yeta. Não te contei porquê...
- Porque eu gritei com você – Eros entendeu e fechou os olhos com força.
- Não foi sua culpa. Eu escondi de você coisas que deveria ter compartilhado. - Ela parecia culpada.
- Porque escondeu, Yanka?
Ela se abaixou, brincando com uma flor vermelha.
- Me arrependo de não ter contado. Poderíamos ter evitado que você fosse que colocado na água e...
Ele se abaixou com ela e pegou suas mãos. A olhou nos olhos e tornou a perguntar, suavemente:
- Porque me escondeu as coisas, Yanka?
- Porque eu tinha medo de que você fosse embora. - Ela sussurrou, parecendo envergonhada. - Tinha medo de que no momento que eu te contasse algo você fugiria de mim.
Eros se sentou no chão, esperando, com a certeza de que ela contaria. Yanka engoliu em seco e finalmente falou:
- Minha mãe me deu esse colar – Ela o pegou, analisando – você sabe que a única regra que existe entre os líderes de tribo é a de que eles não podem ter parceiros fixos. Parceiros são considerados passageiros, fonte de distração dos deveres de um líder. Os frutos de parceiros, os filhos, são considerados dádivas dos deuses, e esses são permanentes. Mas meu pai amava muito minha mãe. Tanto, que mesmo depois da sua morte, ele escolheu não amar ninguém, em honra a ela.
Ela parou, a voz embargada. Yanka parecia incapaz de olhar para Eros.
- Antes que sequer soubesse ler na minha própria língua, minha mãe começou a me ensinar a sua. - Ela o olhou, os olhos marejados – Enquanto as outras crianças aprendiam a ler na nossa língua, eu tinha que aprender as duas. E tudo o que minha mãe me disse é que todas as mulheres, filhas das tribos deveriam passar por aquilo.
As peças se encaixaram na cabeça de Eros.
- Então, você, Kira, Bumbo...
Yanka assentiu.
- Somos todas filhas de chefes da tribo, e todas sabemos sua língua.
- Mas... por quê?
- Imagino que seja algo da irmandade – Ela deu de ombros, sem saber – Desde que a profecia foi feita, todas as filhas de líderes de tribo, sem nenhuma exceção, sabem sua língua.
- Como se me esperassem – Sussurrou Eros.
- Como se esperássemos você - Ela repetiu. Eros beijou seus dedos e os encostou em sua testa. - Como se você fosse nosso salvador o tempo todo.
- Não sou esse tipo de pessoa, Yanka.
- E o que tem feito nos últimos dias, Yretoo?
Ele riu. Yanka franziu as sobrancelhas.
- Do que está rindo?
- Não é engraçado? - Ele voltou seus olhos para ela, e Yanka ainda ficou surpresa que, em meio a tantas revelações e acontecimentos, ela ainda achava tempo para ter borboletas no estômago quando ele a olhava. - Tudo que nos trouxe até esse momento faz parte de uma profecia antiga, e fomos ensinados por nossas mães para estar aqui. E, no entanto, vivemos brigando, como cão e gato.
Yanka entrelaçou seus dedos. Apoiou sua testa na dele e murmurou:
- Se eu fosse uma mulher calma, estaríamos aqui, agora?
Ele balançou a cabeça.
- Você é a mulher mais explosiva e encantadora que eu já conheci em toda a minha vida. - Eros pegou uma flor vermelha e entrelaçou nos cabelos dela. - Inclusive, deveríamos conversar sobre o modo como nos tirou de Wattu, não acha?
Yanka ficou com um olhar distante e pensativo, e quando voltou, tinha uma careta de preocupação.
- Acho que eu não deveria ter feito aquilo...
- O que isso quer dizer? - Eros sentiu o clima leve entre eles esmorecer.
- Eu... - Parecia que ela estava tendo que fazer uma escolha difícil - simplesmente não posso.
- Não pode o que? Aceitar que existe algo entre nós?
Ela lhe lançou um olhar ultrajado.
- Eu não tenho...
- Tem sentimentos por mim sim, só não quer admitir. - Ele suspirou, tirando uma mecha de cabelo de seus olhos. - Yanka. O que aconteceu na água não significou nada para você? Você me resgatou com seu colar, de algum jeito. Bumbo disse que foram nossos dois corações. Me diga então que Bumbo estava errada.
Ela hesitou. Em seu coração Eros tinha a mais absoluta certeza de que as últimas semanas ao lado de Yanka fizeram com que ele a olhasse diferente, mas a incerteza no rosto dela o fazia querer recuar.
"Sou um guerreiro. Ganhei guerras mais difíceis do que essa", pensou.
- Eu simplesmente não posso, Eros – Ela tentou argumentar.
- Porque não pode, Yanka? Por que não pode aceitar que existe algo?!
- Não posso te dizer...
- Diga! - Eles se encararam por um longo instante antes de Yanka suspirar
- Não posso simplesmente dar as costas ao meu povo, tudo bem? Eu serei a próxima líder da tribo Cati, e ter um parceiro...
E Eros entendeu. Como líder, ela deveria renegar o amor em sua vida e focar somente na tribo.
Ele chegou os lábios bem perto do ouvido dela e sussurrou, deslizando os dedos pelo seu braço.
- Não me importo com tradições, Yanka. No momento, estou mais preocupado em te fazer admitir que gosta de mim.
Ela se afastou dele em um pulo, parecendo desconcertada.
- Deixe esse assunto para lá, Eros. Nós não podemos...
Eros sorriu, lançando a ela um olhar perigoso.
- Ninguém me diz o que eu posso e o que eu não posso fazer, Yanka.
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