27 Γ☐•
Eros achou que já tinha ficado surpreso com as outras tribos, mas aquela ali... Como eles conseguiam transformar aquele lugar estranho em lugares tão sensacionais, ele jamais saberia como.
A tribo estava localizada em cima de um penhasco, com milhares de metros de queda livre. O penhasco tinha dois enormes fossos escavados – um repleto de tendas, onde a vida acontecia, e o outro com uma arena de luta, forjas para armas e depósitos.
A borda do penhasco era guardada por homens agachados, carregando todo tipo de arma.
A tribo usava armações de ferro por cima dos olhos, que Yanka explicou serem viseiras, que os ajudavam a enxergar mais longe. Suas roupas eram de couro, além de terem fitas trançadas em seus cabelos e corpos.
- Uau – Até Nicholas, que não costumava se surpreender facilmente estava impressionado.
Tiro cutucava Catri, apontando, comentando, rindo e sua tropa parecia ter esquecido momentaneamente a exaustão.
Até Yanka parecia reluzir ao pôr do sol, mesmo depois de horas se arrastando no subsolo.
Uma mulher alta e forte se aproximou, com o sorriso mais amigável que Eros vira em alguém naquela terra. Ela abriu os braços e esmagou Yanka em um abraço de urso. Trocaram palavras e risadas e a mulher finalmente voltou sua atenção para Eros.
- Eros, essa é Kira. A líder da tribo Wattu.
- Uma líder mulher? - Eros exclamou, surpreso.
A mulher apertou seus olhos cor de mel para ele na mesma hora, e um segundo depois, Eros estava no chão enquanto era imobilizado dolorosamente por trás, a bochecha contra a terra. Ele ouviu sua tropa explodirem em gargalhadas, e a mulher sussurrou em seu ouvido.
- Algum problema com isso, cara pálida?
- Fala a minha língua? - Eros se engasgou.
Kira saiu de cima dele, espanando casualmente suas roupas de couro. Eros a observou atentamente enquanto se levantava. Apesar da postura aparentemente relaxada e do sorriso fácil, seus olhos tinham a sagacidade de uma guerreira, com armas dispostas de forma estratégica em seu corpo repleto de músculos.
- Há algumas gerações nós esperamos pelo cumprimento da profecia, grande guerreiro. - Homens e mulheres se juntaram ao redor da líder, olhando o estranho grupo com desconfiança - E além da profecia esperamos... Você.
- Eu? - Eros parecia confuso, mas quando olhou para Yanka, ela encarava o chão. Depois de tanto tempo juntos, ele sabia quando ela queria esconder algo... Como agora.
Seu coração apertou. As últimas semanas haviam feito com que ele baixasse a guarda e acreditasse plenamente em Yanka, já que lutavam constantemente juntos para permanecerem vivos. Agora que ele pensava com mais calma, se questionou por que nunca perguntou a Yanka como ela conhecia sua língua, ou porque ela usava aquele colar estranho.
De repente, se sentiu muito, muito, muito distante dela.
Yanka escondia algo dele... e Eros tinha a horrível sensação de que aquilo mudaria o curso de suas vidas.
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Ele se permitiu ser levado para o fosso com as tendas, junto com seus homens.
Yanka tentara puxar assunto, mas Eros se recusou a responder. A dúvida e a mágoa permeavam seu coração, a cabeça cheia de dúvidas. Yanka escondia algo dele e ele não sabia como reagir àquilo.
Eros ordenou que eles descansassem o máximo que pudessem, se limpou, vestiu calças de couro limpas e permitiu que dois homens da tribo trançassem cordas de couro em seus bíceps, peito nu e no cabelo loiro.
Sem hesitar, partiu em busca de Kira, se recusando a descansar e comer.
Foi encontrá-la no fosso, lutando com um guerreiro dentro da arena, enquanto algumas pessoas assistiam a luta e soltavam gritos de animação. A arena era afundada dentro do fosso, com arquibancadas revestidas de pedra rodeando a zona de luta. Eros se sentou em um banco, observando a cena à sua frente.
O guerreiro que lutava contra Kira demonstrava uma habilidade impressionante, rodopiando uma lança nas mãos. Mas Kira... Seus movimentos eram simples, nada espalhafatosos. Era como olhar uma água límpida. Ela aparava, recuava, atacava.
A mão que segurava a espada curva era fluida, a arma cortando o ar com calma e harmonia, mantidas mesmo quando o guerreiro intensificou seu ataque.
Eros tinha que admitir o quanto era difícil encontrar um guerreiro tão calmo e que conseguisse manter o mesmo ritmo de batalha, sem demonstrar cansaço ou raiva.
Ela finalizou o ataque quando o homem avançou, em golpes duros e violentos, e Kira rolou para longe, atacou sua retaguarda exposta e o jogou no chão, imobilizando-o. A multidão se ergueu em comemoração e Kira estendeu a mão para ajudá-lo a se levantar.
Eros desceu as arquibancadas para encontrá-la, mas foi barrado na entrada da arena por guerreiros enormes.
A líder da tribo se aproximou e permitiu sua entrada, apesar dos olhares desconfiados das sentinelas.
- Eles nunca viram alguém tão... desprovido de cor antes – Ela gracejou quando Eros entrou no cercado.
- Também nunca havia visto um povo com tanta abundância de cor – Ele devolveu, mas em tom de brincadeira. Não sabia por que, mas ela lhe trazia uma sensação de paz. Eros costumava ficar cauteloso perto de guerreiros que não conseguisse ler, mas Kira o fazia acreditar que seu coração gentil e sua inteligência afiada faziam dela uma mulher confiável.
A mulher riu. Caminharam lentamente pela arena, seguindo a cerca.
- Você tem uma habilidade em luta que raramente vejo. Luta desde pequena, certo?
Ela parecia pensativa.
- Luto desde meus quinze anos.
Eros a olhou, surpreso. Kira passou os olhos lentamente pelo fosso.
- Cada tribo tem seu chefe, cada chefe tem seus filhos e cada filho tem o destino de se tornar o próximo chefe. Infelizmente, a maioria dos nossos chefes são contrários à ideia de colocar as mulheres no poder, por isso eu fui criada para me casar com um guerreiro poderoso. A única maneira de me livrar de um casamento, era me tornando a líder.
Eros franziu as sobrancelhas.
- Por quê?
Kira sorriu, um sorriso triste demais para aquela ser uma história feliz.
- Chefes de tribo são proibidos de terem laços matrimoniais permanentes, pois se acredita que o amor é passageiro, e seu fruto é o presente dos deuses.
Antes que ele pudesse raciocinar o que aquilo significava, Kira parou em um ponto específico e Eros olhou para onde ela encarava. Uma forja imensa ficava em um dos cantos do fosso. Era possível ver homens em foles, martelando armas, alimentando o fogo. Kira o olhou atentamente.
- Está aqui para pedir um favor, não está?
Eros riu.
- Em muitos aspectos, você se parece com Yanka. - A mulher estalou a língua, um sorriso de satisfação e orgulho passando pelos seus lábios. - Quando chegamos, você me disse que esperam há muito tempo por mim. O que isso quer dizer? E... Achamos algo suspeito na tribo Yeta. Não sabemos quem deixou ou o porquê, mas pode ser uma resposta para a tribo adormecida de Yanka. A pista dizia para achar o Ferreiro Caolho na tribo Wattu.
Kira estalou a língua.
- E o que te leva a pensar que é digno de saber nossos segredos?
Eros a analisou cuidadosamente. Sua serenidade lhe disse que, diferente de Pati, Kira não estava sendo ambiciosa, ou queria usá-lo. Ela só estava calculando seus riscos.
- E como podemos ser dignos?
Kira sorriu, seu sorriso cada vez maior e no fim soltou uma forte gargalhada.
- Ora... lutando, Eros! Somos uma tribo guerreira, e desde pequenos somos ensinados a lutar quando queremos algo.
O corpo e a mente de Eros imediatamente se colocaram em estado alerta com o desafio.
- No que está pensando, Kira?
- Uma prova de valor – O divertimento permeava seus olhos dourados e Eros soube que de algum jeito eles estavam prestes a cumprir a próxima parte da profecia.
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