4. O Teste
O aposento sob a casa de chá era amplo e ricamente decorado. Um conjunto de sofás requintados se erguia ao lado de móveis feitos de madeira nobre e escura, e um tapete de lobo cobria o chão. Pinturas vindas de várias partes do mundo dividiam o espaço nas paredes com tapeçarias de rara beleza, bordadas com fio de ouro e de prata. Em um canto, um longo bar de madeira se estendia, pronto para servir todo tipo de bebida para quem desejasse. Toda a iluminação provinha de luminárias a base de óleo muito bem posicionadas, o que conferia ao ambiente um clima intimista e muito mais reconfortante do que o esperado.
Com um movimento rápido, Lana retirou o véu escuro que havia protegido seu rosto durante a viagem e revelou sua face. Linete parecia estar bastante nervosa, mas não hesitou em fazer o mesmo. Uma risada alta e familiar tomou conta do ambiente.
— Vejam só quem temos aqui!
O homem reclinado no divã era um velho conhecido. Lana o viu muitas vezes quando era mais nova, mas fazia muito tempo desde a última vez que se encontraram. Ela estava realmente feliz de revê-lo e não pode evitar que um sorriso escapasse pelos seus lábios.
— Saudações, Yal. — Lana cumprimentou.
Yal Vraz era um homem alto e bonito. Possuía uma pele cor de azeitona, assim como Lana e a maior parte dos nortenhos, e olhos tão grandes e verdes quanto duas esmeraldas. O cabelo castanho estava preso em um rabo-de-cavalo e ele se vestia à moda da capital, com calças escuras de couro, botas de cano alto e sobretudo vermelho. Era poucos anos mais velho do que Lana, mas já acumulava uma grande fortuna, mesmo sem pertencer a uma casa nobre. Havia usado muitos métodos escusos para obter poder, mas sempre fora um amigo legal da Casa Altharian, mesmo antes de se mudar para Ronan.
— É uma honra recebê-la em meu humilde estabelecimento, Alteza. — Yal tinha se colocado de pé e fez uma profunda mesura para cumprimentá-la. — Seu pai me avisou da sua chegada, mas ainda é surpreendente vê-la aqui. — ele deu seu melhor sorriso. — Embora não seja nada ruim.
— Também estou feliz em revê-lo depois de todos esses anos, Yal.
Lana estendeu a mão para que os dois pudessem trocar um aperto, mas ele usou-a para puxá-la para um abraço bem apertado, exatamente como ele fazia quando os dois eram crianças.
— Como posso ajudá-la, senhora? — ele perguntou quando os dois se separaram. Com a mão direita, indicou o sofá diante do divã, e Lana e Linete se sentaram.
— Eu gostaria de entrar no palácio, senhor.
— Ora, você não precisa de mim para isso. Basta colocar uma roupa bonita e o Imperador vai te receber com toda a atenção que merece a filha de um rei.
Considerando que Yal já sabia da chegada de Lana, era de se esperar que ele também soubesse os motivos que a levaram até ali, mesmo que eles não fossem totalmente verdadeiros. Apesar disso, desde bem novo ele tinha o hábito de fazer-se de bobo para tirar a verdade das pessoas. Lana notou então, com certa nostalgia, que ele não havia mudado nada.
— Não quero entrar como a filha de um rei. — sua expressão havia assumido contornos sérios enquanto ela o encarava. — Quero entrar como uma serva.
Yal limitou-se a encará-la de volta.
— Por que você faria isso, minha senhora?
— Há certas coisas que eu preciso aprender para me tornar uma boa governante e temo que só posso aprendê-las assim. — Lana havia dito aquelas mesmas palavras tantas vezes que agora elas já quase soavam como verdadeiras.
— Aprendizado, é? — embora Yal ainda conservasse uma expressão gentil, Lana podia sentir sua desconfiança. — Nesse caso, chegou em boa hora, senhora, pois o Palácio Real em breve admitirá novos criados. Apesar disso, temo que não haja forma de fazer com que você se torne uma imediatamente. Mesmo com uma indicação, o processo é muito rígido e seguro. Você ainda precisaria passar por todos os testes.
— Ora, não confia mais nas minhas habilidades, Yal?
É claro que não confiava. As senhoras nobres não eram exatamente conhecidas por saber servir.
— Longe de mim, senhora. — Yal tinha uma expressão zombeteira que queria dizer exatamente o contrário.
— Consiga-me um teste, Yal. — Lana pediu com uma voz macia. — Para mim e para Linete. O resto nós faremos.
Lana tirou da manga a carta de indicação escrita por seu pai e entregou para ele. Com uma expressão determinada, ele sacudiu o rolo no ar.
— Farei tudo que estiver ao meu alcance, senhora.
E fez mesmo. Quando as admissões começaram, Lana e Linete estavam entre as selecionadas para a segunda fase de testes, mesmo sem jamais terem feito as entrevistas necessárias para tal. A partir daquele momento, as duas precisariam passar em provas práticas que comprovassem suas habilidades, afinal elas serviriam na corte. Aquela etapa determinaria também qual posto elas ocupariam dentro do palácio, pois cada criado pertencia a um estamento da hierarquia. Eram quatro ao todo: o nível mais inferior era dos servos que desempenhavam tarefas de cunho mais operacional, como cuidar da limpeza e das tarefas pesadas do palácio. O segundo nível pertencia aos auxiliares, que tinham como função ajudar os funcionários reais, como os médicos e os magistrados, no desempenho de suas funções. Depois disso, vinham os atendentes da família real e por fim os atendentes do próprio imperador. Era difícil para qualquer um esperar alçar os níveis mais altos logo no ato da contratação, mas Lana ainda gostaria de evitar as tarefas mais difíceis.
— Para trabalhar para o Imperador é preciso mais do que simpatia. — dizia a Matrona Qin, uma mulher grande e gorda, com a expressão mais brava que Lana já tinha visto. — É preciso mais do que habilidade. Quero ver determinação e inteligência de vocês também.
Lana olhou ao redor. Na grande lavanderia, duas dezenas de mulheres se aglomeravam. Elas deviam ser apenas um décimo de todas as candidatas que nesse momento estavam espalhadas pelo palácio, desempenhando as mais diversas funções. No final, somente algumas seriam aprovadas. Lana precisaria dar o seu melhor e garantir que Linete também desse o dela.
A primeira tarefa, evidentemente, era lavar a roupa do palácio. Em pilhas gigantescas, se amontoavam os trajes usados por todos os moradores das dependências reais. Os finos vestidos das senhoras dividiam espaço com os trajes pesados dos soldados e as roupas grosseiras dos servos de estamento mais baixo. As mulheres tinham até o fim do dia para lavar, passar e remendar os trajes que precisavam de cuidados, mas nenhuma delas tinha ideia de como fazer tudo isso em tão pouco tempo. Mesmo que dividido entre um grupo grande, ainda era serviço demais para pouco prazo. Com picos iguais de determinação, cada uma delas se colocou diante de uma das grandes tinas fumegantes e deu início a tarefa a seu próprio modo.
Era a primeira vez que Lana lavava roupa na vida e estava sendo um desastre. Ela não sabia a maneira de correta de esfregar ou de torcer os tecidos, e se atrapalhava com os passadores, que consistiam em grandes recipientes redondos de metal repletos de brasas e manuseados por grandes hastes de madeira. Embora as roupas grosseiras e encardidas parecessem ser desafiadoras, ela logo descobriu que sua maior dificuldade seria os tecidos finos, alguns dos quais precisavam ser limpos sem serem lavados.
Linete fazia o trabalho com incrível maestria, então Lana decidiu imitá-la. Rapidamente ficou evidente que ela não possuía a mesma habilidade da amiga e ela logo se sentiu cansada demais para continuar. Os pulsos e os braços doíam mais do que ela gostaria de admitir. Quando a tarde estava em sua metade, Lana olhou ao redor e viu mulheres tão exauridas quanto ela. Somente uma ou outra parecia ainda ter forças para continuar a tarefa, mas a maioria carregava expressões tão cansadas que não pareciam ser capazes de continuar. Duas garotas desistiram logo cedo e as que continuaram estavam muito próximas de fazer o mesmo. Apesar disso, as grandes pilhas de roupas pareciam estar muito longe de chegarem ao fim.
— Jamais terminaremos isso. — Lana cochichou.
Linete, que estava esfregando trajes na tina ao lado, ergueu os olhos exaustos para ela.
— Temos que terminar, senhora, ou nunca seremos aprovadas. — respondeu. — Só queria que não tivéssemos que fazer o trabalho de tantas pessoas de uma vez só.
— Talvez nós pudéssemos... — Lana interrompeu-se abruptamente quando percebeu que a Matrona Qin olhava para ela.
Era esperado que as mulheres fizessem seu trabalho obedientemente e em silêncio, mas ela tinha tido uma ideia que talvez pudesse ajudar a todas. Mesmo sentindo que as pernas vacilavam devido a fadiga de seu corpo, Lana obrigou-se a ficar de pé. Todos os rostos se viraram para ela e ela sentiu o estômago afundar.
— Volte logo ao trabalho ou você será eliminada. — a matrona alertou friamente. — Aqui não admitimos moleza.
— Eu não desejo abandonar meu trabalho, senhora. — Lana respondeu da maneira mais cortês que conseguiu. — Mas acho que posso facilitar o trabalho de todas nós. Deveríamos estar dividindo as nossas tarefas ao invés de tentar fazer tanto trabalho individualmente.
— Você está tentando é nos sabotar! — reclamou uma jovem de cabelos claros.
— Tem a minha palavra de que não. — Lana respondeu. E explicou a toda a sua ideia.
O plano eram simples: as mulheres se dividiriam em grupos, cada um responsável por uma tarefa. Algumas acataram imediatamente a ideia, mas outras precisaram ver o novo sistema em funcionamento para se juntar as demais. Em pouco tempo, havia três contingentes realizando o trabalho: algumas mulheres ficaram responsáveis por separar as roupas de acordo com seus usos, outras pela lavagem propriamente dita e o último grupo por pendurá-las ou colocá-las nos grandes fornos de secagem. Quando o trabalho do primeiro grupo acabou, ele ficou responsável por passar todas as roupas que precisavam ser desamassadas. Lana, que não sabia passar e nem lavar, colocou a si mesma no grupo de secagem e se pôs a correr de um lado para o outro, carregando grandes bacias de metal repletas de peças úmidas. A medida que o trabalho foi sendo realizado, mais mulheres se juntarem ao grupo das lavadeiras. Uma senhora mais velha até ensinou uma técnica para tirar manchas de tecidos delicados sem precisar ensopá-los e todas conseguiam ver que o trabalho estava sendo feito de uma maneira bem mais eficiente e rápida.
As matronas que supervisionavam o teste não disseram nada. Lana achou-as muito parecidas com gárgulas velhas e encarquilhadas e riu internamente da maldade desse pensamento. Quando sol finalmente começou a se deitar no horizonte, a tarefa impossível estava finalmente concluída. O que podia ser lavado, estava lavado. O que precisava ficar de molho, estava mergulhado nas tinas e todas as roupas secas estavam já dobradas e prontas para serem devolvidas para os seus donos. Algumas mulheres sorriram para Lana, em agradecimento. Quando a Matrona Rose veio buscá-las, todas elas estavam prontas para a sua próxima tarefa.
— Gostei de ver. — a Matrona Qin disse para ela, antes que ela deixasse a lavanderia.
Apesar de cansada, Lana se sentia bastante satisfeita consigo mesma.
— Se não fosse por você, acho que agora todas nós estaríamos na sarjeta, minha senhora. — Linete segredou enquanto seguiam em fila dupla por um longo corredor.
— Não precisa de tanta formalidade, Linete. — Lana cochichou de volta. — Aqui eu não sou mais sua senhora, mas sua igual.
A mulher da frente virou-se repentinamente para elas. Era só uma adolescente, mas tinha um rosto bonito, apesar da expressão grave que ele carregava.
— Espero que vocês estejam especulando um novo plano genial — ela disse. — pois eu duvido que as coisas fiquem mais fáceis.
Antes que pudessem responder, a caminhada subitamente parou. Matrona Rose era a responsável pela cozinha e havia levado todas elas até as dependências onde as refeições eram preparadas.
— Acalmem-se, senhoritas. — ela disse. Tinha uma voz e uma aparência infinitamente mais suaves do que as da Matrona Qin. — As nobres consortes estão a espera de seu jantar. Será tarefa de vocês preparem a refeição. Nenhum erro será perdoado. — seu olhar varreu as fileiras e Lana teve a sensação de que ela olhou para o rosto de cada uma delas. — Alguma de vocês não sabe cozinhar?
Por sorte, Lana tinha algumas noções básicas de cozinha. Três mulheres ergueram as mãos. A Matrona Rose deu seu sorriso mais cálido para elas.
— Estão eliminadas. — ela disse. — As demais, por favor entrem.
Lana atravessou as largas portas de madeira ao som dos protestos das três mulheres. Rever aquele local fez seu coração doer. Nunca antes ela havia passado pelas portas traseiras do Palácio Real ou estado na lavanderia, mas em sua vida anterior ela havia frequentado a cozinha muitas vezes. Antes aquele lugar parecia estar sempre em atividade intensa e cheio de vida, mas agora tudo que restava era o vazio da ausência e o frio deixado pelos fornos desligados. Além das recém-chegadas, não havia mais ninguém. Mesmo assim, Lana ainda tinha a sensação de estar vendo sua casa depois de uma longa viagem.
— O jantar começará a ser servido em cerca de três horas. — disse a Matrona Rose. — Tudo que precisam saber está no balcão. Não se atrasem. — e fechou as pesadas portas de madeira, deixando-as sozinhas.
A supervisora do teste não era uma matrona, mas uma mocinha mirrada que Lana a princípio tinha achado se tratar de uma concorrente. Só ficou evidente que ela não o era devido aos seus trajes lilases, típicos da criadagem, e da atitude arrogante. Ela vigiava tudo em silêncio e se recusava a dar maiores informações. Mais tarde, Lana perceberia que a garota, na verdade, era muda e não cínica, mas já estaria ocupada demais para se arrepender de seu pré julgamento.
No centro da cozinha havia um grande balcão de pedra que era onde todas as refeições costumavam ser preparadas. Sobre ele havia um pergaminho enrolado com uma fita dourada. Uma jovem de cabelos negros e olhos petulantes se aproximou dele, desfez o nó da fita e o abriu. Seu rosto se contorceu de consternação.
— Só pode estar de brincadeira. — ela disse. — Alguém aqui realmente sabe ler?
Lana sabia, é claro. Linete também. Uma das mulheres mais velhas também sabia, mas as três eram as únicas.
A mulher mais velha recebeu para si a tarefa de ler o pergaminho e explicar as receitas para as outras. Basicamente, elas precisavam fazer sete pratos diferentes para vinte pessoas. As complexidades no preparo das refeições eram muito distintas e haviam desde pratos muito típicos até os que a maioria nunca tinha ouvido falar na vida. Lana não precisou sugerir que se dividissem em grupos dessa vez. A refeição seria servida para as nobres consortes, que eram as esposas do Imperador e de seus filhos, e ofendê-las seria o mesmo que o ofender o próprio soberano. Por causa disso, todas elas queriam dar o seu melhor e decidiram cooperar livremente entre si.
Cozinhar era muito mais fácil do que lavar roupa e infinitamente mais prazeroso. Lana tinha mãos hábeis e habituadas, com dedos que trabalhavam de forma muito rápida e precisa. Já bem nova ela tinha mostrado interesse nas artes culinárias e sua mãe a incentivara a aprender com as servas da cozinha de seu próprio castelo. Adorava fazer doces e parecia ter uma aptidão natural para dar forma a eles. Dessa vez, entretanto, ela tinha ficado encarregada de ajudar com a preparação das carnes. Dar sabor a um prato salgado podia ser tão difícil quanto moldar uma sobremesa, mas todas as outras mulheres também pareciam ter alguma experiência no preparo de alimentos. Eram todas plebeias que não dispunham de suas próprias servas e precisavam preparar alimento familiar diariamente. Ao pensar nisso, Lana não pode evitar enviar um olhar de carinho para Linete. A jovem parecia estar se saindo bem melhor que ela enquanto recheava tortinhas de porco. Quando percebeu que estava sendo observada, Linete ergueu os olhos e deu o seu melhor sorriso motivador.
Embora os pratos mais elaborados tivessem criado tensão, grande parte da refeição já estava pronta com bastante antecedência. Quando a Matrona Rose voltou para verificar o andamento do serviço, encontrou um clima de agradável harmonia que em nada lembrava a competitividade. Como a maioria dos pratos só precisava ser finalizada e servida, ela enviou as participantes para arrumarem o salão onde as damas desfrutavam de suas comezanas.
Adentrar naquele recinto trouxe à tona memórias que Lana pensava ter perdido. Antes do príncipe herdeiro se tornar um Imperador, era lá que ela, no papel de sua esposa, fazia suas refeições com as outras nobres consortes. Isso aconteceu com mais frequência depois que se passaram alguns meses de seu casamento e ela deixou de ser uma novidade para o seu marido. Apesar do constante afastamento do casal, ela ainda apreciava a companhia das outras damas da corte. O talento delas se equiparava somente a sua falsidade e, apesar de poderem ser extremamente odiosas quando desejavam, conseguiam oferecer conversas engraçadas e muito eruditas.
Foi preciso carregar e abrir as longas mesas de desmontar no centro do salão. Alguns adereços precisam ser repostos e foi necessário trocar as flores dos pesados vasos de pedra clara, o que significou levá-los para a área externa, lavá-los e substituir o cascalho em seu interior antes de colocar os arranjos. As porcelanas eram delicadas e precisavam ser postas de uma forma complexa para harmonizar com os talheres de ouro. Uma garota foi eliminada por deixar um copo quebrar e a matrona mandou outra para casa simplesmente por não saber dobrar os guardanapos. Quando as mulheres terminaram seus deveres já estava quase na hora do jantar, mas o salão parecia tão fresco e impecável quanto tinha estado nas memórias de Lana.
Quando as concorrentes retornaram para a cozinha o desastre estava feito. Duas bandejas inteiras de sobremesas tinham tombado e o chão estava coberto de creme e calda. Nenhuma fatia de bolo de limão podia ser salvo e mesmo que pudesse não seria adequado servir comida do soalho para as consortes reais. O desespero se espalhou entre as mulheres e a Matrona Rose as encarava com um olhar de profunda repugnância. Sua voz gotejava veneno quando ela tornou a falar.
— Quando eu voltar é melhor que tenham algo para servir para as consortes ou estarão todas eliminadas.
As portas se fecharam com um baque surdo. No silêncio que ficou para trás, treze mulheres se entreolharam com palpável agonia, incapazes de se mover.
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