Mercenários
Graças ao atalho, bem por pouco não nos atrasamos.
De longe avistamos o homem semelhante a um urso, ao lado de outro homem esguio, espadaúdo e de ombros largos ao lado de uma mulher de cabelos longos e pele alva. Mamãe era única que não trajava o cinza, mas um vestido branco de botões bege e um xale de seda azul marinho caia de seus ombros.
Ao nos ver de longe, o homenzarrão começou a acenar com as mãos sinalizando onde estavam. Como se não pudéssemos ver o enorme ponto de referência de dois metros de altura e três de circunferência.
Leo e eu apressamos o passo em direção a eles.
— E então, como foi? — Tautos arregalou os olhos arqueando as duas taturanas gigantes montadas sobre eles enquanto nos perguntava.
Meu pai olhou para o sol e depois para nós esperando uma resposta.
— Aposto que se divertiram a beça — Minha mãe se antecipou, seus olhos cor de mel brilhavam iluminados como dois girassóis.
Leo e eu nos entreolhamos.
— Muito!
— Com certeza!
Falamos junto enquanto abríamos o nosso melhor sorriso.
— Bom — começou papai a dizer em tom neutro sem nenhuma advertência —, melhor nós irmos. Temos menos de três horas até a noite plena. Não é prudente viajar no escuro.
Partimos estrada a fora. O fluxo na saída estava tão ou mais intenso que na chegada, embora pouquíssimas pessoas pegassem as estradas para o norte. A maioria descia por uma estrada larga toda pavimentada com pedras enormes entrecortadas em formato quadrado, encaixadas umas nas outras como um grande mosaico.
As estradas que levavam para o norte, porém, eram bem menos... nobres, digamos. Ao sair da estrada principal que nos conduzira desde a entrada da cidade, pegamos a mesma estrada de terra e cascalho que levava aos vilarejos a nordeste de AnToren.
Enquanto seguíamos em ritmo moroso, respondíamos às perguntas do meu tio e minha mãe que estavam ansiosos por saber como fora a minha aventura. Contei sobre meu estranhamento à quantidade de pessoas, da feira, das roupas e costumes engraçados e, é claro, sobre o festival. Obviamente não comentamos nada a respeito do nosso encontro com madame Oden, nem, tampouco, a respeito do que ocorrera no caminho de volta.
Tautos pareceu especialmente interessado na história do Mapinguary. Segundo ele, foi em ArToren, sua terra natal, onde o gigante de três metros e apenas um olho fora visto a primeira vez. De acordo com Tautos, a besta fera havia sido criada por Pantanuz, Ser Vivente da Terra, com o objetivo de proteger a floresta.
A viagem estava sendo agradável, divertida e bem descontraída.
Uma vez vencida a ansiedade da primeira experiência na cidade grande, viajamos em grupo, todos juntos, sem que Leo e eu nos adiantássemos desta vez.
Enquanto cavalgávamos, um som compassado e constante começou a ecoar vindo da retaguarda. Ao ouvir o barulho, cada vez mais próximo e nítido, paramos.
— Cavalos — disse Tautos olhando para trás.
— Cinco. — Papai carregou o semblante. Tautos assentiu com a cabeça em concordância.
Ambos pararam seus cavalos e viraram em direção à retaguarda. O semblante carregado de ambos denotava preocupação.
— Fomos seguidos — alertou Tautos.
Eu olhei para trás e não vi nada. Segundos depois uma nuvem de poeira levantou-se com o galope dos cavalos. Cinco silhuetas surgiram através da cortina desbotada lançada ao ar.
— Fiquem todos juntos — orientou meu pai. Sua expressão era séria.
Mais rápido do que eu esperava, cinco cavaleiros nos rodearam passando por nós e parando à nossa frente impedindo-nos de prosseguir.
Eles estavam em quatro homens e uma mulher de cabelos louro-cacheados presos na parte de trás da cabeça. Uma chapa quadrada de couro envelhecido cobria o tórax da mulher, com um detalhe em vê na altura do peito levemente estufado por seus seios. Duas adagas longas e finas presas à cintura, uma de cada lado.
— Mercenários — constatou papai e cuspiu enfrente ao cavalo que estava no centro do bando.
— Não disse que isso não ia ficar assim? — grunhiu o homem de pescoço largo. Ele estava no meio dos três que estavam mais à frente. Atrás, a mulher das adagas ao lado de um homem pequeno careca vestido com uma túnica amarela aberta na frente, porém, presa por botões de cordão de cima a baixo.
— Já disse que não queremos confusão. — Adiantou-se Tautos quando meu pai já se preparava para dizer algo.
— Alguém aqui perguntou o que eles querem? — sibilou o homem espadaúdo olhando fixo para o meu pai. Os dois comparsas que estavam ao lado riram de forma debochada e balançaram as cabeças negativamente enquanto se entreolhavam.
Meu pai fez que ia avançar, mas Tautos o impediu estendendo o braço com a manzorra aberta, fazendo sinal para que ele se detivesse. Os dois se encararam, então Tautos balançou levemente a cabeça para meu pai e sussurrou baixinho: "Não". A expressão do meu pai era puro descontentamento, mas ele cedeu.
— Por que cês não descem dos cavalos e me dão as bolsas — falou o homem com o facão preso à cintura em tom de advertência. Ele abriu os braços e virou as palmas das mãos para cima. — Assim ninguém se machuca.
Meu pai deu uma bufada e passou a palma da mão pelo rosto enquanto respirava fundo.
— Ohhh... vejam... ele tá irritadinho — provocou o homem que parecia ser o líder.
Papai fechou o punho. Os músculos definidos de seus braços retesaram-se até o pescoço.
Os dois homens, o da direita e o da esquerda, começaram a passar os olhos sobre minha mãe. O da esquerda passou a língua sobre os lábios num risinho malicioso. Um leve tremor transcorreu meu corpo. Não, não era medo. Era raiva. Minha vontade era de voar no pescoço daqueles malditos. Leo estava perto de mim com seu cavalo, do meu lado esquerdo. Ele segurou meu antebraço esquerdo como na tentativa de me acalmar. Olhei para minhas mãos a frente segurando firmes as rédeas. As pontas dos dedos esbranquiçadas já sem sangue devido à pressão.
Olhei para minha mãe, à direita, sua expressão era séria, mas não tensa. Se estivesse, escondia muito bem. Ela encarava os homens sem intimidação com os olhos levemente espremidos.
— Os cavalos e as bolsas — repetiu o homem levando a mão até o cabo do facão.
— Prrrrr... — Agora foi a vez de Tautos bufar fazendo o ar passar vagarosamente pelos lábios. Com expressão de desânimo, meneou a cabeça. — Vamos acabar logo com isso. — Não depressa, ele apeou de seu cavalo e conduziu o Mangalarga até a beira da estrada.
Com bastante serenidade, Tautos amarrou as rédeas do equino em uma Pata-de-vaca de tronco fino sem folhas.
Os três mercenários riram debochadamente olhando para ele enquanto o careca e a mulher atrás se mantiveram impassíveis e concentrados.
— Esperto — disse o do meio. — Vejo que não é tão burro.
— Vai dar o cavalo pra ele? — Meu pai perguntou exasperado com o cenho cerrado e gesticulando com a mão.
— Dar o cavalo? — Tautos falou carregando o sobrolho. Papai abriu as mãos como se não compreendesse. Meu tio foi até o flanco do cavalo, começou a abrir um embrulho feito com um pano azul claro. Dentro, duas hastes de madeira escura. Ele as pegou e encaixou-as uma na outra formando um bastão.
— O que cê tá fazendo? — questionou o homem do facão olhando de cima de seu cavalo.
— Não é óbvio? — respondeu Tautos. — Eu sei que vocês não vão desistir. — Ele rodou o bastão com enorme habilidade segurando-o pelo meio. — Mas também sei que se estiverem inconscientes não poderão mais nos importunar.
Meu pai aliviou o rosto num leve sorriso e se preparou para desmontar também. Mamãe chegou um pouco para frente, parando do lado dele e segurou em seu braço detendo-o. Ele olhou para ela, sua expressão de desanimo novamente semelhante a uma criança impedida de brincar. Bufou mais uma vez e deixou os ombros caírem.
Os três homens da frente pareciam surpresos com a reação do meu tio.
— Muito bem, quem vai ser o primeiro? — perguntou Tautos. — Ou, caso prefiram, podem vir todos juntos. — Jogou os ombros pra cima duas vezes como quem não se importasse. — Assim é até mais rápido!
Continua...
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Não se desespere... na sexta tem mais!
Estou me esforçando para publicar regularmente, mas sem perder a qualidade tão apreciada por vocês, queridos leitores.
Enquanto não sai o novo capítulo, o que acha de recomendar o livro para seus amigos, hein? Quando mais gente lendo melhor ^^
Amanhã, o livro vai completar um mês de publicação e já está com quase 3k de leituras. Então, muito obrigado por fazer parte disso. (12/12/2017)
Minha grande meta até o final desse ano é alcançar o tão almejado 5k e o Top 30 da Ranking de Fantasia. Sei que é bem pretensioso, mas sonhar não custa nada, não é mesmo!?
Então dá aquela forcinha e não deixe de votar e comentar sempre em cada capítulo S2
Muito obrigado por chegar até aqui comigo, vocês são o combustível que mantém a chama deste escritor acesa :)
Até mais... ;)
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