Ataque Vs. Defesa

Tautos me encarou de forma intimidante esvaindo-se do anterior aspecto descuidado. 

Com olhar ferino e compenetrado, deslizou a perna esquerda suavemente para trás, deixando ângulo suficiente entre as pernas para melhor se equilibrar. Enquanto isso flexionou o joelho direito e ergueu o bastão em frente ao rosto.

De forma surpreendente, com tamanha celeridade, ele se arrojou contra mim lançando um golpe de cima para baixo com o bastão em direção à minha cabeça.

Sem muito tempo de reação, ainda impressionado sobre como um homem tão grande podia se mover com tanta rapidez, estendi minha espada de forma horizontal por cima da minha cabeça e, com a mão direita segurando a base e a esquerda servindo de apoio na ponta, consegui parar o golpe.

O ataque foi tão forte que minhas mãos ficaram dormentes e ardidas devido ao impacto.

Antes que eu pudesse me recompor, assim que o ataque do bastão foi interceptado, ele chutou em direção à minha barriga e eu fugi dando um passo para trás.

Uma sucessão de contínuos ataques e defesas se iniciou.

Eu não tinha tempo de respirar. Sem a concentração necessária para pensar a luta, certamente sucumbiria facilmente.

Dei um pulo para trás seguido de mais dois passos. Eu precisava recuperar o fôlego. Naquele jeito eu não chegaria a lugar algum e ainda seria vencido por exaustão.

Antes, porém, que eu tivesse tempo para pensar, Tautos investiu novamente.

Desta vez ele desferiu um golpe lateral o qual interceptei com minha espada. 

As mãos mal aguentavam segurar a pequena haste de madeira.

Ficamos perto demais e de certa forma isso me favoreceu.

Tautos era grande e possuía braços compridos. Notei que isso reduzia sua agilidade no corpo a corpo. 

Não que ele ficasse em desvantagem, mas que desta forma eu conseguia equiparar nossas velocidades, já que em distância média para longa ele se demonstrara muito mais veloz do que eu.

Depois de um intenso embate corpo a corpo, de ataques e defesas, ele atacou pela minha lateral esquerda com um golpe diagonal de cima para baixo.

Como sua empunhadura era destra, assim que eu defendi, observei que seu peito ficara completamente desprotegido.

Eu precisava de um único golpe. A luta não poderia se prolongar mais, pois eu já estava muito extenuado.

Rapidamente deslizei o pé esquerdo para trás para me dar apoio no próximo movimento e o ataquei com toda a força com a ponta da espada contra seu peito em um ataque frontal.

De uma forma que eu não sabia como — pelo menos não até aquela época —, Tautos parou meu golpe com as pontas dos dedos da mão esquerda em um movimento mais rápido que pude acompanhar.

Seus dedos foram ligeiramente para trás como se absorvessem o impacto do meu golpe. 

Na verdade, não senti impacto algum. Pelo contrário, senti um toque suave, quase macio quando seus dedos tocaram na extremidade de minha espada.

O que aconteceu em seguida, no entanto, não foi nada suave ou macio.

Logo após absorver meu ataque, o homenzarrão com semblante compenetrado soltou a respiração junto com um murmúrio de palavras ininteligíveis e deslocou ligeiramente para frente os dedos ainda em contato com o cimo da minha espada.

Eu só ouvi o estalo.

Quase não acreditei no que vi!

Minha espada se quebrou em estilhaços, quase como que se desintegrasse toda.

Como minha mão ainda estava em contato com a base da espada, também senti um poderoso choque, que me arremessou para longe fazendo-me cair de costas no chão novamente.

Por alguns segundos o meu corpo ficou dormente e a mente atordoada. Tudo começou a girar e parecia que havia uma cigarra dentro dos meus ouvidos, tamanho o zunido.

Tautos se aproximou de mim ainda grogue, dando-me tapinhas no rosto com ar de preocupação. Assim que consegui me recompor e desanuviar a mente, não podia estar mais perplexo.

— Uau! Como que... O que você... Como é que... — Eu tentava compreender aquilo, mas nada me vinha à mente. Nunca tinha visto nada igual.  — Wow... Sensacional!

— Você está bem? — perguntou ainda preocupado.

— Se estou bem? Eu estou ótimo — respondi com cara de bobo quase sem conseguir me conter.

— Como você fez isso? — perguntei ainda atônito.

— Bom, eu... — Tautos abriu as palmas das mãos viradas para cima e levantou os ombros.

— Me ensina? — interrompi antes que ele continuasse. — Que técnica é essa? Onde você aprendeu? — disparei admirado.

— Não se surpreenda tanto meu jovem — respondeu Tautos freando minha investida. — Eu ainda não domino essa técnica muito bem. Na verdade, se fosse uma espada de verdade, provavelmente teria arrancado minha mão fora e me estripado todo — falou levando a mão à cabeça coçando os cabelos desgrenhados de forma desajeitada enquanto soltava uma gargalhada.

Quando o ouvi dizer isso fiquei ainda mais entusiasmado. Se ele não dominava bem a técnica e podia fazer aquilo, imaginei o que se poderia fazer com total domínio.

— Na verdade, eu já vi essa técnica ser usada em combate em uma espada de verdade com um resultado bem mais impressionante — prosseguiu. — Eu não poderia ter tido um mestre melhor - disse, olhando meu pai de soslaio.

— Não! — disse eu boquiaberto. — Foi o senhor que o ensinou papai? — Meu pai mostrou-se indiferente

— Diz pra ele Mainz — incentivou Tautos animado.

— Já chega por hoje — respondeu meu pai. — Depois falaremos mais disso, pois já está ficando tarde.

— Sua hora ainda vai chegar menino, coisas incríveis te aguardam —  animou-me Tautos com olhar auspicioso. — A propósito, você se saiu muito bem hoje. É o que se espera de um discípulo do Grande Mainz, a Lâmina Letal.

— Menos Tautos, já disse para parar de encher a cabeça do menino — resmungou papai com desdém. —Muito bom, Rav, você se saiu bem. Agora vá guardar essas espadas — falou em tom neutro sem demonstrar sentimentalismo.

Foi o melhor elogio que recebera dele na vida.

Ainda que com voz impassível, pude perceber uma pontinha de orgulho nela.

Talvez, ele agira assim por saber o caminho que me aguardava, o qual muito em breve eu haveria de trilhar.

Não é preciso dizer que fui às nuvens e voltei. Então, ensaiei meu tom mais confiante e disse:

— Da próxima vez, eu é quem sairei vencedor! — Minha voz saiu mais fina que o planejado.

Antes que eu pudesse gozar do sentimento e da glória reservada aos vitoriosos, papai me fez cair do céu.

— Não seja tão audacioso rapaz, Tautos não lutou nem com trinta por cento de sua força — falou como se fizesse pouco caso, sorrindo de canto de boca. — Se ele quisesse, a luta teria terminado antes de você ser capaz de brandir sua espada.

— É verdade tio? — perguntei.

— Eah... — Tio Tautos tentou reprimir uma gargalhada inutilmente. — Eu dei uma segurada.

— Trinta por cento? — resmunguei com desânimo. — Como assim, me explica isso direito? — importunei o homenzarrão.

— Agora não Rav! Como disse, por hoje é só — objetou papai dando-me um banho de água fria. — Seu tio e eu temos assuntos importantes a tratar ainda hoje — falou numa tonalidade austera fazendo-me resignar de imediato.

— É sempre assim, minha alegria nunca pode ser completa — rezinguei desolado.

Tautos colocou-se de pé abrindo os braços e um sorriso de mostrar os dentes.

— Rá...! Ânimo garoto, amanhã não é o grande Dia dos Contos? — disse com expressão alegre.

— Sim, sim, amanhã — concordei balançando com a cabeça devolvendo-lhe a expressão de felicidade levantando os braços.

Fiquei de pé e olhei com ternura para o meu pai.

— Posso ir na casa do Leokus combinar o dia de amanhã? — pedi-lhe com expressão animada.

Antes que ele esboçasse resposta emendei:

— Vai nos deixar ir à cidade amanhã, né? — Espremi bem os olhos quase fazendo cara de coitado na tentativa de amolecer seu coração.

— Em relação à primeira pergunta, não. Já está tarde e o sol já se desloca com velocidade para trás da Lua.

Espremi os lábios em sinal de insatisfação e tristeza.

— E quanto a segunda? — Esforcei-me com meu melhor olhar de pedinte.

— Eu também gostaria de dar umas voltas na cidade, Mainz. Aliás, muito me agrada a ideia de comprar algumas iguarias que só encontro lá em Doran — interveio Tautos dando-me uma piscadela conspiratória. — Poderíamos leva-lo conosco — concluiu.

— Bom, deste jeito, não me restam alternativas — resmungou papai balançando a cabeça e torcendo o nariz.

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