A Lenda do Bosque do Dragão
Fiquei meio confuso ao ouvir a resposta da minha mãe. Ela, no entanto, sorriu como quem se divertisse com a aparente hesitação de sua oponente.
— Não fique tão confiante assim — sibilou Alizah com o mesmo veneno na voz. — Agora me diga, quem foi o seu mestre? Não há relatos de um outro usuário versado em condução além de Mainz... — Hesitou. — Pelo menos não em Toren.
Mamãe esboçou um riso contido nos lábios e desuniu as palmas das mãos que ainda estavam em frente à sua boca e descansou os braços.
— Você já ouviu falar no clã dos dracacenos? — perguntou mamãe e prosseguiu diante do silêncio de Alizah. — Há centenas de ciclos atrás, existia um clã nômade, os quais eram conhecidos como Os Filhos do Dragão.
— O clã lendário! — interrompeu Alizah como quem conhecesse a história. — Não passa de uma lenda! — afirmou com desdém.
— Sim — confirmou mamãe —, mas nem toda a história é, de fato, mítica — contestou e, então, prosseguiu: — A lenda diz que, após ser derrotado por Raen, o Grande, o lendário Dragão Vermelho, Ser Vivente do Fogo, ficou gravemente ferido. O sangue que escoou de suas chagas fora absorvido pela terra onde curiosamente viera a nascer um bosque. Neste bosque, frondosas e robustas árvores nasceram e ergueram-se sobre a terra.
"Um grupo de nômades liderados por um sábio curandeiro chamado Cinnabari, encontrou no bosque uma espécie de lar. Uma vez que ali acharam tudo o que precisavam para a subsistência, este pequeno povo mudou todo o seu estilo de vida vindo a fixar suas tendas naquele local durante centenas de ciclos.
"Cinnabari, na verdade, era um usuário keer, capaz de potencializar os efeitos medicinais de ervas e plantas acelerando a sua atuação. Fascinado com a riqueza e diversidade encontradas no bosque, o curandeiro fez uma grande descoberta, que mudaria para sempre o destino do pequeno clã.
"Em um sonho, Cinnabari viu uma das robustas e frondosas árvores em formato umbelífero, que existiam apenas naquele bosque. No mesmo sonho uma voz contou-lhe que a seiva da árvore era composta pelo sangue do Dragão Vermelho, rei de todos os dragões e Ser Vivente do Fogo. Curioso com tudo aquilo, o velho líder da comunidade foi certificar-se. Qual não foi a sua surpresa quando descobriu que a seiva das árvores era de um líquido vermelho escuro, semelhante ao sangue? Maravilhado, batizou a árvore de Dracaena, que em sua língua antiga significa Árvore Sangue do Dragão."
— Mas que história mais linda — disse Alizah em tom jocoso batendo palmas ao mesmo tempo. — E o que isso tem a ver com essa batalha? — questionou com desprezo.
— Você saberá — respondeu mamãe com confiança.
Com fisionomia visivelmente irritada, Alizah sacou uma rapiera da bainha pendurada à cintura e partiu, impetuosa, ao encontro de minha mãe. A espada era branca, de lâmina cumprida e estreita, com diversos filetes formando um protetor de mão.
A guerreira do império do fogo adentrou pelo jardim e preparou-se para uma estocada mortal.
Mamãe permaneceu parada, imóvel, como se aguardasse pela morte iminente.
Sem murmurar ou pronunciar qualquer palavra, mamãe sinalizou velozmente com as mãos.
Mais uma vez o inesperado aconteceu.
A árvore atrás dela desprendeu um de seus galhos que compunham a copa e desceu como um chicote veloz. Alizah foi atingida em cheio pelo flanco esquerdo e foi atirada para longe em decorrência da impressionante brutalidade da chicotada.
A mulher rolou pela grama feito um algodão carregado pelo vento e então parou.
Depois de alguns segundos, com muita dificuldade, a cavaleira do dragão amarelo pôs-se de pé e dirigiu um olhar incrédulo à mulher sobre o jardim.
Confusa, sem mesmo entender o que acontecera, Alizah pareceu congelar sem reação.
— Mas... mas como isso é possível — exprimiu assustada. — Quem é você?
— Eu sou Luriel, Rainha dos Dracaenos, Mestra do Bosque do Dragão e a última descendente de Cinnabari!
— Impossível... — contestou a mulher de cabelos vermelhos. — Isso é só uma lenda, um mito criado por trovadores para entreter os leigos e indoutos — bradou com voz trêmula e olhos arregalados.
— Eu pareço um mito pra você? — afirmou minha mãe com audácia.
Eu não sabia o que pensar no momento. Jamais imaginei que minha mãe seria uma guerreira tão poderosa, muito menos... uma rainha.
O brilho do fogaréu se lançando sobre ela iluminando suas vestes e fazendo cintilar seu olho cor de mel faziam-na parecer realmente uma guerreira lendária. Seus cabelos pareciam acesos, quais chamas incandescentes ao serem tocados pela luz do fogo.
— Eu vou destruir você — vociferou Alizah olhando-a com fúria. — Nós nos preparamos para este dia por dezenas de estações. Não voltarei de mãos vazias!
— Você acha que nós não os esperávamos? — declarou mamãe. — Há onze anos nos preparamos para vocês. Cada centímetro deste lugar — falou e gesticulou com a mão mostrando os arredores — foi minunciosamente projetado para destruí-los.
Alizah olhou assustada acompanhando a mão de minha mãe. Seu aspecto era de total desconhecimento diante de tudo o que estava acontecendo.
Ao ver sua ignorância, mamãe resolveu explicar melhor.
— Você acha que foi por acaso que escolhemos esse lugar? — indagou, mas não obteve resposta. — Ali... — apontou para as montanhas — Aquela cordilheira foi durante muitos anos os limites das terras dos basaltinos. Sabe porquê eles eram assim chamados? — Alizah meneou a cabeça, sem entender onde minha mãe queria chegar. — Porque este solo é formado em sua totalidade por um mineral rico em ferro chamado basalto — informou mamãe.
A guerreira do império ainda não estava compreendendo o argumento e eu estava ainda mais confuso do que ela. Então, mamãe prosseguiu:
— Depois do massacre da Irmandade das Lâminas, e o fim da ordem aaori, Mainz decidiu retornar ao local de suas origens, o local onde todos os aaoris nasceram. Aqui, exatamente neste lugar ele encontrou suas origens e conheceu a história de seus ancestrais.
"Sabendo que este seria um lugar para se reconectar com suas origens e explorar seu verdadeiro poder, logo depois da invasão de Nanduque, Mainz nos trouxe para cá.
"Com um solo rico em ferro, essa região favoreceria em muito nos dando grande vantagem caso nos envolvêssemos em uma batalha aqui. Mas não para por aí. Sabendo de minhas habilidades, Mainz teve a brilhante ideia de cultivar um jardim por sobre a área de maior concentração de ferro. Como, porém, não é possível manipular um elemento sem estar em contato com ele, Mainz implantou pequenas linhas metálicas entre a superfície e o solo rico em basalto fazendo centenas de ligações. Assim, desta forma, ele pôde conjurar todo o metal subterrâneo.
"Ah... antes que me pergunte, é claro que ele precisou melhorar suas habilidades de condução, mas para isso, eu dei a ele uma pequena ajudinha."
Ao ouvir essas palavras, com fisionomia de espanto, Alizah abaixou a cabeça e riu enquanto andava a passos moderados. Ela, então, parou e agachou-se onde estava sua espada sobre a grama. Com o joelho direito sobre o gramado e o cotovelo apoiado no joelho esquerdo, tirou o cabelo do rosto com a mão direita e disse:
— Vejo que subestimamos vocês! — confessou. — Então, quer dizer que tudo isso não passou de uma grande armadilha? — perguntou.
— Nem tudo deu certo — falou mamãe abrindo as palmas das mãos para cima. — Aqui protegeríamos a criança e nos prepararíamos para enfrentar Tarus e todo o seu poder. — Ao dizer essas últimas palavras mamãe balançou a cabeça negativamente expressando desgosto e continuou: — Já pode imaginar a nossa decepção ao ver que o imperador poupou-se da batalha e enviou seus lacaios, não é mesmo? Esse lugar foi preparado para ser o túmulo do imperador. Nosso erro foi supor que ele faria o trabalho sujo! — concluiu franzindo a testa e comprimindo os lábios.
— Não pense que essa batalha já está vencida — assegurou a mulher de cabelos vermelhos espremendo os olhos. — Eu ainda tenho mais alguns truques! — concluiu e um sorriso malicioso começou a se desenhar em seus lábios.
Continua...
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