Capítulo 08 - ...Então falarão por mal?
~ Adam ~
Não tinha dúvidas que aquela barreira de fogo era a Meg.
Sentia a presença dela em cada chama que se erguia no meio da província. Era reconfortante encarar e tocar aquelas chamas. Só que ao mesmo tempo também era inquietante. Será que a nossa sina seria sempre essa: Tão perto, mas tão longe.
Nem pelo subterrâneo, nem pelos céus, não tinha como adentrar aquilo pelo lado de fora. Eu já conhecia aquela barreira, apenas quem estava dentro dela poderia sair. Ela teve que se assegurar que ninguém a atrapalharia ali.
A confusão de gente se aproximando e observando a barreira é grande, o fluxo de pessoas indo e vindo é bem grande, mas mesmo assim eu consigo ver um movimento pra lá de anormal não muito longe dali.
Aviso para Martin, que estava ao meu lado, o que eu tinha visto e nem espero por uma resposta dele, já vou me aproximando do indivíduo para não o perder de vista. Ele percebe a minha aproximação tarde demais e eu não poupo força ao arrastá-lo para longe da multidão de de possíveis olhos curiosos.
Não sou uma pessoa delicada no momento. Os socos misturados ao meu domínio fazem um bom estrago ao rosto e corpo do homem enquanto eu o questionava. Nem sei se poderíamos chamar aquilo de questionamento. Cada segundo para mim era crucial e o homem estava sorrindo ao ver o quão perturbado eu estava.
Tobias e seus homens eram a pior raça.
A raiva dominou cada parte do meu ser, e nem sei quando foi que eu nem me importava mais com a resposta dele, eu só precisava de alguém para descarregar tudo aquilo que estava aprisionado no meu peito.
Senti a mão de Oliver no meu ombro e aquilo serviu para que eu parasse, mas não serviu para me acalmar. Me afasto dali e me encolho no chão, escondendo a minha cabeça entre os joelhos e respirando fundo diversas vezes.
Sei que ultrapassei os limites do aceitável ao tentar retirar informações daquele homem, mas estávamos perto, muito perto. Não era justo batermos de cara numa parede sempre que nos aproximamos assim.
Quando você está dominado pela frustração, todos os outros sentimentos se aproveitam para tirar o melhor da gente.
Estava mais calmo agora, e quando eu levanto, vejo que Edith e Martin se aproximam de mim. Eles trocam um olhar que não quis pensar muita a fundo no significado por trás. Solto um suspiro baixo, não querendo deixar aquilo ruim se apoderar novamente.
— Conseguimos a informação que precisávamos. Vamos? — Edith informa sem rodeios e eu apenas confirmo com a cabeça e os sigo sem questionar mais nada.
Caminhamos em silêncio, seguidos por diversas pessoas. Os caminhos iam se ramificando de vez em quando e nos dividíamos como dava para poder acompanhar. Estávamos eu, Edith e Martin num caminho, quando encontramos uma ramificação.
Edith se oferece para ir comigo e eu aceito. Vamos no caminho em silêncio. Eu vejo no seu semblante que algumas vezes ela quer puxar uma conversa, mas acaba deixando para lá.
Não muito na frente, os dois caminho voltam a convergir, nos fazendo reencontrar com o Martin.
— O rastro dela se divide aqui mais uma vez... — Martin diz preocupado olhando para as marcas que ela tinha deixado abaixo da terra.
— Então vamos ter que nos dividir também... — digo querendo que nos movêssemos mais rápido.
— Vou continuar seguindo esse rastro e você vai por esse, certo?
— Tudo bem — pego no rastro que levava a uma direção diferente que a do Martin e começo a me mover.
— Eu vou com o Martin dessa vez Adam — Edith diz e então passa a acompanhar o guardião com o semblante preocupado.
Nem quero discutir, apenas vou seguindo aquele caminho de terra revirada.
Algo dentro de mim se remexe e parece querer me informar que eu não estou seguindo pelo caminho certo. A cada passo que eu dou na direção contrária aos dois que me acompanhavam, mais eu tenho a certeza que eu estava errado.
Não me deixo abater e continuo o mais silencioso que consigo e quando eu vejo uma pequena construção de madeira na minha frente, eu resolvo seguir com calma.
Conseguia ver um pequeno brilho por entre um vão da janela e quando vi uma sombra passando em frente a janela, percebi que realmente tinha alguém ali dentro.
Com muito cuidado, vou me aproximando e estranho muito a falta de armadilhas, ou algo parecido. Megan estava sendo tão cuidadosa que com certeza teria algo ali para pelo menos diminuir o ritmo com o qual nos aproximávamos.
Sabendo que a minha consciência não ia me deixar ter paz se eu não conferisse o que tinha dentro daquela cabana, fui me aproximando cauteloso. A entrada da casa estava em ótimas condições, e a madeira brilhava com o verniz que parecia ter sido aplicado recentemente.
Definitivamente não é um bom local para se esconder.
Estou procurando um bom lugar para espiar o que há dentro e também para conseguir entrar sem ser visto, quando uma voz feminina muito acolhedora ecoa lá de dentro.
— Entre.
A voz não era a da Meg, mas de alguma forma não me passava qualquer senso de perigo. Parecia ser algo mais forte do que eu quando coloquei a mão na maçaneta fria de metal e a torci para o lado, abrindo a porta.
Assim que entro na cabana, olho em todas as direções para encontrar a dona da voz que me pediu para entrar. Eu me sentia um pouco estranho, mas continuei mesmo assim. Bastou olhar para a esquerda e a encontrei.
Algo estranhamente familiar naquela mulher que estava sentada em uma simples cadeira de balanço.
Seus cabelos eram multicoloridos e se mexiam mística e serenamente ao redor do rosto angelical com traços delicados e pacíficos. Seus olhos brilhavam em seu tom castanho. Usava um longo vestido avermelhado e eu não conseguia ver os seus pés.
Possuía longas e brilhosas asas vermelhas, de uma cor tão intensa, tão viva, que por um minuto me vi pensando se eram tão macias quanto aparentavam.
Definitivamente era linda.
— Pode sentar Adam.
Quem quer que essa pessoa seja, não é uma entidade normal. Tudo nela gritava magia. E o fato dela saber o meu nome deveria me causar espanto, mas não foi o que aconteceu.
Uma cadeira foi se materializando na frente da mulher. Materializando não é bem a palavra correta, o certo é que a madeira do chão começou a se contorcer e crescer, formando uma cadeira, no formato de trono.
Algo na voz dela me acalmava e todas as células do meu corpo gritavam para mim que não havia problema nenhum em aceitar o convite da mulher.
Sento na madeira, e não deveria, mas estou confortável.
Os olhos dela me analisam com cuidado, e os lábios rosados se abrem num sorriso discreto. Nem sei quanto tempo passamos ali, naquele silêncio. Sentado ali, eu estava com a sensação de quase flutuar numa enorme piscina de água, meu corpo ia relaxando aos poucos, minha visão ia ficando a cada momento mais embaçada e tudo o que eu conseguia focar era na bela mulher na minha frente.
Seus traços eram como um bálsamo de calmante. Tudo o que eu precisava fazer era sorrir e aproveitar aquela doce sensação dentro de mim.
Vi quando a mulher levantou e veio flutuando na minha direção. Ela parecia um anjo, tamanha era a graça e luz que tinha ao seu redor. Seu toque era morno e quando ela contornou o meu rosto com a ponta dos dedos, tive vontade de fechar os olhos, mas não o fiz, pois não queria perder nenhum momento daquele belo rosto.
A mulher senta no meu colo, mas é tão leve que mal a sinto. Sua boca perfeitamente desenhada vem se aproximando lentamente, analisando as minhas reações enquanto sentia seu hálito convidativo como o orvalho de uma manhã ensolarada.
Nem sei o que pensar enquanto tudo ao nosso redor parece se mover em câmera lenta. Olho dentro daqueles olhos castanhos e sem entender o que está acontecendo, apenas encaro aquele brilho.
E então acontece. Ou acho que acontece. Na verdade não importa.
Foi antes que eu pudesse fechar os olhos. Ao encarar aquelas belezas âmbares da mulher sentada no meu colo, por um simples momento apenas, eles se tornaram grandes, conhecidos e de um azul inesquecível.
Só precisei de um segundo para perceber que aqueles olhos não pertenciam aquela mulher. Eles pertenciam a Megan.
Quando me lembro da Megan, meu coração dói, meu corpo volta a ficar tenso e é como se eu conseguisse emergir daquele oceano que aquela mulher tinha me mergulhado. O ar volta a preencher os meus pulmões e viro o meu rosto bem a tempo da mulher não conseguir colar seus lábios nos meus.
Em vez disso sinto os lábios macios em meu pescoço. Me remexo embaixo dela, agora parecendo estar completamente consciente do que estava acontecendo ali. Desconfortável para dizer o mínimo.
Sinto um sorriso se alargar no meu pescoço, mas ainda não tenho o controle dos meus membros para afastar aquela mulher de mim.
Mas eu nem preciso fazer isso, já que ela, antes que eu possa falar qualquer coisa, já está se levantando do meu colo e rindo. Uma piada que apenas ela entendeu. Ela se abaixa um pouco para ficar na altura do meu rosto, e sustenta um sorriso enigmático.
— Quando me disseram que o amor que você tem dentro do seu peito era uma coisa especial, não quis acreditar. Mas estavam todos certos.
— Quem é você? — agora eu já não tinha dificuldades para formular nenhuma frase.
— Não importa quem eu sou Adam... Eu só vim aqui porque precisava ver com os meus próprios olhos o que poucas vezes posso testemunhar.
— Quem é você? — repeti a pergunta, agora conseguindo sentir um pouco mais do meu corpo.
— Esse amor... Quebra maldições, barreiras, é capaz de muito mais do que você pode imaginar... — ela ignora completamente a minha pergunta e parece perdida em seus pensamentos.
— O que você fez comigo? O que quer de mim? — pergunto, agora já me sentindo mais forte.
Só que quando raízes de árvores saem da cadeira e se prendem com firmeza ao redor do meu pulso e tornozelos, a fraqueza volta a tomar conta de mim.
— Tão poderoso — ela sorri e acaricia o meu queixo, movo o meu rosto para sair do seu toque.
— Você vai ficar ignorando as minhas perguntas para sempre? — digo, frustrado, testando a resistência das raízes, mas elas não parecem que vão ceder.
A mulher olha para cima, levanta os braços e escuto ela tomar uma grande respiração, quando a solta, dá pra sentir o cansaço deixando o corpo.
— Também não estavam mentindo quando disseram que você é uma pessoa determinada. Eu sou um ser mágico Adam, não tenho nome, mas sou uma das responsáveis pelo amor.
— Você é o que chamamos de cupido?
— Posso ser chamada assim também, mas não sou tão simples quanto aos contos que espalham por aí. Atendo por alguns outros nomes, mas sinceramente não faz diferença como me chamam.
— E o que você quer de mim?
— Como eu disse antes, as histórias sobre você e como o seu amor é forte Adam estão ficando bem conhecidas. Eu só quis mesmo ver com os meus próprios olhos.
— Apenas isso?
— Sim.
— E porque parecia que você ia me beijar a qualquer momento?
— Era apenas um teste Adam. Um teste pelo o qual você passou, então não tem nenhum problema com isso.
— Claro que tem problema! Eu não quis passar por teste nenhum, e enquanto eu estou aqui com você, eu não estou procurando a Megan.
— Tão intenso... Tão apressado. A pressa é inimiga da perfeição meu caro.
— Não me importo com isso. Eu não me importo de não ser perfeito, eu apenas a quero do meu lado novamente.
— Tanto sofrimento... Tanta coisa ainda a ser vivida Adam. Esse fogo te consome intensamente. Você não tem medo de ser consumido por ele.
— Tenho medo de muita coisa na minha vida, mas de ser consumido por um amor não é um desses medos.
— Seja na intensidade que for, seja pelo tempo que for... Você com certeza parece decidido.
— Não tenho tempo para duvidar. Dizem que é para ser eterno enquanto dure, mas isso não me impede de procurar modos de durar muito mais.
— Isso é incrivelmente doce.
— Eu só quero que ela fique bem. Que fique feliz, mas o meu lado egoísta quer que ela seja feliz ao meu lado. Estou disposto a sacrificar tudo de mim para isso.
— É mesmo?
— Sim, eu amo a Megan. Provavelmente não iria suportar se ela se afasta permanentemente de mim. Eu enfrento tudo por ela. Mato e morro.
— Palavras fortes com toda a certeza.
— Não suporto como a avó dela e o Martin olham para mim. Sei que eles estão preocupados com a Megan e tudo mais, mas pra mim é difícil ver a pena no olhar. Isso quando eles não me fazem sentir como um intruso.
— Mas você não é um intruso, não é?
— Claro que não! Mesmo que nós não tivéssemos ficado juntos, ela ainda é minha amiga. Minha melhor amiga. Eu não desejaria isso para ninguém.
— Adam, você tem um coração bom, sem sombra de dúvidas, mesmo com toda a escuridão querendo lhe engolir, você permanecesse firme e forte. Com alguns deslizes humanos, mas nada que quebre a sua imagem, o seu espírito.
— Por que você está me falando isso?
— Senti uma necessidade de falar isso pra você. Muitas vezes os humanos passam por muitas coisas, as vezes passam por aquilo sozinhos, vencem e nunca recebem uma palavra de apoio de volta.
— E por qual motivo eu estou aqui falando isso para você? — eu digo sem entender como eu estou falando tão abertamente sobre os meus sentimentos.
— É o efeito da minha presença Adam, não conseguem mentir perto de mim. Eu sou a toda a verdade escondida dentro dos corações.
— Quero ir embora. Quero continuar a procurar a Megan. Você vai me impedir?
— Longe de mim ficar no caminho de um amor tão bonito assim. Vamos apenas fingir que isso nunca aconteceu.
— Meio difícil pra mim fazer isso, mas tudo bem.
— Não me olha assim Adam, só por ser poderosa, eu não posso ter as minhas dúvidas? Se você quiser eu posso te fazer esquecer sobre isso...
— Não! — falo um pouco alto demais. — Foi uma conversa estranha, com uma completa estranha, mas não posso negar que isso esclareceu muitas coisas dentro de mim.
— Como quiser então — ela sorri e com a mesma facilidade que ela me prendeu, me soltou. — Fico feliz por ter conhecido você e o seu sentimento Adam. As coisas estão bem ruins agora, mas...
Antes que ela completasse a frase, um turbilhão de cores começa a brilha na nossa frente. Mal pisco o olho duas vezes, e lá está ele na minha frente, o Fred.
Senhor do Destino.
— O que você pensa que está fazendo aqui? — sua voz está bem séria, e vejo quando a bela mulher ajusta a coluna e parece bem desconfortável ali.
— Conversando? — ela mais pergunta do que responde.
Penso que as coisas vão ficar mais complicadas a partir de agora, mas quando o Fred abre um sorriso calmo e balança a cabeça, sei que vamos ficar bem.
— Você sabe que não pode interferir...
— Fredinho, eu não interferi em nada... Eu não disse nada demais, juro pelas minhas asas! Eu só queria ver de perto ele e o que tinha dentro dele.
— Você sabe que não pode fazer isso também.
Os dois continuam a conversar e a ignorar a minha presença. Eu começo a me afastar deles, mas antes que eu fosse muito longe, escuto a voz de Fred atrás de mim, quase num sussurro.
— Desculpe por isso Adam. Não era para acontecer. Mas tudo bem, parece que os danos foram mínimos. Vá, continue a sua jornada, ela ainda está longe de terminar.
Sem me virar na sua direção, apenas concordei e me afastei dali o mais rápido que consegui. Quando achei que a distância que tinha construído entre mim e aqueles dois foi suficiente, voltei ao local onde eu, Edith e Martin tínhamos nos separado.
Resolvo seguir os seus passos e demora um pouco, mas eu os alcanço.
Oi oi oi gente! Sei que os capítulos estão demorando muito a sair, mas final de ano é uma loucura sempre. AMEI escrever esse capítulo e tá cheio de coisa escondida nas palavras e sentimentos. Escrevi com cuidado pro spoiler sair certinho.
Viram que Fred deu o ar da graça? Ou Fredinho pros íntimos... Como será que a mulher terminaria aquela frase? Vocês podem chamar ela de Cupido, mas o papel dela aqui ainda não acabou, ainda a veremos novamente!!
Adam precisava desse encontro para colocar algumas coisas em ordem na sua cabeça - e bagunçar outras coisas, claro. Pode ter parecido um capítulo com personagens meio jogados no meio da história, mas acreditem em mim quando eu digo QUE NÃO FOI MESMO! Tudo aqui foi friamente calculado por mim MUAHAHA.
O próximo capítulo já está sendo escrito e vai ser a visão da Edith - vovó mais badass de Nihal. Já que não foi o Adam a encontrar com a Meg, será que foi a Edith? - SPOILER ALERT PQ SIMPLESMENTE EU NÃO ME AGUENTO, sim, foi ela.
Nos vemos no próximo capítulo pessoal. Obrigada por não desistirem de mim nem do livro ♥ As cobradas que vocês me dão estão me tirando da inércia.
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