Capítulo 04 - Sem mais desculpas

~Adam~


Megan está se afastando de mim mais uma vez. Estou correndo com todas as minhas forças para alcançá-la, mas por mais que eu corra, ela parece cada vez mais distante.

Eu sei que estou sonhando.

Mas nem assim o sonho deixa de ser devastador.

Nem sei quantas vezes eu já sonhei a mesma coisa. Mas alguma coisa está diferente agora. Não sei dizer como, mas sinto uma grande pressão no peito, uma pressão tão grande que abro os olhos e desperto.

Uma gota de suor escorre pela minha testa e entra no meu olho. Arde. Fecho os olhos novamente com força e me ponho a sentar na cama. Hoje é a minha última noite no hospital e estava feliz por sair, mas tenso por não saber o que faria depois que saísse daqui.

Meus sentimentos eram claros e pretendia ir atrás da Megan assim que tivesse alta.

Queria que fosse tão simples assim.

Os acontecimentos do casamento do meu irmão, a revolta do Tobias e o sumiço da Meg começavam a nublar o futuro de Nihal.

Sei que os meus pais estão tendo trabalho para tentar colocar ordem nas províncias que ele tem algum tipo de influência. Não somente ele, mas todos os governadores estavam tentando acalmar os ânimos fragilizados dos moradores de Nihal. A tarefa não era impossível, mas estava sendo extremamente difícil.

Edith vem me visitar quase todos os dias, mas percebo que ela evita tocar no assunto da sua neta. Qualquer pessoa que conheça a Edith sabe o quanto ela está abalada com a situação, ela tenta se manter firme em seu papel, mas quando ela olha em meus olhos vejo a sua fraqueza.

Tanto ela é um lembrete para mim como eu sou para ela.

Tinha acabado de me trocar e estava saindo do banheiro anexo ao quarto. O médico tinha autorizado a minha saída e eu estava indo para casa. Meu pai estava resolvendo as últimas pendências para com o hospital.

Assim que fecho a porta do banheiro, percebo que avó da Meg está em pé, encostada na parede logo em frente a porta. Não me assusto com a presença dela ali. Ela sempre entrava e saía do meu quarto com um silêncio quase assustador.

Ela encara o chão e não olha na minha direção, mas sei que ela escutou a porta se fechar. Seus ombros erguem um pouco, mas ela ainda mantêm a cabeça baixa.

— Adam, veja se não vai se esforçar demais. Por mais que você tenha ganhado alta, não quer dizer que tem que levar o seu corpo ao limite novamente... — Edith fala pra mim.

Sei que ela está preocupada comigo.

— Não precisa dessa preocupação toda... Eu já estou recuperado. Acho que iria ficar maluco se eu passasse mais algum dia deitado sem poder fazer nada.

— Mas isso só aconteceu porque você se esforçou demais. Seus músculos estavam próximos ao limite, nem quero pensar se você tivesse seguido ela...

— Mas eu não segui. Me recuperei. Estou pronto para continuar onde quer que eu tenha parado.

— Adam... Não acho uma boa ideia você se envolver com isso.

— E como eu não poderia Edith? Se você acha que se eu ficar de fora, esperando notícias vai ser melhor para mim, você está redondamente enganada.

— Não é não fazer nada, mas não precisa mergulhar de corpo e alma...

— Eu também não tenho como fazer isso. Não sei como está a situação agora, mas eu não posso me envolver menos do que completo.

— Você tem certeza disso? Não está sendo nada fácil, e olha que ainda nem a encontramos ainda.

— Se fosse fácil não seria a Megan. Me tranquiliza saber que está difícil. Se está para nós, também deve estar para o Tobias...

— Mas falando dele, nós também não temos ideia do seu paradeiro.

— Parece que temos muitas coisas para resolver Edith. Melhor então eu me juntar. Quantas mais mentes trabalhando nisso, mais rápido poderemos resolver isso.

— Não tenha tanta certeza disso Adam, mas tudo bem, você já é grandinho o suficiente para saber o deve e o que não deve fazer.

— Exatamente.

— Estou indo para lá agora. Quer ir também?

Apenas aceno a cabeça confirmando. Deixamos o quarto e vejo o meu pai se aproximando de nós. O sorriso que ele tinha no rosto fica um pouco nervoso ao me ver andando ao lado da Edith.

— Oi pai. Vou resolver algumas coisas com a dona Edith. Desculpe, mas o senhor pode voltar para casa sem mim...

— Sua mãe está te esperando em casa empolgada meu filho.

— Imagino que sim pai. Mas eu realmente tenho que resolver isso.

— Eu me resolvo com ela... Não se esforce demais meu filho.

— Pode deixar... E avisa pra mãe que eu volto para casa para o jantar.

— Ah, assim vai ser bem mais fácil. Obrigado filho — meu pai me dá dois tapinhas de leve em meu ombro e se afasta de nós, se despedindo discretamente da Edith.

Sigo a Edith no completo silêncio até a base de operações. Vejo uma quantidade anormal de gente nos computadores, andando pelos corredores e analisando dados. Ela atravessa os corredores rapidamente e logo estamos dentro de uma saleta com um mapa gigante na parede com diversos papéis pregados nele, linhas azuis e cinzas ligavam alguns desses papéis. Aquilo parecia uma parede de uma investigação policial.

Martin falava alguma coisa baixo com o Oliver que estava com uma linha azul em mãos e ligava dois papéis que estavam presos na parede por uma espécie de prego.

Oliver assim que terminou se afastou um pouco da parede e começou a analisar o mapa como um todo. Martin está ao seu lado e vejo quando ele leva as mãos até a cabeça e puxa seus cabelos com força. Escutamos apenas grunhidos sofridos vindos dos dois.

— Bom ver como vocês estão felizes com os nossos avanços... — Edith diz cheia de sarcasmos e os dois se viram na nossa direção.

— Não conseguimos nenhuma confirmação visual dela... Estamos quase ficando sem opções... — Oliver diz. Ele se vira na minha direção. — Oi Adam! Bom te ver fora do hospital!

— Obrigado Oliver... O que foi que vocês descobriram?

— Nada muito concreto — Martin entra na conversa. — São apenas conversas, possíveis locais onde a Megan apareceu, mas nenhuma confirmação. Temos um monte de boatos, mas pelo menos agora já conseguimos identificar os falsos.

— Com o conhecimento dela sobre as fendas de Nihal, fica cada vez mais difícil. Mas estamos traçando um caminho bem possível para ela — Oliver diz seguindo uma linha azul com a ponta do seu dedo.

— Quanto mais cedo vocês descobrirem para onde ela está indo, mais rápido iremos atrás dela — Edith fala um pouco impaciente.

— Se pelo menos soubéssemos onde está o Tobias... Seria um ponto inicial.

— Acho que eu posso rastrear a Megan... — digo um pouco baixo, e todos pareciam tão envoltos na sua discussão que nem prestaram muita atenção em mim.

E eles continuam a não se importar de estar ali no mesmo lugar que eu. Quero muito juntar as minhas forças com as deles para que a encontremos mais rápido, mas acho que não vai ser assim que as coisas vão funcionar.

Então me aproximo do grande mapa na parede e começo a analisar as linhas e informações. Começo no ponto do mapa que a tinha visto pela última vez. Todas as informações estavam lá. A redoma que o Tobias tinha criado, a junção da Megan e Morgana, para onde ela foi a partir dali, se ela tinha se aliado a alguém... Esse tipo de coisas.

A minha ideia de como eu posso encontrá-la é um pouco fraca, e não tenho a menor ideia se vai funcionar agora com essa fusão com dela com a Morgana. Além de não saber se dará certo, ainda não é tão veloz como eu quero que seja. Coloco essa ideia na gaveta por enquanto e penso em novas coisas enquanto tento absorver todas as informações que estão na minha frente.

֎ ֎ ֎ ֎ ֎

Minha mãe está servindo o jantar. Todos estavam bem silenciosos enquanto serviam os próprios pratos.

Mesmo sem fome me obrigo a comer alguma coisa. Coloco um pouco de cada coisa servida e mais brinco com a comida com o meu garfo do que necessariamente me alimento.

Meu corpo ainda está se recuperando, então eu tenho que me alimentar bem para que tudo seja o mais rápido possível. Os ferimentos provocados pelo Tobias e pela aparição do Martin deixaram mais marcas do que o esperado.

— Ainda sem sinal da sua mulher filho? — minha mãe pergunta para o meu irmão.

— Não... Mas ainda não desistiram das buscas... Estão fazendo o impossível para encontrá-la. Mas estou preocupado... Ela não tentou falar comigo, ela sempre tenta falar comigo... — meu irmão diz cheio de magoa na sua voz.

Aquilo me acerta em cheio. A Megan também falava comigo. Ou pelo menos eu gosto de pensar que ela sempre dava um jeito de falar comigo. E até agora ela nem sequer tentou. Ela me deixou com milhares de perguntas e sem nenhuma explicação.

Não sei como e nem qual o momento exato, mas a minha família agora estava tendo uma conversa calma e descontraída sobre o clima de Nihal, de como a temperatura estava mudando e em breve eles teriam uma nova estação na província.

O sangue em minhas veias ferveu de raiva muito rápido e por muito pouco. Por isso nem me importei com o barulho alto que a cadeira de madeira fez ao se chocar com o chão quando ela caiu no momento em que eu fiquei de pé de uma vez, num rompante.

Se eles não se assustaram com o barulho da cadeira caindo, com certeza se assustaram ao escutar o barulho das minhas duas mãos batendo espalmadas contra a superfície de madeira, tremendo tudo o que tinha em cima, derrubando até a taça de vinho que minha mãe tomava.

— Nihal entrando quase em estado de calamidade e estamos falando sobre o clima?

Assim que as palavras saíram da minha boca percebi o quanto eu tinha me exaltado e sem a menor razão. Olho ao meu redor e vejo vários olhos arregalados me encarando.

— Não deveria ter falado isso... — digo, arrependido.

— Filho você... — minha mãe tenta pegar na minha mão, mas eu simplesmente me afasto. Não sei ao certo porque estou tendo essas reações tão adversas, parece que o meu corpo quer algo diferente que a minha mente.

— Mãe, desculpa, eu... — não sei o que posso falar para amenizar a situação. Tenho medo de falar mais alguma coisa e acabar falando ainda mais coisas que não quero.

Sempre falei para a Megan que era fácil controlar a raiva, que bastava querer, mas isso não é tão simples. Quando todos os seus sentimentos se misturam dentro do seu coração, você não sabe o que vai acontecer ou o que vai falar.

Peço perdão a todos mais uma vez e vou direto para o meu quarto. Preciso acalmar os ânimos e fazer uma coisa de cada vez. Eu estou inquieto assim por causa da Megan. Tenho que pensar num modo de encontrá-la e depois que eu tê-la em meus braços, posso pensar em todos os outros problemas do mundo.

A minha mente está trabalhando numa velocidade impressionante. Mesmo tendo várias ideias e traçando diversos planos, nenhum deles me parece bom o suficiente para sair da minha mente. As horas passaram com rapidez e agora já era madrugada.

Minha barriga ronca de leve, a minha saída do jantar agora estava cobrando o seu preço. Mas resolvo ignorar e continuo a encarar o teto do quarto e volto a me enterrar em pensamentos. Os dias que passaram não voltam atrás, então só posso pensar nos dias que ainda virão.

Ah Megan...

Escuto batidas fracas na minha porta. Não falo nada. Escuto um suspiro alto vindo do outro lado da porta e a voz baixa, mas clara do meu pai.

— Adam... Está acordado filho?

— Sim... — não tinha motivos para mentir para ele.

— Posso entrar? — ele pergunta e consigo sentir as dúvidas que habitam a voz dele.

— Claro. A porta está aberta...

Ergo o meu tronco e me sento na cama. Meu pai entra no quarto, seu rosto mesmo parcialmente iluminado mostra claramente uma luta interna que ele parece ter dentro de si. Ele traz um prato na mão com dois sanduíches. Ele coloca o prato no meu colo.

— Pensei que estivesse com fome já que não jantou bem — ele fala como se estivesse se justificando pelo seu gesto.

Não falo nada enquanto pego um dos sanduíches e como com certa velocidade. Ele também mantêm o silêncio. Ainda sem falar nada, ele pega uma cadeira e traz para o lado da minha cama, sentando sem pressa do meu lado. Ele me olha por entre os seus cílios e me dá um sorriso fraco. Espera pacientemente até que eu termine de comer.

— Com dificuldades de dormir também, não é? — ele quebra o silêncio.

— Bastante. Eu dormi mais do que deveria no hospital, agora não consigo mais cair no sono — pelo menos não tinha mais aqueles pesadelos horrendos, já que não dormia.

— Acho que a sua mãe tem alguma coisa pra ajudar ela a dormir, posso perguntar pra ela, se você quiser alguma coisa também.

— Não preciso. Estou bem assim...

— Mas não é o que parece filho. Você sabe que eu só estou aqui com você agora porque eu estou preocupado contigo.

— Eu sei disso pai. Não queria mesmo ter explodido daquele jeito no jantar, já pedi desculpas, mas desculpa novamente pai. Não era a minha intenção, e eu nem tinha motivos.

— Motivos eu sei que você tem meu filho. De sobra. Não vim aqui para brigar com você. Vim somente para conversar. Pra saber se você quer falar alguma coisa. Qualquer coisa. Falar ajuda filho, melhor do que se afundar em todos esses sentimentos.

— Sei que ajuda, mas no momento não consigo falar com ninguém...

— Ou então eu sou somente a pessoa errada com quem você quer ter essa conversa... — olho para ele um pouco alarmado. — Na mosca? — ele sorri sem humor.

— Exatamente.

— Tudo bem filho. Imaginei que fosse ser isso mesmo. O que você tem com a Megan é bem especial mesmo. Tem coisas que só conseguem sair dos nossos corações quando estamos na presença da pessoa certa.

— Por isso que tem que ser com ela pai.

— Dá pra sentir o quanto você acredita nessas palavras meu filho. E estou muito feliz por você ter encontrado uma pessoa para conseguir depositar todos esses sentimentos.

— Sempre foi ela pai.

— Foi amor antes mesmo de você saber não é mesmo? — eu apenas confirmo com a cabeça, sem saber o que mais responder. — Olha filho, vou ser bem sincero com você. O que estão falando sobre a Megan não é nada animador. As histórias que chegam até nós não são nada animadoras, mas eu sei muito bem que podem ser apenas isso: histórias.

— Eu só consigo acreditar no que está na minha frente pai. Não quero acreditar em nada do que estão falando.

— E você está preparado para encontrá-la de frente e tirar as suas próprias conclusões meu filho?

— Não sei se estou preparado para encará-la, mas eu sei que tenho que fazer isso. Mesmo não estando pronto, eu não consigo me livrar desse sentimento no meu peito, esse sentimento que grita dentro de mim que a Meg está precisando de mim.

— Aconselho você a se preparar. A verdade muitas vezes é um tapa em nossas faces. Muitas vezes até mesmo preparado a pancada ainda é mais forte do que você imagina. Espere pelo melhor, mas esteja preparado para o pior.

— Posso aguentar qualquer coisa, contanto que eu esteja do lado dela.

— Muito bem meu filho... — ele sorri de forma tão terna para mim que sou inundado com uma sensação boa, calma e quente.

Estou feliz pelo o meu pai me fazer falar essas palavras. Com elas fora do meu peito o que eu tenho que fazer a seguir parece muito mais fácil. Pensei que não fosse tomar uma atitude por conta da minha discussão mais cedo, mas percebo que o meu sentimento é maior do que isso.

— Eu vou buscá-la pai — não era uma pergunta, não estava pedindo a sua permissão. Estava apenas informando a ele o que faria agora.

Não posso mais ficar inventando essas desculpas para me frear. Se eu não me mover, ninguém vai se movimentar por mim. Eu tenho que fazer isso. Não posso deixar ninguém me parar.

— Pai, você concorda, não é? — mesmo sem pedir a sua permissão ainda não queria que ele me impedisse de ir. Eu iria mesmo se ele impedisse, mas iria com a consciência bem mais tranquila se ele não me impedisse.

— Eu não concordo filho, mas eu consigo entender. Também iria para qualquer canto do mundo pela sua mãe — aquela não negação pra mim era mais do que suficiente.

— Obrigado pai.

— Só peço que tenha muito cuidado. Você não entende completamente os motivos da Megan para se afastar de todos então não sabe do que ela é capaz nesse momento.

— Sei disso, e eu vou ter cuidado, mas eu sei que ela não me machucaria.

— Tente estar preparado para tudo — meu pai pega em meu ombro e aperta com cuidado o músculo. Não sabia que o meu pai podia fazer essa expressão. Eu me senti culpado e odiei a fragilidade em seu olhar.

— Você me ensinou bem pai. Vou me preparar para o tudo e o impossível também.

— Quando foi que você cresceu tanto assim meu filho?

— Nem eu sei direito pai. Mas eu sempre tive um exemplo muito sólido na minha frente — sorri para o homem na minha frente e fico de pé.

— Boa sorte meu filho. Se precisar de nós, sabe onde nos encontrar — ele também sorri e desvia o seu olhar do meu. — Não se machuque muito, e principalmente, não morra.

— Certo! Até breve pai!

— Até filho.

Saio do quarto e vou em direção a saída mais próxima. Não sei nem por onde começar a procurar a Megan, mas tenho uma ideia de onde começar. Só espero que funcione.

Preparo uma borboleta negra. Antes de soltá-la ao vento para que procure o seu destino eu fico um pouco apreensivo. Só espero que isso funcione agora, porque se não der certo não sei por onde eu vou começar.

Abro as minhas mãos e o alívio me toma quando a borboleta começa a voar e procurar o seu rumo.

Ótimo! Pode ser que demore, mas com certeza eu vou encontrá-la Meg. Só espere por mim. Estou chegando. 


VRAU! Depois de muitos bugs, problemas, falta de inspiração, e tudo mais, aqui vai um capitulo quentinho em folha pra vocês! Espero que gostem, e vamos ficar na torcida para os capítulos saírem certinho ahahahhaha

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