Capítulo 02 - De volta ao campo de batalha

~ Adam ~

Parece que as cenas que aconteceram na minha frente passaram em câmera lenta. Vi a luta da Megan com Tobias. Vi quando os olhos de Megan sangravam. Tentei de diversas formas quebrar a barreira que nos separava. Nunca tinha visto nada parecido com aquela barreira.

E foi quando as coisas passaram a ficar perigosas. Megan ganhou do Tobias e foi quando eu vi a Morgana ali dentro com os dois. Ela não fazia nada, permanecia mortalmente parada, somente olhando o futuro das ações.

Foi quando vi algo brilhar nos céus. Uma luz muito forte e impossível de ser ignorada. Uma luz que desceu das alturas. Uma luz que tinha um poder tão intenso que me jogou vários e vários metros para trás. Não me machuquei com a queda, e a luz brilhava com uma intensidade que doía.

Quando consegui abrir os olhos novamente, estava muito distante, não sabia onde estava e nem como poderia voltar.

Mas tinha que dar um jeito, e tinha que ser rápido, pois estava preocupado com a Megan junto da Morgana e Tobias. Fico de pé e começo a tentar me localizar. Consigo ver não muito distante de mim, uma área grande de devastação e meu coração apertou ao ver aquilo. Por favor, que a Megan não esteja no meio daquela destruição.

Meus domínios estavam um pouco desgastados, mas mesmo assim ainda consigo ir rápido para o local.

Ao chegar lá, me surpreendo em ver apenas uma pessoa em pé. Um homem, e mesmo de costas, ele não me era estranho. Seguro com firmeza uma lança de fogo, para me proteger. Me aproximo com cautela, sempre tentando manter minha atenção incondicional nele, afinal, se ele estava ali e a Megan não, será que ele tinha feito alguma coisa com ela?

Decidi não adotar a política de bater primeiro e perguntar depois. Não havia mais pessoas ali por perto, mas com certeza não demoraria muito para que Oliver, Nicky, e o resto me alcançasse. Eles me dariam suporte.

Por enquanto, estava focando apenas na tarefa de não perder esse cara de vista.

– O que quer comigo? – o homem me pergunta e a minha mente entra em parafuso, aquele tom, aquelas palavras defensivas...

– Martin? – pergunto abismado ao ver o guardião da Megan virando na minha direção e me encarando com verdadeiro alívio nos olhos.

– Sim. Olá Adam! – ele me cumprimenta e me chame de maluco, me chame de qualquer coisa, mas no momento em que eu pus os meus olhos nele, percebi que era realmente o Martin.

Não faço a menor ideia de como ele pode estar ali... Vai ver eu morri e estou o vendo do outro lado. Vai ver a Megan ainda esta viva e por isso que eu não a vi por ali. Não sei se enlouqueço de vez ou se fico aliviado.

– Onde estamos? – pergunto tentando me orientar.

– Como assim você não sabe Adam? Estamos em Nihal.

– Em Nihal? O que você está fazendo aqui então? E o que aconteceu com a Megan? Ela estava por aqui não estava?

– Calma Adam... Megan estava aqui, mas ela fugiu... O que aconteceu aqui? O que aconteceu com esse lugar? O que aconteceu com ela?

– Como assim o que você quer dizer o que aconteceu com ela? O que foi que você viu Martin? Onde está a Megan?

– Megan está bem... Eu acho. Mas ela estava viva e respirando quando fugiu daqui – senti um alívio tão grande que deixei o meu corpo cair no chão.

– Ainda bem... Mas o que você quis dizer com acho...

– Megan se fundiu com a Morgana, ou acho que foi parecido que aconteceu... Só sei que vi as duas, se aproximando e se fundindo...

– Você está mentindo... – não quis pensar nem na possibilidade daquilo ser verdade. Ele pode estar mentindo, pode estar querendo me enganar... Mas o Martin de verdade não faria algo assim, ele sempre foi uma das pessoas mais verdadeiras que eu conheci...

– Mas o que aconteceu aqui? – ele torna a perguntar.

– Você está olhando diretamente para uma zona de guerra. O local da batalha da minha neta com o Tobias – Edith aparece, explicando bem por cima a situação. – Martin...

Ao olhar para o rosto dela, percebo toda a desconfiança e receio no semblante dela. Deveria estar sendo cauteloso como ela, mas algo na pessoa do Martin me passa a confiança necessária.

– Edith – deu para sentir o cuidado com que o Martin pronunciou cada sílaba do nome dela. Ele sabe o quanto ela pode ser perigosa se ameaçada.

– Isso não faz sentido. Você não deveria estar aqui – seus olhos arregalam e vejo quando ela retira algemas e um pequeno vidro colorido de seu bolso.

– Sei disso... – ele se aproxima dela, com as duas mãos para cima, num sinal claro que ele não planejava se rebelar. – Pode fazer o que você precisa.

E foi tudo num piscar de olhos. Edith amarrou e injetou diversos líquidos nele. Martin desmaiou e então mais pessoas começaram a chegar. Soldados confusos e machucados começam a ganhar território. Não tínhamos mais nem sinal do exercito inimigo.

– Você está bem Adam? – dona Edith me pergunta.

– Quase.

– Onde está a Megan?

– Isso é o que eu quero saber... Não sei ao certo, a luz me jogou longe, e quando voltei, ela não estava mais por aqui.

– Entendo...

– Mas o Martin disse que ela fugiu, que estava relativamente bem, mas fugiu.

– Não sei se eu consigo acreditar assim em algo que o Martin fala nesse momento. Não enquanto eu não sei se ele é ele mesmo...

– Mas eu olhei nos olhos dele enquanto ele falava, eu acredito nele.

– Não é uma decisão muito inteligente acreditar nele neste momento Adam, não sabemos nada sobre esse ser...

– Esse ser é o Martin! Não me pergunte como eu sei disso, mas eu ei. E se ele disse que a Megan está lá fora, eu vou lá busca-la.

– Mas e se não for ele, se isso for tudo um tipo de armadilha bem elaborada para fazer algum mal a você?

– Sim, não precisa dizer isso. Sei bem que essa é uma possibilidade, e das grandes, mas e se for o Martin mesmo? E se ele estiver falando a verdade? Estamos perdendo tempo aqui, tempo precioso, o tempo que seria necessário para alcançar a Megan.

– Não vai ser fácil assim – me espanto ao ver que o Martin já estava de pé.

– Mas como? – Edith parece um pouco abalada por conta da disposição do Martin.

– Pelo o que você pode ver, essas coisas que você injetou em mim não tiveram muito efeito, mas essas cordas estão muito bem amarradas...

– Porque você está com o rosto do Martin? – ela pergunta, séria, e senti um arrepio correr pela minha espinha.

– Eu não estou com o rosto dele, eu sou, bem, eu....

– E você espera que acreditemos numa história dessas? Por favor, faça-me rir...

– Mas eu estou falando a verdade Edith, se não acredita, pode me perguntar o que você quiser...

– Não sei se eu tenho alguma pergunta para lhe fazer que me garantisse a sua identidade... Não há como confirmar as coisas assim...

– O que eu posso fazer então? Faço qualquer coisa para você acreditar em mim...

– Você está no caminho certo, você teve pelo menos uma oportunidade de acabar com um de nós, mas não o fez.

– Eu não quero o mal para nenhum de vocês... Por favor Edith, você tem que acreditar em mim...

– Estamos perdendo tempo aqui. Porque não estamos indo atrás da Megan? – interrompi os dois, estou com o pavio um pouco curto agora.

– Seria tolice ir agora. Temos outras prioridades agora.

– Com todo o respeito, você pode ter outras prioridades dona Edith, mas eu não!

– Será que você não pode ter um pouco de fé?

– Como assim fé?

– Um voto de fé Adam. Um voto que a minha neta está em segurança, onde quer que ela esteja...

– Nem preciso me esforçar para saber que a Megan está dando um jeito de ficar bem... Mas eu só queria que ela estivesse aqui conosco...

– E você acha que eu não quero isso também? Eu a amo tanto quanto você, ou até mesmo mais, eu a treinei, eu que a trouxe para Nihal, você não acha que eu quero acima de tudo vê-la bem e em segurança? Eu quero... Mas a situação não me permite, tudo o que eu posso fazer agora e ter fé.

– Eu preciso ir atrás dela dona Edith. Não posso simplesmente ficar aqui sem fazer nada, somente esperando por alguma notícia dela – meu corpo mesmo machucado está inquieto, preciso fazer alguma coisa.

– Você deve se recuperar primeiro – ela me olha no fundo dos olhos e fala como se fosse a única solução óbvia.

Não dá pra aceitar isso. Ela não deve estar muito longe daqui, se eu apertasse um pouco o passo, se caminhasse rápido, eu conseguiria vê-la. Eu conseguiria falar com ela, e tudo ficaria bem. Eu a faria voltar pra cá. Ficaríamos bem.

– Não posso... – digo um pouco abalado e fico de pé. A dor dava para ser suportada um pouco. E se no final, eu encontrasse a Megan, tudo valeria a pena.

– E o que você vai fazer em relação a isso? – suas mãos apertam as minhas costelas e uma dor quase alucinante me faz gritar alto. – Foi o que eu pensei. Você fica.

– Isso não é...

– Não é discutível isso – ela me fala firme e me vejo sem muitas escolhas.

Não teria como passar pela Edith, e mesmo se por um milagre eu conseguisse, como vou procurar pela Megan assim nesse meu estado? A adrenalina tinha passado e as minhas pernas estavam um pouco bambas por conta das minhas costelas acredito.

– Edith tem razão Adam... Algo mudou – Martin senta ao meu lado.

– O que exatamente você quer dizer com isso Martin?

– Não sei ao certo te precisar quanto ela mudou, mas uma coisa eu garanto. Desde o momento que eu fui separado dela, até esse momento que eu a vi, ela parecia outra pessoa. Eu vi a escuridão dos seus olhos.

– Não diga isso Martin. Não depois de tudo que fizemos para manter a escuridão longe dela...

– Sei bem o que vi. Vi quando ela e o seu lado mau se tornaram uma pessoa só. Está tudo claro agora para mim. Pelo modo que ela me tratou, tudo começou a se encaixar e fazer sentido.

– O que vamos fazer agora? – minha mente virou uma mistura de confusão e desespero. Não conseguia pensar em nada. Minha mente finalmente tinha atingido um ponto de exaustão igual ao do meu corpo.

– Ninguém nesse momento pode fazer alguma coisa. Estamos esgotados, cansados e muito abalados – dona Edith fala e mesmo não concordando muito, sei que ela tem razão. – Vamos dar o dia por encerrado, contabilizar nossas perdas e comemorar as nossas vitórias. Amanhã será uma nova chance.

Ao lembrar que dia era amanhã sinto algo ruim na minha garganta. Amanhã é o aniversário da Megan. Tanta coisa tinha mudado... Vou usar essas horas de descanso que estão me propondo. Essas horas de descanso serviriam muito.

Acho que a Megan não vai muito mais longe. Ela deve descansar um pouco. Seu corpo também deveria estar no limite.

Ao encostar a cabeça no meu travesseiro, só conseguir rezar para que tudo ficasse bem.

֎ ֎ ֎ ֎ ֎

Uma dor me acorda quando eu tento me mover um pouco mais rápido em cima da cama. Tive um sonho meio diferente com a Megan. Sonhei que ela estava ali comigo, que ela tinha vindo me ver no meu quarto, mas ela só me olhava, ela não falou coisa alguma.

Senti uma paz, e posso jurar que ainda estou sentindo o seu toque no meu rosto.

Tomo um banho e me troco. Os meus ferimentos tinham melhorado consideravelmente durante a noite, alguém deve ter tomado de conta disso enquanto eu dormia. Procuro pelo Martin, ele ainda precisava me explicar melhor como foi que ele voltou a vida...

Martin está numa sala que nunca tinha entrado antes. Ele tem diversos fios, monitores e agulhas estão enfiados nele. Parecia estar adormecido, mas foi só eu me aproximar um pouco que ele abriu os olhos.

– Adam – ele me cumprimenta sorrindo.

– Olá Martin... Será que podemos conversar um pouco?

– Claro. Sobre o que você deseja conversar?

– Na realidade minha cabeça ainda está um turbilhão, mas tem algumas dúvidas minhas que são um pouco mais urgentes.

– Se eu puder sanar essas suas dúvidas Adam...

– Você realmente viu a Megan e a Morgana virando uma só pessoa? – pergunto o que eu estava mais preocupado. Eu vi a cena das duas se separando, e foi algo que eu demorei tempo demais para associar.

– Sim. Pra falar a verdade, foi a primeira cena que eu vi.

– E como você tem certeza que era a Morgana?

– Adam, eu passei muito tempo perto do coração da Megan, eu conheço a Morgana como poucos, sei a aparência dela, sei o quanto as duas podiam ser opostas, mas no momento seguinte, exatamente iguais.

– Entendo... Isso não é bom... Lutamos muito para manter as duas separadas.

– Sei bem dessa luta, participei um bom tempo dela, antes de ser arrancado de lá.

– Martin, como você está aqui? Como isso é possível? Nós te vimos morrer, vimos o que aconteceu com o seu corpo.

– Não sei ao certo, tudo o que eu vivi ou presenciei depois que fui retirado da Megan parece meio nublado e confuso, não tenho lembrança de como cheguei aqui. Parece que estava de olhos fechados o tempo todo e quando consegui abrir os olhos, estava em Nihal mais uma vez.

– Você se sente diferente?

– Não, pra falar a verdade, eu me sinto exatamente igual aos meus últimos momentos, não consigo sentir nada de diferente no meu corpo ou pensamento.

– Esses testes que estão fazendo com você, pra quê eles servem? Para saber se você não esta sendo controlado por ninguém?

– Isso eles já fizeram mais cedo, passei por exames complicados e testes para ver se o meu corpo, mente ou domínio estava sendo controlado por outra pessoa. Mas tudo deu negativo. Sou eu mesmo a fonte da minha magia.

– E para que esses testes agora?

– Meu corpo foi desintegrado. Não sabemos como eu voltei, com a mesma quantidade de magia, com os mesmos domínios, condição física... Então estão fazendo em mim vários testes mágicos e físicos.

– Isso deve ser no mínimo desgastante.

– Com certeza, mas se for por uma boa causa, se eles me usarem para conseguirem um bom avanço nas pesquisas deles, não vou impedir.

– E os seus deveres de guardião?

– Adam, eu não parei de proteger a Megan nem quando ela nem sabia que eu existia, eu a protegi mesmo quando eu não tinha mais um corpo, agora que eu voltei a ter uma vida, e um corpo de carne e osso, eu ainda a protegerei. Mesmo ela deixando claro que não me quer perto dela ou que quer alguma ajuda.

– Isso vai ser complicado. Você não tem mais acesso ao coração dela Martin...

– Sei bem disso, mas de um certo modo, eu ainda tenho. Assim como a Edith. Assim como você. Todas as pessoas que ela ama tem um lugar no coração dela.

– Queria tê-la visto antes que ela fugisse.

– Talvez foi melhor que você não a viu. O modo que ela falava Adam, o modo como se mexia e agia, talvez fosse um choque muito grande para você.

– Pensar no que eu faria na situação não me faz mais apto a resolve-la.

– Exatamente. Mas não tinha como prever que isso aconteceria. Nunca pensei que o futuro fosse se desenrolar assim, é completamente louco.

– Vamos recuperá-la – digo convencido e coloco isso como meu único objetivo daqui pra frente.

Talvez, mas só talvez, se eu colocasse toda a minha alma nisso, conseguisse fazer com que a Megan voltasse. O que era um pensamento meio absurdo de se ter, mas eu tinha que ter esperança em algo, não podia somente depender dos outros. E eu vou agir.

– Não tenho nem dúvida disso Adam...

– Eu já vou indo. Não vou mais aborrece-lo com as minhas perguntas. Você tem que descansar, sei que os seus testes não devem ser nada fáceis...

Saio de lá e começo a caminhar pelos corredores. Precisava de um pouco de ar fresco para refrescar um pouco as minhas ideias, então resolvo sair dali e ir procurar um campo, ou algo do tipo. Tive que caminhar um bom bocado para atingir um pequeno parque no centro da província da Terra. E não sei se para acalmar ou terminar de apertar o meu coração, vi um pouco mais de meia dúzia de flores que me remetiam tanta coisa...

Rosas brancas, com as pontas em colorações diferentes. Mas a que mais chamou a minha atenção foi a que tinha as pontas azuis, a mesma rosa que eu tinha dado de presente para a Meg no aniversário de 16 anos dela. Minhas pernas se movem sozinhas, e me agacho em frente a bela rosa. Brinco com as pétalas entre meus dedos e sem pensar muito a retiro do seu canteiro, roubando-a para mim.

– Queria que você estivesse aqui comigo Megan, o que diabos você está planejando, saindo sozinha com a Morgana?

Falo para o nada e me sinto um pouco idiota por estar falando sozinho. Fico rodando o caule da rosa e um espinho acaba ferindo a minha mão. A dor não me importa. Não sou uma pessoa que se deixa levar por sentimentos, mas não consigo controlar uma lágrima que desce pelos meus olhos. Impossível não sentir falta dela e não ficar preocupado.

Num rompante, fico de pé e enxugo as lágrimas. A situação não vai mudar se eu ficar amuado no meu canto somente chorando e pensando no que eu poderia fazer. Vou tomar uma atitude.

Jogo a rosa para cima e com uma rajada de vento a jogo para onde o meu coração me manda. Fecho os olhos com força. A partir desse momento eu vou me concentrar. Nada dará errado. Olho para cima e encaro a lua e as estrelas. A noite estava bonita...

– Feliz aniversário Meg.

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