95 - O destino de Kyle
Gálius seguiu direto para sua casa depois da morte de Lerifan. Gritou pelo pai e não houve resposta. Subiu lá em cima e viu que nem ele e nem a árvore estavam lá. Então concluiu que o pai fugiu levando a árvore para se encontrar com o restante da família nos bosques além das pedreiras. Perto do bosque, viu um pequeno acampamento dos silfos.
— Yté! Yté! — ele gritou.
Seu coração se encheu de alívio assim que a viu sair correndo de uma das barracas. Ela saltou em seus braços e se beijaram longamente.
— Você está bem, meu amor? Tem febre? — ela indagou. Já estava escuro e ela não pode notar que a pele dele estava vermelha, mas sentiu que seu corpo estava muito quente.
— Tudo bem. Você viu meu pai? Minha família?
— Sim, vi seu irmão, acho que para lá! — ela apontou para outro acampamento perto do bosque.
— Eu escapei por pouco... Como estão as coisas na cidade?
— Não tenho boas notícias. Vamos eu te conto no caminho.
Os dois procuraram pela família e encontraram todos numa grande barraca, inclusive sua irmã mais velha, exibindo sua barriga cada vez maior.
Kiorina abraçou Gálius chorando. — Está tudo bem, filho? Onde está seu pai?
— Ele não chegou aqui?
— Não! Ai, ai, ai... — ela se conteve para não explodir em lágrimas na frente dos filhos menores.
Gorum chegou mudando de assunto — Não vai nos apresentar a sua... é... ela?
— Pessoal, essa aqui é a Yté. Somos amigos.
Gorum sorriu. Ele tinha certeza que eram muito mais que isso, mas não entrou naquele assunto. Gálius notou que Beluna estava ali atrás e a cumprimentou, um pouco depois.
— Cadê o papai? — ele indagou.
— Eu vou ter que voltar para procurar por ele.
— Calma, disse a mãe. Primeiro você vai jantar.
Gálius queria recusar, mas notou que seu estômago roncava e estava de fato faminto.
A mãe apertou seu braço — Conte-nos sobre a cidade. O que houve?
Então Gálius e Yté se sentaram no chão com a família. Ele contou um pouco do que aconteceu. Dora trouxera uma panela e os irmãos, sacolas com comida. Assim ela logo improvisou um jantar que todos aprovaram. Não havia pratos, mas levaram algumas colheres. Não foi difícil todos partilharem a comida a partir da mesma panela, mas como esperado, houve alguma confusão e briga entre Ector e Melgosh.
Gálius falou muito durante o jantar, mas não contou tudo o que aconteceu. Omitiu a questão da árvore, mas contou que o Rei-Deus confiou-lhe uma coisa importante que ele deixara isso em casa, com o pai.
— Tenho certeza que o papai vai chegar aqui a qualquer momento — disse Lerone otimista.
— É — Kiorina concordou. — Tem razão. Ele já deve estar chegando. Vamos dormir. Se amanhã as coisas estiverem mais tranquilas na cidade, voltaremos.
Gálius ajudou a colocar todos para dormir. Depois se encontrou com a mãe, Gorum e Yté do lado de fora.
— Eu vou atrás do papai — anunciou Gálius.
— Eu vou com você — disse Kiorina — E você, Gorum, fica para cuidar das crianças.
— Eu ajudo, ofereceu-se Yté.
Kiorina segurou-a na mão e disse — ficou muito agradecida.
Então, logo depois, Gálius e a mãe saíram. Kiorina se permitiu chorar mais assim que se afastaram do acampamento.
— Filho, estou com medo de ter acontecido algo com seu pai.
— Por que, mãe?
— Por causa da visão dele. Era a última... E tenho medo que... — e então não segurou o choro que veio forte.
Gálius a abraçou. — Calma, mãe. Temos que ter alguma fé. Nós vamos encontrá-lo, está bem? Eu sinto isso...
Bem tarde da noite, chegaram a casa. Kiorina produziu uma chama e eles subiram.
— Foi aqui que deixei a planta. — Sua mãe sabia, mas não queria comentar sobre o Coração de Tleos com mais ninguém.
— Olha filho, a espada de seu pai, não está aqui.
— Certamente ele a levou consigo. Para onde ele teria ido? — Gálius ficou tentando adivinhar.
Viram de longe, que havia movimento na cidade. Não havia mais incêndios, mas o forte cheiro de fumaça e uma chuva de fuligem não paravam de cair.
— E agora? — indagou Gálius.
— Será que ele foi para a casa nova?
— Talvez.
Kiorina desceu no jardim e voltou a convocar a serpente dos ventos.
— Vai chamar aquela coisa de novo?
— É...
Logo os dois subiram na criatura e voaram na direção do sítio, mas novamente, nada ali encontraram. A busca era exaustiva e já amanhecia. Voltaram para a cidade. Havia muitos lugares que abrigavam enfermos e feridos. Gálius e a Kiorina percorreram vários locais até que quase ao meio-dia, o encontraram entre outros enfermos numa estalagem a oeste do cais, região que foi totalmente poupada dos danos.
Kiorina abraçou e beijou o marido, chorando. — Pensei que o tinha perdido, meu amor!
— Eu estou bem! Eu só... — Não havia nenhum ferimento aparente nele, mas Kyle sustentava um olhar vago.
— Pai! O que aconteceu com a árvore? — Gálius indagou. Sua pele estava voltando ao normal, aos poucos, mas ainda tinha a aparência de ter tomado uma fortíssima insolação.
— Árvore? Do que está falando, meu filho?
— A árvore que deixei com você, não brinca comigo, pai! Onde está?
— Não sei de nada disso filho. Eu só me lembro de entregar a espada para aquela menina lacoresa e depois, eu acho que... Acho que dormi.
— E como você veio parar aqui?
Estava num quarto cheio de pessoas, muitos leitos ocupados por feridos.
— Eu não sei... Eu não me lembro.
Uma das pessoas que trabalhavam ali disse.
— Nós o encontramos ontem a noite no cais, desmaiado. Quando o acordamos, ele não falava coisa com coisa. Falava numa língua esquisita... Ninguém entendeu nada. Perguntamos o nome dele. Ele nem mesmo sabia quem era.
— Pelo Rei-Deus! — Gálius perdeu o fôlego e sentou-se na cama, sentindo o sangue escapar da face. Murmurou para si mesmo — Eu a perdi! Perdi o Coração de Tleos...
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