88 - A névoa
O começo de tarde ensolarada logo foi encoberta por uma densa névoa. Nos navios, soavam apitos e marujos gritavam para seguir a capitânia e, ao mesmo tempo, evitar que um navio se batesse contra os demais. O enorme navio lacorês tinha cerca de cento e dez metros de comprimento e quarenta e cinco de largura. Era três vezes maior que qualquer outro e foi o maior navio construído durante o período imperial. Fora batizado como Princesa Hana e era um dos últimos remanescentes da antiga frota lacoresa.
Quando Thoudervon levou a frota nos últimos dias do império, o Princesa Hana estava fora, navegando em portos do arquipélago sílfico. Ele já não navegava há anos, mas recebera reparos e agora liderava a frota com uma centena de navios. A capitânea também era conhecida como Navio Cidade, pois tinha três andares de cabines na popa acima do nível do convés principal. Também, possuía oito mastros, enquanto os demais contavam com dois ou três.
No castelo da gávea, o Rei Edwain fazia seu medalhão brilhar de modo intenso, mas apenas os navios mais próximos conseguiam se guiar pelo brilho que vencia pouco mais que duzentos metros naquela névoa densa, leitosa e antinatural. Até mesmo os gritos e sons pareciam abafados por ela.
Arifa, Bérin, Syrun, Josselyn, Kerdon e outros estavam reunidos próximos da proa do navio. Não se via o mar além de dez ou quinze metros à frente da embarcação. Arifa subiu no castelinho que ficava preso acima do gurupés duplo. Este se mesclava a figura de proa do Princesa Hana: duas cabeças de dragão com longos cornos pintados de preto. Era uma plataforma pequena. Apenas ela e Bérin cabiam nela.
— É agora, Arifa, concentre-se! Só você pode fazer isto! — a voz raspada de Bérin soava gentil pela primeira vez.
Após a concentração ela convocou a linha de vento. Logo, a névoa espessa foi se abrindo como uma cortina. Via-se a cada momento, um pouco mais do mar adiante.
— Agora alargue o jato, ainda está muito estreito. — instruiu Bérin.
Arifa ergueu a palma da mão livre enquanto segurava no aro de madeira que servia de pseudo amurada ali no púlpito de proa. O jato de ar se alargou um pouco dando melhor visibilidade.
— Rochas à frente — alguém gritou lá do alto. — Dez graus a bombordo!
O Princesa Hana de desviou do obstáculo, enquanto marujos na popa gritavam para os navios que vinham atrás, avisando sobre os perigos.
Seguiram navegando assim, desviando-se de recifes por mais alguns minutos. Arifa vinha ficando exausta, mas era incentivada por Bérin a manter a concentração. Segundo relatos antigos, a névoa que circundava a baia de Tleos não era muito extensa. Um horrível som de madeira arranhando-se e depois estourando soou atrás, à esquerda. Um dos navios da frota colidiu com um recife e virou de lado. A capitânia seguiu na frente, sem poder fazer nada quanto àquilo. Alguns navios que vinham atrás lançaram botes e também conseguiam içar alguns homens que nadavam por perto do naufrágio. Quando a névoa começou a ceder, o que viram não era um céu azul como o de antes... Mas um céu tomado por fumaça escura cinzenta. Aos poucos, os contornos da cidade foram surgindo, uma cidade imensa, talvez até mesmo maior que Tchilla, mas para a surpresa de todos, encontraram uma cidade em chamas. E os primeiros sons que ouviram foram de gritos e explosões.
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