43 - Voz interior

Arifa deixou-se cair no chão de joelhos, exausta. Sua mente estava girando. Kerdon e Josselyn também estavam assustados com tudo que acabara de acontecer, todo aquele fogo vivo que havia chegado e de um instante para outro, já não estava mais lá. Zane, inconsciente e com o braço amputado, talvez tivesse escapado do terrível destino de se ver convertido num morto-vivo. E ali, calmamente flutuando e olhando para os quatro, Dashimiir.

Kerdon então perguntou — Você, quero dizer, o senhor... O que houve?

— O destino se materializando através de vocês.

— Sei, mas aquele fogo...

— Entendam, mais uma vez o mundo corre perigo de ser engolido pelas legiões que vem dos abismos. O elo aberto há gerações pelos seus ancestrais, voltou a ser aberto. Mais uma vez os demônios estão livres para espalhar o caos em nosso mundo.

— Tá, nós já sabemos disso, senhor fantasma — retrucou Kerdon.

— Seja educado! — Josselyn cutucou-o com a ponta do pé.

— Mas como a Arifa fez aquilo? — indagou Kerdon. — Ou foi você?

— Eu não posso fazer nada assim. Nem mesmo posso sair daqui. Aqui é meu lar e minha prisão, há milhares de anos. Mostre-lhes, Arifa Desbrin.

Arifa então puxou o medalhão dourado de dentro de sua roupa.

— Ele me deu isso.

— Apenas mostrei onde estava. Antes que perguntem, é um medalhão feito pelos antigos, seus ancestrais, os Vetmös. Mostre a caixa...

Arifa abriu a caixa, revelando outros quatro medalhões parecidos, exceto pela cor e aparência das pedras incrustadas em seus centros.

— Nesses medalhões estão depositados os poderes, e as almas, de cinco poderosos feiticeiros Vetmös. Quando eu fui vivo, os conheci. Seus nomes eram Iovük, Urkan, Rayera, Lhomus e Gorgul. Eram imortais e altos sacerdotes subordinados ao imperador Merrin, líder dos Vetmös.

"Quando a imortalidade dos Vetmös foi rompida e finalmente envelheceram, decidiram entregar suas almas e poderes a pessoas mais jovens, para poderem reparar o mal que eles mesmos ajudaram a criar, séculos antes. Eles fizeram parte do círculo de magos que abriram, pela primeira vez, o elo entre nosso mundo e as dimensões abissais. Eles buscavam conhecimento e poder, mas só perceberam, tarde demais, que foram enganados pelas criaturas dos abismos. Apenas perto do final da guerra milenar, eles, e mais alguns entre os Vetmös mudaram de lado para se juntar a aliança. Sob a liderança de Öfinnel Prístimos, conseguiram derrotar o líder dos demônios, Arcanael, e selar o elo para as dimensões abissais.

"Mas a história se repete, os demônios voltaram a seduzir feiticeiros humanos com promessas de conhecimento e poder infinito e, mais uma vez, a passagem para os abismos foi aberta. Sendo assim, os medalhões voltaram a possuir um propósito. E cabe a vocês levá-los daqui consigo para aumentar as chances de seu povo lutar contra essa nova invasão.

Kerdon coçou a cabeça — Por todas as rainhas de Homenase! Isso é informação demais para mim...

— Imagina ter sido sorte, ou coincidência? Talvez, mas apenas uma providência do destino consegue explicar a ligação tão rápida que Arifa formulou com Iovük.

Escutar aquele nome, fez aquela sensação de frio, calor e vertigem retornar ao corpo e à mente de Arifa.

O que é isso? Que sensação estranha é esta?

Algo parecia sussurrar em sua mente, algo diferente de comunicações telepáticas que já experimentara com Josselyn. O sussurro não vinha de fora para dentro, mas sim, de dentro dela, como se saísse de seu estômago.

— Nef'irgta o taman — ela se viu sussurrando com uma voz rouca e grossa

— Que você disse? — Kerdon se espantou.

— Tira essa coisa, Arifa! — Josselyn mandou. — Vai dominar sua mente...

Arifa pegou o medalhão com ambas as mãos e fez um movimento para tirar o colar, mas antes de terminar o movimento retrocedeu e disse — Não, ele é meu amigo. Ele vai nos ajudar.

— Seu amigo? — Kerdon duvidou muito daquilo. — Ele fez você falar como se fosse a minha bisavó!

— Não tem problema... É só uma coisa que ele precisava dizer para o senhor Dashimiir.

— O que ele disse? — indagou Josselyn.

— Isso é entre mim e ele. Não se preocupem com isso. Agora, vocês devem levar seu amigo daqui. Ele não pode ficar aqui por muito tempo após ter bebido o sangue do coração da floresta. Se o fizer, a floresta irá reclamar seu corpo. Levem-no para fora de Shind, depressa!

— Mas, senhor, eu tenho tantas perguntas — disse Josselyn.

— Lhomus será capaz de lhes dar todas as respostas. Agora vão. — e com isso, a forma de Dashmiir se dispersou deixando-os sozinhos no interior do santuário dos silfos.

— Vamos Kerdon, me ajude a levantar o Zane.

— Mas ele é muito pesado...

— Melhor tirarmos a armadura dele — disse Arifa, se levantando — tenho certeza que nossos novos amigos bestiais vão gostar do presente.

Então eles colocaram Zane de volta no chão e começaram a desatar as peças de armadura.

— Você está bem, Arifa? Quero dizer, com isso? — Josselyn apontou para o medalhão.

— É esquisito, mas tá tudo bem.

— Será que esses medalhões possuem o poder de salvar Lacoresh dos demônios? — indagou Kerdon.

— Eu espero que sim — respondeu Arifa esperançosa.

Arifa ficou pensativa.

Há tantos inocentes e indefesos na cidade. Minhas tias, a família de Kerdon, a filha da Capitã Ailynn... Será que esses medalhões poderão trazer uma esperança para essas pessoas?

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