37 - Lama

Estavam à beira da clareira. Enquanto Arifa, Kerdon e Zane seguiram contornando-a, Josselyn instruiu os três bestiais a aguardar eles se aproximarem da construção.

Océu assumiu uma tonalidade violeta escura e as primeiras estrelas foram dando sinal de vida. Quatro luas estavam a meia altura no céu, quase cheias, e Josselyn agradeceu pela luminosidade que elas proporcionariam, mesmo quando a noite caísse por completo.

Arifa controlava a dor na coxa para que não a atrapalhasse de seguir o ritmo. Enquanto se aproximavam do flanco esquerdo da construção, viram que havia luz escapando de dentro, por algumas frestas na madeira. Não viram sinais de esqueletos ou quaisquer outros mortos-vivos.

Será que abandoram o local? Seria uma armadilha nos atrair para dentro do casarão?

Mais perto agora, puderam ver uma parte do terreno oculto atrás da casa. A luminosidade já em baixa, não permitiu ver detalhes, mas estava claro que havia dois cavalos ali nos fundos. Um dos cavalos, estava parado como uma estátua e dava para ver um pouco de luz atravessando seu tórax. Era um cavalo zumbi. O outro estava vivo.

— Se pegarmos, ou espantarmos, os cavalos Hendrish não terá como fugir — sugeriu Zane.

— Sim — concordou Kerdon. — o trio estava bem escondido fora da clareira, agachados para ficar atrás do mato que crescia perto da borda.

— Olha — apontou Arifa — Joss e os bestiais estão vindo.

Dali, podiam ver Jô caminhando à frente do grupo, sua espada e armadura reluzindo contra a forte luz lunar que banhava o local. Isso fez Kerdon rememorar o primeiro encontro que tiveram com o necromante. Ele contou para Arifa.

— Anos atrás, estivemos aqui com instruções para identificar bases de bestiais. Porém, encontramos um necromante acompanhado de um cortejo de zumbis. Zane queimou vários deles enquanto Josselyn e Ted avançaram derrubando vários com suas espadas. Rulf derrubava os zumbis com tiros certeiros de suas flechas contra os olhos. Estávamos levando a melhor quando Ted se afastou do grupo para perseguir o necromante.

— E o que aconteceu?

— Por dias, procuramos pelo Ted, mas tivemos que retornar. Não havia rastros nem sinal de luta. Ele simplesmente sumiu. Meses depois, o encontramos, desfigurado, sob o controle do necromante, próximo da Necrópole. Desta vez, nós vamos pegar aquele desgraçado!

— Certo — concordou Zane. — Arifa, tente espantar as montarias enquanto eu me aproximo para incendiar a construção.

Zane tocou o ombro de Kerdon e lhe disse — E você fica de olho em Josselyn e corre para ajudá-la, caso algum perigo surja.

— Hã... certo!

Arifa avançou andando agachada.

Ai, ai! Mas que droga!

Sua perna doía demais daquele jeito. Passou a andar ereta e mais ligeiro, apenas mantendo as costas um pouco encurvadas.

Zane caminhou lento respirando fundo e evocando a concentração necessária para evocar sua magia com potência máxima.

Enquanto isso, Josselyn, Pelo-curto, Dentinho e Come-Bosta vinham caminhando sobre a lama que vinha ficando mais espessa e funda à medida que avançavam. Então, o som de bolha e depois algo como um peido chamou a atenção deles. Algo se moveu, erguendo-se da lama. Era um corpo, um zumbi deitado, camuflado sob a lama. Aquele foi apenas o primeiro a se erguer, mais uma dúzia foi emergindo, e somou-se a estes, uma quantidade maior ainda, quase incontável.

— Merda! — gritou Josselyn — Emboscada!

Ela vinha sondando em busca de sinais mentais, algo que era até possível captar em carniçais e espectros, mas não em zumbis. Não tinham atividade mental alguma, e a energia escura que os animava era quase indetectável às sondagens feitas com o jii.

Josselyn avançou para cima de um zumbi que ainda não conseguira ficar de pé e lhe decepou a cabeça com um golpe limpo de sua espada. O corpo, comandando pela cabeça, afundou novamente na lama. O problema era quantidade enorme de zumbis que estava surgindo ao redor deles.

— As cabeças, no uredá! — conseguiu complementar lembrando-se das palavras na língua dos bestiais. E para exemplificar, ergueu a espada acima da cabeça e baixou sobre o crânio de um zumbi que estava quase de pé. A espada pesada afundou no crânio e o zumbi. Ele estremeceu antes de afundar na lama. Aquilo foi uma comunicação bastante clara para os bestiais. 

Pelo-curto baixou o machado sobre a cabeça de um zumbi com força incrível provocando um creck e uma explosão de miolos. Dentinho acertou o cocuruto de outro com o porrete derrubando-o. Já o come-bosta, errou a cabeça afundando o espadão nos ombros do zumbi. Em resposta, o zumbi segurou o antebraço do bestial travando seus movimentos. Josselyn viu que Come-Bosta precisava de ajuda, mas como eram muitos zumbis, teve que abrir caminho até ele lutando com dois deles.

Ela já era bem treinada naquilo. Certamente já havia abatido bem mais que cem zumbis ao longo dos anos. Como oponentes individuais, eles eram fracos e fáceis de derrotar. O problema era quando formavam uma turba. Come-bosta foi agarrado por trás por outro zumbi que lhe cravou os dentes nos ombros. Finalmente conseguiu desvencilhar-se do primeiro, mas com o outro agarrando-o, não conseguia manejar bem a espada. O zumbi com o ombro afundado caiu de joelhos na frente de Come-bosta e agarrou uma de suas pernas. O bestial ainda conseguiu atravessar a espada nas costas do oponente, mas apenas para deixá-la ali enganchada e sem derrotá-lo.

Josselyn enfiou a ponta da espada pelo olho do zumbi que mordia o ombro de Come-bosta e atravessou o crânio. Em seguida, decepou o que estava de quatro no chão agarrando a perna do bestial.

— Uredá! Uredá, Hurb-tunek! — Josselyn gritou já girando a espada para cortar o pescoço de outro zumbi que se atirou em cima dela. Cortou apenas metade, fazendo a cabeça tombar pendurada. O zumbi então avançou segurando-a espalhando lama em cima dela.

Arifa escutou os gritos distantes, mas manteve a concentração em seguir até o cavalo. Agora corria, mas a droga do chão estava coberto de lama e antes de chegar no cavalo, a perna dolorida pisou em falso. Ela escorregou e caiu de costas no chão. O cavalo zumbi então a notou e veio cavalgando em sua direção. Zane estava pronto para jogar uma bola de fogo que vinha concentrando sobre a casa, mas ao ver Arifa naquela situação, soube que seria pisoteada caso não fizesse nada. Então, virou-se e lançou a grande bola de fogo contra o cavalo zumbi.

Arifa ainda se arrastava para trás, mais jogando lama para cima do que propriamente se movendo quando foi salva pela explosão de fogo que atingiu o cavalo bem à frente de si. O cavalo em chamas ainda a atacou com as duas patas dianteiras. Arifa, no desespero, conseguiu rolar de lado e escapar, comendo um tanto de lama no processo. 

Para a sorte de Arifa, o cavalo continuou queimando e agora dava pinotes desordenados perdendo sua determinação de atingi-la. Arifa ficou de pé e viu que o cavalo finalmente tombou de lado emitindo um chiado e fumaça enquanto o fogo foi subitamente apagado pela lama que envolveu seu flanco.

Um homem saiu pela porta dos fundos da construção e caminhou resoluto na direção de Zane. Apesar da quase escuridão, Zane pode logo ver que havia um brilho azulado escapando da boca do homem, mas nada de seus olhos.

Era o Ted, ou melhor, o corpo que pertencera a seu colega de classe, Ted Greenfield. Ele tinha os olhos costurados como antes e no meio da testa, brilhava uma gema que lhe dava visão.

— Se juntará a nós, Zane — ele disse com uma voz horripilante que lembrava de longe a voz forte e vigorosa que Ted um dia possuíra.

Zane havia colocado muito de sua energia naquela bola de fogo, mas puxou força, do fundo de suas reservas de energia, para produzir uma nova chama na ponta do cajado. O fogo logo iluminou o rosto de Ted. Estava horrendo e deformado, no fundo de sua garganta bruxuleava uma chama fantasmagórica azulada.

Antes que Zane atirasse em Ted, ele sacou um escudo preso às costas e usou-o para defender-se da língua de fogo que Zane lançou.

— Não vai me deter assim tão facilmente — ele sacou uma espada e avançou golpeando contra Zane com violência. O mago tentou defender-se com o cajado, mas a defesa apenas serviu para deixá-lo desarmado. Outro golpe e Zane escapou por um triz, dando um passo atrás.

Ted deu um salto para o lado de modo a desviar-se da carga feita por Arifa usando a montaria de Hendrish. Desviou-se com precisão, como se pudesse enxergar um ataque que vinha pela retaguarda. O morto-vivo rolou no chão e parou de joelhos. Movia-se com uma agilidade quase igual à que possuía quando vivo. Arifa deu a volta com o cavalo e sacou a silfina. A espada imediatamente tremeu em sua mão, um brilho azulado a envolveu, destacando-a na penumbra noturna.

Zane tentava localizar seu cajado no meio da lama.

— Meu cajado! Que droga!

Arifa avançou em carga e Ted ficou como uma estátua, esperando o momento certo de agir. O golpe do espadim de Arifa faiscou contra o escudo de Ted. O cavaleiro da morte, a forma que Arze Termatus havia usado para denominá-lo para Zane, golpeou com sua espada contra a barriga do cavalo. O cavalo tropeçou e Arifa teve sorte de não ser esmagada sobre ele. Ela foi projetada e rolou e depois deslizou na lama. Ted não perdeu tempo e caminhou na direção da garota erguendo a espada acima da cabeça para abatê-la.

Arifa estava zonza e semi consciente de que alguém aproximava-se com uma espada, pronto para matá-la. A silfina havia escapado de sua mão. Mas ela sentiu algo esquentar em seu estômago e olhou para o outro lado. Viu então, a ponta da lâmina ainda com um brilho residual, afundando na lama. O corpo doía, mas Arifa deu um jeito de engatinhar e arrastar-se na lama na direção do espadim.

Vamos! Vamos!

Ted desceu a lâmina sobre Arifa e ela defendeu, ainda deitada, com a silfina a tempo de evitar a morte. Ted seguiu com os ataques tendo o subsequente defendido. Pisou forte na perna de Arifa fazendo-a contorcer-se de dor, abrindo sua frágil guarda.

Ted parou por um instante para avaliar o avanço de Zane em sua direção, vindo pelas costas. Ele não havia achado o cajado e estava desarmado. Ainda assim, sendo um feiticeiro poderia oferecer perigo de outras maneiras. Deixou Arifa de lado e avançou com rapidez contra Zane.

O feiticeiro, então, desenrolou uma pequena corrente que trazia enrolada no punho. Usando-a como um chicote a lançou na direção de Ted. Como esperado, Ted usou o escudo para tentar desviá-la, mas a corrente acabou ficando enganchada. Era tudo que Zane precisava: de uma ponte física entre ele e seu oponente. Exalou liberando o feitiço de sifão que tinha preparado. Ted então sentiu suas forças o abandonando e agiu rapidamente. Ergueu a espada de desceu-a contra Zane.

Por outro lado, Zane estava recebendo dentro de si a energia que sugava de Ted e com ela, suas pernas conseguiram impulso suficiente para uma esquiva.

Ted voltou a erguer a espada, mas tremia um pouco. O sifão de Zane puxava a energia mágica que animava o corpo do morto-vivo.

Antes que pudesse baixar o novo golpe Ted encolheu-se. Viu com o Olho de Trivorak o golpe inevitável da silfina que veio pelas costas. A lâmina entrou pela lombar e saiu na parte esquerda do abdome.

— Se não for hoje, Zane, o dia em que sucumbirão, não vai demorar — Ted caiu de joelhos. A energia que o animava agora estava quase extinta.

— O mestre não quer o mal para Lacoresh... — Ainda conseguiu dizer — Está apenas... apenas tentando... — e por fim, Ted morreu, mais uma vez.

Arifa e Zane estavam agora na parte de trás da construção e dali não podiam ver o que ocorria do outro lado, mas Josselyn e os demais estavam numa situação bem ruim.

Kerdon avançou abrindo espaço no meio da turba de zumbis. Estava com sua espada na bainha e derrubava os mortos-vivos com forte golpes manuais nos quais empregava o jii de modo concentrado. Ser um professor daquela disciplina, na academia havia o forçado a aprimorar sua técnica. O ponto em que havia se tornado particularmente bom era em acumular e usar o jii de modo preciso e sem desperdício. 

Bastava um golpe expelindo uma quantidade de jii concentrada para expelir do corpo do zumbi a força que anima seus corpos. Quando chegou ao local onde estava Josselyn a encontrou ainda se defendendo na companhia de Pelo-curto. Os outros dois bestiais já tinham sido derrotados. Kerdon derrubou, pelas costas, um zumbi que avançava contra eles.

— Merda, Kerdon! O que você veio fazer aqui? Se matar? — Josselyn estava exausta. A cada novo golpe para derrotar um zumbi urrava e sentia uma dor tremenda rasgando seus braços.

— Não reclame, porra, lute! — e puxou um zumbi pelo braço para socar sua face com o punho envolto em jii que faiscava na escuridão.

Pelo-curto é o que tinha mais fôlego entre os três. Fora alguns arranhões, estava muito bem e urrava com prazer a cada oponente derrubado.

— Quantos ainda tem? — Josselyn indagou após decepar mais um zumbi.

— Sei lá! Cinquenta? Cem?

Havia uma pilha de corpos e lama ao redor da Josselyn e ela subira num toco largo de árvore que lhe permitia uma elevação em relação aos inimigos. Lutava de costas para Pelo-curto que protegia a retaguarda.

Kerdon finalmente conseguiu subir no tronco cortado após derrubar mais um zumbi e passar por cima dele.

— Protege meu corpo que eu vou atrás do Hendrish!

— Quê? — Kerdon indagou e viu Josselyn cair sentada e mole.

Um zumbi agarrou a perna de Josselyn que estava mole como uma boneca de pano e a puxou. Kerdon deu um chute carregado de jii na cabeça dele fazendo-o desmontar.

— Jô! Cadê você? Que merda! — ele gritou enquanto girava para o outro lado e derrubou mais um zumbi que subia ali.

Levou um segundo ou dois para Josselyn se situar no plano astral, fora de seu corpo. Ela viu a energia pulsante fluir através do corpo de Kerdon e uma energia que queimava no peito de Pelo-curto. O bando de zumbis, parecia apenas um mar de sombras que se movia lentamente ao redor dos dois. Adiante, ela viu uma energia escura que emanava do final do descampado. A construção, ainda recente, não havia criado uma contraparte visível no plano astral. No entanto, ela pode ver de forma distinta a figura de Hendrish envolto em energias escuras debruçado sobre algo, um objeto, talvez.

Ela atirou sua vontade na direção de Hendrish e deslizou veloz em sua direção. Num piscar de olhos, estava ali, ao seu lado. A máscara que ele usava, não tinha correspondente no plano astral, mas as centenas de espinhos e farpas que furavam sua pele, brilhavam, fazendo-o ter uma aparência sinistra. Seus olhos fixos numa poça, ou espelho, que brilhava. Ele estava observando, do interior da casa, a luta que se desenrolava lá fora. Não só isso, comandava o avanço da coletividade de zumbis. 

Ele não fazia ideia o corpo astral de Josselyn estava ali ao seu lado, porém, antes que ela pudesse atacá-lo, percebeu atrás dele, uma presença astral forte. Da barriga do ser, saía um feixe de éter sutil que se ligava à nuca de Hendrish.

A entidade atacou Josselyn. Como se houvesse se teleportado, surgiu atrás dela enforcando-a com ambas as mãos de dedos longos e fumacentos. Josseln sentiu um choque e o aperto forte em sua garganta. A entidade então abriu uma boca enorme cheia de dentes pontudos e mordeu a cabeça de Josselyn.

Ela emitiu um grito astral que atingiu em cheio os ouvidos de Arifa.

Naquele instante, ela e Zane estavam começando a discutir o que fariam em seguida. Zane viu os olhos de Arifa rolarem e ela desmaiou caindo de joelhos. Zane segurou o corpo dela evitando que seu rosto se afundasse na lama.

Arifa sentiu-se confusa, então escutou nitidamente a voz de Josselyn gritando.

— Socorro! Socorro! Socorro!

Ela viu o corpo de Josselyn flutuando e se debatendo, não muito longe dali. Sem compreender bem, avançou na direção dela. Havia um monstro horrível mordendo sua cabeça e sugando as forças de Josselyn.

Arifa olhou para sua mão direita e viu que nela, havia uma espada translúcida e brilhante. Mesmo sem compreender bem o que estava acontecendo, ela golpeou a entidade com sua espada. Algo como uma explosão, ou onda de choque, atravessou seu corpo, causando uma forte dor de cabeça. Ela teve uma sensação de queda drástica. Como se sua queda do elevador do paredão de Or estivesse se concretizando. Quando terminou de cair, estava de volta em seu corpo. Acordou gritando nos braços de Zane.

Enquanto isso, Josselyn se viu livre da entidade que estava liga a Hendrish. Mesmo sentindo dor e fadiga, atacou a mente de Hendrish com determinação. O necromante então sofreu espasmos e caiu de bruços sobre o caldeirão onde observava a batalha lá fora. Josselyn então retornou ao seu corpo e tomou um grande susto quando viu haver um zumbi em cima dela mordendo seus ombros sem conseguir atravessar a cota de malha.

Usando o machado como um gancho, Pelo-curto puxou o zumbi de cima de Josselyn pelo pescoço. Ela olhou ao redor e não viu Kerdon. A espada ainda estava firme em suas mãos e ela se levantou atacando um zumbi que subia.

Ela viu Kerdon ali embaixo de debatendo, com dois zumbis sobre ele. Atacou um, depois o outro e notou que muitos dos zumbis não convergiam mais sobre eles. Os mais distantes, pareciam confusos, olhando para o alto, ou com os olhos fixos na luz das quatro luas.

Ela deu a mão para Kerdon se levantar. Ele estava ferido, mas ainda conseguia andar.

— Pelo-curto, vem! Vamos dar o fora daqui.

Avançar por entre os zumbis confusos não foi muito difícil, vencer o cansaço era o maior desafio. Ela se viu, sem forças para erguer a espada. Kerdon, mancava e não conseguia lutar, no entanto, Pelo-curto seguiu abrindo caminho, ainda lutando com vigor incrível. Os três conseguiram sair do meio da turba de zumbis e seguiram na direção da casa.

Enquanto isso, Zane, ajudando Arifa a se deslocar, chegou à porta dos fundos que havia ficado aberta depois que Ted saiu. Eles entraram na construção que estava mal iluminada. Havia uma espécie de cozinha misturada com um laboratório. Alguns corpos em decomposição, sem vida, estavam deitados em mesas toscas de madeira.

— Que cheiro horrível!

Arifa chegou a ter ânsia de vômito e cobriu a boca e nariz com as mãos. Passaram por aquele lugar até o próximo cômodo. Era uma sala grande com lareira grande queimando. Em frente a ela, havia um caldeirão enorme de ferro e debruçado dentro dele, um homem.

Arifa se sentou perto do fogo para se esquentar. Sentia muito frio e estava coberta por lama gélida. Zane teve dificuldade para puxar a cabeça e os ombros de Hendrish para fora da água e quando o fez, ele caiu de lado. Algo havia feito com que ele caísse no caldeirão e se afogado.

Zane ficou alerta, mas depois relaxou ao ver que quem chegava, pelo outro lado do cômodo eram Kerdon, Josselyn e o bestial de pelo curto.

— Pelos Deuses — ele disse — vocês estão péssimos.

Kerdon se jogou no chão e virou de costas. Estava cheio de arranhões e algumas mordidas tinham tirado nacos de sua carne. Estava todo ardido e dolorido.

Josselyn cambaleou e sentou-se ao lado de Arifa. As duas se abraçaram e começaram a chorar. Enquanto isso, Pelo-Curto simplesmente foi até o meio da sala e enfiou a cabeça no caldeirão. Ele bebeu um tanto daquela água, resmungou muito coisas que ninguém entendeu e começou a lavar a lama que estava cobrindo boa parte de seu corpo.

— Porra! — disse Zane — Não acredito que sobrevivemos!

— Ou quase — gemeu Kerdon deitado no chão e depois apagou.

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