1 - Lady Desbrin

Arifa saltou para trás evitando um golpe violento de sua oponente. Era um verão muito quente e Arifa estava toda suada. Seu uniforme colado em sua pele causava uma sensação desagradável, sem falar nos seios apertados e enfaixados sob toda aquela roupa.

Mestra Ailynn a atacava de modo implacável. Arifa era, sem dúvida, a melhor aluna da academia. Poderia derrotar qualquer um, mas ainda não conseguia vencer a ex-Capitã da Guarda de Kamanesh. O Jii projetado pelas duas provocava fortes estampidos no ar, na medida em que se chocavam. Os alunos da turma torciam e incentivavam. Em especial, seu amigo, Tighas.

— Vai Arifa! Ataca! Cê consegue!

Todos ali tinham o desejo infantil de ver a mestra apanhando ao menos uma vez.

Mas a torcida não perturbava a concentração delas. Arifa deu duas cambalhotas para escapar das investidas de Ailynn e tentou um chute direto no abdome. Ailynn deixou o golpe passar e avançou com o cotovelo contra o rosto da aluna. Arifa girou para esquivar-se, mas sentiu o couro da cotoveleira raspando em seu rosto e orelha. Os olhos das duas se cruzaram por um instante, ambas sem acreditar. Era para ser um contragolpe indefensável, mas Arifa havia escapado. Ailynn deu um passo para trás e com uma vênia, indicou que o exercício havia chegado ao fim. Aquilo não era do feitio da mestra.

Os cabelos de Arifa, presos num coque apertado, brilhavam na luz do sol ficando quase louros e seus olhos, sob a luz intensa, brilhavam na mesma tonalidade. As duas se encaravam com a respiração espessa. Os olhos de Ailynn, dois poços sombrios, ainda causavam medo em muitos moradores, mas não em Arifa.

A intensidade do treino fez aflorar em ambas as energias do Jii, e por um instante, Arifa captou na mente de Ailynn a imagem de seu filho infante. Então pensou, "O filho é uma fraqueza para ela. Isso a fez ficar mole, eu nunca, nunca terei filhos".

Ailynn fechou a expressão e disse — Classe dispensada.

Só então Arifa imaginou que a mestra devia ter captado seus pensamentos. Ela corou e baixou o olhar.

"Não precisa se envergonhar, Arifa. É verdade, meu filho é uma fraqueza para mim."

Arifa olhou de volta, "Me desculpe, não quis ofender pensando que você ficou mole..."

"Pode pensar o que quiser sobre mim... Eu não ligo. Eu me vejo muito em você, enquanto mais jovem. Apenas cuide-se para que suas próprias ambições não se tornem a fonte de sua ruína."

"Obrigada, mestra. Vou me esforçar."

"Isso, você já faz até demais."

Aquele diálogo mental entre as duas foi interrompido por um tapa amigável nos ombros.

— Cê lutou muito bem, Arifa! — veio Tighas, sorridente.

— Valeu...

— Terminamos mais cedo, que tal um joguinho?

— Eu vou aproveitar para estudar.

— Cê devia relaxar de vez em quando, Lady Desbrin.

Arifa virou-se para encará-lo.

— Já te falei para não me chamar disso!

— Já te falei que tô cagando pra suas ordens.

— Me deixe em paz, Tighas!

O rapaz dobrou-se de rir. — Se você quiser um pouco de paz eu tenho uma dica.

Ela saiu pisando forte e ligeiro, não queria ouvir mais nenhuma palavra.

— Vai logo pros braços do Ed... Vire nossa rainha!

As provocações de Tighas, normalmente não causavam nada além de leve irritação, mas não naquele dia.

Ela virou-se para ele e fez o movimento com a mão direita, como se estivesse esmagando um par de nozes. O ataque telecinético o atingiu as partes íntimas fazendo-o soltar um gritinho e cair no chão.

— Da próxima vez, vou esmagá-las pra valer! — ela rugiu.

A dor nas bolas era alucinante, mas Tighas não sentiu raiva dela. Com a voz trêmula conseguiu dizer — Agora 'cê tá fú comigo, Lady Desbrin. Todo munu na academia vai ficar sabendo que 'cê acariciô as minhas bolas.

— Tighas! — ela queria esganá-lo, acabar com a raça dele, mas então, sua consciência a aconselhou a parar por ali, antes que aquilo gerasse alguma consequência grave.

— Cê tem uma pegada forte, robusta...

Arifa seguiu para longe do pátio, correndo. Tighas seguiu com as zombarias, os alunos, ao redor, naturalmente, morriam de rir.

Arifa subiu as escadarias envergonhada consigo mesma por ter caído nas provocações pueris de Tighas. "O que há comigo! Como pude ser tão estúpida?" O motivo daquilo tudo era bem óbvio, mas lhe escapava totalmente a percepção.

Seguiu até uma das salas de estudos. Havia uns poucos alunos do primeiro e segundo ciclo por ali estudando. "Como são magricelas" ela os avaliou. Ela já fora assim, mas três anos de treinamento duro a deixaram com um corpo definido e forte. 

Abriu um dos grimórios de magia avançada com feitiços do sétimo círculo. Esforçou-se para ler as instruções e decifrar as mentalizações necessárias para produzir o efeito, mas a irritação e cansaço a impediam de fazer qualquer sentido. "Droga! Droga! Droga! Maldito Tighas! Tinha que estragar meu dia!"

Um dos meninos a encarava e ela captou seus pensamentos. "Ela é linda. A mais linda de todas. Se eu pudesse..."

— É melhor parar por aí, moleque — ela o ameaçou com o dedo em riste.

— Parar? O que...

Ela fechou o livro e socou-o na estante. "Maldita percepção de pensamentos! Tudo que esses babacas veem em mim é a porcaria da gostosona. Por que diabos eu não nasci um homem! Droga! Droga!"

Saiu batendo os pés, já fora da sala de estudos. Então, tomou impulso, pisando sobre a estreita sacada. A mureta não tinha mais que um palmo de largura e dali podia observar um dos pátios internos. Uma turma do primeiro ciclo, todos com espadas de madeira nas mãos, tomava lições de esgrima com o Mestre Farkas. Ele berrava com seu estranho sotaque axiano, mas Arifa ignorou tudo aquilo.

Ouviu então, a voz de seu pai em sua cabeça. — Quando perdemos o equilíbrio, nada melhor do que um exercício difícil de equilíbrio para recobrá-lo.

Com isso em mente, ela seguiu caminhando pela mureta, primeiro devagar, depois mais depressa. Foi então que viu, virando o corredor, o Mestre Tassip acompanhado da Cavaleiro WaterBridge. Seu coração saltou ao vê-la e em seguida tropeçou com um dos pés se afundando no ar. Caiu sobre a mureta e quicou, já girando para cair lá embaixo. Se não morresse com a queda, poderia ganhar facilmente um aleijão. Tassip saltou para frente por puro reflexo e conseguiu segurar uma de suas botas. Arifa bateu-se com força contra a parede. Josselyn de WaterBridge veio ao auxílio do amigo e juntos conseguiram puxar Arifa de volta para o corredor.

Tassip estourou — Mas que merda, garota! Com tantos demônios, mortos-vivos e bestiais querendo nos matar você ainda me arranja um jeito estúpido de fazer o serviço para eles?

— Ah, desculpe, quero dizer, obrigada... — Arifa levou a mão na maça do rosto. Estava esfolada e inchada.

— Você está bem, Arifa? — indagou Josselyn.

"Com mil demônios! Ela sabe o meu nome?" Arifa ficou encarando-a boquiaberta.

— Acho melhor levarmos ela para a enfermaria.

— Não precisa, estou bem... Foi só um...

Josselyn tirou um lenço vermelho do bolso da jaqueta negra e ofereceu para limpar o sangue que escorria. Vestir-se como ela, fazer parte dos Blackwings, era o grande sonho de Arifa.

Josselyn era meio palmo mais alta que Arifa. Tinha um rosto largo, cabelos curtos, sobrancelhas grossas, lábios descoloridos, ombros largos e fortes. Não era nenhum um pouco feminina em sua aparência.

— Obrigada! — Arifa ficou encarando Josselyn por uns instantes. Era legal receber uma gentileza de alguém que não estivesse tentando levá-la para a cama, para variar.

— Que diabos você estava fazendo, garota?

Arifa olhou para o Mestre Tassip. O homenaseano era seu instrutor de tática e espionagem. Era um sujeito muito risonho e simpático, coisa bem rara naquela academia.

— Estava treinando, mestre.

— Precisa treinar mais. Recomendo fazer isso lá embaixo...

"Se fosse algum outro professor, era detenção na certa." ela pensou consigo mesma.

— Desculpa, Mestre Tas.

— Chega, chega de desculpas, garota. Agora some daqui, vai, xô!

Arifa levantou-se e seguiu no caminho oposto da dupla. Ainda ouviu Tassip brincando com Josselyn — Seu reino tá muito ferrado, Jô. Um zé goiaba como eu sendo chamado de mestre... É tudo culpa da...

Arifa desceu a escadaria pensando que se a situação de Lacoresh era ruim, muito pior era a situação dos reinos vizinhos. Muitos deles haviam sido devastados pelo avanço das hordas demoníacas. Ela não conseguia parar de pensar que o mesmo destino esperava por todos eles. Seguiu direto para a classe do Mestre Nermick.

— Senhorita Arifa, está atrasada e sangrando.

— Mestre eu...

Assim como Tassip e Ailynn, Nermick era bastante jovem. Foi um mago treinado na Escola de Alta Magia de Lacoresh, muito habilidoso e que havia se formado ainda com quinze anos. Ele almejava o título de Grão Mestre da ordem dos magos, mas seus planos evaporaram com o decreto do Rei Edwain que dissolveu a Escola de Alta Magia para fundar na capital uma nova escola nos moldes da Academia de Kamanesh.

Nermick era filho de estrangeiros. Sua pele muito morena e traços faciais eram bastantes distintos do povo Lacorês. O corte de cabelo era militar e tinha ombros largos bastante incomuns para alguém cuja profissão era ser professor de magia. Ele deu um sorrisinho malicioso e antes que Arifa desse alguma explicação a chamou.

— Isto é ótimo, venha até aqui!

Arifa obedeceu desconfiada. A turma ficou observando, tensa. Não era grande, havia apenas cinco alunos além de Arifa. Tíghas não estava entre eles, pois não possuía o mínimo dom para aprender magia. A sala tinha lugar para quinze assentados, mas estava praticamente vazia. Eram poucos entre os alunos da Academia que conseguiam avançar de modo significativo nos ciclos de magia.

— Observem classe, um ferimento simples. Estou certo de que todos vocês já aprenderam como remendar isto. Sabem que curar ferimento pequeno pode ser bem cansativo.

Os alunos sabiam. Construir e consertar coisas era mais difícil que destruir.

— Vou demonstrar uma outra técnica curativa que esteve em desuso, pois causa bastante desconforto ao objetivo. Mas como os tempos são difíceis, creio que aprender essa técnica será de grande valia a magos combatentes como a maior parte de vocês pretendem ser. Economizar um pouco da própria energia, ou de seus amuletos, pode fazer grande diferença numa batalha. Vou demonstrar e em seguida estudaremos o processo todo, de forma pormenorizada.

Nermick concentrou-se, as narinas largas pulsando conforme alterava o seu padrão respiratório. Os alunos já haviam aprendido a ler as auras de energia mágica e através de sua análise, terem chances de prever o tipo de feitiço a ser realizado. O mestre não a ocultou, por fins didáticos e quando convocou a magia, Arifa imediatamente levou a mão ao corte gritando de dor. Aquilo havia doido cinco vezes mais que o próprio ferimento em si. Ela empalideceu e perdeu as forças das pernas, tombando sob um dos joelhos e apoiando as mãos no chão.

— Pronto, como podem ver. — ele virou o rosto de Arifa com um estalar de dedos, sem tocá-la — Está perfeitamente cicatrizado e limpo.

Arifa não conteve as lágrimas, o local do ferimento ainda latejava de dor.

Francel indagou — Isso foi necromancia, Mestre?

— Não, rapaz. Mas assim como em muitas magias nigromânticas, fiz uso da própria energia do objetivo para sua realização.

— E qual a diferença? — um outro perguntou.

— A diferença está na abertura para colaboração. As magias nigromânticas, em geral, são invasivas e se concretizam através de uma troca de energias entrando ou saindo do objetivo. Entretanto, como havia receptividade por parte dela para o procedimento, foi possível operá-lo apenas realizando um troca de energias dentro da sua própria fronteira.

Arifa conseguiu levantar-se e olhou para o mestre querendo queimá-lo com os olhos. De fato, teve que se conter para que uma magia assim não se manifestasse.

Ele sorriu para ela, mostrando os dentes muito brancos e espaçados — Agora sente-se, por favor.

— E por falar em necromantes, acho bom deixá-los avisados. Eu não recomendo que se enveredem por esse campo de estudos, exceto para aprender como se defender de tais magos. Eu mesmo escolhi não lidar com a necromancia, e há vantagens para o fortalecimento do campo energético daqueles que se mantiverem limpos quanto a tais práticas. Ainda assim, para aqueles que desejarem, sei que a Mestra Termatus é capacitada para ensinar algumas de suas práticas menos controversas.

Arifa olhava-o falando, detestando cada um de seus trejeitos. Sua arrogância. Não era a primeira vez que humilhava ou feria um aluno dentro de classe. E quando tais ocorrências eram levadas ao conselho de mestres, Nermick era bastante eloquente e capaz de defender tais práticas em nome da dureza de espírito implícita na formação dos alunos da Academia. Ele era um desgraçado, mas um desgraçado habilidoso e cheio de conhecimentos. Arifa buscava absorver tais conhecimentos com todas as suas forças.

Com o fim daquela aula, era hora de seguir para casa. Arifa seguiu apressada, deixando a cidadela de Clyderesh para cruzar a ponte e seguir para o palácio. As pessoas da cidade e soldados a saudavam com reverências, afinal, era filha do Duque Desbrin, o governante máximo da província.

Ela observava certos detalhes da cidade, torres arruinadas, casas queimadas que nunca foram reconstruídas. Kamanesh era uma cidade que vinha sofrendo muito ao longo de anos e seus recursos já não eram suficientes para uma total recuperação. Todo trabalho de reconstrução era direcionado às muralhas, portões e outras construções bélicas.

Aos poucos, a velha Kamanesh que conheceu enquanto criança, ia dando lugar a uma versão lúgubre e suja. Na área externa da muralha viu crescer aglomerados de pessoas de outros reinos que vinham se refugiar ali. Do outro lado da ponte, encontrou homens idosos mutilados, velhas magras e crianças esfarrapadas mendigando.

— Uma moeda, Miladi! Pelos Deuses, miladi.

Ela detestava ver o sofrimento de seu povo. Já trazia algumas moedas nas mãos e, quase sempre, as entregava aos pedintes. Eles se enxameavam ao seu redor, como se suas mãos fossem flores das quais precisavam extrair o néctar. Muitos se reuniram ameaçando sufocá-la. Ela concentrou-se, convocando o Jii e em seguida repelindo-os, forçando-os a se curvar e dar passagem.

Procurava fazer isso da forma mais gentil possível, mas ainda assim, pressionar a mente de outra pessoa através do Jii, não era algo agradável. Muitos já haviam sido repelidos em outras ocasiões, mas ainda assim, retornavam na esperança de conseguirem uma moeda. Era a diferença entre comer algo naquele dia e passar fome.

Já no palácio, desviou-se de todos, como de costume, e foi direto para a ala real, antigamente ocupada pelo Rei Dwain e sua família. Tinha o hábito de fazer uma refeição simples antes de se recolher para estudar e praticar. Só dormia bem tarde. Mas ela nem sempre conseguia fazer o que desejava.

Na sala íntima de jantar, encontrou seu pai e suas duas tias.

— Junte-se a nós, filha. — Galdrik já estava usando roupas de dormir, assim como suas tias. Sua barba bem aparada exibia alguns fios brancos em torno do queixo, assim como as têmporas. Salvo um cansaço sempre visível em seu olhar, tinha ainda uma aparência jovial a despeito de sua idade.

Arifa estranhou o fato de estarem ali, tão cedo e já prontos para se recolherem. Ela se sentou e foi logo se servindo e enchendo a boca de comida. Os três ficaram olhando para ela, as duas tias, em especial, com olhares horrorizados.

Ela deu com os ombros — É só fome. O que houve com vocês hoje?

As velhas Augustine e Hilde desaprovavam praticamente tudo em Arifa. Elas simplesmente não conseguiam aceitar que ela se portasse como um guerreiro, que não estivesse se preparando para arranjar um marido e constituir família.

— Está esquecida querida? Amanhã cedo partimos para Lacoresh. — seu pai a lembrou.

— Droga! — ela bateu com o talher sobre o prato.

— Modos, minha filha. Ao menos modos!

— Desculpe, papai. É que... Eu... não posso ir.

— Verdade? Pode me contar a razão?

Ela simplesmente não queria ir. Viajar para Lacoresh para um compromisso social era pura perda de tempo. Ela queria mesmo era seguir com seu treinamento na academia.

— Estou muito apertada com meus estudos... Há o teste...

— Por favor, Arifa! — Augustine se intrometeu. Ela era uma senhora com longos cabelos loiros, muito magra e esbelta. — Sabemos bem que você não tem nenhum problema com testes. Você é uma das melhores alunas e...

— Sua tia tem razão. Você está se dedicando demais a seus estudos. Uma pausa...

— E o senhor, pai? Penso que deveria se dedicar à nossa cidade! Hoje de novo, fui cercada por uma turba de mendigos. Os números só crescem. Esse baile em Lacoresh vai resolver esse e outros problemas de nossa cidade?

Os ataques da filha nunca tiravam a paz do Duque Desbrin. Ela achava especialmente irritante o fato dele nunca se irritar com nada, ao menos nada que tivesse relação com ela.

— Você sabe bem que o baile e outros encontros sociais, são apenas um pretexto. E também, o reino precisa disso. Se não pararmos um pouco, vamos acabar voltando a ter conflitos internos, vamos afundar nas trevas...

— E a porcaria dos mendigos, pai? Acha certo que nós fiquemos aqui de pratos cheios enquanto aquela gente lá embaixo está passando fome?

— Você está livre para jejuar, se quiser. Por que não leva seu prato de comida e dá a eles?

Ela olhou para o prato, com raiva. O dia na escola foi exaustivo, estava faminta.

— Eu já dei moedas.

Sua outra tia falou melosa. — Que ótimo, um coração generoso já é...

— Não me venha com essa conversa de dama, tia Hilde! — Arifa rosnou de volta e comeu mais duas garfadas de comida. Hilde torceu os lábios. Era muito parecida com a irmã, exceto pelo fato de ser um pouco rechonchuda.

— Você sabe que estamos trabalhando na distribuição de recursos, da melhor forma possível. Sabe também que os Naomir oferecem a sopa, diariamente para todos que não conseguem obter seu sustento. Estamos longe de ver pessoas morrendo de fome, mesmo as de fora da muralha.

— Para quem come três ou quatro refeições é cômodo dizer que as pessoas estão passando bem com apenas uma. — Arifa retrucou.

— Já discutimos isso quantas vezes, filha? Acha que não sei o que se passa? Você quer dar um jeito de escapar do compromisso, mas não vai.

— Mas pai.

— E se não estiver pronta para ir, bem cedinho, mando uma carta ao diretor dizendo para expeli-la da academia.

— Grande merda!

— Pode reclamar o quanto quiser. Eu sou seu pai e Duque. Então, você vai me obedecer.

— Sim senhor...

— E fique feliz por eu concordar com sua formação. Se eu fosse dar ouvidos às suas tias, você já estaria casada a uma hora destas.

Arifa engoliu a comida contrariada, mas sabia que tinha sorte de ter o pai que tinha. Tudo podia ser bem pior.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top