Dália

O teu corpo é luz, sedução!
Poema divino cheio de esplendor!
Teu sorriso prende, inebria, entontece!
És fascinação, amor!

Após sair da Têxtil Monserat,

Victoriano dirigia seu carro pelas ruas de paralelepípedos da pequena cidade. Os pneus do veículo ecoavam um som característico ao passarem pelas pedras irregulares, criando um ritmo suave e constante que contrastava com o silêncio da noite.

A iluminação era provida pelos antigos lampiões de gás, cuja luz âmbar lançava sombras dançantes sobre as fachadas das casas e lojas ao longo da rua estreita.

Victoriano observava as pessoas nas calçadas. Grupos conversavam animadamente, enquanto outras caminhavam tranquilamente sob a luz difusa dos lampiões. O frescor da noite era reconfortante, trazendo consigo o aroma suave das flores que se misturava com o leve perfume de fumaça das chaminés das casas próximas.

Ao dobrar a esquina, avistou à distância um salão de festas modesto, cujas janelas brilhavam com luzes cintilantes.

À medida que ele se aproximava de uma esquina, avistou um modesto salão de festas iluminado por luzes cintilantes. As duas janelas de madeira revelavam algumas silhuetas movendo-se suavemente no interior. Victoriano reduziu a velocidade do carro ao ver Dália do lado de fora, acompanhada por outros casais.

Ela parecia radiante em seu vestido florido de rosas, destacando-se na penumbra da noite.Ele observou por um momento enquanto Dália e os outros convidados entravam no salão. A cena intrigou Victoriano, despertando uma mistura de curiosidade e desejo, levando-o a considerar seguir adiante e explorar mais de perto o que estava acontecendo dentro do salão singelo.

Do lado de dentro, Dália cumprimentava calorosamente os convidados, seu sorriso iluminando o ambiente simples do salão de festas.

As paredes de madeira rústica estavam decoradas com guirlandas feitas à mão e lanternas de papel colorido penduradas no teto baixo. Mesas cobertas com toalhas xadrezes e arranjos simples de flores silvestres pontuavam o espaço acolhedor.

À medida que Dália se movia graciosamente entre os amigos e conhecidos, o murmúrio das conversas se misturava ao som suave de uma música de violão e violino que preenchia o ambiente. Ela explicava com gentileza a ausência de Tomás, mencionando que ele estava trabalhando como substituto de um médico naquela noite, impossibilitado de comparecer à festa.

À medida que as pessoas chegavam, o clima se tornava amistoso. Bodas de ouro eram comemoradas pelos idosos Darci e Elisabete, celebrando cinquenta anos de amor.

Uma música suave e contagiante começou a ecoar, envolvendo o salão. Dália se juntou às demais pessoas que dançavam, deixando-se levar pelo ritmo animado da celebração.

Alguns convidados entravam no salão enquanto Victoriano se misturava discretamente entre eles. Ele encontrou um lugar estratégico onde podia observar Dália sem ser notado, mantendo seus olhos fixos nela. Seu sorriso contagiante era evidência de sua felicidade genuína naquele momento, enquanto seus movimentos graciosos enchiam a pista de dança improvisada.

O vestido de Dália contornava sua cintura de maneira delicada, capturando a luz suave e refletindo as cores vibrantes das flores estampadas. Cada gesto dela parecia fluir em harmonia com a música, seus olhos brilhando com a alegria de estar entre amigos e celebrar a ocasião especial.

Victoriano, imerso na contemplação silenciosa de Dália, sentia-se atraído não apenas pela beleza física dela, mas pela energia radiante que ela irradiava. Era como se o simples ato de observá-la dançar trouxesse uma sensação de encantamento e fascínio que ele não conseguia ignorar.

Assim, ele permaneceu ali, envolto na atmosfera calorosa da festa, observando Dália com admiração enquanto o tempo parecia desacelerar ao seu redor.

Victoriano estava fascinado pela dança de Dália, observando-a com um olhar que revelava uma mistura de admiração e curiosidade. Seus olhos seguiam os movimentos graciosos dela pelo salão, desde os delicados pés que deslizavam suavemente no chão até os cachos ondulados de seus cabelos castanhos claros, que dançavam em harmonia com cada passo.

A beleza simples e natural de Dália contrastava vividamente com a elegância austera de Victoriano, criando uma cena onde o fascínio aristocrático encontrava a beleza camponesa em um momento de encanto e fascínio.

Quando a música parou, um eco de aplausos ecoou, sinalizando a saída de Victoriano do salão de festas. Ele entrou em seu carro e fechou a porta, ligando o motor.

"Estou a perder-me o juízo por causa de uma camponesa..." - ele balançou a cabeça.

Saiu apressadamente dali, dirigindo pelas ruas de paralelepípedo, com o som da música ainda ecoando em sua mente.Lutando contra seus instintos primitivos, ele seguiu em frente.

Victoriano guiou seu carro pelo caminho sinuoso até os imponentes portões do Casarão dos Monserat. Eles se abriram lentamente, revelando a majestosa casa de dois andares à sua frente. Construída no estilo neoclássico característico do início do século XX, a mansão ostentava uma fachada imponente, com colunas dóricas que sustentavam a varanda no andar superior. As janelas altas e elegantes estavam adornadas com cortinas pesadas de veludo vermelho, deixando escapar uma suave luz amarelada que iluminava a entrada.

Ao entrar, Victoriano foi recebido por um hall de entrada espaçoso, com um lustre de cristal pendente do teto alto. O piso de mármore brilhava sob os seus passos, e nas paredes havia tapeçarias antigas que contavam histórias de tempos passados. Uma escadaria majestosa se erguia à sua frente, levando ao segundo andar onde se encontravam os quartos e salas íntimas da família.

A decoração interior refletia a opulência da época, com móveis de madeira escura ricamente entalhados, tapetes persas espalhados pelo chão e obras de arte que adornavam cada canto. Na sala principal, um piano de cauda ocupava um espaço central, pronto para ser tocado em qualquer ocasião social.

Ele se dirigiu à estante de mogno polido, onde repousava uma coleção de garrafas de bebidas finas. Com gestos precisos, ele selecionou uma garrafa de conhaque, retirou a rolha com um leve estalo e despejou uma generosa porção no copo de cristal que havia ali.

O aroma amadeirado do conhaque se espalhou no ar, misturando-se com o perfume dos móveis de época e o leve aroma de cera de abelha que polia o chão. Victoriano segurou o copo com firmeza, observando a tonalidade âmbar da bebida sob a luz suave que vinha dos candelabros.

Com um único gole, ele sentiu o calor suave do líquido descer pela garganta, aquecendo-o por dentro.

Caminhando pela sala, perdido em seus pensamentos, obsessivamente revivendo a imagem de Dália: o sorriso cativante que iluminava seu rosto, a elegância de sua silhueta enquanto dançava, o tom suave de sua pele clara e os cabelos castanhos claros que caíam graciosamente sobre seus ombros.

Ela era uma camponesa, mas sua beleza transcendia qualquer distinção social, despertando desejos há muito adormecidos em um homem como Victoriano.

Cada movimento de Dália ecoava em sua mente, evocando uma mistura intensa de admiração e desejo.
A lembrança do perfume sutil que ela deixara no ar e a graça natural com que ela se movia pareciam perpetuar-se na atmosfera daquela sala grandiosa.

Victoriano fechou os olhos por um momento, buscando reprimir as emoções tumultuadas que a presença de Dália provocava nele. Ela representava um desafio para suas convicções e um chamado irresistível para explorar territórios desconhecidos de seu próprio ser.

Victoriano deixou o copo sobre a mesinha rústica no centro da sala quando Manuela entrou. Seus olhares se encontraram e ela sorriu, trajando um vestido de senhora da casa que emulava elegância, embora sua verdadeira aura fosse perceptível além das aparências.

— Já bebendo? É triste a vida de um homem solitário. - provocou ela.

— Antes só do que mal casado. - retrucou Victoriano, respondendo à provocação com um leve sorriso irônico.

— Seu pai o aguarda para o jantar, junte-se a nós. - continuou Manuela, mudando de tom e oferecendo um convite para a refeição em família.

Os dias se passaram lentamente,

Cada um mais angustiante que o anterior para Victoriano. A imagem de Dália invadia seus pensamentos e sonhos mais íntimos, impossibilitando qualquer tentativa de esquecê-la. Ele recordava vividamente o momento em que a ajudou durante um mal-estar na rua, quando ela contou a história de amor por trás da macieira. O brilho nos olhos dela enquanto falava ainda o assombrava.

"Raios! O que tem essa camponesa? Por que não a tiro de minha cabeça?", pensava Victoriano, atormentado.

Tentou apagar a imagem de Dália dos seus pensamentos nos braços de Eulália, um antigo caso à disposição. No entanto, nada parecia funcionar; ele estava ficando louco e confuso. Andando pelas ruas da cidade, um mendigo tocou sua calça, pedindo esmola. Victoriano o fitou com desprezo.

—  Não me toque, animal! - reclamou, sentindo-se ultrajado, enquanto chutava o pequeno pote de moedas do mendigo.

Saiu praguejando, passando pelas pessoas menos favorecidas como se fossem invisíveis. De repente, avistou uma fila com oito pessoas, onde o primeiro estava pegando uma fatia de torta de maçã. Um senhor ao lado servia suco ou café.

Eram Dália e seu pai, Lisandro. Victoriano observou a cena, sentindo uma mistura de indignação e fascínio. A visão de Dália, tão próxima e ao mesmo tempo tão distante, o fez sorrir de maneira amarga, como se o destino estivesse brincando cruelmente com seus sentimentos.

De repente, dois guardas civis se aproximaram, com expressões severas, e começaram a interrogar Dália e Lisandro sobre a venda ali. A tensão aumentou, e Victoriano sentiu um impulso inesperado de intervir, mas ficou parado, observando a situação se desenrolar.

—  Não podem vender aqui sem autorização - disse um dos guardas, com voz firme.

Dália, com o brilho nos olhos ofuscado pela preocupação, tentou explicar, mas os guardas não pareciam dispostos a ouvir.

As pessoas se afastaram, enquanto os guardas tentavam retirar as coisas de Dália e Lisandro. Dália se desesperou, tentando impedir a ação dos guardas. No meio do tumulto, Lisandro tentou proteger sua filha, mas acabou sendo empurrado e Dália caiu no chão empoeirado, sentindo-se humilhada.

De repente, ela sentiu dois braços firmes a levantarem do chão.

— Você está bem? - perguntou uma voz preocupada.

Dália olhou para o braço machucado, mas assentiu. Lisandro, mancando, foi até sua filha, preocupado.

Victoriano se aproximou dos guardas, o rosto severo.

— Nunca mais vocês vão fazer isso - disse, com autoridade. - Avise ao Pascoal que eu, Victoriano Monserat vou fazer uma reclamação pessoalmente na delegacia. Deixem esses camponeses em paz!

A voz firme de Victoriano atraiu a atenção dos transeuntes, que pararam para observar a cena. Os guardas, intimidados pela postura de Victoriano, recuaram, deixando os pertences de Dália e Lisandro no chão.

Dália, surpresa e grata, olhou para Victoriano com uma nova admiração. Sua atitude decidida e proteção inesperada despertaram nela um sentimento de respeito e reconhecimento.

Victoriano assentiu, e Dália começou a ajudar o pai a juntar as coisas. Ela pegava os copos caídos ao chão. Victoriano se agachou para ajudar e, em um momento, suas mãos se tocaram. Ele olhou para as mãos dela, fascinado pela delicadeza e suavidade. Seus olhares se encontraram, e Victoriano sentiu um calor inesperado, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido, deixando apenas eles dois naquele instante.

Dália tirou as mãos e levantaram-se

— Mais uma vez, obrigada Senhor Monserat.

— Não por isso. - Se limitou.

Dália parecia fugir da presença de Victoriano. O pai dela mancava, mas se esforçava para ajuda-la. Victoriano então, afastou-se, se retirando de cena.

— Não gosto desse sujeito. - Lisandro olhou sua filha - Agradeço pelo que ele fez, mas não confio nele. Ele nunca foi gentil. Pelo menos não com gente como nós.

Dalia olhou a direção onde Victoriano havia ido, um pouco intrigada.

Por Victoriano

"Dirigindo pelas ruas de paralelepípedos, com a noite se desenrolando em tons de âmbar sob os lampiões a gás, não conseguia tirar Dália da minha mente. O frescor da noite trazia uma calma aparente, mas dentro de mim, havia uma tempestade.

A primeira vez que a vi, seu olhar brilhava mais que qualquer outra coisa ao meu redor. Uma coragem afrontosas que raramente envontra-se.

Era impossível ignorar a doçura em sua voz, a forma como ela falava com todos com tanta gentileza. Eu a observei dançar na festa, movendo-se com uma graça que me deixou hipnotizado. O vestido florido que ela usava, simples mas encantador, contornava seu corpo de uma maneira que eu invejava cada centímetro de tecido que tocava sua pele.

Minha obsessão começou de forma sutil, quase imperceptível. Mas agora, cada gesto, cada palavra que ela dizia, parecia estar gravada em minha mente. Eu me peguei pensando nela em momentos inesperados, durante reuniões de negócios, jantares importantes. Sua imagem nunca me deixava.

Eu invejava a simplicidade da vida dela, a autenticidade com que ela se movia pelo mundo. Havia algo nela, algo que eu não conseguia definir, mas que me atraía como um ímã. Talvez fosse a maneira como seus olhos brilhavam quando ela sorria, ou a delicadeza de suas mãos enquanto trabalhava. Eu precisava descobrir o que tornava Dália tão diferente, tão especial.

Caminhando pelas ruas, comecei a frequentar os lugares que sabia que ela visitava. A cada encontro, mesmo que de longe, minha fascinação crescia. Queria protegê-la, entender cada detalhe de sua vida simples. A ideia de que alguém tão humilde pudesse mexer comigo dessa maneira era desconcertante, mas inegável.

Minha vida antes de conhecê-la parecia desprovida de cor. Agora, cada dia era uma busca para vê-la novamente, para ouvir sua voz doce, para capturar mais um momento de sua existência. Sabia que nossas vidas eram diferentes, que eu, um homem de posses, e ela, uma simples camponesa, não tínhamos nada em comum. Mas isso não importava.

Dália tinha algo que eu precisava. E estava determinado a descobrir o que era, custasse o que custasse.

Estava em uma reunião tediosa quando a ideia de vê-la novamente me invadiu. Assim que a reunião terminou, me encontrei dirigindo sem rumo, até que, de repente, lá estava ela, andando pelas ruas com uma certa leveza, segurando o que parecia ser um bolo ou uma torta. Talvez uma de suas famosas tortas, que pelo que eu me informei, são suas especialidades.

Então, uma cena pintou-se à minha frente e me deixou estranhamente retorcido, como se sentisse certo ciúmes de algo que nunca foi meu. Dália e um jovem rapaz, tão simples como ela, trocaram olhares cúmplices e meus olhos se estreitaram ao ver um beijo entre eles.

A imagem daquele beijo me queimou por dentro. Sentia-me ciumento, possessivo, por uma mulher que mal conhecia. Aquele rapaz, tão comum e despretensioso, tinha algo que eu desejava desesperadamente: Dália.

E isso me corroía. Estava obcecado, e minha determinação de descobrir mais sobre Dália apenas se intensificou."

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top