³⁸|ᶜᵃˢᵗᵃⁿʰᵒ
1.
“Do latim castaneus(la).
2.
A cor castanho está muitas vezes associado à segurança e prosperidade material, com a aquisição de bens. Na cultura ocidental representa a seriedade, maturidade, estabilidade e responsabilidade.”
FALLON
Atlas está secando meu cabelo. Eu nem sabia que ele sabia usar um secador, mas minutos atrás, quando ele me convenceu a não ir atrás da minha irmã por ela ter batido nele — ainda não estou conformada com isso —, ele me fez sentar na tampa da privada para poder secar meu cabelo.
Atlas não insistiu em saber o que aconteceu para desencadear a minha crise e eu não sei dizer em palavras o quanto eu o amo por isso.
— Prontinha — diz, desligando o secador e colocando no balcão da pia.
— Obrigada. — Passo a mão entre as mechas desembaraçadas, sorrindo. Apenas Atlas para me fazer sorrir depois de tudo o que aconteceu hoje.
— Quer que eu faça uma trança para não embaraçar de novo enquanto você dorme?
Viro-me para ele.
— Ou você pode ficar e desembaraçar de novo amanhã de manhã...? — Talvez eu esteja um pouco hesitante depois de tudo. Eu sei que ele ficará ao meu lado, mas mesmo com tudo o que passamos, Atlas nunca me viu tendo pesadelos ou tão fora de controle e mesmo de tudo o que ele disse, eu entenderia se quisesse um tempo para si.
Eu sei que ele vê as palavras em meus olhos, mas Atlas diz:
— Eu estava pensando em ficar na cama com você o dia todo, mas posso fazer isso também.
Sem me importar em ser grudenta, passo meus braços ao redor de sua cintura, abraçando-o.
— Eu te amo — digo baixinho. Dizer isso para ele se tornou tão natural que as vezes me sinto idiota por não ter dito antes.
— Eu sei, eu sou incrível. — Atlas beija meus cabelos e eu o aperto. — Eu te amo também. Promete não esquecer disso?
— Prometo.
— Essa é a minha garota.
Depois de uma hora dentro do banheiro, nós finalmente saímos e eu me preparo para encarar a minha irmã. Apesar do aconteceu entre ela e Atlas, eu lhe devo uma explicação. Eu sei que Portia me ama e me ver daquele jeito deve ter sido ainda pior para ela, que nunca nem me viu ter uma crise de ansiedade "normal".
Não foi fácil contar a ela sobre os remédios, mas mais fácil do que contar que fui estuprada aos treze anos de idade por um homem que frequentava a nossa casa e é considerado amigo da família. Eu sei que ela irá acreditar em mim, sei que não fará igual a mamãe e dirá que estou mentindo antes de me dar uma surra por isso. Mas mesmo sabendo desse fato, eu permaneço hesitante e sem coragem para quebrar esse silêncio.
Quando chegamos a sala, minha irmã fica de pé. Estava sentada no sofá, provavelmente esperando que eu saísse do banho para ver se estou bem.
Portia me inspeciona de cima abaixo, antes de seu olhar focar em algo atrás de mim. Eu sei que ela e Atlas estão se encarando, mas não sei decifrar o olhar da minha irmã.
Olho por cima do ombro, para o meu namorado e depois para minha irmão outra vez.
— Vocês podem parar, por favor? — peço, odiando que eu tenha piorado a relação deles.
— Desculpe — Atlas murmura, dando um beijo em minha têmpora. — Vou esperar você no quarto.
Eu o observo entrar em meu quarto e fechar a porta antes de encarar Portia.
— Você está bem? — pergunta, se aproximando, preocupação e exaustão estampadas em seu rosto.
O "sim" já está na ponta da língua, mas seria uma mentira e Portia merece mais do que isso.
— Eu vou ficar — digo o meu melhor.
Portia anue, seus lábios pressionados em uma linha fina.
— Eu sei que você tem perguntas... — começo depois de um minuto de silêncio enquanto eu me forçava a falar.
Mas Portia balança a cabeça.
— Não me conte. Não até estar confortável com isso. — Ela suspira, como se a decisão de não me pressionar fosse difícil para ela. — Mas me diga se eu puder fazer alguma coisa, ok? Qualquer coisa. E... E o Atlas pode ficar por quanto tempo você precisar, prometo que não vou implicar com ele.
Pisco alguma vezes, um pouco confusa, mas anuo. Eu perguntaria a ela por quê, mas estou cansada demais.
— Obrigada.
— Posso te dar um abraço?
Sinto-me culpada novamente, mas agora porque as coisas devem estar mesmo ruins na perspectiva dela, se acha que precisa pedir para me abraçar agora, como Atlas quando não olhou para mim quando eu estava nua. Eu detesto que eles tenham que mudar comigo pelo que viram, mas eu entendo, e os amos ainda mais por estarem tentando achar uma forma de me fazer me sentir confortável.
— Claro que sim, Portia.
Abraço minha irmã, não me importando que seus braços ao meu redor sejam apertados e ela esteja quase me sufocando. Eu apenas retribuo, fechando os olhos por um momento e lembrando das palavras de Atlas: Você está bem. Você está segura.
Depois que troco a toalha por uma calça e o moletom de Atlas, me junto a ele na cama, inspirando seu cheiro de lavanda, lembrando-me que ele parou de usar perfume apenas porque eu não gosto. Eu não me importaria se ele continuasse usando, mas Atlas descartou esse hábito como se não fosse nada, apenas por minha causa. Algo que muitos achariam bobo, mas é mais uma daquelas pequenas coisas que mostram que uma pessoa te ama e faz você amá-la ainda mais também.
— Eu liguei para o meu pai — Atlas diz, quebrando o silêncio confortável. — Ele já tinha me ligado várias vezes. Estava preocupado porque eu saí às pressas, dizendo que algo aconteceu com você. Ele desejou melhoras depois que eu disse que você teve um ataque de pânico. — Sua mão hesita enquanto ele alisa meus cabelos. — Tudo bem?
— Sim. Foi fofo da parte dele. Eu agradeço a preocupação.
Acho que Atlas anue, porque sinto seu queixo se mover e ele relaxa um pouco também. Conhecendo-o, devia estar preocupado que eu não gostasse que ele dividisse a minha "situação" com seus pais. O Sr e a Sra Campbell já perceberam que eu não bato bem da cabeça, então não deve ter sido uma surpresa para eles, por isso não ligo.
Ficamos em silêncio novamente, mas eu sei que Atlas não está dormindo e que não irá dormir até que eu durma e olhe lá. Meus olhos estão realmente pesados, mas estou lutando contra o sono.
— Eu estou com medo — confesso baixinho. A mão de Atlas para em meu cabelo. — Sei que se eu dormir, terei outro pesadelo e não quero reviver nada daquilo outra vez.
Atlas se arrasta na cama, até estar no nível dos meus olhos e virado para mim. Ficamos nariz a nariz, com seus braços ainda ao meu redor.
— Isso não vai acontecer — promete, colocando uma mecha dos meus cabelos atrás da minha orelha. Não pergunto como ele tem tanta certeza, eu acredito nele. — Durma, Fallon.
Atlas me puxa para seu peito outra vez e eu finalmente fecho os olhos.
Não durmo imediatamente, apesar do sono estar a espreita e meu corpo pesado. Atlas fez muito por mim hoje. Ele veio correndo para mim quando eu o chamei, me trouxe de volta quando a dor daquelas lembranças ameaçava me partir ao meio, cuidou de mim e ficou ao meu lado sem questionar. Agradecer não é o suficiente. Ele merece a verdade.
— Ele estava lá — sussurro, sentindo a consciência deixando meu corpo lentamente, assim como sinto Atlas ficar tenso. — Foi por isso... Eu o vi.
Com um suspiro pesado, o sono me leva de vez e tudo fica escuro.
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ATLAS
Sentado na beira da cama, passo meus dedos pelos fios escuros de seu cabelo. Seu rosto sereno reflete o sono tranquilo que ela está tendo depois de tudo. Monitorei sua respiração a noite toda, procurando sinais de que estava tendo um pesadelo, mas Fallon permaneceu impertubada, dormindo tranquilamente. Eu queria que fosse sempre assim, que ela não precisasse ter medo de dormir para não reviver os horrores que foram feitos a ela.
Eu queria que nada de ruim tivesse sido feito a ela.
Mas querer não é poder e eu me sinto impotente por não poder fazer nada para mudar toda desgraça que ela foi obrigada a passar. Xingar seus pais e aquele outro filho da puta não ajuda em nada também. Muito pouco a forçaria a denunciá-los. Fallon já teve escolhas demais sendo tiradas dela.
Perto do amanhecer, ainda estou sentado na beira da cama, mas olhando para fora da janela, quando sinto a cama se mexer. Olho para Fallon, sua mão agora onde eu deveria estar, me procurando.
— Eu estou aqui — aviso, quando ela abre os olhos, parecendo assustada por não me encontrar. Meu peito se aperta com isso.
Fallon relaxa, observando-me enquanto faço carinho num Deimos adormecido em meu colo.
— Não conseguiu dormir? — minha namorada questiona.
— Acabei de acordar — minto, voltando a me juntar a ela na cama quando Deimos pula do meu colo, miando.
Fallon continua me encarando, como se soubesse a verdade, que não preguei o olho a noite toda.
Eu não quero que ela se preocupe comigo, então tomo seus lábios carinhosamente, fazendo carinho em suas curvas.
— Hm... — murmura quando nos afastamos, um sorriso bobo em seus lábios ao abrir os olhos e me encar. — Você é bom em distrair.
— Não tão bom assim se você notou. — Faço uma careta, ganhando uma risadinha sua.
— Eu deixo você continuar tentando, se for assim.
Dou risada, mas beijo rapidamente seus lábios antes de deixar um beijo em sua testa também.
— Volte a dormir, ok? — Ela passou por muita coisa para um dia só, precisa descansar.
Fallon suspira, mas anue, lendo essas palavras em meus olhos. Ela se vira, colando suas costas em meu peito, enquanto segura minha mão. De conchinha com ela, finalmente pego no sono.
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Nos dias que se seguiram aquele que eu considero ter sido o pior dia da minha vida, tenho passado 80% do meu tempo com Fallon. Nos outros 20% quando não estou com ela é porque estou em aula — infelizmente só temo francês juntos —, quando eu estou dando aula de piano ou quando vou para casa a noite, não querendo abusar da bondade de Portia.
Falando nela, nossa relação agora se resume a cumprimentos educados de bom dia/boa noite/boa tarde. Fallon tem feito um esforço considerável para acabar com a tensão entre sua irmã e eu, mas não teve sucesso. Eu sei que Portia e eu precisamos acabar com isso, mas não vou dar o primeiro passo, pelo menos não até ver que ela refletiu sobre minhas palavras.
Agora, em meu quarto, tento me concentrar na minha atividade de geometria. Eu sempre fui bom em todas as matérias — tirando educação física —, mas tem sido difícil me concentrar nos últimos dias. Ainda me sinto impotente por não poder fazer nada em relação ao que aconteceu com Fallon. Tanto no passado, quanto agora. O fato daquele monstro continuar solto por aí me faz querer quebrar a primeira coisa que estiver na minha frente se eu pensar muito sobre isso. E se eu me sinto assim, como Fallon deve se sentir...
Suspiro, largando o lápis em cima do caderno e fechando os olhos ao apoiar minha cabeça na cabeceira.
— Dia ruim? — Brittany pergunta.
Abro os olhos, encarando a garota loira deitada de bruços ao meu lado enquanto faz sua própria atividade.
Eu tinha esquecido que ela estava aqui.
— Semana — respondo. Não sei Fallon falou sobre o que aconteceu, então mantenho a boca fechada sobre isso. — Mas eu não quero falar sobre isso — acrescento quando Brittany abre a boca.
Minha ex-namorada me lança um olhar, mas suspira, sentando-se na cama.
— Tudo bem. Se você não quer desabafar, eu vou.
Espero pacientemente o que ela tem a dizer. Apesar do meu entorpecimento nos últimos dias, notei que ela e Drew estão estranhos um com o outro. Não sei exatamente o por quê, porque nenhum dos dois tinha vindo falar comigo ainda, mas parece que Brittany ganhou essa.
— Acho que o Drew quer terminar comigo — desabafa enquanto cutuca as próprias unhas. — Ele tem estado tão estranho, sabe? Acho que ele não sabe como me falar. Ele falou alguma coisa com você?
— Não. — Ao mesmo que estou surpreso com o que ela disse, franzo as sobrancelhas. — Por que você acha que ele quer terminar? Você disse que ele tá estranho, mas aconteceu alguma coisa?
— Acho que toda essa coisa da minha família ainda não ter aceitado cem por cento o nosso namoro, não tem dado muita confiança para ele. — Brittany pisca para afastar as lágrimas que brotam em seus olhos. — Eu não sei o que fazer para ele perceber que eu não me importo com que a minha família pensa. Meus pais só se importam comigo quando se trata do interesse deles e aceitei isso por anos: namorei você, fui presidente do Grêmio, tirei boas notas, venci todo tipo de coisa idiota que tinha nessa cidade que eles me obrigavam a participar apenas para mostrar como a filha deles é inteligente e perfeita, apenas para chegar em casa e me ignorarem como se eu não passasse de um acessório.
Brittany faz uma pausa, fungando e eu pego a caixa de lenço na mesa de cabeceira e entrego a ela, que murmura um "obrigada".
— Drew foi a única pessoa que me viu de verdade — continua, um pequeno sorriso nos lábios, com certeza de lembrando do namorado. — Ele foi meu amigo mesmo que todos dissessem que eu era um vadia mimada; ele ficou comigo quando você não estava lá. A gente tentou ignorar o que sentíamos um pelo outro no início, sabe? Não queríamos magoar você, mas decidi ser o que todos já falavam que eu era, então fui egoísta. E foi a melhor decisão que eu tomei porque Drew é a melhor coisa que podia ter acontecido na minha vida. — Ela abaixa o rosto. — Mas talvez eu não seja o suficiente para fazê-lo ficar.
— Você é mais do que suficiente.
Brittany e eu olhamos para a porta, onde Drew está parado, segurando sua mochila.
— Porra, você é garota mais incrível que eu já conheci. Sabe quando eu percebi que amava você? Quando estávamos naquela lanchonete e você percebeu duas mulheres olhando para nós. Para mim. Você foi até lá e perguntou qual era o problema, mesmo eu dizendo para deixar para lá. Você nunca me disse o que aquelas mulheres falaram, mas eu sabia que foi algo racista quando você jogou aquela vitamina horrível que elas estavam tomando, em suas cabeças. E sabe melhor parte disso? Nós ainda não estávamos juntos. Nem sequer tínhamos nos beijado, mas eu soube naquele momento que estava apaixonado por você. — Drew deixa a mochila cair, dando um passo a frente. — Então sim, Brittany, você é mais do que suficiente para mim.
Brittany está fungando ao meu lado e eu vejo isso como um sinal para sair, ficando de pé. Passo por Drew, dando tapinhas no ombro dele, então saio do quarto e fecho a porta.
Apenas para dar de cara com Fallon.
— O quê...? — começa, provavelmente sem entender porque estou saindo do meu próprio quarto e fechando a porta, mas pego sua mão, levando-a de volta para o andar de baixo.
— Drew e Brittany estão se reconciliando — esclareço.
— Ah. — Ela franze as sobrancelhas. — Eu não sabia que eles estavam brigados.
— Pois é.
Chegamos a sala, onde sentamos no sofá. Fallon deixa sua mochila no chão, sentando-se virada para mim. Ela está com uma blusa de couro preta com um zíper na frente, uma calça da mesma cor e all star.
— Então não tem mais grupo de estudo hoje? — questiona quando pego uma mecha do seu cabelo, que está solto. Nas mãos ela usa aquelas luvas que não cobrem os dedos e a pulseira que lhe dei, em seu pulso.
— Não sei. Só espero que eles não usem meu quarto como motel.
Fallon ri, ficando de joelhos e colocando as mãos em meus ombros.
— Isso me dá uma ideia — diz, seus olhos brilhando com aquela malícia que eu tanto amo.
— Ah? — murmuro, tentando não sorrir quando ela empurra meus ombros até que eu estou deitado no sofá e ela monta em cima de mim.
— Sabe, a gente ainda pode continuar nossos estudos aqui. — Suas mãos vagam sutilmente por dentro da minha blusa, suas unhas arranhando levante meu abdômen. — Tenho várias ideias de experiências que podemos praticar.
— Ainda bem que sou um bom aluno, não é? Muito esforçado e tal. — Minhas mãos apertam suas coxas enquanto aprecio a sensação que é tê-la no controle.
— Sim e que sorte a minha que eu sou uma professora muito dedicada. — Fallon se inclina, mas ao invés de me beijar na boca, seus lábios deixam beijos por meu pescoço.
Fecho os olhos, gemendo baixinho quando sua língua substitue seus lábios. Com uma mão, mantenho um aperto em seu quadril enquanto Fallon rebola em meu colo, e a outra eu passeio por suas curvas, murmurando xingamentos sobre ela estar vestida demais. Minha garota ri, antes de deixar chupões em minha pele.
Cansado de ter meu pescoço recebendo toda a atenção da sua boca, seguro sua nuca, virando o rosto e capturando seus lábios. Ela geme, surpresa, mas me beija com a mesma intensidade eufórica que eu a beijo, como se não conseguisse o suficiente.
Minha mão que estava em seu quadril sobe por seu corpo até eu achar o zíper da sua blusa, descendo-o lentamente. O sorriso em seus lábios me diz o suficiente de como ela se sente sobre isso...
Um pigarreio me faz parar e olhar para Fallon com a sobrancelha arqueada. Ela revira os olhos, subindo o zíper novamente antes de se erguer.
— Vocês não deviam estar tendo uma transa de reconciliação agora? — pergunta. Vejo que está falando com Drew e Brittany quando me apoio em meus cotovelos.
— Vocês não deviam ir para um quarto se querem privacidade? — Brittany devolve, indo se sentar no outro sofá com Drew, ao mesmo tempo que Fallon sai de meu colo. A perda do seu corpo quente contra o meu me faz suspirar, mas sento-me também, colocando uma almofada em meu colo.
— Teríamos feito isso se os pombinhos não estivessem lá — Fallon resmunga.
— Vou precisar trocar os lençóis? — pergunto aos dois.
Brittany arregala os olhos.
— Ai, meu Deus, não!
— Será que podemos mudar de assunto? Eu realmente não quero ter esse tipo de intimidade com vocês — Drew diz.
— Você é tão sensível. — Fallon revira os olhos, mas deixamos esse assunto de lado e voltamos para o plano inicial: grupo de estudos.
Depois de alguns minutos, Fallon tira o all star e põe os pés em meu colo e mantenho uma mão acariciando distraidamente seu tornozelo enquanto volto a tentar resolver as questões de geometria.
Quando todos parecem concentrados em suas atividades, olho para Fallon, feliz em vê-la bem. A ideia do grupo de estudos foi minha porque eu queria ela passasse mais tempo com pessoas que a amam e querem seu bem.
Desvio o olhar antes que ela me pegue olhando e volto para a minha atividade.
←↑↓→
Depois da missa no domingo, Drew e eu saímos para tomar café. Drew fez um esforço louvável hoje para não cochilar diante as palavras do padre, mas eu ainda tive que cutucá-lo duas vezes para que acordasse. Mamãe lançou olhares de advertência para nós dois, principalmente quando viu o celular em minhas mãos.
Eu estava conversando com Fallon e tive que deixá-la no vácuo pela meia hora restante que durou a missa. Quando fui escrever de volta, ela havia mandado uma mensagem dizendo que ia dormir, então estou esperando ela acordar para saber o que vamos fazer hoje.
Se ela percebeu que eu tenho ficado por perto mais que o normal, não disse nada. E conhecendo-a, deve ter notado, assim como sabe dos meus motivos: querer estar perto caso ela tenha outra crise, além de saber que ela está bem.
— Fallon já disse para onde quer ir? De faculdade, quero dizer — Drew pergunta quando nossos pedidos chegam. Ele pediu um x-burguer e uma Coca-Cola, enquanto eu um pedaço de torta de chocolate e limonada.
— Não. Não falamos sobre isso. E você e a Brittany?
— Quero entrar para o MIT e ela quer ir para Harvard. Acho que temos chances, já que ambos temos boas notas e fizemos atividades extracurriculares. — Drew dá de ombros, dando uma mordida no seu x-burguer.
— Então vocês se acertaram mesmo? — Eu quero apenas confirmar que eles estão bem, apesar de aparentemente as coisas parecerem terem voltado ao normal entre eles.
— Sim. — Meu amigo anue depois de engolir. — Eu estava estranho, mas não era nada com ela, porém acabei descontando isso nela. Fui um idiota.
— Não se culpe por isso. Relacionamentos não são feitos apenas de momentos bons e estáveis. — Digo por experiência própria. — E tenho certeza que a Brittany está entendendo isso, ok? O que estava te preocupando era sua mãe, certo? Como ela está?
Drew tinha me contando que sua mãe andava preocupada porque seu chefe havia marcado uma reunião. Ela pensou no pior, que seria demitida, o que fez Drew tentar pensar em soluções para conseguir dinheiro para pagar as contas e voltar a ajudar em casa — ele largou o emprego que tinha há uns meses depois que sua mãe insistiu para focar nos estudos e no curso de TI que ele está fazendo.
— Toda aquela preocupação foi em vão — meu amigo esclarece. — O que superior dela queria, na verdade, era lhe dar uma promoção. Ela foi promovida oficialmente ontem.
— Isso é ótimo. Que bom que está tudo bem, então. — Sou sincero, estou realmente feliz por eles, pois sua mãe é uma das mulheres mais batalhadoras que já conheci, e sei que Drew se orgulha muito dela.
— Sim e acho que vou comer outro x-burguer para comemorar.
Faço uma careta, porque comer isso às 08h da manhã é suicídio.
Passamos os próximos minutos terminando nossas refeições — Drew de fato comeu outro x-nãosaudável — e após terminarmos, pagamos a conta e nos preparamos para sair.
Até que uma conversa me chama atenção no balcão. Um nome, na verdade.
— Faz um tempo que não o vejo aqui, Sr Morris. O que vai querer? — A mulher pergunta para o homem sentado.
Morris.
Olho atentamente para ele, sentindo minhas mãos ficarem imóveis. O cabelo escuro está parcialmente escondido pelo boné que ele usa. Suas roupas são gastas: calças, camisa e uma jaqueta desgastada. É alto, mas não muito. Forte, mas nem tanto. Porém o suficiente para subjulgar alguém menor que ele. Como uma garota de treze anos.
Ele me encara, provavelmente porque estou há muito tempo olhando, e eu observo com nojo o rosto que ainda assombra Fallon, os olhos hediondos, como os de corvos mortos.
— Cara, anda logo. — Drew empurra meu ombro, mas eu não me movo até cinco segundos depois que tenho a certeza que marquei o rosto do monstro sentado no balcão.
Sigo para fora, apesar de sentir que meu corpo se move sozinho. Eu encaro o meu carro no estacionamento, mas tudo o que vejo é Fallon se contorcendo na cama, chorando e gritando. Eu respiro fundo e acima do rugido em meus ouvidos, ouvindo seu choro baixinho antes de encontrá-la sentada no chão do meu banheiro. Eu abro e fecho as minhas mãos, lembrando da sensação da pele destruída dos seus pulsos.
— Atlas? Você tá legal, cara? O que foi aquilo lá dentro? — Drew pergunta e sei que deve estar me olhando preocupado apesar de eu não retribuir o olhar.
Não respondo, chegando ao meu carro.
— Ei, qual o problema? — Meu amigo puxa meu braço, fazendo-me virar para ele enquanto segura meus ombros.
Ao invés de encará-lo, olho por cima do ombro, para a lanchonete que tem janelas de vidro, o que nos permite ver o lado de dentro. O que me permite ver o homem sentado no balcão, agindo normalmente como se não tivesse estuprado a Fallon quando ela era uma criança.
— Já sentiu raiva a ponto de a única solução ser destruir a fonte desse sentimento? — pergunto a Drew, minha voz soando estranhamente fria.
— Não sei, acho. Por quê?
Fecho os olhos, respirando fundo.
A voz de Fallon ecoa em minha mente.
Eu não queria...
E-ele disse que não ia doer...
Eu não quero. Isso dói. Para, por favor.
Eu estou com medo.
Sinto uma queimação em minha mão ao mesmo tempo que ouço Drew:
— Mas que porra! Você ficou maluco?
Respirando pesadamente, encaro a janela destruída do meu carro e minha mão sangrando com alguns pequenos cacos de vidro nela.
— Ela tinha treze anos — digo baixinho, imaginado que é o sangue daquele filho da puta em minhas mãos. — E ele a estuprou.
— Do que você....
— Na cama dela. — Fecho minha mão, sem me importar com a dor. Não é nada comparado a dor que ele causou a ela. — Ela precisou dormir lá todos os anos depois.
— Você... Você está falando da... da Fallon?
Dói assentir; não poder dizer que é mentira.
Agora que eu conheço o rosto dele — porque sem sombras de dúvidas é ele — fica ainda mais difícil ignorar a raiva, o embuste sentado lá tranquilamente, vivendo a vida dele enquanto Fallon precisa conviver com pesadelos, com o medo e a culpa — porque eu sei que ela se culpa, mesmo que ela não diga.
E tudo isso é tão fodidamente injusto que não consigo respirar ou pensar direito, ao mesmo tempo que quero vomitar.
— O homem lá dentro. Foi ele — Drew não pergunta, pois minha reação já é uma afirmação óbvia.
Eu anuo mesmo assim.
Ficamos em silêncio, encarando a lanchonete — o estuprador lá dentro. De alguma forma, consigo sentir a raiva de Drew conforme ele tensiona a mandíbula e fecha as mãos em punhos. A culpa por contar a ele um segredo que não era meu virá em breve, mas por enquanto não me importo de não ser o único afim de assassinar aquele merda.
— Você quer justiça, certo? — Drew pergunta.
— Eu não quero só justiça, eu quero vingança.
Do que foi tirado dela e que Deus queira que eu esteja errado, mas possivelmente de outras garotas também, porque homens como ele não param.
— Então, o que vamos fazer? — Drew questiona ao me encarar.
Mas se há uma chance de fazê-lo parar e pagar pelo que fez... Eu estou disposto a sujar minhas mãos por isso.
~•~
Sim, sim, eu sei que disse que so ia postar quando tivesse finalizado o livro, mas dei uma pausa na última semana para ler um pouco e estava me sentindo culpada por não escrever, então decidi postar esse capítulo!
Enfim, oooi, como vcs estão?
Queria saber a opinião de vcs sobre a história
Acham que muitas coisas mudaram desde o início do livro até aqui? Se sim, o quê?
Espero que tenham gostado do capítulo!
Até logo♥️
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2bjs, môres♥
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