¹⁵|ᶜᵃʳᵃᵐᵉˡᵒ

1.
"A palavra caramelo vem do latim calamellu-, diminutivo de calămu-, "cana", pelo castelhano caramelo, "confeito de açúcar em ponto". Deste modo, tudo indica que o termo caramelo (português ou espanhol) teve origem no latim.
2.
A cor de caramelo, como o próprio nome já diz, é aquela do açúcar queimado, ou seja, vai do bege ao marrom. Em inglês esse tom vem sendo chamado de “camel”, que quer dizer camelo."

FALLON

— Que porra você tá fazendo, pai? — Minha irmã joga o cinto de nosso pai no chão, o único barulho além do meu choro baixo. Meu pai, para o seu crédito parece horrorizado.

— Eu... — Ele olha para mim, sem saber o que fazer. Acho que nunca pensou que podia ser pego no flagra. Ele dá um passo na minha direção, mas me encolho ainda mais.

— Não encoste nela! — Portia se põe entre nós dois. Meu pai dá um passo para trás, então, passando as mãos pelo rosto.

Portia parece encará-lo por mais algum tempo, então vira para mim, se ajoelhando ao meu lado.

— Por Deus... Por Deus... — Portia sussurra, horrorizada, enquanto afasta meu cabelo do rosto. Ela olha por cima do ombro, para nossa mãe. — Como deixou ele fazer isso?

A mulher mais velha não responde e Portia volta a ficar de pé, olhando para os dois.

— Vocês perderam a cabeça, é isso? Espancar ela dessa forma... Quem são vocês? — O nojo por nossos pais é nítido em suas feições.

— Eu... E-eu perdi o controle... — papai gagueja, tentando mais uma vez se aproximar, mas para a surpresa de nós três, minha irmã o empurra, fazendo papai cambalear até bater na parede.

— Perdeu o controle? É assim que você chama espancar a própria filha? — Portia esbraveja. — Seu desgraçado. O que mais você teria feito a ela se eu não tivesse chegado?

— Nada. Sua irmã errou, merecia uma lição...

Mas ele não termina de falar pois Portia vai para cima dele. Eu observo, em choque, enquanto ela bate em nosso pai. Ele deixa por pelo menos dez segundos, também parecendo surpreso enquanto minha irmã diz coisas que não consigo entender, dando socos nele. Mas papai reage, segundo os pulsos de Portia mesmo enquanto ela continua lutando contra ele.

Isso apenas me faz voltar a chorar, porque quantas vezes eu quis que ela tivesse chegado a tempo de impedir todas as coisas que ele e mamãe fizeram comigo?

— Portia... — sussuro. Por mais que eu queira que ela continue, que desconte por mim tudo o que já sofri, não posso deixar que faça algo que se arrependa depois. — Portia.

Minha irmã me ouve e só então se solta do nosso pai, a respiração acelerada e os olhos faiscando de raiva.

— Se tocar nela de novo, eu vou fazer vocês se arrependerem, me ouviram? — diz, olhando para nossos pais, mas nenhum dos dois responde. — Me ouviram?

Ambos anuem vagamente, com certeza pensando nas desculpas que darão depois quando a poeira baixar.

Portia se volta para mim, aquela raiva dando espaço para preocupação.

— Vamos lá para cima, ok? Vou cuidar de você.

Ela me ajuda a ficar pé. Quero perguntar a ela por que voltou e agradecer também, pois poderia ter sido bem pior se ela não estivesse aqui, mas nada sai de meus lábios.

Subimos para o meu quarto e vou imediatamente para minha cama, me envolvendo.

— Acho que tenho uma pomada cicatrizante, deve ajudar... Ajudar a...

— Eu estou bem — Garanto a ela, mesmo não sendo verdade, mas já estou tão acostumada com isso, que posso aguentar.

— Eu já volto. — Ela não parece acreditar, mas sai para pegar a tal pomada.

Fico encarando a porta, pensando se papai vai aparecer para mandar que eu fique de boca fechada. Quantas desculpas ele deve estar pensando agora? Será que Portia irá acreditar neles? Será que devo contar que essa não foi a primeira vez?

Quando ela volta, ainda estou pensando nisso.

— Tire a blusa para que eu possa passar. — Portia senta na cama, esperando.

— Não precisa. — Pois não quero me mexer, só quero ficar aqui, quietinha.

— Precisa, sim. Não vou sair daqui até que deixe eu cuidar de você.

Conheço Portia o suficiente para saber que está falando sério.

Com muito esforço, sento-me na cama e tiro a blusa. Apesar de papai acertar primeiro minhas pernas, a concentração maior foi em minhas costas e parte do meu braço.

Ouço seu arquejo de surpresa e só posso imaginar como deve estar ruim.

Portia não diz nada quando começa a passar a pomada e nem eu, quando abraço meus joelhos e deixo que ela faça isso. Quantas vezes eu quis que alguém cuidasse de mim depois de uma surra pior do que essa?

— Ele nunca fez isso comigo — Portia diz e há dor em suas palavras. — Não sei... Não sei  porque fazer com você.

Eu também não.

Já parei de me fazer essa pergunta, mesmo nunca tendo obtido uma resposta. Não lembro de um único momento na minha vida em que meus pais tenham sido amorosos comigo. Todas as minhas lembranças envolvem gritos dos dois, algo sempre se chocando contra mim, meu choro... O "porquê" sempre foi algo desconhecido. Antes dos meus treze anos, eu chorava mais por não saber porque eles faziam isso, do que pela dor em si. Mas depois do que o senhor Morris fez... Eu parei de me importar se papai ia me bater com um cinto ou um cabo de vassoura.

— Fallon — Portia me chama ao terminar. Ponho minha blusa de volta e viro para ela. — Preciso que me fale a verdade... Papai já fez isso outras vezes?

Meus lábios não se movem. Eu quero dizer que sim. Quero contar das vezes em que apanhei a ponto de minhas costelas doerem e eu precisei aprender a cuidar dos meus machucados sozinha. Quero contar de quando derrubei sem querer o copo de vidro no chão – era a coleção preferida da mamãe – eu apanhei e caí em cima dos cacos e eu mesma tive que que tirar da minha pele depois. Quero contar... Quero contar tudo a ela...

Tomo coragem para lhe contar, para finalmente me livrar disso, quando vejo papai na porta do quarto. Ele não diz nada e não precisa, a ameaça em seus olhos é o suficiente: se eu contar, minha punição vai ser muito pior do que a de minutos atrás.

Portia olha para trás e fica de pé ao ver nosso pai.

— O que você quer? — o tom de voz de minha irmã é feio, firme. Papai recua como fez lá embaixo.

— Só queria saber se ela está bem. — mentira. Mentiroso desgraçado.

— O que você acha? Saia daqui e nos deixe sozinhas. — Portia vai até a porta, fechando na cara dele. Ela suspira e volta para a cama. — Você estava dizendo...?

— Nada. — Pigarreio, notando que minha voz está rouca. — Não... Essa foi a primeira vez.

— Tem certeza? Você pode me contar a verdade. — Portia segura minhas mãos e a preocupação em seus olhos é como um soco em meu estômago, pois mentir olhando nos olhos de alguém é pior do que mentir em si.

— Tenho... Ele só ficou bravo por eu ter me drogado. — Dou de ombros.

Portia continua me encarando e eu me obrigo a sustentar essa máscara por um pouco mais de tempo. Eu sempre fui boa em esconder a verdade, não é? Olhar nos olhos dela e mentir para a única pessoa que realmente me ama, não é nada.

— Ok. — Portia suspira de novo, mas algo me diz que ela não acredita em mim. — Eu voltei porque você esqueceu o celular no carro. — Ela tira o celular do bolso e me entrega. Observo a sua mão. A uma marca da sua mão até o pulso, por cima daquela cicatriz que causei anos atrás.

— Ele acertou você. — Porque essa marca vermelha foi causada pelo cinto de papai, como se Portia tivesse simplesmente entrado na minha frente e segurado o cinto, se machucando.

— Esqueça isso e durma. Vou conversar com eles.

Eu não vou esquecer isso, mas resolvo me deitar e deixo que minha irmã mais velha me cubra como fazia quando éramos mais novas.

— Obrigada — agradeço a ela, a coisa mais verdadeira que lhe falei nos últimos minutos.

— Irmãs servem pra isso, não é?

←↑↓→

Quando acordo, ainda é dia e eu provavelmente teria continuado dormindo se não tivesse ouvido algum barulho.

Sento-me cama e observo Portia mexendo no meu guarda-roupa.

— O que está fazendo?

Minha irmã vira para mim, roupas em suas mãos. Ela vem até a cama onde percebo algumas malas.

— Você está indo morar comigo.

~•~

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2bjs, môres♥

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