⁴⁸|ᵖʳᵉᵗᵒ ᵉ ᵇʳᵃⁿᶜᵒ

1.
“BRANCO – do Frâncico blank, “claro, branco, brilhante”. Substituiu o Latim albus, de mesmo significado, que nos deixou palavras como alvo e alvacento.
PRETO – do Latim pressus, “apertado, denso, comprimido”, de premere, “apertar, espremer”.
2.
como minha vida era antes de você.

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ATLAS

Algumas semanas depois


Se existisse uma cota de quantas vezes uma pessoas pode passar por momentos constrangedores, eu venceria. Eu ganharia medalha e troféu, uma faixa, talvez uma coroa e um buquê de flores. O que também seria apenas mais um momento constrangedor. Às vezes eu odeio a minha vida.

O motivo de eu estar pensando nisso é o homem sentado no outro sofá da sala de Portia. Frederick nunca pareceu uma pessoa ameaçadora antes, mas quando do nada ele virou o pai da minha namorada, minha visão sobre ele mudou também. Ele é intimidador apenas sentado lá, de pernas cruzadas e olhando algo no celular, vestindo um terno.

Eu não quero, mas meus olhos ficam voltando para ele vez ou outra, buscando alguma semelhança com a garota que eu amo. Eu achava que os olhos castanhos de Fallon eram descendência da Joana, mas estou começando a achar que não. É estranho olhar para o meu sogro e ver os olhos da minha namorada?

Sogro. Jesus.

Eu já havia me acostumado a não ter sogro — Mark nunca foi meu sogro porque mesmo antes de sabermos que ele não era pai de Fallon, ele já havia provado isso com suas ações — então acho que é justificável o meu nervosismo.

Além do fato, é claro, de fazer quinze minutos que Portia disse que Fallon estava pronta. Não estou preocupado em estarmos atrasados, mas sim ansioso em vê-la. Eu sei que ela vai estar linda como sempre, mas não consigo parar de balançar minha perna e checar o relógio.

— Parece que você está tendo um ataque nervoso, garoto — Frederick comenta, chamando minha atenção para ele, mas o homem nem está olhando para mim.

— Pois é — claro que eu respondo isso, não tendo nada mais para dizer.

Frederick acha que esse é um bom momento para guardar o celular e me encarar.

Não tivemos muitas interações desde A Grande Revelação — como gosto de chamar o dia que Fallon descobriu tudo — muito menos ficamos sozinhos. Não sei se quero ser questionado mais uma vez sobre os métodos contraceptivos que Fallon e eu estamos tendo. Errado. Eu realmente não quero ter que ter essa conversa com mais alguém. Muito menos com o pai dela.

— Fallon contou que você foi aprovado na Juilliard.

Eu quase desabo de alívio. Esse é assunto que não me importo em falar. Desde que fui aprovado, tenho soltado fogos de artifício mentalmente sempre que me lembro disso.

— Fui, sim, senhor. — Eu pareço um militar falando.

— Então vocês vão morar juntos, em Nova York?

Com Fallon também sendo aprovada na Universidade Columbia, ficaremos perto um do outro. Ela também se inscreveu em Harvard, Yale e na Universidade de Nova York. Foi aprovada em todas, menos Harvard. Ela ficou inconformada com isso porque, bom, é Harvard, mas está feliz em ir para Columbia. Eu também, sendo bem sincero. Tê-la tão perto será incrível.

— Ainda não falamos sobre isso — respondo. — Mas faremos se ela quiser.

Frederick anue, ficando em silêncio por um momento antes de suspirar.

— Apesar de nos conhecermos a pouco tempo, pude perceber que você é um garoto decente, e que se tornará um homem honrável. E fico feliz que minha filha tenha escolhido você. Sei que irá cuidar bem dela.

— Obrigado, senhor. Eu amo a Fallon, pode ter certeza que sempre a colocarei em primeiro lugar.

Frederick sorri, aparentemente minhas palavras o agradando. Apesar de terem sido sinceras, fico aliviado em ter a sua benção. Pelo menos me pareceu uma benção.

Meus pensamentos, porém, são interrompidos pela entrada de Fallon na sala.

Eu a encaro, embasbacado. Ela está linda. Isso não é uma surpresa, mas ainda a encaro como se estivesse vendo uma miragem. E acho que estou.

O corpete do seu vestido preto sem alças abraça a parte superior de seu corpo, com algumas pedrinhas que brilham na luz da lâmpada. A saia do seu vestido é bufante e vai até a altura dos seus joelhos, deixando em exibição suas lindas pernas. E em seus pés, estão seus fiéis all star.

Observo vagamente seu pai lhe dizer como ela está linda, antes de eu me lembrar de levantar.

Seus lábios pintados de preto estão esticados em um sorriso quando ele acaba com a distância entre nós, parando em minha frente. Eu observo seu rosto. Seus olhos estão mais escuros e intensos por conta da maquiagem, lembrando do dia que nos encontramos naquela varanda.

— Isso é pra mim? — Fallon aponta para o corsage que estou segurando.

Enrubesço, abrindo a caixinha e tirando o corsage.

Eu ponho em seu pulso e entrelaço nossos dedos, levantando meus olhos de volta para os seus.

— Você está perfeita — finalmente digo, colocando algumas mechas do seu cabelo, que está solto com as pontas mais onduladas, para trás.

— Obrigada. — Fallon ri e me dá um selinho. Eu nem mesmo fico com vergonha por seu pai estar no mesmo cômodo que nós. — Você está muito gostoso nesse terno — sussurra.

Fico ainda mais vermelho, o que lhe tira outra risada.

Pode passar o tempo que for, mas Fallon sempre conseguirá me fazer corar.

Portia chega segundos depois para poder tirar as fotos e espero que eu não saia vermelho, pois já posso imaginar que serei fonte das risadas dos nossos filhos no futuro.

Apesar de Fallon reclamar sobre ter que tirar várias fotos, ela sorri e ri a todo momento, relaxada e feliz. Isso faz meu sorriso ficar maior quando eu olho para ela, vendo-a sorrir para a câmera. Nós ouvimos o clique da câmera e eu não ligo nenhum pouco de estar admirando Fallon no momento.

Depois do que parecem ser horas, Portia finalmente nos deixa ir. Quem vai nos levar é o Frederick porque ele se voluntariou para ser um dos pais a ajudar no baile. Fallon não se importou com isso. Na verdade, ela parece estar construindo uma boa relação com o pai. Eu não sei se posso descrever em palavras o quanto estou feliz com isso, que ela finalmente tem um pai de verdade. Depois de tudo, ela merece esse amor.

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— Acho que isso não foi uma boa ideia — murmuro.

Eu sempre fui bom em alto controle e da última vez, eu consegui superar meu nervosismo, mas agora é diferente.

— Eu acho que foi um ideia perfeita. Agora sobe e arrasa. — Fallon me dá um beijo que me tira o fôlego e me deixa atordoado por um momento, mas nada poderia me incentivar mais, acho.

Então subo no palco como o resto da banda da escola.

Eles me convidaram para cantar com eles no baile de formatura depois do baile de inverno, meses atrás. Temos ensaiado durante todo o último semestre e até nos apresentamos no início da primavera, em um festival que teve na cidade, então talvez seja besteira eu estar nervoso agora, mas não consigo evitar.

Com o violão em mãos e todos os outros prontos, nós começamos.

No primeiro toque dos meus dedos no violão, eu me permito deixar o nervosismo de lado. Quando minha voz ecoa pelo salão, não penso que haja uma pequena multidão de alunos, pais e professores me assistindo. Eu apenas canto e toco, porque é o que sei fazer de melhor, e nunca foi algo no qual eu realmente precisei me esforçar. A música está no meu sangue, cada nota pulsa em meu corpo com as batidas do meu coração, tornando a sensação mágica.

Eu olho para a única garota que consegue fazer eu me sentir dessa mesma forma. Não importa quantas músicas eu ouça, sua risada sempre será a minha música preferida. Eu posso amar tocar piano e violão, mas nada se compara com o que sinto quando eu a toco.

Eu não achei que pessoas podiam ser melodias, mas ela... Ela é a minha melodia preferida.

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— O quê? — Fallon pergunta quando me pega olhando para ela.

— Nada. — Ponho seu cabelo para o lado e dou um beijo em seu ombro, meus braços ao seu redor enquanto ela descansa contra meu peito.

São duas da manhã e estamos no capô do meu carro, na praça da cidade que está completamente deserta a essa hora. Nós viemos para cá depois da festa na casa de Brittany, porque é claro que Brittany faria uma festa de encerramento.

Depois que a banda e eu nos apresentamos no baile, o DJ ficou responsável pelo resto da noite, o que permitiu que eu ficasse com Fallon e meus amigos. Drew e Brittany estavam comemorando porque Brittany foi aceita em Harvard. Houve um problema nos correios, então sua carta só chegou hoje pela manhã. Enquanto a de Drew chegou há algumas semanas. Acho que nunca vi meu amigo tão feliz agora que sabe que vai para o MIT.

Estou feliz por eles e por nós. Com todos tão perto, não será tão difícil mantermos contato além do virtual. Claro que não será como agora, quando nos vemos todos os dias na escola e fora dela, mas vamos nos acostumar a essa nova fase das nossas vidas.

— O que você e Frederick estavam conversando naquela hora? — Fallon pergunta, a cabeça apoiada em meu ombro enquanto observa a lua.

— Ele disse que você não poderia ter escolhido alguém melhor para ser seu namorado.

Fallon bufa e aposto que está revirando os olhos.

— Sei.

— É sério. Talvez ele não tenha colocado exatamente nessas palavras, mas foi o que eu entendi. — Eu ignoro o olhar cético que ela me dá. — E eu disse a ele que amo você.

— Você disse ao meu pai que você me ama?

— Sim.

Ela fica em silêncio, então não digo mais nada.

Eu percebi nessas últimas semanas que mesmo que as pessoas que fizeram mal a ela estejam mortas, isso não significa que tudo ficará bem de repente.

Fallon ainda está lidando com os traumas após a morte das três pessoas que mais a feriram. Ela ainda vai à terapia e às vezes tem crises de ansiedade, assim como há dias que não consegue dormir direito. Ela está tentando todos os dias, um passo de cada vez para finalmente superar todo o seu passado. E mesmo assim, ainda haverá cicatrizes.

Eu tenho feito tudo ao meu alcance para ajudá-la, inclusive lhe dar espaço. Acho que essa é uma das coisas difíceis a se fazer quando você ama alguém que está superando algum trauma. Ao mesmo tempo que ela precisa do seu apoio, ela precisa do próprio espaço para aprender a lidar com isso.

Então eu não preencho o seu silêncio quando ela não quer falar, mas fico ao seu lado para que ela saiba que pode falar se quiser. Eu ligo para ela todas as noites, nem que seja para que fiquemos apenas ouvindo a respiração um do outro. A minha coisa preferida é tocar para ela. Fallon sempre quer que eu toque para ela e eu nunca recuso. Não faria nem se quisesse.

— Ainda é um pouco estranho. — Sua voz me tira dos meus pensamentos. Ela ainda está olhando para a lua.

— O quê?

— Lembra que eu disse que o meu violão estava desafinado? — Anuo. Eu me ofereci para consertar, mas no dia seguinte, Fallon disse que havia dado um jeito. — Frederick consertou.

— Isso é estranho?

— Mark me bateu com um violão. Mas Frederick foi lá e consertou meu violão como se não fosse nenhum problema para ele. Ele até disse que queria me ouvir tocar um dia. — Fallon se afasta para virar para mim, suspirando. — Nunca pensei que um dia eu teria que me acostumar a ter o amor do meu pai.

— Entendo. — Eu imagino que isso deveria ser fácil depois de todos os anos de abuso que ela sofreu, mas é exatamente por causa de todos os anos de abuso que ela sofreu, que  aceitar que agora há um pai de verdade que se importa e a ama, seja estranho.

— Mas eu gosto dele. Eu descobri que ele também gosta de filme de terror. — Ela parece uma criança fofa que ganhou sorvete extra depois do jantar.

— Droga. Agora serão vocês dois contra mim. — Faço uma careta de sofrimento.

Fallon ri, abraçando meu pescoço.

— Como aparentemente ele gosta de você, talvez possa convencê-lo a assistir algum filme daquele cara que fica sem camisa.

— É muito interessante que de vinte e nove filmes, essa tenha sido a coisa que mais te chamou a atenção.

Fallon dá de ombros, um sorrisinho em seus lábios.

— O que posso fazer? Uma garota sabe para onde olhar.

Faço uma careta, fazendo-a rir outra vez. Estou começando a achar que tentar torná-la marvete não foi uma boa escolha.

Quando começa a chover, estou pronto para nos tirar daqui quando Fallon se afasta e estende a mão para mim.

— Me concede essa honra?

Um sorriso se forma em meus lábios quando me afasto do carro, aceitando sua mão.

— Com todo prazer.

Então nós valsamos nas poças de água que estão começando a se formar na sua, com nossas risadas e o barulho da chuva sendo a única música a nos guiar e com a lua sendo nossa única espectadora.





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Tecnicamente esse é o último capítulo antes de pularmos uns aninhos p dois epílogos, então espero que tenham gostado dessa despedida dos nossos bbs ainda no final da adolescência 😭♥

O capítulo foi rápido, eu sei, mas o livro acabou, gente, sinto muito KKKKKKKK. É o "último" capítulo, então não era pra ser rápido.

Amanhã eu posto tudo que resta e dou o livro como concluído 😭♥

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2bjs, môres♥

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