²⁷|ᵐᵃʳˢᵃˡᵃ

1.
Marsala possui inspiração nos vermelhos terrosos, vinho quente e cobre, sendo considerada uma cor sofisticada, que incentiva a criatividade e experimentação. O tom transmite coragem, ousadia, sensualidade e luxo.
2.
Específico siciliano, deriva do nome da cidade de Marsala na área de Trapani, um nome que por sua vez deriva da palavra árabe marsa Allah, que é o porto de Alá ou porto do Senhor Deus.”

ATLAS

Novembro.
Um mês depois

Na televisão da cozinha, Portia Marshall avisa para começarmos a tirar nossas roupas de frio do guarda-roupa. O que ela não sabe é que comecei a fazer isso semana passada assim que a sensação térmica caiu.

De meia, com um suéter, um casaco e calças moletom, eu estou prestes a subir para voltar para o meu quarto depois de saquear a cozinha. Drew deveria ter vindo fazer isso, mas ele venceu a última partida no videogame e sobrou pra mim.

— Atlas, espere aí.

Suspiro ao ouvir a voz do meu pai.

As coisas entre nós não estão muito melhores, mesmo um mês depois daquela discussão. Não fingimos que nada aconteceu, pelo menos não eu. Papai continua ignorando a minha opinião sobre o meu futuro.

Viro-me para ele, segurando uma sacola com salgadinhos, além de latas de refrigerante nos meus bolsos e dois pratos com torta em cada mão.

Sim, eu estou quebrando a dieta rigorosa da minha mãe.

E não é um bom momento para conversar com meu pai, mas como não posso simplesmente lhe dar as costas porque ele ainda é o meu pai e seria desrespeitoso fazer isso, apenas espero o que ele tem a dizer.

— Eu lhe dei um mês — começa, as mãos dentro dos bolsos. Por algum motivo, ele ainda está de terno. — Você não foi à prefeitura.

— Eu disse que não quero o estágio. Ou cursar direito — digo da forma mais suave possível, não querendo iniciar uma discussão enquanto seguro dois pratos com torta.

— Certo. Eu irei respeitar a sua decisão. — Papai anue mais para ele mesmo do que para mim.

Ouvir isso quase me faz curvar os ombros em alívio. Depois de...

— Mas — a palavra é bem enfática para dissipar a minha alegria —, irei retirar a sua mesada.

— O quê? — Seguro os pratos com mais força.

Meu pai, mais alto que eu, parece se elevar mais ao erguer o queixo. Eu já vi essa postura diversas vezes, quando ele toma uma decisão da qual não irá voltar atrás.

— Você já tem dezoito anos. Já está na hora de arrumar um emprego.

— Certo... E que a sorte a minha que há um estágio na prefeitura, não é? — Dou risada, não achando graça alguma. É claro que ele faria isso. Meu pai não foi reeleito prefeito porque é um homem bom. Não, ele conseguiu isso porque sempre consegue o que quer.

É uma pena para ele que eu sou seu filho e tenho a mesma força de vontade que ele.

— Tudo bem — digo por fim.

— Então irá aceitar o estágio? — Ele já está sorrindo, orgulhoso.

— Não, eu irei arrumar um emprego de verdade. E bem longe da prefeitura. Boa noite, pai. — Lhe dou as costas e subo as escadas.

Ao chegar em meu quarto, encontro Drew jogado na minha cama enquanto mexe no celular.

Ele nem mesmo me nota.

— Ela respondeu, não foi? — pergunto, finalmente atraindo sua atenção.

— É difícil resistir ao Drew aqui. — Meu melhor amigo pisca e eu reviro os olhos.

Algumas pessoas achariam estranho estar falando da sua ex-namorada com o seu melhor amigo, que está namorando ela agora.

Bem, não namorando exatamente. Parece que ele tem passado o último mês mandando flores e chocolates e deixado bilhetes no armário da Brittany.

— Aposto que ela só respondeu pra você deixá-la em paz — digo, entregando a ele um prato com torta.

— Então ela aceitou jantar comigo só por isso também? — O sorriso dele é tão largo que não dá nem pra ele negar que está apaixonado por ela.

— Não acredito que vou ter que aturar você apaixonado pela minha ex-namorada. — Balanço a cabeça, mas na verdade estou feliz por ele. Por ela também, aliás. Brittany e eu ainda pisamos em ovos na presença um do outro, mas é melhor do que discussões e insultos.

— Eu tenho aturado você e a Fallon, então cala a boca. — Drew deixa o celular de lado para poder comer.

— Ela vai te matar se ouvir você falando desse jeito.

— Tenho todo o direito, ela me deve dez dólares.

Não tenho como argumentar contra isso. Esses dois viraram amigos e vivem fazendo apostas sobre tudo, o que acaba ou com Drew irritado por perder, ou Fallon. E a última é bem pior.

— Ok, vamos voltar ao tópico principal — Drew fala de repente.

Franzo as sobrancelhas para ele, terminando de engolir antes de falar:

— Temos um tópico principal?

— Sim! Meu encontro com a Brittany. Preciso fazer algo legal. Vou aproveitar para convidá-la para o baile de inverno.

Drew parece realmente empenhado. Eu nunca vi ele assim por nenhuma garota. Geralmente são elas que o convidam para os bailes, não ao contrário.

— Você vai me dar alguma ideia ou não? — Ele arqueia a sobrancelha, terminando de comer a torta.

— Hã... Não sei. Leva ela pra passear e...

— Brittany odeia fazer coisas ao ar livre.

— Ah, é verdade. — Coço meu queixo, pensando. — Cinema? Deve ter algum...

— Eu não quero passar duas horas ao lado dela olhando pra uma tela. Talvez mais pra frente, mas não no primeiro encontro. Além do mais...

— Ok, eu já entendi.

Drew dá de ombros, pegando um salgadinho da sacola que deixei em cima da cama.

— Uma declaração de amor no rádio? Isso é muito romântico — sugiro. Eu vi isso em algum filme uma vez.

— Pra ela tentar me matar depois? Não, obrigado.

Suspiro, desanimado. Eu queria mesmo ajudá-lo, mas para uma pessoa cafona — como Fallon tanto ama ressaltar — não tenho nenhuma ideia legal.

— Talvez a gente só precise ligar para a pessoa certa para pedir ajuda — Drew diz, já tirando o celular do bolso.

Eu termino de comer minha torta enquanto isso.

Um minuto depois, a voz dela ecoa pelo quarto:

Drew, se você me ligou por causa da droga dos dez dólares, eu juro que mato você.

Arqueio a sobrancelha para o meu melhor amigo.

— Você acha que ela é muito melhor do que eu para se pedir conselho? Sério? — Acho que estou ofendido.

Do que vocês estão falando? — Fallon pergunta, franzindo as sobrancelhas para nós dois. Agora que notei que a chamada é de vídeo.

— Brittany e eu teremos um encontro. Eu quero fazer alguma coisa legal pra ela — Drew está explicando. — Mas seu namorado não está me ajudando. Acho que você tirou todo o romantismo dele.

Reviro os olhos.

Pelo menos agora ele é mais experiente em outra coisa. — Fallon sorri com malícia.

— Eu ainda estou aqui, sabiam? — digo, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas.

Tanto ela quanto Drew me ignoram.

— O que você está fazendo? — pergunto. Ela parece estar na cozinha. Onde quer que seu celular esteja, podemos ver ela de pé na frente do fogão. Está usando camiseta e calças, o cabelo mal preso em um coque no alto da cabeça.

Chocolate. Sabe, Drew, se eu irei ajudar você a montar um encontro romântico com a garota que me odeia, não te devo mais dez dólares.

— Ei, isso não tem nada a ver — meu amigo protesta.

Ok, então boa sorte. — Ela se inclina para desligar o celular e eu sorrio. Ela é tão malvada.

— Espere! — Drew suspira, sabendo que perdeu essa. — Tudo bem. Temos um acordo.

Fallon sorri vitoriosa.

Drew diz pra mim:

— Você não podia ter uma namorada mais boazinha?

Eu ouvi isso.

— Ok, Ok. Vamos lá. O que você sugere, Fallonzinha? — Drew encara a tela do celular com expectativa.

Você acabou de falar meu nome no diminutivo?

— Sim — respondo, recebendo um olhar de Drew.

— Cara, você tem que ficar do meu lado, não do dela.

— Você considerou ela uma opção melhor do que eu. Isso é imperdoável — devolvo, fingindo estar magoado.

Qual a comida preferida da Brittany? — Fallon pergunta antes que Drew e eu iniciemos uma discussão.

— Torta de camarão — nós dois respondemos.

Ok... — Fallon balança a cabeça, como se ela tivesse lembrando que há um atual e um ex aqui. — Um jantar romântico. Isso é tão clássico. Como vocês nao pensaram nisso?

— Justamente por ser muito óbvio. Não queria levá-la para jantar porque é muito clichê — Drew dá de ombros.

Bem, isso é verdade. Mas você não a levará para jantar.

— Não?

Não. Você irá fazer o jantar para ela. Atlas nunca fez um jantar para ela porque ele é tão bom na cozinha quanto eu sou no videogame. Então pode apostar que fazer a comida preferida dela vai te dar uns bons pontos. Na verdade, ela pode até dar outra coisa tam...

— Nós já entendemos, obrigado. — Drew parece cogitar a ideia de desligar agora.

Fico sempre feliz em ajudar.

Passamos o resto da noite ajudando Drew a planejar o jantar. Ele até pegou o caderno e anotou os ingredientes que será preciso para fazer a torta e a sobremesa (brawnie com sorvete e calda de chocolate).

É segunda, o que significa que o jantar será sábado, quando não tiver ninguém na casa de Drew porque sua mãe vai estar trabalhando. Fallon e eu iremos ajudá-lo porque somos amigos muito legais e assim Drew também esquece de vez a história dos dez dólares.

Perto da meia noite, ainda estamos conversando, mas Fallon não está falando tanto quanto antes. Drew não percebeu porque está muito empenhado pesquisando coisas no meu celular, então eu pego o seu, tirando do viva voz e indo para o banheiro.

— Você está bem? — pergunto a Fallon. Ela já trocou de cômodo três vezes. Parece ansiosa.

Uhum — murmura, não parecendo me ouvir de verdade.

— Fallon. — Sim, talvez eu esteja preocupado. Ela sempre foi assim, uma hora animada e na outra nem tanto, mas ultimamente suas alterações de humor tem sido mais constantes que o normal e ela faltou na escola três vezes nas últimas duas semanas.

Oi. O quê? — Ela pisca várias vezes para a tela.

— O que está acontecendo?

— Nada. Eu só estou com dor de cabeça. Acho que vou dormir. Vejo você na aula, ok? Dá boa noite ao Drew.

— Tudo bem. — Não acredito na sua desculpa, mas realmente está tarde. Talvez ela esteja melhor amanhã. — Dorme bem.

Você também. — Ela sorri um pouco, mas eu a conheço o suficiente para saber que é forçado.

Fallon desliga um segundo depois.

←↑↓→

No caminho para a escola percebo que não estou realmente preocupado com o fato do meu pai ter cortado a minha mesada. Eu não fazia muita coisa com o dinheiro, para falar a verdade, por isso ainda tenho guardado e não creio que realmente preciso de um trabalho. Mas é claro que irei procurar um, apenas para provar ao meu pai que não preciso dele.

Quando Drew e eu chegamos à escola, vamos para nossos armários trocar nossos livros. Mesmo enquanto estou "ressentido" com meu pai, não posso deixar de pensar que se eu não fosse seu filho, não teria convencido, anos atrás, a diretora do colégio a colocar os armários de Drew e eu juntos.

— Você vai à festa hoje, na casa da Tracy? — Drew pergunta, trocando os livros.

— Não sei. Talvez Fallon queira ir. — Ela não vai para essas festa há um tempo, então por isso é um grande talvez.

— Você acha que a Brittany vai estar lá?

— Provavelmente não.

Drew anue, encerrando o assunto.

Quando o sinal bate e Fallon não chega, somos obrigados a ir para nossas salas, em corredores diferentes.

É na aula de francês que eu a vejo, entrando na sala como se um furacão tivesse passado por ela, prendendo um cabelo em um coque alto. Está tão distraída que não me nota até passar por mim.

— Ei — digo baixo, porque o professor acabara de entrar também.

— Oi! — Fallon sorri. Parece ofegante ao sentar na cadeira na frente da minha. Ela está usando uma saia quadriculada com suas habituais calça rastão, uma blusa de mangas compridas e botas.

— Você chegou agora? — Me inclino para frente ao perguntar. Fallon vira na cadeira para poder olhar para mim enquanto responde.

— Sim. Sim... dormi demais. — Ela afasta uma mecha do cabelo que se solta do coque, as bochechas vermelhas. Está terrivelmente linda desse jeito, toda bagunçada, lembrando muito da semana passada, quando usamos a salinha de limpeza... Foram apenas alguns beijos e mãos bobas, mas nós dois estávamos uma bagunça quando saímos de lá.

— Você está bem? — tento fazer a pergunta parecer casual ao afastar a mecha que voltou a cair pelo seu rosto.

Fallon anue, não me convencendo nenhum pouco, mas o professor começa a falar, então nos separamos para poder prestar atenção.

Pelo menos eu tanto prestar atenção, o que fica difícil quando a garota a minha frente está inquieta, se remexendo o tempo todo. Definitivamente há algo de errado com ela.

— Você não está prestando nenhum pouco de atenção na aula — sussurro atrás dela.

— Quê? — Sussura de volta.

— O que está incomodando você?

— Nada.

— Fallon...

O professor pigarreia, alto o suficiente para chamar atenção.

— Sr Campbell, Srta Marshall, vocês querem compartilhar o que estão conversando? Parece ser mais interessante que a minha aula.

Corando, me endireito em minha cadeira murmurando minhas desculpas.

Ele lança um olhar cortante na nossa direção mais uma vez antes de voltar a falar sobre... não sei. O assunto que está dando agora.

←↑↓→

— Espera. — Seguro a mão de Fallon para ela não poder fugir quando o sinal toca.

Observo todos saírem da sala, então olho para ela.

— O que está acontecendo?

— Por que vocês ficam perguntando isso toda hora?

Franzo as sobrancelhas. Estão algo realmente está errado e eu não fui único a perceber.

Fallon pega a machila, se afastando, mas eu não a deixo ir tão rapidamente.

— Você ainda não me respondeu.

Ela suspira, olhando para mim com frustração e até um pouco de raiva. Está vendo? Suas alterações de humor mais uma vez.

— Eu vou dizer o que disse a Portia: não é nada. Sério. Agora sai do meu pé, tá legal? — Ela tromba em mim ao passar.

Solto um suspiro, esfregando minhas sobrancelhas com o polegar enquanto a observo sair.

O que quer que esteja acontecendo, vai acabar mal.

FALLON

Portia, e agora Atlas. Qual o problema deles dois?

Eles se importam com você.

Tá, tá, mas eu estou bem. Pela primeira vez, as coisas estão indo realmente bem e eu me vejo otimista. Eles não conseguem ver? Talvez eu tenha saído do "limite" algumas vezes, mas é apenas quando não durmo direito.

Ou quando o efeito das suas "balinhas da felicidade" acabam.

Não é verdade. Os remédios me deixam mais relaxada, sim, mas só.

Então por que você está tão estressada?

Ok. A droga do remédio acabou. Mas não estou estressada por causa disso, mas porque briguei com Portia. E com Atlas. Esses são os verdadeiros motivos.

Bom, tem mais, eu lembro. Se não bastasse, ao voltar para casa depois das aulas acabarem, encontrei com minha mãe. Ela não me viu — eu fui bem rápida em me esconder — mas ainda sim, foi estressante vê-la depois de mais de um mês.

É bem impressionante que eu consegui evitar ela e papai nessa cidade pequena, mas aconteceu e mesmo sabendo que seria impossível manter isso por mais tempo, tentei esquecer o máximo isso ao viver na minha bolha de felicidade.

Tiro meu celular do bolso quando o mesmo começa a tocar.

— Oi — atendo a ligação da minha irmã.

— Ei, você já saiu da escola?

— Sim.

Pode me fazer um favor? O conserto do carro ficou pronto, pode buscá-lo para mim? Quando eu chegar do trabalho a oficina vai estar fechada, e eu preciso do carro amanhã.

— Tudo bem.

Obrigada. Vou fazer lasanha quando chegar.

— Ok. — Sorrio, então desligo o celular.

Mudo meu trajeto até a oficina, xingando por não ter pegado um casaco quando saí hoje de manhã.

Na oficina não tenho problema ao pegar o carro pois o dono do lugar já me conhecia. Mesmo se eu não tivesse uma carteira de motorista, creio que ele teria me entregado as chaves.

Eu não dirijo muito — principalmente porque não tenho um carro — mas Portia me ensinou a dirigir ano passado, quando tiramos minha carteira.

Tento distrair minha mente ao dar algumas voltas pela cidade, mas continuo ansiosa. Eu sei que deveria ligar para Atlas e me desculpar por ter sido tão escrota, mas eu só quero dormir, sentir meu corpo leve e poder calar o barulho na minha mente.

Mas não consigo fazer isso, sei antes mesmo de tentar. E ao sair do carro, também sei que passarei o tempo andando de um lado para o outro, pensando demais. Arrisco dizer que terei uma crise de ansiedade.

Eu só preciso relaxar.

Confesso que depois da última vez, não estou tão desesperada para procurar algum fornecedor. Um baseado seria bem-vindo, sim, mas faz apenas dois meses e meio que tive uma overdose.

Talvez se eu conseguisse mais remédio... Seria só dessa vez. Só dessa vez...

Parada segurando a parta do carro, ao invés de fechar, eu avalio o espaço.

Só dessa vez.

Mordo o lábio, ainda cogitando a ideia.

Só dessa vez.

— Tudo bem... Tudo bem...

Respirando fundo, eu fecho os olhos e contenho um grito de dor ao fechar a porta do carro em minha mão.



•••

Esse capítulo tá pronto há semanas e eu tava ansiosa pra postar por dois motivos: tô amando escrever cenas com a Fallon e o Atlas; a última cena onde a Fallon machuca a si msm pra conseguir mais remédio é bem importante, mostra mais uma vez como ela é instável e está propensa a fazer esse tipo de coisa.

Alguém leva essa menina pra terapia, pelo amor 😂😭

É isso, espero que tenham gostado ♥

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2bjs, môres♥

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