¹⁶|ᵃ̂ᵐᵇᵃʳ

1.
"O nome vem do arábico anbar, provavelmente através do espanhol, porém esta palavra referia-se originalmente a ambargris, a qual é uma substância animal completamente distinta do âmbar amarelo.
2.
O Âmbar é uma cor laranja-amarelo que recebeu seu nome devido ao material conhecido como âmbar."

ATLAS

Nao fui para o colégio hoje. Apenas ontem para pegar os assuntos que Fallon e eu perdemos do dia anterior, mas hoje minha cabeça está explodindo. Isso é meio irônico já que o sol está a todo vapor.

— Ei, filho — ouço a voz de meu pai quando desço as escadas. Acabei de acordar e minha barriga está roncando. A porta do escritório do meu pai está aberta, por isso ele me viu. — Venha aqui.

Comida para depois então.

— Bom dia. — Sento-me em um das duas cadeiras de frente para ele. Meus olhos vão direto para a mesa, onde Fallon e eu...

— São três da tarde. — Meu pai arqueia a sobrancelha, não percebendo as lembranças que essa mesa me traz nem brigando comigo por acordar tão tarde.

— Boa tarde?

Leroy Campbell balança a cabeça, deixando os papéis de lado e se recostando na poltrona.

— Como está sua amiga, a Fallon?

Não fico surpreso por ele perguntar isso. Liguei do hospital para explicar porque saí no meio da noite e meu pai disse que providenciaria qualquer assistência que Fallon fosse precisar. Graças a Deus ela ficou bem logo.

— Ela recebeu alta e está em casa. Vai ficar bem — assim espero, pelo menos.

— Isso é bom. — Ele fica em silêncio e me preparo quando volta a falar. — Então você e ela estão namorando?

— Não terminei com Brittany, se é isso que quer saber. Eu ia fazer isso, mas teve a situação com a Fallon... Não tive tempo. Mas vou fazer isso. Não porque o senhor está mandando, mas porque é certo.

Meu pai parece satisfeito, então me retiro, indo procurar algo para comer. Os últimos dias eu tenho comido apenas comidas nada saudáveis daquelas máquinas disponíveis no hospital. Nas poucas horas que voltei para casa, não senti fome.

— Minha querida Sulie — cumprimento a mulher responsável por fazer a melhor comida do mundo. — Como você está?

— O que você quer, garoto? — A mulher de meia idade com cabelo cinza não deixa de mexer na panela ao me responder.

— Comida. O que tem aí?  — espio por cima de seu ombro, inspirando o cheiro bom.

— Ensopado. É para os empregados, então vá comer sua comida light. — Jane me espanta com o pano de prato como se eu fosse um inseto em seu ombro.

— Não conto para minha mãe se você não contar — porque se ela souber que estou comendo fora do seu plano de alimentação saudável...

Sulie suspira e semicerra os olhos para mim.

— Prometa que vai sair da minha cozinha assim que acabar.

— Prometo. Palavra de escoteiro. — Sorrio para ajudar a convencê-la

— Tudo bem. Sente aí que vou colocar um pouco para você.

— Você é a melhor, Sulie.

— Hum.

Dou risada e vou me sentar na mesa.

Enquanto espero, mexo um pouco no celular. Fallon não respondeu a mensagem que mandei e tento não ficar nervoso. Eu posso ter ficado com ela no hospital, mas não significa nada. Não conversamos sobre a nossa briga e não sei se toco no assunto, pois tenho medo de ela se drogar de novo. Mas sei que também não posso continuar na situação que estou agora: mentindo para Brittany. Por isso mando uma mensagem para ela, perguntando se pode vir aqui.

Enquanto ela não responde, como o ensopado que Sulie fez, comprovando que essa mulher é mesmo a melhor.

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Quando saio do banho, já tenho uma notícia de Brittany: ela está em meu quarto.

— Você veio rápido — digo como  cumprimento, com a toalha enrolada na cintura enquanto observo a garota loira sentada de pernas cruzadas na minha cama.

— Você disse que era urgente. — Brittany dá de ombros. Está usando um vestido rosa que provavelmente nunca mais usará na vida e saltos da mesma cor. Tão diferente da Fallon..

Tenho que parar de comparar as duas. Está ficando ridículo.

— Eu vou me vestir. — Sigo para o meu closet e me visto rapidamente: um suéter que subo as mangas até os cotovelos e uma calça moletom. Apesar do sol, o ar-condicionado está ligado.

Ao voltar, Brittany não se mexeu um só centímetro. Sento-me ao seu lado.

— Você está bem? — pergunto.

— Tirando o fato que meu namorado parece estar me evitando, eu estou ótima. — Ela volta a dar de ombros.

— É sobre isso que quero falar, Brittany. — Olho em seus olhos, me surpreendendo por não estar nervoso. — Eu não estou evitando você atoa.

— Eu sei. — A tranquilidade dela me faz franzir as sobrancelhas.

— Sabe?

— Você está me afastando para que eu perceba que já está na hora de darmos o próximo passo.

— Do que você está falando?

— Você está cansado de esperar por mim, Attie. E tudo bem, já está na hora...

— Não, Brittany. Não é nada disso... — Suspiro, sem acreditar que ela acha que eu jogaria tão baixo para poder transar com ela. — Eu quero terminar.

— O quê?! Por... — ela se interrompe, semicerrando os olhos para mim — É ela, não é? A Fallon — quando não respondo, ela balança a cabeça. — Eu sabia... Sabia, mas não quis acreditar quando me contaram que viram vocês dois saindo juntos da festa. Pensei "Ah, Atlas só quis ser educado e levá-la para casa". É claro que eu fiquei mais desconfiada quando meu primo viu você no hospital e pensei em te ligar, para saber se estava tudo bem, mas então meu primo deu o resto da informação: Fallon foi internada por causa de uma overdose e você passou os dois últimos dias no hospital!

— Brittany...

Ela fica de pé.

— Por quê? É o sexo? Aquela vadiazinha abriu as pernas para você e agora quer jogar fora o nosso relacionamento?!

— Não fale assim da Fallon e não é pelo sexo. — nem sequer fizemos sexo e as outras coisa... Não é por isso. Desde o momento que nos encontramos, eu sabia que tinha algo entre a gente.

— Aquela garota já transou com o colégio inteiro, Atlas!

— Eu não me importo com quem ela transou.

— Você é apenas mais um, não vê? Ela só quer se vangloriar de que ficou com o filho do prefeito!

— Você não conhece a Fallon...

— E você conhece? — Brittany arqueia a sobrancelha. — A vagabunda te dá sexo e você...

Não fale assim dela — sou firme, pois ouví-la falar assim da Fallon...

— Quer saber? Espero que ela quebre o seu coração para você deixar de ser burro. — Brittany sai pisando duro e ao chegar na porta, ela vira para mim de novo. — E sabe de uma coisa? Eu não sou virgem e Drew é ótimo na cama!

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A música sempre me acalmou. Não a música eletrônica e alta, mas música clássica. Minha mãe costumava ouvir Beethoven quando estava grávida, acho que esse pode ser o motivo.

Na sala, tocando uma clássica de Beethoven, permito relaxar um pouco. Meus dedos conhecem o piano tão bem quanto conheço a mim mesmo e a emoção flui por meu corpo com a melodia. Eu gosto disso, da música, de ouvir e sentir a emoção de tocar as teclas e ouvir o som se projetando, percebendo que eu estou fazendo, que sou capaz de reproduzir algo tão belo e profundo.

Queria poder fazer isso para sempre e não só como um hobby, mas meu pai acha isso bobagem, apesar de admirar bastante quando toco e pagar as aulas de piano que ainda faço. Ele quer que eu seja igual a ele: passe a vida enfiado em um escritório, case cedo e tenha um filho e a história se repita.

Infelizmente, vou decepcioná-lo.

— Sempre fico emocionada quando toca. — Ouço minha mãe dizer e levanto o rosto para ver que ela está parada ao lado do piano.

Sorrio para ela, pois sempre me incentivou a tocar, mesmo que isso gerasse brigas entre ela e meu pai.

— Não devia estar dormindo? — Minha mãe senta ao meu lado, passando os dedos por cima das teclas.

— Precisava relaxar um pouco. — A tensão causada pela conversa com Brittany diminuiu um pouco, assim como me ajudou a pensar sobre o que fazer em relação a Drew. Eu posso ter traído Brittany, mas ela e Drew... Eu sinto mais mágoa do que raiva.

— Está tudo bem? — mamãe me olha com preocupação e talvez seja a calma que o piano me trouxe, mas resolvo contar a ela o que aconteceu. Pelo menos uma parte.

— Brittany e eu terminamos.

— O quê? Mas... Vocês se amavam tanto... Como? — Minha mãe parece surpresa e magoada e me sinto culpado por isso. Ela tem Brittany como sua filha e aceitar nosso término não vai ser nada fácil.

— Não estávamos dando certo... E nós começamos a gostar de outras pessoas — não é mentira, apesar de eu omitir boa parte da história.

— Mas os nossos planos... Vocês deveriam se casar e...

— Mãe. — Cubro sua mão com as minhas e a olho em seus olhos, esperando que entenda. — Eu amo e respeito muito a senhora, mas nada do que diga ou faça, fará com que eu volte atrás sobre minha decisão. Não existe mais Brittany e eu nem os planos e muito menos casamento. Estou gostando de outra pessoa e... — os olhos castanhos de Fallon aparecem em minha mente, assim como seu sorriso, fazendo com que eu mesmo sorria. — Ela é incrível e eu gostaria que a senhora a acolhesse e não a tratasse com indiferença apenas por causa do meu relacionamento anterior.

Mamãe me olha por um tempo, medindo minhas palavras, mas por fim anue.

— Quando vou conhecer a moça?

Não digo a ela que provavelmente a conhece ou se a moça em questão está pronta para ser apresentada como minha namorada. Ainda não conversamos sobre isso e sei que preciso ir com calma ao se tratar de Fallon.

— Em breve, eu espero.

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Parece que ontem foi mesmo apenas uma exceção, pois o dia nublado voltou a recair em Greenwood. Não fico nada surpreso, porém, enquanto espero no estacionamento do colégio.

Não esqueci do que Brittany falou. Ela e Drew... Não sei como me sentir em saber que meu melhor amigo estava transando com a minha namorada. Ex-namorada agora. Eu nunca suspeitei e não sei se é porque sou burro ou nunca me preocupei realmente com meu relacionamento com Brittany.

Talvez as duas coisas.

— Não vai fazer sol, caso seja por isso que está encarando o céu. — A voz de Fallon faz eu piscar e olhar para ela.

— Oi. — Sorrio para ela, feliz em vê-la.

— O que está fazendo aqui? — Ela estremece, cruzando os braços por causa do frio. O nariz está vermelho e suas sardas mais visíveis. Eu nunca a vi tão fofa.

— Esperando o Drew. — Encostado em meu carro, estou quase apostando que ele não vem para escola apenas para me evitar.

— Você tá legal?

— Terminei com a Brittany. — Solto sem querer. Eu não planejava contar assim, mas não consigo mentir para ela.

Fallon suspira, evitando meus olhos ao encarar meu suéter.

— Então você está triste?

Franzo as sobrancelhas.

— Não. Por que acha isso?

— Você parece triste.

Não estou exatamente triste, só... Chateado por Drew não ter me contado. Somos melhores amigos desde que viemos estudar aqui, esperava um pouco mais de sinceridade dele.

Mas como Fallon não sabe disso, imagino que ela ache que estou chateado por ter terminado com Brittany.

— Não estou triste por ter terminado com ela. — Suavemente, puxo Fallon pela cintura. Ela me olha nos olhos. — Drew e Brittany estavam transando. Estou chateado por ele não ter me contado.

— Ah... Sinto muito. — O sorriso de consolação dela me faz querer beijá-la.

— Não está chateada? Você reagiu mal quando eu disse que terminaria — mal é eufemismo.

— É uma decisão sua. — Fallon dá de ombros. Acho que isso é um bom sinal. — Isso significa que nós... — Ela pigarreia, ficando vermelha e evitando meus olhos. — Nósestamosjuntos?

— Uau, vai com calma. — Dou risada, porque eu nunca ouvi ela falar tão rápido ou ficar tão vermelha.

— Estou perguntando se nós estamos juntos. — Quando Fallon me encara, parece nervosa. Volto a rir, pois isso foi muito fofo.

— Sabia que você fica muito fofa quando envergonhada? — Recebo um soco no braço ao fazer essa pergunta. — Você também é fofa quando está brava.

— Atlas! — Fallon tenta se afastar, brava, mas eu a puxo novamente, unindo nossas bocas. Ela geme de surpresa, mas retribui, passando os braços por meu pescoço.

— Nós estamos juntos. — Sussurro contra o sorriso em seus lábios.

— Legal.

— Legal? — Arqueio a sobrancelha.

— Odeio quando você repete o que eu digo. — Fallon faz cara de brava de novo.

— Você gosta de alguma coisa em mim? Porque você detesta minha comida, minha cafonice e quando repito o que você diz. Estou começando a ficar preocupado.

Fallon semicerra os olhos.

— Drama.

— Drama? — Repito e é sem querer, mesmo que ela continue me olhando feio.

— Você também é dramático.

Dou risada. Definitivamente não estou acostumado a esse tipo de coisa. As pessoas geralmente dizem tudo o que eu quero ouvir, mas Fallon... Ela não está nem aí pra nada.

Eu amo essa garota.

— Está me olhando daquele jeito de novo. — Fallon sussurra, tentando provavelmente ler o que tem em meu olhar.

— Estou? — Acaricio sua bochecha, observando como é linda. Fallon anue, mas não me questiona mais e se ela fizesse, eu com certeza diria tudo o que tenho guardado para mim.

Tiro meus olhos dos seus antes que isso aconteça e é bem quando avisto Drew. Solto um suspiro.

— Preciso falar com ele — digo, mesmo não querendo isso.

— Tá bom. Vejo você na aula. — Fallon me beija e com muita relutância eu a deixo a ir.

Quando ela entra na escola, finalmente volto a encarar Drew, que agora também me encara.

Meu melhor amigo – não sei se ainda deveria chamá-lo assim – caminha até mim, parando apenas a alguns passos. Nós nos encaramos.

— Não vou pedir desculpas por estar com a  Brittany — Drew é o primeiro a falar, o queixo erguido como se estivesse prestes a lutar. — Mas peço desculpas por não ter contado quando tudo começou.

— E quando exatamente foi isso? — qualquer outro estaria agora socando sua cara, mas infelizmente não sou esse tipo de pessoa.

— Há dois meses.

No verão, o que significa que eu estava em Miami, nas férias...

— Você é um filho da puta desgraçado — eu não costumo usar esse linguajar e minha mãe com certeza me repreenderia por isso.

— E você não valorizava a garota que tinha.

— Certo, então eu sou o culpado por você  trair nossa amizade e foder com a minha namorada pelas minhas costas?

— Com certeza eu faço ela mais feliz do que você fazia. Pelo menos eu dou prazer a ela.

— Você só pode estar de brincadeira comigo. — Dou uma risada amarga, esfregando os dedos na testa. Abaixo a mão. — Então foi por sexo? Não posso acreditar que você jogou anos de amizade no lixo apenas para isso.

Pois Drew não é esse tipo de pessoa. Ele pode ter traído nossa amizade, mas eu sei das suas convicções.

Isso se confirma quando ele me olha nos olhos e depois suspira, seus ombros relaxando, como se o fato de ele estar agindo como um babaca fosse atuação.

— Eu a amo — diz e eu permaneço calado. Não sei o que dizer. — Sempre amei, mas ela escolheu você e eu não pude fazer nada. Mas... quando você foi para Miami e ela me pediu ajuda com o notebook... Eu não tinha intenção nenhuma de ficar com ela naquele dia, mas ela estava triste porque você tinha viajado e porque estava estranho ultimamente, então eu apenas... Ofereci um ombro amigo.

— Isso e muito mais. — Me ouço falando. Drew arqueia a sobrancelha, mas balanço a cabeça, pedindo que continue.

— Não tem muito o que dizer. Apenas... Apenas aconteceu. Eu me odiava por esconder isso de você, mas era isso ou ficar sem ela.

Agora eu quem arqueia a sobrancelha.

— Ela ama você — continua. — Talvez um pouco menos agora, mas a coisa entre ela e eu sempre foi... casual, mesmo que me matasse esconder isso de você...

— Você a ama — completo por ele, realmente entendendo.

Drew anue e nós voltamos a ficar em silêncio. Ele se recosta ao meu lado no carro e nós dois respiramos o ar gelado da manhã.

— Como... Como você suportava me ver perto dela? — porque por mais que Brittany e eu nunca tenhamos tido relações sexuais, eu ainda a beijava e estava sempre com ela.

— Tinha dias que eu queria quebrar a sua cara e tinha dias que eu queria ser você. — Ele suspira, parecendo se lembrar disso e querer socar minha cara nesse momento. — Mas uma parte mesquinha de mim sabia que eu era o único que a tinha de verdade.

— Então agora vocês vão... oficializar? — seria o escândalo colegial do século, não só por causa deles dois, mas por causa de Fallon e eu também.

— Não sou bom o suficiente para ela e nós dois sabemos disso, então não há chance alguma de termos algo além do casual. Nunca houve.

— Não entendo — agora ele tem o caminho totalmente livre, o que impediria?

— Olha pra mim, cara. — Eu olho, vendo apenas o meu melhor amigo, o garoto que sempre me defendeu dos valentões da escola, que tentou me ensinar a andar de skate e não me zoou quando precisei usar aparelho na quinta série.

— O que eu deveria olhar, exatamente?

— Sou negro, venho de uma família pobre e não terei um futuro se não conseguir uma bolsa.

— Isso é ridículo. Posso não saber muito da sua relação com a Brittany, mas ela não se importa com a sua cor ou de onde você vem. — nem eu.

— Mas as outras pessoas se importam. Vão sussurrar que ela deveria estar com o filho do prefeito, branco e com o futuro garantido. E minha mãe não deu duro para me criar para eu precisar ouvir esse tipo de merda.

Não ouso retrucar. Conheço Drew há tempo demais para saber o tipo de merda que ele passou apenas por ser negro. E apesar de saber, nunca vou conhecer a dor que ele carrega e é por isso também que não insisto.

— O que quer que você faça — eu digo —, terá meu apoio. Eu só quero que vocês sejam felizes.

— Você está dando a sua benção? — Drew ri, aquela tensão inicial se desfazendo.

— Talvez, seu idiota. — Também dou risada e nós dois entramos no colégio.



•••

Hey, vim dar sinal de vida!

O que acharam do capítulo?

Vcs shippam Drew e Brittany??

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2bjs, môres♥

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