⁴⁴|ˡⁱⁿʰᵒ
1.
“Do latim linum(la).
2.
A cor linho significa: pureza e espiritualidade. Os antigos egípcios dotavam o tecido de significado simbólico como uma representação da pureza e o chamavam de “luar tecido”. Eles consideravam o linho como um símbolo de “pureza” e “luz”.”
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⚠️Alerta de gatilho⚠️
• Violência
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FALLON
O silêncio absoluto me faz respirar direito pela primeira vez desde que acordei nessa casa. Minha cabeça ainda dói e minhas mãos estão tremendo, mas está tudo tão silencioso que por um segundo chego a achar que vou acordar desse pesadelo. Porém, a forma morta de Morris continua... Bem, morta.
Eu acho que deveria sentir culpa ou um pingo de remorso, mas... Nada. Até mesmo a raiva por esse ser nojento e asqueroso sumiu. Como um interruptor, tudo sumiu.
Eu percebo então que o silêncio não é na casa, é na minha mente. Como uma casca, eu desabo no primeiro degrau da escada.
— Acabou? — sussurro.
O interruptor liga de volta, mas ainda não sinto a raiva voltar ou qualquer remorso ou culpa. Eu sinto dor. Seguro meus cabelos com força até parecer que estou arrancando os fios. E choro.
Tem um episódio de Scooby-Doo, quando todos da turma estão tentando salvar um acampamento de algum vilão, mas uma represa se rompe, espalhando água por toda a cidade como uma avalanche.
Eu me sinto como uma represa que acabou de se romper.
Atlas está morto. Tão morto quanto Morris. Matar esse monstro não trouxe Atlas de volta. Ele nunca vai voltar. Eu poderia dizer que Morris mentiu para mim, mas eu não teria alucinado se Atlas estivesse vivo, teria?
Eu ouço algo além do meu choro histérico, mas é tarde demais para reagir quando uma mão segura meu braço e me põe de pé.
— O QUE VOCÊ FEZ, FALLON? — Mark grita na minha cara.
Empurre-o escada abaixo também.
Um calafrio percorre minha espinha. Eu não sou uma assassina. Eu não planejei matar Morris, estava me defendendo.
Mark não espera eu responder sua pergunta e começa a me puxar escada abaixo. Eu tropeço em meus pés e não olho para o corpo caído de Morris quando preciso passar por cima dele. Mesmo morto, ainda continua sendo uma pedra no meu caminho.
Na sala, eu olho para minha mãe. Ela parece assustada. Eu acho que nunca a vi assustada antes.
— Você matou um homem! Tem ideia do que fez?! — Mark me joga no chão.
— Eu estava me defendendo! — grito de volta, não achando forças para ficar de pé, mas sentando, pelo menos.
Mark não liga para minhas palavras. Ele está andando para lá e para cá como um psicopata planejando como matar sua próxima vítima.
E sim, meus instintos me dizem que a cova que ele está imaginando agora é a minha.
— Nós tínhamos um acordo e você era o pagamento!
Atrás de mim, ouço um suspiro. Mamãe não sabia disso.
— Eu não sou uma moeda de troca! — Esse homem me enjoa. Mesmo que ele não seja meu pai, que tipo de pessoa entrega outra assim? Ele sabia o que Morris ia fazer comigo.
— Você é uma inútil! — Mark se aproxima, irritando, cuspindo palavras na minha cara. — Sempre foi e sempre será. Você só tinha um trabalho: deixar ele te foder por um tempo. Você sempre foi uma puta, eu só queria que fizesse o seu trabalho.
Eu lhe dou um tapa no rosto, fazendo questão de deixar minhas unhas rasgarem sua pele.
Quando ele se afasta, estupefato, sangue mancha sua bochecha. Seus olhos ficam selvagens pela raiva e ele avança.
Eu me encolho por hábito, mas o tapa ou o murro ou chute nunca chega.
Olho para cima. Joana entrou na minha frente.
— Mark, acalme-se um pouco. Ela já está machucada o suficiente.
O homem olha para a esposa com a mesma confusão que eu. Desde quando essa mulher intervém por mim? Eu não me lembro de uma única vez que ela se colocou entre mim e ele. As vezes que intervia, era apenas porque tinha medo dos vizinhos chamarem a polícia.
— Me acalmar? — Mark grita, afastando minha mãe com tanta força que ela cambaleia. — Ela matou o meu entregador! O único homem de confiança que eu tinha!
Eu não sei do que raios ele está falando, mas me diz o suficiente: ele e Morris realmente mantinham contato. Será que em todos esses anos Morris estava me espiando por aí?
Eu quero vomitar.
— Deixe-a subir e descansar um pouco e nós vamos resolver essa situação — Joana continua tentando acalmar o marido.
Mark, porém, não está com paciência para isso porque difere um tapa no rosto da esposa. Eu me espanto porque nunca o vi bater nela. E pela forma como minha mãe apenas engole em seco, deixa claro que isso é uma coisa frequente.
— Suma da minha frente antes que você leve o castigo por ela — é a sua ordem para a mulher.
Minha mãe não contesta e se dirige às escadas, subindo sem olhar para trás. É claro que ela iria obedecer a ele. Eu fui uma idiota ao pensar que ela o enfrentaria por mim pelo menos uma vez.
Achei que Morris fosse meu único problema aqui, mas eu estava muito enganada. Eu não vou sair daqui se Mark não deixar. Eu ainda tinha um propósito para Morris — e quero colocar minhas tripas para fora só de lembrar disso —, mas ele pelo menos ia me usar antes de me matar. Para Mark, eu não tenho valor algum agora.
— Deixe-me ir embora — peço, começando a ficar desesperada. Eu poderia tentar empurrá-lo e sair correndo, mas eu não tenho forças em meu corpo para ir. Sinto que estou à deriva no mar e logo logo morrerei de desidratação. — Eu não vou contar nada...
— Cale a boca! — Mark avança mais rápido do que a minha consciência oscilante possa perceber, colocando-me de pé. — Acha que vou deixar você ir embora? Eu não vou me responsabilizar por aquele homem!
— Se eu não aparecer em casa até o final da noite, Portia vai vir atrás de mim e eu vou contar a ela tudo o que vocês fizeram comigo — ameaço. Eu só tenho ameaças a fazer no momento.
Mark dá risada.
— Sim, sim, e eu vou contar a ela que você se envolveu com um homem mais velho e trouxe ele para nossa casa para nos assaltar. — Seu aperto se intensifica enquanto ele despeja suas mentiras na minha cara. — Então vocês brigaram e você o matou numa crise de raiva. Todos sabem como você é temperamental. Uma viciada. Uma prostituta de quinta. Eu tenho a cidade na palma da minha mão, Fallon.
Eu sei que é verdade. Sei porque sempre que eu aparecia machucada e as pessoas perguntavam, Mark e mamãe diziam que eu caí, que estava "aprontando". As pessoas sempre acreditavam. Até aquelas que olhavam por tempo o suficiente para ver a verdade, nunca fizeram nada a respeito. Então, sim, se Mark contar que eu tinha um caso com Morris e planejava assaltar a casa dos meus "pais", todos vão acreditar.
Ele está ferrando com a minha vida de novo.
— Eu te odeio — digo calmamente, olhando em seus olhos. — E agradeço a Deus por não ser sua filha.
Eu vejo o choque em seus olhos antes de ser substituído pela raiva e ele me jogar no chão como se eu fosse um inseto inconveniente.
— Você agradece? Eu criei você, te dei comida e um teto para morar, sua vadia mal agradecida!
Dou risada enquanto olho para o teto.
— Cachorros são tratados melhor do que eu fui por vocês. — Olho para ele, que está parado, já olhando para mim. Cuspo em seus pés. — Eu quero mais é que você se foda.
Se for para eu morrer, que seja com dignidade.
Mark dá um passo na minha direção. Um único passo... e para, seus olhos se arregalando.
É então que eu vejo. Não estava prestando atenção nas escadas, então não vi mamãe descer, mas agora, lentamente, ela se põe entre Mark e eu. E na sua mão, uma arma apontada para o marido.
— O que você está fazendo, Joana? — Mark vocifera.
— Eu não fui uma boa mãe, eu sei disso. Eu a odiava porque você não podia amá-la, mas também porque ela é a lembrança de que tudo podia ter sido diferente se eu apenas tivesse contado para Frederick sobre ela. Então eu a odiava ainda mais por me fazer desejar ter outra vida senão essa.
Eu não sei porque, mas começo a chorar.
— Eu deixei você maltratá-la, deixei você me fazer acreditar que ela merecia. Comecei a pensar que você estava no seu direito, afinal, ela não é sua filha. Eu até cheguei a pensar que era melhor ela ser o seu saco de pancadas do que eu, porque eu estava cansada, e deixei você despejar sua raiva na minha filha. Eu ajudei você. Mas isso... é demais, Mark. Até para nós.
Consigo me colocar de joelhos ao mesmo tempo que Mark dá um passo na nossa direção. Joana recua, mas não abaixa a arma.
— Isso é besteira! Nós fizemos tudo por ela e a castigamos quando ela merecia. Não há nada demais nisso, Joana. Eu não sou um monstro.
— Não. Você é doente.
Minhas pernas tremem, mas eu fico de pé, me apoiando na mesinha.
Mark está com raiva. Eu já vi essa expressão em seu rosto vezes demais para gravar e eu sei que nada de bom vem daí.
Por isso não fico surpresa, apesar de gritar, quando num ato rápido, ele consegue desarmar minha mãe. Mark a empurra para o lado, fazendo-a bater na parede, a arma caindo no chão.
— Você é patética, Joana — Mark cospe as palavras, pegando a arma. — Tentar bancar a boa mãe depois de tudo? Acha que assim vai ter uma acomodação melhor que a minha no inferno?
Minha mãe não responde. Isso só irrita Mark e faz sua atenção voltar para mim.
— Isso é tudo culpa sua — diz, segurando a arma com mais força em sua mão. — E você vai pagar por desgraçar nossas vidas.
Escolha de palavras interessante a dele, penso quando ele ergue a arma. Não foi isso que eu disse que fiz com a vida de Atlas? Aquela dor volta à superfície tão forte que sinto meus joelhos falharem.
Eu penso nos seus olhos quando o dedo de Mark puxa o gatilho. Penso no sorriso brilhante de Atlas quando o barulho do disparo ecoa. Penso em todas as vezes que ele disse que me amava; nas nossas danças na chuva. Penso em quando fazíamos amor; quando ele me abraçava e dizia que tudo ia ficar bem.
Eu amo você, digo para ele, onde quer que esteja.
E abraço a dor e a escuridão que me cerca em seguida.
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E a coisa só piora, hein?
Como vcs estão depois desse capítulo?
Até segunda ♥
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2bjs, môres♥
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