²³|ᶜᵒʳᵃˡ
1.
“Do grego korállion.
2.
Coral é uma cor que simboliza uma ‘busca inata pela alegria e necessidade por otimismo’. Uma das características dessa cor é que ela era mais forte e fechada, poderosa, mas monopolizava as atenções.”
FALLON
Sete horas e meia antes
01:30 AM
— A gente vai mesmo fazer isso? — pergunto a Portia, sentindo a adrenalina correr por minhas veias.
— Sim. Enão me pergunte outra vez ou vou mudar de ideia.
Anuo e sinto que estou prendendo a respiração até chegarmos em uma das casas mais importantes da cidade.
Meu celular vibra no bolso do meu moletom e tenho certeza que é mais uma mensagem de Atlas, mas não posso respondê-lo agora. Imagino que queira falar sobre sua ex-namorada jogando vinho em meu vestido.
Quando o carro para na frente da casa, não ficamos surpresas que as luzes estão todas apagadas, mas demos sorte que os carros estão do lado de fora da garagem.
— Vamos. Seja rápida, ok? — Portia diz. Eu anuo outra vez e nós saímos do carro.
Cada uma de nós tem uma caixa de ovos nas mãos. Olha para minha irmã uma última vez, então começamos.
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Agora
Eu nunca sei o que responder quando me perguntam o que eu quero ser quando crescer. Médica? Advogada? Cozinheira? Existem tantas opções e mesmo assim temos que escolher apenas uma. Não acho justo. Não sei se isso quer dizer que sou apenas indecisa ou não levo a sério o meu futuro.
Não sei quando minha irmã decidiu que seria a garota do tempo e estudaria meteorologia, mas tenho bastante orgulho dela por isso. Queria poder ser como ela, decidida, mas no momento estou olhando para os panfletos de universidades que já começaram a entregar na escola.
Achei na minha mochila, mas jogo no lixo do banheiro.
Minha cabeça está doendo, o que é um saco porque eu dormi bem.
Abro o armário do banheiro da minha irmã e procuro algum remédio. Há vários fracos de produtos para cabelo, mas entre eles, um laranja me chama atenção.
É um analgésico, prescrito para Portia de quando ela torceu o pé há alguns meses. Ainda tem alguns e eu sei que ela não vai sentir falta, então ponho um na boca e engulo, colocando um pouco de água da torneira na mão e engolindo para ajudar.
— Você quer carona? — Minha irmã aparece na porta do banheiro que deixei aberta bem quando ponho o frasco de volta no lugar.
— Sim, valeu. — Saio do banheiro para poder pegar minha mochila no quarto e ela me segue.
— O namoradinho não vem buscar?
Ponho minha mochila nas costas e viro para ela, parada no batente da porta com um vestido vintage e óculos de sol no topo da cabeça.
— Nós precisamos conversar sobre isso, na verdade. — Sento na beira da cama. — Você precisa parar com isso.
— Com o quê? — Portia franze as sobrancelhas, cruzando os braços.
— Você sabe, essa sua implicância com o Atlas. Ele é um garoto legal e gentil e gosta muito de mim. Além de você, ele é a única pessoa... a única pessoa que realmente se importa comigo — essas palavras doem um pouco, mas tento não me afogar nessa dor.
— Eu só estou tentando te proteger — diz, a voz suave.
— Eu sei, mas... tenta ser mais gentil com ele, por favor? Prometo não sair de casa e ficar sem dar notícias e vou tentar melhorar minhas notas também — não apenas por causa do Atlas, é o que não digo a ela, mas porque quero deixar você orgulhosa também.
— Tudo bem, posso fazer isso.
Solto um suspiro e sorrio.
— Obrigada, Portia.
Minha irmã também sorri, descruzando os braços.
— Agoda venha cá e me dê um abraço.
Faço isso, deixando que ela me esmague em seu abraço de urso.
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Ao chegar na escola, sei o que todos estão cochichando. Isso me dá uma pequena satisfação enquanto ando pelo corredor movimentado. Paro no meu armário, trocando os livros de sexta pelos de hoje.
Ao meu lado, duas garotas estão conversando e é impossível não ouvir o que estão dizendo.
— Quem vocês acham que fez isso? — a loira pergunta. Acho que seu nome é Tracy.
— Qualquer um. Brittany pode ser popular, mas isso não significa que as pessoas gostam dela de verdade — a segunda diz. Lembro-me dela, Mila. — Vai ver alguém ficou cansado de ser alvo dos seus comentários e decidiu revidar.
— Atirando ovos no carro dela. — Aquela que eu acho ser Tracy, diz, rindo. — Queria saber quem foi para poder agradecer.
Sorrio de lado, fechando e trancando meu armário, então deixo as duas para trás.
Meu humor está relativamente bom hoje. Aquele remédio me liberou da minha dor de cabeça, então creio que o dia de hoje será um pouco mais suportável.
Passo pelo armário de Atlas, mas ele não está. Por sorte, o armário de Drew é ao lado do seu e ele está, então me aproximo.
— Ei, Drew.
— Fallon, oi. — O melhor amigo de Atlas sorri e é fácil perceber porque Brittany se envolveu com ele. Se a beleza de Drew já não fosse o suficiente — seu sorriso encantador que deixa qualquer um à vontade — há também o fato de ele parecer ser alguém bem legal.
— Você viu o Atlas por aí?
— Ele não vem hoje.
Franzo as sobrancelhas.
— Aconteceu alguma coisa?
Drew coça a nuca, desviando dos meus olhos e depois olhando de novo.
— Acho que você deveria conversar com ele.
— Bem, agora você está me deixando preocupada. — O que será que aconteceu? Ele não está me evitando, está?
— Não é nada demais, sério. Acho que ele foi ajudar naquele asilo. Você sabe que ele tem esse espírito de Madre Teresa.
Acabo sorrindo com isso, mesmo ainda um pouco preocupada.
— Ele realmente tem. Acho que vou mandar uma mensagem — digo a última parte para ninguém em especial, mas Drew anue mesmo assim.
Então faço isso.
Não vem pra aula hoje??
Eu sei que Drew já disse que ele não viria, mas não custa perguntar.
Depois de passar cinco minutos e ele não responder, começo a pensar se Drew está errado. Talvez Atlas não tenha vindo para a escola apenas para me evitar, mas por quê? Será que ele mudou de ideia? Isso foi algo que eu sempre temi, que depois da nossa primeira vez, ele ficasse diferente. Não quis acreditar nisso, pois é o Atlas e ele... Ele não é assim, mas talvez...
— Fallon? — Drew me chama e eu ergo os olhos da tela do celular. — O sinal tocou. Você não vai pra aula?
— Ah, sim, claro... — murmuro, seguindo o fluxo de alunos e tentando lembrar qual aula terei agora. Nem mesmo dou tchau a Drew.
Bloqueio o celular mas deixo na função de vibrar, caso Atlas responda.
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Ele não respondeu.
É aula de francês, a que temos juntos e eu começo a ficar mais nervosa. As únicas vezes que ele faltou foi quando eu tive overdose e fiquei no hospital e ele ficou comigo. Antes ou depois disso, nunca vi Atlas faltar um só dia.
É algo a se estranhar, certo? Ainda mais se ele começa a faltar justamente quando estamos juntos? Ou ele está me evitando, ou eu sou uma má influência, certo? As duas coisas fazem eu me sentir mal.
Talvez você devesse ir na casa dele.
Se ele estiver me evitando, cogitando terminar o nosso... relacionamento, eu deveria evitar o máximo que algum de nós dois se magoe.
Não espero ou peço a permissão do professor ao sair da sala.
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Durante a caminhada até a mansão do prefeito, tentei pensar no que dizer a Atlas, mas não sei exatamente o que falar. Nunca terminei um namoro antes porque nunca estive em nenhum, mas já fui rejeitada. E pensar em Atlas fazendo isso deixa um gosto amargo na minha boca.
Minhas mãos estão tremendo quando cruzo a esquina para atravessar a rua. Na verdade, acho que meu corpo todo treme, incluindo meu coração, se é que isso é possível.
Eu já consigo vizualiza a cena: Atlas vai dizer que o problema não sou eu, mas ele, mesmo nós dois sabendo que isso não é verdade. Talvez sugira que continuemos amigos, ou... ou ele pode tentar querer voltar com a Brittany. Acho que ele não faria isso por causa do Drew, mas não muda o fato que ele irá terminar comigo...
Ouço a buzina de um carro, mas ao invés de correr, fico parada no meio da rua, olhando de olhos arregalados para o motorista. Minha respiração é alta em meus ouvidos, misturado com as batidas do meu coração que eu posso jurar estar ouvindo agora.
O motorista freia, poucos centímetros entre a frente do carro e eu.
Ele sai do veículo, mas eu continuo paralisada.
— Você perdeu a cabeça, garota?! — grita e eu estremeço com a agressividade na sua voz, mesmo sabendo que ele está certo.
— D-desculpa...
— Fallon? — alguém grita meu nome. — Fallon!
Olho para o lado, vendo Atlas correndo na nossa direção. Ele parece preocupado ao me alcançar, olhando de mim para o motorista.
— O que está acontecendo aqui? Você está bem? — pergunta a mim, tocando meu rosto, olhando-me de cima abaixo. Vendo se estou ferida, percebo, com emoção.
— Você a conhece? — o homem do carro pergunta. — Essa desmiolada apareceu do nada.
— Fallon, você está bem? — Atlas pergunta outra vez, olhando em meus olhos. Faço que sim, mesmo não tendo certeza. Não é relacionado ao carro, eu não estou machucada, mas meu coração ainda bate rápido e minhas mãos estão tremendo duas vezes mais.
Atlas vira para o motorista.
— Sinto muito pelo transtorno. — Então ele me guia até a calçada.
O carro passa por nós nesse meio tempo.
— Deus, você me deu um susto e tanto — Atlas está dizendo, mas eu mal consigo ouvi-lo.
Minha respiração está muito rápida e minha visão embaçada enquanto encaro o colar no pescoço de Atlas...
— Você está usando o colar — eu sussurro.
— Claro que eu estou. — Atlas segura meu rosto, sua preocupação se mistura com confusão. — Você está tremendo.
— Você está usando o colar — repito, mais para mim mesma do que para ele. Atlas não estaria usando o colar se tivesse cogitando terminar as coisas comigo, certo? Ele ainda gosta de mim, não é?
— Fallon. Ei. — Ele enxuga meu rosto quando as lágrimas começam a cair. — Sente-se um pouco, Ok? Você deve estar em choque, quase foi atropelada.
Atlas me faz sentar no meio fio e se ajoelha a minha frente, segurando minhas mãos.
— Você está gelada — murmura, apertando meus dedos.
Continuo olhando para o colar, dizendo a mim mesma para ficar calma, que foi apenas uma paranóia da minha cabeça.
— Fallon — Atlas chama baixinho e eu não consigo controlar minhas emoções por tempo o suficiente para dizer que estou bem.
Quando as lágrimas começam a cair de novo, Atlas não diz nada ao me puxar contra si e me envolver em seus braços.
Então ficamos assim, abraçados na calçada.
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Meia hora depois em seu carro, me sinto envergonhada. Quantas vezes agora Atlas já me viu vulnerável?
E mesmo assim ele continua ao seu lado.
Sim. Não sei como eu pude achar que ele me deixaria. Mas também sei que não irei me livrar tão facilmente dessa insegurança.
— Posso perguntar uma coisa?
— Isso já é uma pergunta — digo a Atlas, tentando buscar algum humor.
Atlas não ri, mas ao invés disso, pergunta:
— O que você estava pensando... lá? Você... Você ia... — Mas ele não termina a pergunta.
Apoiando a cabeça na janela, vejo as árvores passarem por nós (ou nós passarmos pelas árvores?) e suspiro.
— Não.
Atlas espera por pelo menos um minuto inteiro e diz:
— Então...?
Dou de ombros.
— Eu estava passando e não prestei atenção.
— No que você estava pensando?
— Em você — respondo baixinho, me sentindo idiota e tola.
— Eu não estou entendendo, Fallon, o que...
— Você não respondeu as minhas mensagens — digo, me encolhendo no assento com a forma que as palavras soam idiotas. — Você nunca falta. Achei que você estivesse me evitando, que talvez tenha mudado de ideia sobre nós, então fui atrás de você.
Solto o ar preso em meus pulmões e fecho os olhos. Agora ele deve me achar uma namorada grudenta e idiota, e se não estava cogitando terminar comigo antes, pode muito bem pensar nisso agora.
Mal percebo quando paramos, mas sinto a mão de Atlas em minha bochecha.
Abro os olhos e viro para ele. Não consigo nomear o que vejo em seu olhar.
— Sinto muito por não responder as mensagens — Atlas diz, interrompendo meus pensamentos. — Eu desliguei meu celular.
— Você não precisa se explicar.
— Mas eu quero.
Atlas beija minha bochecha, olhando para mim daquele jeito que agora eu suspeito o que seja, mas que não posso acreditar.
— Eu me envolvi em uma briga ontem — continua —, e meu pai achou melhor eu esfriar a cabeça, então eu vim para o asilo, mas voltei para casa para pegar a caixa com os cachecóis.
Enquanto ele aponta para a caixa no banco de trás, percebo duas coisas: Atlas Campbell bateu em alguém. Nós estamos na frente de um asilo, um que não venho há um bom tempo.
— Volta um pouco, você se envolveu em uma briga? — sento-me virada para ele, curiosa.
Atlas tenciona a mandíbula, olhando para qualquer lugar que não seja meus olhos.
— Atlas Campbell, o que você andou aprontando? — Semicerro os olhos, achando isso divertido. Eu não deveria ficar feliz com ele se envolvendo em brigas, mas é tão diferente dele.
— Encontrei com seus pais ontem, na igreja — diz e meu meio sorriso se desfaz, um sentimento ruim começando a tomar conta. — Eu não suportei olhar para o seu pai, sabendo de tudo... então, eu dei uns socos nele.
— Na igreja? — pergunto, pronunciando cada palavra pra ver se entendi certo.
— Sim. Do lado de fora, na verdade.
— Com seus pais presentes?
— E o Drew.
Fico olhando para esse garoto que até pouco tempo era virgem, nunca matava aula e muito menos batia em pessoas — em meu pai.
— Diga alguma coisa — Atlas pede.
— Bem feito pra ele. — Porque é realmente bem feito. Pagaria para ver papai levando alguns socos, ainda mais por Atlas. Não sei se é mais satisfatório ele ou Portia fazendo isso.
Atlas sorri, me dando um beijo rápido.
— Quer entrar lá comigo e sorrir para alguns velhinhos? — pergunta, apontando para o asilo.
— Sobre isso... faz muito tempo que eu não venho aqui.
— O que quer dizer?
— Minha avó mora aqui.
•••
Hey, como vcs estão??
Sobre esse capítulo... Não vou mentir, eu realmente me emocionei um pouco na cena que a Fallon quase é atropelada.
Não sei se consegui transmitir isso bem, mas ela estava claramente insegura — está ainda — com a possibilidade do Atlas terminar com ela. Consequentemente, não se importa nenhum pouco que podia ter sido atropelada, tudo o que ela consegue pensar é que Atlas está com o colar e não vai terminar com ela.
Eu quero deixar claro que NÃO acho isso normal. Insegurança é uma coisa, mas dependência emocional é outra. Então quero que vcs saibam que eu estou ciente do que escrevo, e NÃO estou tentando ROMANTIZAR isso.
Se tiverem alguma dúvida ou crítica *construtiva*, podem perguntar ou falar, estou sempre respondendo os comentários de vcs♥️
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2bjs, môres♥
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