¹⁰|ᵐᵃʳʳᵒᵐ

1.
"Marrom é um galicismo entrado no português do Brasil [«cor da casca da castanha»] directamente da palavra francesa marron
2.
O marrom está associado à natureza, ao conforto e a simplicidade. Também é a cor que nos liga ao que vem da terra, trazendo estabilidade e confiança. Só que o marrom também pode indicar conservadorismo, coisas velhas e ultrapassadas, resultando em uma cor cheia de moralismo."

FALLON

Eu me ofereci para fazer uns sanduíches e me certifiquei que Atlas ficasse bem longe. Sanduíche é a coisa mais fácil do mundo, mas ele conseguiu queimar uma omelete, então não quis arriscar que estragasse os sanduíches. Ele não ficou feliz em saber que eu não confiava nele nesse quesito.

Nesse, porque em outros aspectos... Ainda não consigo acreditar que contei a ele. Sabe quando você passa anos guardando um segredo, então chega uma pessoa e te faz confiar nela de uma forma tão inexplicável que você daria a senha de todas as suas redes sociais para ela? Atlas é a pessoa para quem eu daria as senhas das minhas redes sociais. Mesmo não usando elas direito.

— Você quer que eu te deixe em casa? — Atlas pergunta quando entramos dentro do seu carro, duas horas depois. Eu tomei um banho e coloquei minhas roupas de ontem, mas Atlas disse que eu poderia ficar com o moletom se quisesse, então estou usando ele agora.

— Não. Meus pais acham que estou na casa da minha irmã. — quando eu simplesmente não fujo no meio da noite, digo que vou passar o final de semana com Portia.

Explico a ele onde fica a casa, não me dando o trabalho de colocar no GPS, pois ela mora perto de uma das três praças da cidade. É muito fácil chegar lá.

Apoio a cabeça na janela e fico encarando a paisagem, pensando. Atlas me perguntou porque não sinto ciúmes dele com a Brittany e eu menti. Não estava com fôlego para explicar a ele que seria o injusto da minha parte fazer com que ele acabasse tudo com ela para depois acabar não ficando comigo. Não que eu não queira ficar com ele, Atlas é uma pessoa incrível e seria um namorado perfeito. O que eu não quero... é viver. E quando eu for, ele ficará sozinho se terminar com a Brittany e não posso permitir isso.

— Entregue. — o voz de Atlas me tira dos meus pensamentos.

Pisco, percebendo que chegamos.

— A gente se vê na escola. — beijo rapidamente seus lábios e ao me afastar, ele segura meu rosto.

— Espera. — Atlas aprofunda o beijo, me fazendo gemer de surpresa e satisfação. Eu nunca gostei tanto de beijar alguém, como gosto de beijá-lo. A forma como sua boca se encaixa perfeitamente na minha, como sua mão é firme, mas carinhosa ao me prender a ele, como é bom ouvi-lo gemer durante o beijo...

Quando nos afastamos, ambos estamos sorrindo e ofegantes.

— Eu preciso ir. — digo então, mesmo querendo ficar.

— Tudo bem.

— Tudo bem.

Talvez apenas mais um beijo...

Nos beijamos de novo e de novo por um bom tempo, até eu convencê-lo a me deixar sair do carro. Ou foi ele que estava dizendo que eu precisava ir? Não lembro, mas com certeza devo estar com os lábios inchados quando entro na casa da minha irmã. Ela me deu a chave quando alugou a casa, assim como um quarto.

—  A margarida resolveu aparecer. — a voz de minha irmã está afiada demais para que eu não seja burra ao pensar que ela está brincando.

— Boa tarde. — apesar de ter acabado de dar 12h00.

— Onde estava? — Portia me observa com o rosto inexpressivo, em pé no meio da sala.

— Eu disse que ia à uma festa.

— Disse também que estaria aqui antes do amanhecer.

— Ok... Eu estou prestes a receber uma bronca? Porque se for isso, eu dispenso. — todo o meu bom humor começa a se dissipar ao perceber que isso pode acabar com nós duas gritando uma com a outra. É tão raro discutirmos que estou até surpresa.

— Não vou dar bronca em você. Não sou a mamãe.

— Mas...?

— Mas a partir do momento em que você me usa como bilhete de fuga, eu mereço saber que horas voltará ou se está segura.

Portia parece chateada com isso. Eu me arrumei aqui na noite passada e ela estava assistindo algum filme idiota quando saí e eu avisei que voltaria logo, então estou aqui mais de doze horas depois. Eu posso ter pisado na bola, mas ela não tem que agir como nossa mãe.

— Se esse for o problema, eu paro de usar você. Quer me dedurar para papai e mamãe também? Vá enfrente, Portia, seja a filha perfeita e irmã exemplar. Eles com certeza ficarão orgulhosos de você.

— Sabe que eu nunca faria isso. Eu estava apenas preocupada com você.

— Agora você se preocupa. — deixo escapar, rindo sem humor. Mas é verdade. Eu posso não ter contado a minha irmã que papai e mamãe não são perfeitos, mas é difícil de acreditar que ela passou todos esses anos acreditando que toda vez que eu quebrava um osso do corpo ou aparecia toda roxa, era porque eu sou desastrada ou gosto de entrar em brigas no colégio.

— O que quer dizer com isso? — Portia franze as sobrancelhas, parecendo confusa.

— Nada. E quer saber? Hoje mesmo eu vou tirar todas as minhas coisas da sua casa e você não precisar se preocupar mais comigo.

Passo por minha irmã, indo direto para o quarto e fecho a porta atrás de mim.

←↑↓→

Eu sei que fui injusta com ela. Portia não tem dever algum de acobertar minhas "escapadas" e o mínimo que eu deveria fazer era atender o telefone quando ela ligou e avisar que eu dormiria fora.

Estou arrumando minhas coisas, pois fui sincera quando disse que tiraria tudo meu daqui. Portia tem vinte e quatro anos e uma vida própria, não precisa de todo esse estresse que eu trago. Se um dia eu cogitei pedir para morar com ela, hoje foi a prova de que nunca daria certo.

Também troquei de roupa para voltar para casa. Bom, eu coloquei apenas uma calça, continuando com as botas e o moletom de Atlas.

Ao sair do quarto com minha mochila nas costas, encontro Portia ajeitando a mesa de jantar.

— Eu fiz aquele macarrão que você gosta... — sua voz vai sumindo conforme ela vê a mochila e a chave em minhas mãos.

— Não vou ficar para o almoço. — encaro minhas botas, a cor preta não combina com o tapete rosa.

— Fallon, não faça isso. Eu não quis...

— Não — a interrompo, balançando a cabeça — Estava certa e eu fui uma babaca com você — ergo a mão, lhe entregando as chaves. — Aqui.

— Você não precisa deixar de vir aqui só porque tivemos uma briga idiota.

Não. Não preciso. Mas não é por isso.

— Vejo você em casa qualquer dia. — ignoro suas palavras e deixo a chave em cima da mesa.

— Fallon.

Não olho para trás quando saio da sua casa. É melhor assim.

Vai doer menos se vocês estiverem afastadas.

Mas isso não significa que não doa e que eu não chore enquanto volto para casa dos meus pais.

ATLAS

É noite e estou com meu pai jogando xadrez. Costumamos fazer isso quando ele não está na prefeitura, trabalhando, ou em seu escritório, trabalhando também. É claro que ele está ganhando e tenho sorte de ele não ter sugerido pôquer, porque é uma maneira muito sutil dele de tirar minha mesada.

— O que Fallon Marshall estava fazendo aqui? — ele faz a pergunta que com certeza queria fazer desde a hora que sentamos aqui para jogar.

— Eu a trouxe para casa depois de uma festa. Ela não estava se sentindo muito bem. — não é totalmente mentira. Meu pai continua concentrado nas peças, como se estivéssemos falando do tempo.

— Desde quando você vai à esse tipo de festa? — ele me olha por tempo o suficiente para arquear a sobrancelha.

— É meu último ano no ensino médio, quero aproveitar. — dou de ombros, movendo uma peça. Meu pai fica em silêncio por um tempo, estudando o tabuleiro e só volta a falar depois de também mover uma peça.

— Ia falar para não fazer besteira, mas você já está fazendo isso ao mentir para sua namorada.

— Meu relacionamento com a Brittany não é da sua conta, pai. — apesar das palavras afiadas, meu tom de voz é calmo.

— Não, não é. Mas se você não der um jeito nisso, eu mesmo vou fazer.

Paro com a peça suspensa no ar, lhe encarando.

— Por quê? Só me dê um exemplo de como isso está afetando você, pai.

— E precisa que me afete? Atlas, o que está fazendo com essas duas garotas é errado. Enganando a Brittany e usando a Fallon.

— Você não sabe nada sobre isso. — pois não estou usando a Fallon. Sei que não estou.

— Mas não deixo de estar certo, não é? Sua mãe e eu não criamos você para isso. Se quer ficar com a Fallon, ótimo, faça isso, terá meu total apoio, mas tenha a decência de terminar com Brittany! Vocês se conhecem a vida inteira, o mínimo que você deve a ela é a verdade.

— Cansei de jogar.

Eu não posso discutir com isso porque ele está certo. Tão malditamente certo, que lhe deixo sozinho com o xadrez. Talvez – com certeza – seja infantilidade minha sair assim, mas suportar a verdade nem sempre é fácil, então vou para o meu quarto.

Eu sei que preciso falar com Brittany, contar a ela antes que ela fique sabendo por outra pessoa, mas não sei como fazer isso.

Solto um suspiro e sei que não é a coisa certa a fazer, mas ligo para ela. Não a Brittany, não posso falar disso com ela por telefone, mas sim a...

Não me diga que está com saudade. — Fallon diz do outro lado da linha.

— Não direi, então. — ajeito o travesseiro sob minha cabeça, esperando que essa ligação dure bastante tempo, pois já estou com saudade da voz dela.

Engraçadinho. Me ligou por algum motivo específico ou para ouvir a minha voz? — tão convencida...

— A segunda opção.

É claro.

←↑↓→

Ficamos conversando por quase duas horas. Quando ficávamos em silêncio, Fallon pedia para eu falar e me perguntei se ela queria ouvir minha voz tanto quanto eu queria ouvir a sua, se ela estava pensando em me ligar antes que eu fizesse.

Quando sua voz começou a ficar arrastada, não insisti muito na conversa, pois Fallon parece ser o tipo de pessoa que não dorme muito bem a noite e eu não quero ser o motivo da sua perda de sono. E quando sua respiração ficou pesada e tive certeza que ela dormiu, lhe desejei uma boa noite mesmo assim, então desliguei.

~•~

O que vocês acham da discussão da Fallon com a Portia??

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2bjs, môres♥

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